TNG 5×01: Redemption II

Conclusão da guerra civil klingon distribui protagonismo entre os personagens

Sinopse

Data estelar: 45020.4

No fim do ano passado, Worf abandonou a Frota Estelar para se juntar ao exército do novo chanceler do Império Klingon, Gowron. Facções que não aceitaram a vitória de Gowron no Alto Conselho iniciaram uma guerra civil, sob o comando das irmãs Duras. Apesar de entender a posição de Worf, Picard se recusa a envolver a Enterprise diretamente em um conflito interno klingon.

Por outro lado, o capitão decide interceder junto à Frota Estelar para montar um bloqueio na fronteira do território klingon com o Império Romulano, a fim de evitar que os romulanos interferissem na guerra civil, ajudando os exércitos das irmãs Duras a sobrepujar Gowron.

Após convencer a Federação de sua proposta, Picard monta uma frota de 23 naves para colocar em prática o bloqueio. Alguns de seus oficiais seniores foram designados para outras naves. Riker e Geordi foram assumir o comando da USS Excalibur. Data recebeu o comando da USS Sutherland.

Durante os conflitos na capital klingon, Worf é sequestrado por guerreiros sob o comando de Lursa e B’Etor. Enquanto isso, as duas irmãs continuam a tratar da guerra com uma comandante romulana chamada Sela, que guarda grande semelhança com a falecida oficial da Frota Estelar Tasha Yar. Ela está discutindo com os klingons rebeldes como pretendem tomar o controle do Império quando é informada da intervenção da Federação, ao enviar sua frota de naves para a fronteira.

Na esperança de convencer Picard a desistir do bloqueio, Sela faz uma visita surpresa ao capitão. Picard reage com ceticismo quando a romulana diz ser a filha de Tasha Yar, mas Guinan mais tarde o convence de que Sela fala a verdade. A el-auriana insiste em dizer que de algum modo se lembra de Picard enviando Tasha para uma Enterprise de outra época (a NCC 1701-C), 23 anos no passado. Por causa disso, Guinan afirma, Picard é responsável direto pelo nascimento de Sela.

O capitão pede um encontro com a romulana, que o pressiona para saber a estratégia da Frota Estelar e dá a ele 14 horas para recuar ou ser atacado por forças romulanas. O capitão não revela nada e procura descobrir mais sobre o passado de Sela. Quando a romulana confirma a história de Guinan, Picard percebe que ela realmente é a filha de Tasha Yar. Enquanto isso, Worf é levado às irmãs Duras, que tentam convencê-lo a juntar-se a elas, casando-se com B’Etor. O klingon recusa.

Com o prazo dado por Sela se esgotando, Picard decide que o único modo de evitar uma guerra com os romulanos é expor seu envolvimento na guerra civil klingon. Ele convence Gowron a lançar um ataque maciço contra as forças da família Duras, para que os rebeldes requisitassem a ajuda romulana.

Ao serem detectados entrando no espaço klingon, graças à eficiente atuação do comandante Data a bordo da Sutherland, os romulanos desistem de apoiar Lursa e B’Etor, que finalmente acabam derrotadas. Gowron é estabelecido como o líder do Alto Conselho, e Worf decide retornar à Frota, servindo a bordo da Enterprise.

Comentários

Se a primeira parte de “Redemption” foi totalmente voltada para Worf, sua continuação ofereceu tarefas interessantes para vários personagens. Picard (em seu confronto com Sela), Data (em sua disputa com o tenente-comandante Hobson para se provar um oficial apto a comandar), e, claro, Worf (descobrindo que ser klingon não é apenas ter calombos na testa) são os maiores beneficiados.

Obviamente, a diluição da atenção dada a cada personagem diminui um pouco a análise psicológica que se faz de cada um deles, resultando em episódio menos intenso que sua primeira parte. Por outro lado, o roteiro extremamente desenvolto de Ronald D. Moore consegue suprir quase totalmente essa deficiência. O segmento não perde o ritmo por um instante sequer – não há de fato tempo para ir buscar alguma coisa na geladeira entre uma cena e outra –, fornecendo uma história épica nos 45 minutos disponíveis.

