TOS 2×13: Obsession

Baseado no clássico Moby Dick, episódio traz elementos do passado de Kirk

Sinopse

Data estelar: 3619.2

Kirk e Spock, junto com uma equipe de segurança da Enterprise, estão conduzindo uma pesquisa no planeta Argus X, quando o capitão percebe um cheiro familiar. Imediatamente, ele ordena uma busca pelo perímetro e coloca os tripulantes em alerta, com instruções de procurar pela substância conhecida como dikironium na atmosfera e para atirar em qualquer nuvem gasosa que eles possam encontrar. Kirk informa a Scott que pretende ficar no planeta e concluir a investigação que iniciou, apesar de o engenheiro chefe lembrá-lo de que a Enterprise tem um importante encontro com a USS Yorktown em cerca de oito horas.

A equipe de segurança encontra a nuvem e abre fogo, mas a ação é inútil contra a criatura. Eles tentam avisam  Kirk, mas, quando ele e Spock chegam ao local, descobrem dois tripulantes mortos e um terceiro, o alferes Rizzo, em estado grave. Este é levado de volta a nave para tratamento. A bordo da Enterprise, Chapel informa a Kirk e McCoy que Rizzo permanece inconsciente. Todos os glóbulos vermelhos do sangue do tripulante foram, de alguma forma, sugados e ele permanece vivo a graças a uma massiva transfusão de sangue, procedimento que não é suficiente para salvar a sua vida.

A autopsia dos tripulantes mortos revela que todas as células vermelhas do sangue foram removidas, sem que qualquer marca em seus corpospudesse ser encontrada. Kirk mantém a Enterprise em órbita para investigar o mistério, apesar dos protestos de Spock, Scott e McCoy. A Yorktown aguarda a chegada da Enterprise com um carregamento de vacinas para debelar uma epidemia no planeta Theta VII. Mesmo assim, Kirk matém a sua decisão.

McCoy parece não ter pistas sobre o que aconteceu aos tripulantes, mas o capitão sugere que o médico procure nos registros da U.S.S. Farragut por mortes com as mesmas características ocorridas onze anos antes, quando Kirk servia a bordo ainda como um jovem tenente. A pedido de Kirk, McCoy reanima Rizzo. Embora este ainda esteja semiconsciente, Kirk questiona o alferes sobre o que aconteceu ao grupo na superfície. Ele pergunta se o homem teria sentido um cheiro adocicado, fato confirmado pelo tripulante. Kirk quer saber se Rizzo teria percebido alguma inteligência na suposta criatura, mas o tripulante adormece novamente.

Kirk retorna à ponte, onde ignora o informe de Uhura sobre uma mensagem urgente do comando da Frota Estelar. Ao receber de Spock a informação de que a busca através dos sensores é negativa, ele começa a fazer conjecturas sobre os motivos da não detecção da suposta criatura. O capitão parece acreditar que este ser é composto de um material raro, que é capaz de se camuflar e que é inteligente, ao ponto de evitar a detecção pelos sensores da nave. Spock teoriza que, para isso, a criatura deveria ser capaz de mudar sua estrutura molecular. Logo após, seguindo a sugestão de Kirk, Spock vai à enfermaria a fim de examinar os registros da Farragut junto com McCoy.

Ao mesmo tempo que recebe a notícia da morte de Rizzo, Kirk recebe o novo oficial de segurança, o alferes Garrovick, que era amigo do recém-falecido oficial. Kirk ordena que o alferes forme uma equipe armada para descer com ele ao planeta e caçar a criatura.

Uma vez na superfície, eles a localizam e Kirk ordena que o grupo se divida em dois, com o capitão no comando de um deles e Garrovick no outro, na tentativa de tentar cercar e atacar a criatura. O grupo liderado pelo alferes a encontra primeiro e é atacado. O alferes atira, mas perde um segundo para tomar a decisão, dando tempo de o seu grupo ser envolvido pela massa gasosa. Kirk ouve os disparos e corre para ajudar, mas, quando chega, encontra apenas Garrovick de pé, observando os dois tripulantes caídos ao chão.

