TNG 2×16: Q Who

Uma lição de humildade no primeiro encontro com os borgs

Sinopse

Data estelar: 42761.3

Após um desastrado encontro com a alferes Sonya Gomez na engenharia, Picard é transportado a bordo de uma nave auxiliar por Q. Ele quer fazer uma proposição ao capitão.

Na Enterprise, Guinan tem a sensação de que algo está errado e contata a ponte. Troi tem a mesma sensação e tenta contato com Picard, mas ele não está a bordo.

Na nave auxiliar, o capitão é persuadido a pelo menos ouvir o que Q tem a dizer, e a entidade então os transporta de volta ao bar panorâmico, onde diz o que deseja: se juntar à tripulação. Picard se recusa, encorajado por Guinan, que parece ter uma velha rixa com Q. Então o ser onipotente atira a Enterprise a 7.000 anos-luz de distância, até o sistema J-25.

Nessa região inexplorada da galáxia, surge uma nave gigantesca em forma de cubo. Guinan diz conhecê-los: são os borgs, responsáveis pelo massacre e pela subsequente diáspora de seu povo, um século antes. Dois tripulantes borgs se transportam para a engenharia, e Worf tenta contê-los. Eles parecem interessados apenas na tecnologia da nave.

O cubo borg então captura a Enterprise em um raio trator e corta uma seção da nave, levando à morte de 18 tripulantes. Picard ordena um revide e o cubo se danifica. Riker então comanda um grupo avançado até lá. Depois de encontrarem um berçário borg, eles constatam que a nave está se regenerando. A Enterprise se prepara para fugir, mas o cubo parte em perseguição. Os borgs estão prestes a derrubar os escudos da nave, e eis que Q reaparece. Picard admite que precisa dele, e a entidade os leva de volta. Resta a lição aprendida e a constatação de que os borgs, agora cientes da existência da humanidade, voltarão a ser uma ameaça.

Comentários

Não bastasse sua importância maiúscula para a mitologia de A Nova Geração, “Q Who” é um episódio de ação e drama muito bem estruturado, que mantém um ritmo acelerado do começo ao fim. Era uma ambição antiga do showrunner Maurice Hurley introduzir uma nova ameaça à série, depois que os ferengis se mostraram menos assustadores do que se pretendia, e ele o faz aqui, usando Q como “curinga” para, a um só tempo, revelar um inimigo aparentemente invencível e oferecer uma escapatória que não enfraqueça esse novo algoz aos olhos do público. Grande sacada.

Não só do ponto de vista dramático, mas também temático, dialogando com o arco maior de um dos personagens recorrentes mais intrigantes da série: o Q de John de Lancie. Desde sua introdução, em “Encounter at Farpoint”, o personagem tem um aspecto ambivalente essencial a seu sucesso. A despeito da insensibilidade e do sarcasmo sem limites, nunca estamos 100% convencidos de que as intenções dele são maléficas. Em seu episódio introdutório, Q testa a humanidade, acusando-a de ser inerentemente selvagem e indigna de explorar o espaço. Na aparição seguinte, ele promove “A Última Tentação de Riker”, oferecendo ao primeiro oficial os poderes do Q. Revela que sua espécie tem um interesse especial no potencial do ser humano e acaba em maus lençóis quando sua estratégia de sedução não funciona. Aqui, sob a desculpa de querer se juntar à tripulação, Q apresenta um novo teste: e desta vez é a hubris da humanidade, personificada por Picard, que está em julgamento. Seria o capitão humilde o suficiente para admitir sua própria inadequação diante de um inimigo tão poderoso? A resposta, descobrimos, é sim, mas a um custo alto.

E, ainda assim, apesar da perda de 18 vidas, parece que não foi em vão, pois Q, ao desafiar a Enterprise a participar de um confronto com os borgs, está dando um aviso e a chance de que a Frota Estelar possa se preparar quando chegar a hora (dada como inevitável) de um novo encontro.

Agora, você deve ter reparado que os borgs não são muito de conversar. O roteiro usa truques inteligentes para superar essa dificuldades, usando a experiência pregressa de Guinan e a empatia de Troi como forma de “traduzir” a mentalidade borg em diálogo.