Uma forma mais estatística de aferir a complexidade da trama é ver a quantidade de personagens secundários neste episódio – e não se trata de uma porção de figurantes. Há muita gente importante para a história: Toral, Lursa, B’Etor, Kurn, Gowron, Sela, Hobson e Guinan são só os exemplos mais proeminentes. De qualquer modo, é um esforço digno dos grandes escritores manter toda essa gente ocupada em menos de uma hora.

Além disso, a história consegue provar mais uma coisa: histórias de viagem no tempo não necessariamente exigem um botão reset ao final! Desenvolvendo as consequências do episódio “Yesterday’s Enterprise”, da terceira temporada, Ron Moore consegue empacotar uma subtrama complexa e que, ainda assim, pode ser entendida por quem não tinha testemunhado, dois anos atrás, a ida de Tasha à Enterprise-C. Esta é a maior prova de que a continuidade não necessariamente é uma pedra no sapato dos roteiristas. Quando respeitada e bem utilizada, pode se tornar uma fonte inesgotável de desenvolvimentos para a série.

Se a inserção de Sela no universo de Star Trek foi primorosa, sua interpretação já não foi à altura. Apática, Denise Crosby não consegue imprimir à personagem todo o potencial que existe nela. Que tipo de conflito interno existe na comandante que, quando criança, foi responsável direta pela morte de sua mãe? Nunca saberemos. O que vemos é um maniqueísmo exagerado.

Seria muito mais interessante se tivéssemos a chance de ver uma Sela mais dividida entre a sua lealdade para os romulanos e uma curiosidade para saber como era sua mãe. E olha que Patrick Stewart deu todas as chances, durante a reunião de Picard com Sela, para que Crosby imprimisse em sua atuação alguma sutil dualidade. Faltou uma atuação sutil à altura da tarefa.

Esse problema, por sinal, não está limitado a “Redemption”. Infelizmente, esses ângulos mais complexos de Sela nunca foram abordados, mantendo um padrão totalmente raso para as motivações da personagem. Aí entra mais na conta dos roteiristas mesmo. Ela voltaria ainda em “Unification”, também do quinto ano, mas com exatamente o mesmo estilo. Se Sela não tivesse sido inserida em episódios tão memoráveis, provavelmente nem seria lembrada com estima pelos fãs.

As sequências de Data a bordo da Sutherland são as mais divertidas do episódio. Cenas de diálogo afiado, como a do “pedido negado”, ou a em que o androide recrimina as atitudes de seu primeiro oficial para depois ordená-lo a fazer as mesmas coisas, ou a clássica sequência em que Data expõe os romulanos, seguida pelo reconhecimento de Hobson, ao chamá-lo enfaticamente de “capitão”, fornecem combustível para manter a audiência ainda mais à vontade com a “humanidade” de Data.

A jornada também é muito produtiva para Worf. Colocá-lo no seio da cultura klingon foi um modo extremamente eficiente de mostrar o impacto que os humanos tiveram sobre ele. Em “The Enemy”, do terceiro ano, Worf dá um grande passo, ao mostrar à audiência que ele não está limitado pelos valores humanos. Aqui, ele mostra que também não está totalmente comprometido com o modo de vida klingon, apesar da profunda admiração por sua herança.

A soma desses dois episódios faz com que Worf rompa de vez a barreira da simplicidade e se transforme em um personagem complexo, capaz de comportamentos menos previsíveis. A representação visual disso, na cena em que ele se recusa a matar Toral e pede a Picard para voltar a servir na Enterprise, é extremamente eficiente, lembrando muito o final de “Sins of the Father”, também do terceiro ano.

A direção de David Carson está à altura do roteiro de Moore. Os efeitos especiais também dão sua contribuição: é a primeira vez que vemos uma frota de naves da Federação a caminho de uma missão (já havíamos visto uma frota de naves, em frangalhos, após a batalha de Wolf 359, em “The Best of Both Worlds, Part II”). A cena é uma pequena prévia do que veríamos sistematicamente em Deep Space Nine a partir do terceiro ano – frotas inteiras com centenas de naves em confronto direto!

O episódio também não deve nada aos demais episódios com temática klingon em termos visuais. Os incríveis cenários e as bonitas pinturas do planeta capital do Império estão lá. Uma recriminação fica apenas para os cenários do interior das naves romulanas. É só impressão ou os cenários romulanos são sempre improvisos sem graça com base em rearranjo de outros cenários?