O grupo de descida retorna à nave. Um dos tripulantes atacado está morto e o segundo, em estado grave. Kirk está convencido de que esta criatura é a mesma que atacou a Farragut onze anos antes. McCoy, Spock e Garrovick encontram-se com o capitão para discutir o relatório do alferes, que conta os detalhes de sua experiência, inclusive sua hesitação em atirar. Como punição pelo que considerou uma falha em sua ações, Kirk retira o alferes de serviço e ordena que ele permaneça confinado em seus alojamentos, apesar de Spock e McCoy demonstrarem não concordar com a decisão.

De volta à ponte, Kirk recebe a informação de que a nave estará pronta para partir em meia hora, mas ele diz que ainda não pretende deixar a órbita do planeta. Scott, mais uma vez, lembra o capitão da necessidade dos remédios transportados pela Enterprise em Theta 7, irritando Kirk, que perde momentaneamente o controle da situação, dizendo estar cansado de ter seus oficiais superiores conspirando contra ele. Apesar de perceber seu erro e declarar isso imediatamente a Scott, ele chama a atenção de Chekov severamente quando o alferes informa não estar conseguindo localizar a criatura na superfície do planeta.

Enquanto isto, Spock procura McCoy a respeito da fixação do capitão da Enterprise na busca pela criatura. O vulcano informa o médico que, 11 anos antes, Kirk, então sob o comando do capitão Garrovick na Farragut, esteve diante de uma situação similar àquela que estão enfrentando no momento. O capitão da Farragut era pai do alferes Garrovick.

Pouco tempo depois, McCoy vai até o alojamento de Kirk para discutir suas ações recentes. O médico demonstra estar a par dos eventos do passado, quando Kirk era um jovem alferes servindo a bordo da Farragut. McCoy sugere que Kirk considera-se culpado pelos eventos ocorridos naquela época, incluindo a morte de seu capitão e mais duzentos homens da tripulação. Como o alferes Garrovick, Kirk hesitou em atirar na criatura.

McCoy, então, alega que Kirk era muito jovem, que não pode culpar-se por isso e apresenta como prova o registro do próprio capitão Garrovick sobre suas ações, mas Kirk insiste que poderia ter destruído a criatura e, com isso, evitado as mortes da tripulação. Ele acredita que a criatura é má, inteligente e que deve ser destruída, o que McCoy classifica como obsessão. Kirk reage mal à critica de McCoy. Este, então, informa que pretende fazer um relatório médico sobre a condição psicológica do capitão, tendo como base sua conduta a respeito desse assunto. Para isso, conta com o apoio de Spock, como testemunha necessária ao processo, e que se encontrava esperando do lado de fora do alojamento de Kirk.

Os dois, então, passam a questionar Kirk sobre suas recentes decisões de comando, e o capitão, inicialmente, tem sucesso em defender sua posição junto as seus dois oficiais. Ele argumenta que, se sua suposição estiver correta e esta for a mesma criatura que atacou a Farragut anos antes, isso indica que a criatura seria capaz de viajar pelo espaço, o que a torna um perigo para a navegação interestelar. McCoy e Spock são sensibilizados pela argumentação de Kirk e decidem apoiá-lo, por enquanto. Kirk, por sua vez, aceita as ponderações de seus oficias, entendendo que o que fizeram foi para o bem maior da nave e de sua tripulação.

Nesse momento, Chekov comunica que detectou a nuvem deixando o planeta. Kirk ordena curso de perseguição, mas a nuvem consegue imprimir uma velocidade superior a dobra 8, velocidade que a Enterprise não pode sustentar por muito tempo sem danificar os motores. Após alguma hesitação, Kirk abandona a perseguição da nuvem.

Nesse meio tempo, a enfermeira Chapel vai até o alojamento de Garrovick levar comida ao alferes, que ainda se culpa por não ter destruído a criatura na superfície. Ela diz ao alferes que a nave está caçando a criatura pelo espaço e que o capitão perdeu o seu senso de perspectiva. Ela tenta animar Garrovick, mas não tem muito sucesso. Quando ela sai, o alferes atira para longe a bandeja, que danifica o controle de ventilação sem que ele perceba.