E a qualidade do episódio não se esgota na narrativa. Temos aqui alguns dos efeitos visuais mais impressionantes desta temporada. Toda a sequência em que a Enterprise é “fatiada” pela nave borg, combinando maquete e animação, está muito acima da média do que se fazia em televisão naquela época. A pintura que representa o interior da nave borg é fantástica, e mesmo os cenários físicos, apesar de bem pequenos, acabam fotografando muito bem, graças ao talento do diretor Rob Bowman. E a combinação da pintura com o cenário em uma das cenas é nada menos que espetacular.

É verdade que este é apenas o ponto de partida para os borgs, e nem tudo anda alinhado com o que veríamos depois. Aqui, eles parecem desinteressados em assimilar biologia; o negócio deles é apenas tecnologia. A ideia dos bebês borgs jamais foi revisitada. E também temos aqui uma versão inicial do que seriam os drones borgs, padrão de maquiagem de próteses que evoluiria bastante no futuro. Mas, apesar de tudo isso, das grandes civilizações alienígenas que fazem papel de vilão em Star Trek, eles estão entre os que nasceram mais “prontos”. Fantástica introdução.

Avaliação

Citações

“If you can’t take a little bloody nose, maybe you ought to go back home and crawl under your bed. It’s not safe out here. It’s wondrous, with treasures to satiate desires both subtle and gross. But it’s not for the timid.”
(Se você não aguenta um nariz sangrando, talvez devesse voltar para casa e se esconder debaixo da cama. Não é seguro aqui fora. É maravilhoso, com tesouros para saciar desejos sutis e grosseiros. Mas não é para os tímidos.)
Q

Trivia

  • Maurice Hurley originalmente concebeu os borgs como uma raça insectoide, o que teve de ser mudado por razões orçamentárias. Seu plano era introduzi-los por etapas, em vários episódios, começando com o mistério de “The Neutral Zone”. Infelizmente, isso foi prejudicado pela greve de roteiristas de 1988, e aí a introdução foi feita inteiramente aqui, incluindo apenas uma menção en passant sobre como o padrão de destruição do planeta lembrava o das bases na Zona Neutra.
  • Este foi o único episódio de Q escrito por Hurley. Disse Melinda Snodgrass: “Maurice Hurley sempre achou que Q estivesse aqui para nos dar uma lição, nos guiar e nos instruir.” E é o que ele faz neste episódio… daquele jeito dele.
  • Na versão final do roteiro, ao confrontar Q sobre a morte de 18 tripulantes, Riker avançaria sobre ele e a entidade ameaçaria matá-lo. Mas na versão editada do episódio, tudo foi resolvido com Q dizendo: “Oh, faça o favor…”
  • Depois que a ideia insectoide foi abandonada, o design da nave e da maquiagem borg sofreram grandes influências dos designs de biomecanismos de H.R. Giger e do personagem Lord Dread, da série Captain Power and the Soldiers of the Future.
  • A designer de figurino Durinda Rice Wood quis trazer algo diferente para os borgs: “Eu estava cansada do conceito longilíneo e de aço inoxidável de “assustador”… Com os borgs, a ideia era que esses drones viviam por séculos, e que seus membros se esgotariam e seriam trocadas por próteses mecânicas. Eu queria mostrar que eles não se desgastavam uniformemente, então alguns tinham próteses oculares, outros tinham falsas pernas ou falsos braços.”
  • O designer de maquiagem Michael Westmore quis dar um visual de zumbis para eles, pálidos, “ para que os espectadores soubessem que estamos vendo uma criatura com quem não se pode ponderar ou negociar… a vida foi extraída deles.”
  • A voz da Coletividade Borg aqui é uma combinação, com reprocessamento, das vozes de Maurice Hurley, o diretor Rob Bowman e o assistente de Bowman.
  • A complexidade e o custo das sequências de efeitos visuais deste episódio exigiram planejamento prévio detalhado, o que incluiu a criação de storyboards pelo supervisor Dan Curry, então seguidos à risca pela equipe.
  • Este episódio marca a única vez em que vimos o escritório de Guinan na Enterprise-D.
  • “Q Who” rendeu dois Emmys à série, por edição de som e mixagem de som para uma série dramática. Além disso, foi indicado, mas não venceu, por seus efeitos visuais.

Ficha Técnica

Escrito por Maurice Hurley
Dirigido por Rob Bowman

Exibido em 8 de maio de 1989

Título em português: “Q Quem?”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Wil Wheaton como Wesley Crusher

Elenco convidado

Whoopi Goldberg como Guinan
Colm Meaney como Miles O’Brien
John de Lancie como Q
Lycia Naff como Sonya Gomez

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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