Avaliação

Citações

“It’s the Klingon way!”
“I know. But it is not my way.”
(É o modo klingon!)
(Eu sei. Mas não é o meu modo.)
Kurn e Worf

Trivia

  • A conclusão de “Redemption” só foi escrita após o retorno dos roteiristas do hiato entre temporadas. “Eu me diverti mais escrevendo a Parte II que a I”, contou Ronald D. Moore. “Nós sabíamos que havia muitas histórias para contar, mas eu não queria perder nenhum desses fios, e a coisa do Data foi a mais divertida de todas. Eu queria que tivéssemos mais um par de minutos, porque você o vê e ele não para, [mas] acabou um pouco restrito. Os paralelos com o golpe na União Soviética foram muito irônicos. Foi algo que ressoou em minha mente. A Parte II tinha um pouco mais de vida que a Parte I.”
  • Denise Crosby foi a originária da ideia por trás de Sela. “O papel veio de mim sentada em casa um dia pensando como foi divertido voltar e fazer ‘Yesterday’s Enterprise’, e foi tão divertido que pensei, o que mais posso fazer? Eu pensei que estava bem estabelecido que a tenente Yar e o tenente Castillo em ‘Yesterday’s Enterprise’ tinham algo firme rolando, então talvez eles tivessem uma criança ou Yar estivesse grávida quando voltou ao passado para travar sua batalha final. E eu pensei em tudo e parecia realmente fazer sentido, não havia furos. Então, minha intenção original era que a tenente Yar tivesse uma filha criada por romulanos que cresceria para de fato ser romulana. Eu trouxe isso e os produtores realmente gostaram da ideia e brincaram com ela por um tempo. Uns meses se passaram e recebi uma ligação e eles disseram que gostaram da ideia, mas não fazia sentido que a tenente Yar estivesse grávida de Castillo. Vamos fazer que Yar foi capturada, eles não morreram na batalha, a nave foi capturada e ela foi pega por um general romulano.”
  • Moore apontou alguns problemas de incorporar Sela ao episódio. “Foi difícil escrever e eu sabia que seria confuso e essa, em essência, é a dificuldade de fazer continuidade na série. É divertido e nos dá a sensação de estar num lugar real, mas você precisa explicar às pessoas que não viram todos esses outros episódios. Não era uma explicação fácil – aquilo tudo veio da Denise. Ela bolou o conceito, que me fez rolar os olhos da primeira vez que ouvi. Mas, conforme começamos a escrever a história de ‘Redemption II’, eu precisava de alguma coisa romulana acontecendo desta vez, já que ficávamos falando que estavam fazendo essas coisas. Pareceu natural. Encaixou e nós fizemos.”
  • Christopher Hobson ganhou seu nome em homenagem a um amigo de Ronald D. Moore, e “Keith” e “Terry”, a bordo da Sutherland, ganharam os nomes dos irmãos de Moore.
  • O efeito da superfície solar que afeta as aves de rapina no teaser do episódio foi criado pelo supervisor de efeitos visuais Dan Curry, usando meios mundanos. “Eu olhei para fotografias da superfície do Sol, e por alguma razão elas me lembraram de cereais secos. Então eu espalhei cereais em uma mesa de luz e coloquei um motor elétrico para que ele vibrasse um pouco e chacoalhasse, e peguei aquele plano chato de cereais vibrando e envolvi, com um aparelho eletrônico, sobre uma espera imaginária ou virtual. E ao fazer um negativo disso e pintando de laranja, ficou parecido com as células na superfície do Sol.”
  • Partiu do diretor David Carson a tradição de klingons celebrarem batendo cabeças. “Rick Berman me encorajou a inventar novos modos de comportamento, e é por isso que eles batiam as cabeças como um jogo, ou faziam braço de ferro com adagas afiadas presas aos punhos. Era totalmente klingon e é um mundo interessante de se trabalhar. Quando você tem a boa sorte de ter um episódio como ‘Redemption’, é capaz de fazer esse contraste maravilhoso entre o mundo limpo e otimista da Enterprise e o mundo sujo e deprimento dos klingons. Isso é ótimo para um contador de histórias.”
  • David Carson havia sido o diretor de “Yesterday’s Enterprise”. Ele fez ao todo cinco episódios de A Nova Geração e então dirigiu o filme Generations.