Na ponte, a criatura, que seguia em fuga, reduz a velocidade e Kirk aproveita para atacá-la. A nave entra em alerta vermelho, o que faz Garrovick deixar o alojamento e ir até a ponte, onde solicita permissão para voltar ao seu posto. A Enterprise atira tudo o que tem contra a criatura, mas a ação não tem nenhum outro efeito, além de fazê-la se voltar contra a nave. Os escudos defletores não são capazes de deter a nuvem, que entra através de uma abertura de ventilação dos motores de impulso, ataca dois tripulantes e se instala no sistema de ventilação da Enterprise. Kirk ordena a reversão da ventilação, mas isso deixa apenas duas horas de ar para a tripulação.

Os oficiais superiores discutem a situação, a qual McCoy atribuiu à obsessão de Kirk pela caçada à criatura. Spock conclui que esta resolveu inverter os papéis, se tornando-se caçador ao invés de caça e também que as ações da criatura indicam inteligência. Scott deixa a sala com ordens de inundar o sistema de ventilação com lixo radioativo, numa tentativa de eliminar ou ao menos expulsar a criatura. O engenheiro é seguido por McCoy, que, antes de sair, pede desculpas a Kirk pelo seu julgamento, segundo o próprio doutor, equivocado, das ações do capitão.

Spock, agora sozinho com Kirk, tenta fazê-lo aceitar que as armas se mostraram ineficazes contra a criatura devido às suas habilidades únicas, logo ele não teria tido sucesso em eliminá-la no passado, tanto quanto agora. O capitão, porém, não demonstra nenhum tipo de alívio por conta disto.

Mais tarde, Spock vai até o alojamento de Garrovick tentar convencê-lo de que sua hesitação no planeta teria sido fruto de biologia humana, portanto natural e esperada para a sua espécie, mas ele é subitamente interrompido ao perceber um odor no ambiente, que indica a presença da criatura. Eles percebem que a nuvem está saindo da ventilação. Spock empurra o alferes para fora do alojamento enquanto tenta deter a criatura, usando as próprias mãos, após perceber que os controles de ventilação estão quebrados.

Garrovick avisa ao comando. Kirk manda que a pressão seja revertida e depois segue em direção ao alojamento. Apesar da preocupação de todos, Spock sai do local sem sinal de ter sido afetado pela criatura. A avaliação é de que, como o sangue vulcano é baseado em cobre, sua hemoglobina não atendia as necessidades da “dieta” da criatura. O capitão entra na cabine e nota que o cheiro deixado dessa vez é diferente e que, de alguma forma, parece agora entender a criatura. Eles são avisados por Scott que a nuvem deixou a nave de volta pelo mesmo lugar por onde entrou.

O grupo volta à ponte, mas, antes, Kirk conversa com Garrovick a respeito da ineficiência dos fêiseres da Enterprise e fala que, da mesma forma, os fêiseres de mão seriam ineficazes, não havendo, por isso, motivo para que Garrovick se recriminasse pelas suas ações quando comandava o grupo em terra. O capitão, então, libera Garrovick para o retorno ao serviço e se dirige ao comando.

Na ponte, Chekov informa que a nuvem se move em alta velocidade para longe do alcance dos sensores da Enterprise. Apesar de não ser capaz de acompanhá-la, Kirk acredita saber para onde a nuvem se dirige. De alguma forma, ele acredita que o cheiro que sentiu na cabine de Garrovick indicava “casa” e que “casa” seria o planeta Tycho IV, onde a Farragut havia sido atacada onze anos antes. Apesar da objeção de McCoy, ainda em função da urgência em encontrar a Yorktown, o capitão decide levar a nave até Tycho IV, pois existem evidências de que a criatura pretende se reproduzir.

É montado um plano envolvendo o uso de antimatéria, para destruir a criatura, e sangue dos estoques da enfermaria da Enterprise, para atraí-la para a armadilha. Kirk e Garrovick descem ao planeta para executar a tarefa. Entretanto, um imprevisto acontece: na superfície, enquanto os dois posicionam a “bomba” de antimatéria, a criatura consome todo o hemoplasma que levaram, deixando os dois sem a isca. Kirk, então, decide colocar a si mesmo no papel de isca.

