TNG 2×15: Pen Pals

Inocência de Data coloca em xeque a Primeira Diretriz

Sinopse

Data estelar: 42695.3

A Enterprise visita o setor Selcundi Drema, onde todos os planetas dos sistemas parecem passar por violenta atividade geológica. Riker decide colocar Wesley Crusher no comando da missão científica, a fim de que ele ganhe experiência.

Enquanto o alferes honorário monta sua equipe, Data descobre um sinal de rádio vindo de Drema IV. Uma voz pergunta: “Tem alguém aí fora?” Surpreso, ele responde afirmativamente e inicia um contato com a alienígena Sarjenka, uma jovem de uma espécie que desconhece a existência de vida além de seu planeta.

A investigação científica perdura por meses, período em que Data permanece em contato com Sarjenka. Mas, quando ele descobre que Drema IV está passando por fortes abalos geológicos que levarão à morte todos no planeta, o androide decide revelar o que está havendo a Picard.

Após um debate com o estado-maior, o capitão decide autorizar uma ação de interferência para salvar aquela sociedade. Wesley e sua equipe descobrem que a instabilidade tem a ver com a presença máxima de dilítio, o que conduz a um plano de usar ressonadores para desestabilizar sua estrutura cristalina.

Data tenta contatar Sarjenka para instruir que ela vá para um local mais seguro, mas ela não responde. Autorizado por Picard, ele se transporta para entregar a mensagem pessoalmente. Nisso, descobre que a jovem foi apartada dos pais e decide trazê-la a bordo.

O disparo de torpedos equipados com ressonadores funciona, e o planeta é estabilizado. Picard então ordena que Pulaski apague as memórias de Sarjenka antes que Data a leve de volta à superfície. Com isso, a lembrança da amizade que forjaram, e de como aquilo salvou uma sociedade inteira, deverá viver para sempre apenas na mente do androide.

Comentários

“Pen Pals” é um dos típicos episódios em que Data, com sua ingenuidade e pureza infantis, acaba refletindo o melhor da humanidade, a despeito de ele mesmo não ser humano. Uma simples amizade à distância salva um planeta inteiro.

A trama em si é interessante, e o episódio é atípico no sentido de refletir uma história que se desenrola ao longo de várias semanas. Também padece um pouco de um enredo simples demais, que carece de reviravoltas suficientes para sustentar o episódio. O resultado é a inclusão de algumas sequências revelando a paixão de Picard por cavalos no holodeck, algo que apenas tangencialmente toca um dos temas do episódio: o da solidão.

O contato de Data e Sarjenka é fruto de uma tentativa de aplacar a solidão; o prazer de Picard em ter um cavalo como um animal companheiro, em vez de um simples bicho de estimação, também reflete a importância de não estar sozinho; e, claro, as decisões que Wesley e Picard têm de tomar ao longo do episódio refletem a solidão do comando — e como ela é aplacada por consultas a amigos e colegas tripulantes.

Se estruturalmente o segmento carrega essa temática unificadora, nos diálogos a qualidade se perde um pouco; as falas dos personagens são excessivamente prolixas e pretensiosas, não naturais, e meio repetitivas. No cerne da questão, o dilema entre solidariedade e a Primeira Diretriz, que impõe a não interferência. Picard apresenta o lado lógico; Data, o lado humano. O capitão, como teria de ser, ao fim vê que a compaixão deve prevalecer.

Em termos de valores de produção, as cenas mais bonitas são as menos necessárias, com Picard e o cavalo no holodeck. As sequências em Drema IV são bonitas, bem como os efeitos visuais do vulcanismo extremo dos planetas. E o resto é feijão com arroz, ambientado a bordo da Enterprise.

Wesley tem um bom uso aqui, embora soe meio estranho como toda a tripulação se comporta como a família de criação do jovem. Talvez pudesse fazer sentido para alguns, como Picard, Riker e Troi, mas nem tanto para pessoas como Pulaski e Worf. Eles tratam numa reunião da tutela de Wesley como se ela fosse um assunto oficial da nave. Faz certo sentido do ponto de vista da série; pensando numa nave estelar com mais de mil pessoas a bordo, muito menos.

Apesar de suas falhas, “Pen Pals” é um episódio com o coração no lugar certo, capaz de entreter, educar e fazer pensar, no melhor estilo de Star Trek.

Avaliação

Citações

“Is anybody out there?”
“Yes.”
(Tem alguém aí fora?)
(Sim.)
Sarjenka e Data

Trivia

  • A premissa original veio de Hannah Louise Shearer e imediatamente fisgou o showrunner Maurice Hurley, remetendo-o à infância, quando ele brincava de rádio-amador. Na gênese, foi sua segunda premissa favorita na série, depois de “The Last Outpost”.
  • O roteiro, por sua vez, ficou a cargo de Melinda Snodgrass, que ganhou espaço na equipe depois de seu roteiro especulativo de grande sucesso, “The Measure of a Man”. Coube a ela convencer a todos que Data era a figura ideal para a história, o único suficientemente inocente para responder ao chamado. “Você jamais conseguiria imaginar qualquer um dos outros personagens fazendo aquilo, mas Data pode cometer o erro, e não digo isso de forma pejorativa, e sair do seu cuidadoso treinamento da Frota Estelar, porque ele ainda está crescendo. Ele é mais criança que Wesley.”
  • Apesar de adorar a base da história, Maurice Hurley avaliou o episódio final como apenas mediano, não apreciando tanto os penduricalhos ao redor da trama central. Quem também se frustrou com isso foi o diretor Winrich Kolbe, que gostaria de ter dado mais peso à relação de Data e Sarjenka. De acordo com o diretor, as primeiras versões do roteiro se concentravam mais nisso, mas acabaram diluídas pela inclusão subsequente de mais elementos técnicos à história. “Isso, para mim, é um problema. Não necessariamente concordo com a avaliação de que mais jargão técnico melhora essas histórias. Essas histórias deviam ser deixadas como são. Acho que ‘Pen Pals’ poderia ter sido um episódio melhor do que foi.”
  • Um fator limitante para a amizade entre Data e Sarjenka foi a maquiagem laranja de Nikki Cox, que borrava muito fácil com qualquer contato.
  • O episódio conta com a única filmagem em locação em toda a temporada, para a sequência equestre de Picard no holodeck. A gravação das cenas, originadas da paixão de Snodgrass por cavalos, se deu em um rancho próximo a Thousand Oaks, nos subúrbios de Los Angeles.
  • As complicadas cenas de efeitos visuais com a porta aparecendo e desaparecendo em Drema IV exigiram filmagens suplementares de segunda unidade, uma das primeiras vezes em que isso aconteceu na série.
  • Aqui vemos pela primeira vez Picard bebendo Earl Grey (embora já o tenhamos visto pedi-lo ao replicador, em “Contagion”).

Ficha Técnica

História de Hannah Louise Shearer
Roteiro de Melinda M. Snodgrass
Dirigido por Winrich Kolbe

Exibido em 1º de maio de 1989

Título em português: “Correspondentes”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Wil Wheaton como Wesley Crusher

Elenco convidado

Diana Muldaur como Katherine “Kate” Pulaski
Colm Meaney como Miles O’Brien
Nicholas Cascone como Davies
Nikki Cox como Sarjenka
Ann H. Gillespie como Hildebrant
Whitney Rydbeck como Alans

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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