  • “Redemption II” foi filmado entre 8 e 17 de julho, nos galpões 5, 8, 9 e 16 da Paramount. As cenas com Gates McFadden e Whoopi Goldberg na sala de observação foram filmadas depois, por questões de agenda.
  • Ao final de “Redemption”, era mencionado que Worf serviria na nave de Gowron. Aqui, ele aparece na nave de Kurn, a IKS Hegh’ta. Ronald D. Moore explicou: “Muito tempo se passou entre os eventos da Parte I e da Parte II, então sentimos que havia um corte de tempo para justificar Worf trocando de posto. O que realmente aconteceu é que não tínhamos a história para a Parte II até depois do hiato… e realmente não tínhamos pensado em colocar Kurn e Worf na mesma nave até lá.”
  • Este episódio, “Unification II” (A Nova Geração) e “Unification III” (Discovery) são os únicos que não usam o sufixo tradicional “Part” nos títulos.
  • Cenas da ave de rapina klingon voando na direção do Sol foram reutilizados de Jornada nas Estrelas IV: A Volta para Casa. A Excalibur com a Enterprise-D, por sua vez, foi uma reciclagem do encontro de Enterprises em “Yesterday’s Enterprise”.
  • A nave que Data comanda neste episódio é a USS Sutherland, registro número NCC 72015, da classe Nebula. A primeira aparição de uma nave desta classe ocorreu no episódio “The Wounded”, da quarta temporada. A nave de Riker neste episódio é a USS Excalibur, da classe Ambassador, a mesma da Enterprise-C.
  • Após “Redemption”, Gowron voltará no episódio “Rightful Heir”, da sexta temporada. Kurn voltaria apenas em Deep Space Nine.
  • Rick Berman ficou bem satisfeito com o resultado final. “Foi um episódio incrível. Fizemos nossa trilogia política klingon até um ponto em que podemos descansar por um tempo. Mas achei que foi incrível e David [Carson] fez um trabalho maravilhoso.
  • Michael Piller também gostou e defende o uso de Denise Crosby da forma como foi feito. “Sela não foi criada para ser uma nova personagem regular na série. Eu discordaria que o retorno foi um fiasco. Eu achei bem efetivo, achei a história pregressa da Sela bem tocante emocionalmente. A única objeção que tive ao episódio é que, no momento crítico do quinto ato, a exposição do avanço romulano, perdemos uma tomada importante que não vendeu a natureza incrível do que Data havia conseguido fazer. Fora isso, eu gostei bem do episódio de abertura da temporada.”
  • O ator Michael Dorn elogiou, mas não sem algumas reservas. “Achei que foi uma boa oportunidade para mim. Mas eles também empacotaram várias coisas em um episódio… várias coisas. Foi demais. Eu achei que a história de Data deveria ter sido um episódio inteiro; era uma história interessante em que ele encontra preconceito e esse é realmente um ponto forte que precisava de mais tempo, mas eles optaram por não fazer. Também tinha a história de como eu volto à Enterprise e a coisa toda com a Denise Crosby. São três grandes histórias para um episódio, mas eles são as pessoas que escrevem e estão no comando.”
  • Brent Spiner comentou a atuação de Data como capitão. “Alguns fãs escreveram e disseram que acharam que Data estava realmente emocional em ‘Redemption’. Eu não achei isso. O que eu estava atuando era um personagem que estava em uma situação de comando pela primeira vez e o único modelo que ele tinha era o homem sob o qual ele serviu, capitão Picard. Então, quando ele gritou, ‘Faça!’, não era porque ele estava emocional, mas porque ele pensou que ia gerar uma resposta porque é isso que Picard teria feito.”

Ficha Técnica

Escrito por Ronald D. Moore
Dirigido por David Carson

Exibido em 23 de setembro de 1991

Título em português: “Redenção II”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Denise Crosby como Sela
Tony Todd como Kurn
Barbara March como Lursa
Gwynyth Walsh como B’Etor
J.D. Cullum como Toral
Robert O’Reilly como Gowron
Michael G. Hagerty como Larg
Fran Bennett como Shanthi
Nicholas Kepros como Movar
Colm Meaney como Miles O’Brien
Timothy Carhart como Christopher Hobson
Whoopi Goldberg como Guinan
Jordan Lund como Kulge
Stephen James Carver como piloto
Majel Barrett como voz do computador

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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