Ele ordena que Garrovick retorne à nave, mas o alferes tenta nocautear Kirk, para mandá-lo de volta à nave e, assim, ficar como isca. Ele falha na ação e ambos acabam como isca da criatura, que agora se move na direção dos dois. Eles aguardam até o ultimo instante possível e, então, detonam a bomba, ao mesmo tempo em que a Enterprise tenta teletransportá-los de volta.

Apesar das dificuldades extras causadas pela reação da explosão, Spock tem sucesso em trazer os dois de volta e a criatura é destruída com sucesso. Com a questão solucionada, Kirk convida Garrovick para contar ao rapaz algumas histórias sobre o pai dele e a Enterprise finalmente segue para encontrar a Yorktown.

Comentários

Seguindo em sua tradição literária, mais uma vez Jornada nas Estrelas vai buscar inspiração nos clássicos da literatura. “Obssession” bebe bastante das linhas escritas por por Hermann Melville em Moby Dick, que também ecoa em “The Doomsday Machine” e nos festejados A Ira de Khan (1982) e Primeiro Contato (1996). Ao fazer isso, Jornada reafirma o quanto alguns temas são atemporais e a vingança, ou ao menos o desejo dela, é um desses temas. Infelizmente, esse segmento não parece à altura das outras inspirações citadas.

Tanto que falar sobre este episódio parece um desafio, visto que nada realmente muito importante ou novo, de fato, acontece aqui. Este é um segmento que passa por vários momentos de déjà-vu e termina com a indiferença como seu maior sentimento após atravessarmos um roteiro pouco inspirado que parece ser arrastar pela longa hora do segmento.


Mas voltando ao segmento da semana, mais uma vez precisamos fazer uso da suspensão de descrença, o que já é um mau sinal, pois alguns fatos necessários ao seu andamento precisam de boa dose de boa intenção por parte do espectador. O primeiro deles é o fato da Enterprise estar se dando ao luxo de conduzir pesquisas de minério em um planeta afastado, enquanto precisa se encontrar com a USS Yorktown e transferir vacinas vitais para debelar uma epidemia.

Mesmo aceitando que a Enterprise tenha um tempo de folga antes do tal encontro, (o que foi desmentido logo depois), mandaria o bom senso que ela prosseguisse rumo ao seu compromisso de muito maior importância e que depois outra nave, como acabou acontecendo, conduzisse tal pesquisa. Esse bom senso é contrariado apenas para que Kirk pudesse encontrar a nuvem e posteriormente criar um sentido de urgência que justificasse o “drama” quando ele decide ficar e procurar a criatura.

A série de red shirts abatidos tem como único proposito mostrar os elementos básicos que permitissem ao capitão começar a identificar a nuvem encontrada na superfície como a mesma criatura que atacou a USS Farragut onze anos antes. Embora esse momento tenha algum peso ao revelar uma pequena parte do passado de Kirk, ele parece misturar alguns elementos já vistos, como as mortes de “O Sal da Terra” e a criatura meio gasosa de “Metamorphosis”, embora, aqui, o efeito não tenha sido eficiente. Nossa nuvem assassina parece saída de um filme B de ficção cientifica da década de 50.

As constantes interpelações de seus oficiais superiores a respeito da insistência do capitão em manter a Enterprise em órbita, comprometendo o seu posterior encontro também soam estranhas. Primeiro porque estão em falta de sintonia com o que conhecemos da cadeia de comando e hierarquia a bordo da Enterprise, segundo porque a cena parece dirigida por um amador. Além da discussão via troca de telas não fazer sentido, tudo fica parecendo uma discussão entre meninos da quinta série. Tal conversa poderia até funcionar, mas em outros termos, como uma óbvia reunião presencial, por exemplo.

Passemos ao alferes Garrovick. Primeiro, a coincidência exagerada de seu “surgimento” justamente nesse momento, em que a Enterprise encontra a criatura responsável pela morte de seu pai, que curiosamente parece incomodar mais o capitão do que o próprio alferes. É perceptível que a intenção é mostrar uma projeção do passado do jovem tenente James Kirk, funcionando quase como um reflexo mais jovem do capitão da Enterprise. O segmento tenta (e falha) demonstrar uma certa relação filial que Kirk nutria por seu capitão. Uma ideia que talvez pareça boa, mas que, aqui, é mal executada.

Um ponto da trama que também merece atenção é a questão a respeito da inteligência da criatura. Kirk persegue tal possibilidade, além de considerar que suas ações são essencialmente levianas e destrutivas. Um comportamento oposto ao notado em “Devil in The Dark”, quando a constatação de que a “Horta” era um ser inteligente serviu para que o eixo da trama daquele segmento mudasse radicalmente, permitindo a sua sobrevivência e, acima de tudo, entendimento. Por último, a tal discussão sobre a eficiência do fêiseres é um tanto exagerada.

Nesse ponto, Kirk deixa claramente os acontecimentos de seu passado determinarem suas ações e seu julgamento. Não há na mente dele nenhuma chance de tentar compreender e, quem sabe, encontrar uma saída pacífica. Para ele, a criatura é má e deve ser destruída, tal como Ahab acredita ser sua Moby Dick, muito mais que uma baleia, mas a encarnação do mal, quase invencível.

Da mesma forma, somos levados a crer que a criatura de Kirk é um ser indestrutível, capaz de se esconder, imune às suas armas e capaz de atacar de forma traiçoeira e mortal. Kirk pune Garrovick de forma arbitrária, demonstra sinais de paranoia, ao criticar o comportamento de sua tripulação, e demonstra a tal obsessão que dá título ao segmento. Essa seria uma aposta interessante e arrojada para o personagem, mas, aqui, a decisão do roteiro de preservar Kirk, fazendo com que ele tenha razão, acaba por roubar o maior potencial dramático que este segmento poderia oferecer virando a chave.

Quando o roteiro caminha para atribuir a Kirk elementos que depõem contra sua sanidade mental, a trama muda de eixo. Kirk começa a questionar a correção de suas atitudes, o que é o primeiro indicativo de que ele está no controle emocional de suas ações. Quando interpelado por Spock e McCoy, ele reconhece a legitimidade da ação de seus dois oficiais, o que reforça tal sentimento.

Daí em diante, Kirk assume de novo o comando e volta a ser o “herói” que conhecemos. Ele consegue argumentar de forma razoável com os dois a respeito de suas motivações e, então, por mais uma coincidência de roteiro, a criatura surge, deixando o planeta em velocidade de dobra, comprovando uma das teorias do capitão, de que este ser é capaz de se mover pelo espaço. A Enterprise começa, então, a sua caçada, mas, quando esta se vê ameaçada Kirk, recua, numa demonstração de controle. Nesse momento, a criatura se volta para atacar a nave, dando a Kirk a justificativa para combatê-la.

Spock também tem uma participação singular aqui. Primeiro, ao tentar confortar, da maneira que pode, tanto Kirk quanto Garrovick e, depois, por tentar deter a entrada da nuvem no alojamento (através da entrada de ventilação convenientemente quebrada pelo alferes, pouco tempo antes) de Garrovick com as mãos, em uma atitude totalmente ilógica, visto que era óbvio que tal ação era impossível.

E o que o que deveria ser o ponto alto do drama, quando Kirk finalmente percebe a inutilidade de suas ações e libera Garrovick de sua culpa e, ao fazer isto, também a si mesmo daquela que ainda carrega sobre os acontecimentos de seu passado. A questão é que esse momento é tão telegrafado que não consegue alcançar a intensidade pretendida aqui, passando quase como uma formalidade.

Desse ponto em diante, o segmento cai no lugar-comum da caçada ao monstro da semana, sob a liderança de um agora justificado Kirk, que lidera a Enterprise e sua tripulação em mais uma missão que irá salvar a galáxia, usando para isso um dispositivo high tech (a bomba matéria x  antimatéria) criado a última hora, com direito a um também telegrafado ato de heroísmo de Garrovick e Kirk. Nada muito criativo realmente.

A percepção da criatura como uma entidade má simples e totalmente unidimensional vai ao encontro das necessidades de roteiro, mas reduz muito a qualidade dramática do segmento e peca contra a mensagem de entendimento geralmente proposta pelos melhores episódios de Jornada. Nada que agrida a integridade da série como um todo, mas que apenas torna a conclusão um pouco previsível.

E, se já sabemos que os episódios da Série Clássica são comumente ancorados em Kirk, Spock e McCoy, neste segmento nem mesmo o ator convidado, Stephen Brooks, consegue algo relevante, fato que pode ser creditado ao material pouco inspirado com o qual o ator teve que trabalhar. Shatner, Nimoy e Kelley apresentam a costumeira química e trabalham de forma satisfatória ao longo do episódio, mas sem destaques.

Jornada nas Estrelas já teve outros episódios com referências a clássicos da literatura que alcançaram maior sucesso. Obras diversas como Lost Paradise (“Space Seed”), de John Milton, e MacBeth (“The Conscience of the King”) de William Shakespeare, entre as mais notáveis, mas, aqui, o resultado se encontra aquém da ambição. E, se levarmos em consideração que, filosoficamente, “The Doomsday Machine” consegue um eco maior com a obra que o inspira, justamente por se concentrar na sua essência, “Obsession” é, sem dúvida em sua maior parte, desperdício de material.

O maior mérito deste segmento é trazer elementos do passado de James Kirk à tona, como seu tempo de serviço na Farragut, o apreço pelo então capitão Garrovick, aparentemente seu primeiro capitão, bem como os eventos que levaram à perda de varias vidas e o sentimento de culpa de Kirk. Mas isso é pouco.

No fim de tudo, o excesso de coincidências necessárias à viabilidade do segmento, a falta de um melhor aproveitamento do personagem Garrovick e a decisão de conduzir a trama para um final convencionalmente heroico comprometem a amplitude dramática desta história. Se a intenção, aqui, era capturar um pouco da essência da obra de Hermann Melville, seu sucesso — com muito boa vontade, pode-se dizer — é limitado.

“Obsession” até funciona ao ser visitado pela primeira vez ao menos como um episódio de aventura, mas, quando se pensa mais sobre ele, é forçoso concluir que não passa de um episódio mediano.

Avaliação

Citações

“Intuition, however illogical, Mister Spock, is recognized as a command prerogative.”
(Intuição, embora ilógica, senhor Spock, é reconhecida como uma prerrogativa de comando.)
Kirk

“Crazy way to travel. Spreading a man’s molecules all over the universe.”
(“Crazy way to travel. Spreading a man’s molecules all over the universe.”)
McCoy

“There are many aspects of human irrationality I do not yet comprehend. Obsession, for one.”
(Existem muitos aspectos da irracionalidade humana que eu ainda não compreendo. A obsessão é uma.)
Spock

Trivia

  • Este episódio estabelece que o sangue vulcano é baseado em cobre e, por esse motivo, tem a cor verde.
  • Foi o porta-aviões USS YORKTOWN (CV 10) que recebeu os astronautas da missão Apollo 8, a primeira a levar homens à Lua. A missão decolou em 21 de dezembro de 1968, retornando à Terra em 27 de dezembro de 1968. A tripulação formada pelos astronautas Frank Borman, James A. Lovell, Jr. e William A. Anders, foram os primeiros homens a circunavegar a Lua e os primeiros astronautas a abandonar a órbita da Terra.

Ficha Técnica

História de Art Wallace
Dirigido por Ralph Senensky

Exibido em 15 de dezembro de 1967

Título em português: “Obsessão” (AIC-SP), “Obsessão” (VTI-Rio)

Elenco

William Shatner como James T. Kirk
Leonard Nimoy como Spock
DeForest Kelley como Leonard McCoy
James Doohan como Montgomery Scott
Nichelle Nichols como Nyota Uhura
Walter Koenig como Pavel Chekov
Majel Barrett como Christine Chapel

Elenco convidado

Stephen Brooks como alferes Garrovick

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Edição de Carlos Henrique B Santos
Revisão de Nívea Doria

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