DSC 2×07: Light and Shadows

Em episódio de personagens, Spock chega a Discovery com parafuso solto

Sinopse

Data estelar: Desconhecida

A Discovery ainda está em órbita de Kaminar, onde irá investigar se a aparição do sinal vermelho deixou um traço de táquions, e Burnham solicita a Pike autorização para sair de licença e ir a Vulcano. Ela acredita que pode encontrar lá as respostas que tanto procuram sobre o paradeiro de Spock — o único que parece estar um passo à frente no mistério dos sinais vermelhos.

Pike autoriza, e a oficial de ciências parte numa nave auxiliar. Enquanto isso, na ponte, a tripulação é surpreendida pela enorme concentração de táquions detectada. Na impossibilidade de disparar uma sonda diretamente da Discovery, o capitão ordena que a nave se aproxime, o que leva ao surgimento de uma anomalia temporal. Pike ordena toda força a ré, para que a nave fique segura, e decide investigar a fenda no espaço-tempo com uma nave auxiliar. A contragosto, se emparceira com Tyler na perigosa missão.

Em Vulcano, Michael chega à casa em que cresceu e reencontra sua mãe adotiva, Amanda. Sarek está em um estado de meditação profunda chamado tok’mar — vulcanos antigos atribuíam à atividade a capacidade de chamar de volta as almas perdidas. O esforço tem sido em vão. Mas Michael nota em Amanda uma apreensão — ela está escondendo alguma coisa. Pressionada, ela revela que está ajudando a esconder Spock de todos, inclusive de Sarek, para protegê-lo de ser julgado por crimes que não cometeu. Burnham insiste em vê-lo e, após alertar que seu irmão adotivo não está do mesmo modo que ela se lembra dele, Amanda concorda.

As duas partem na nave auxiliar de Burnham para outra parte de Vulcano, onde elas entram numa cripta cheia de pedras de katra, que bloqueiam contatos telepáticos — ideia de Amanda para impedir que Spock fosse descoberto. E lá está o tenente da Frota Estelar, barbado e completamente desorientado, recitando de forma aparentemente aleatória os princípios básicos da lógica. Michael insiste que ele precisa de cuidados médicos, mas Amanda diz estar decidida a não entregar Spock às autoridades, usando para isso da autoridade do embaixador de Vulcano, seu marido, para impedir uma extradição. O que ela não imaginava é que Sarek acabaria encontrando o refúgio.

Próximo a Kaminar, Pike e Tyler se veem envoltos na anomalia temporal, que se torna ainda mais aguda depois que eles disparam uma sonda. Espaço e tempo parecem embaralhados ali, tornando o resgate dos dois altamente improvável. Saru, como capitão interino, percebe a gravidade da situação e pede a Tilly que recrute a ajuda de Stamets — depois de ter sido injetado com o DNA de tardígrado, o tenente-comandante mostrou ter habilidades únicas na percepção do tempo. Ajudou também, no processo de localizar a nave auxiliar, que Pike tenha usado uma manobra arrojada de ejetar e queimar o combustível, de forma a gerar sinais detectáveis pela Discovery.

Em Vulcano, após uma intensa discussão — tão intensa quanto uma discussão vulcana pode ser –, Sarek convence Michael e Amanda de que o melhor a fazer é entregar Spock à Seção 31. Sarek tem a promessa do capitão Leland de que seu filho não será ferido, e eles têm os melhores recursos para reabilitar o tenente e descobrir o que ele sabe sobre os sinais vermelhos e as aparições do Anjo. E assim Burnham parte, levando seu irmão quase catatônico consigo.

Na nave auxiliar próxima a Kaminar, as coisas só pioram. A sonda que Pike e Tyler dispararam voltou e trombou com o veículo, mas aparentemente ela agora é 500 anos mais velha e recebeu atualizações. Com tentáculos que antes não tinha, ela envolve a nave e tenta perfurar o casco para ter acesso ao interior. Os dois lutam como podem, mas um dos braços da sonda acaba penetrando o painel e se conectando ao computador de bordo.

Stamets conclui que é o único que pode pilotar a nave auxiliar para fora da anomalia e calcula as coordenadas para se transportar até lá, requisitando que Tilly opere os controles do transporte. A bordo, ele conduz o veículo para longe da anomalia, mas o combustível termina antes que a manobra fosse concluída. Enquanto isso, na ponte, Airiam monitora o que o braço robótico da sonda está copiando do banco de dados da nave, e um estranho sinal de três pontos vermelhos parece afetá-la.

Sem possibilidade de escapar com a nave auxiliar, Pike pede que Stamets calcule remotamente as coordenadas de transporte para eles, enquanto ativa a sequência de autodestruição. O trio escapa no último instante, levado de volta à Discovery.

Enquanto isso, Burnham se encontra com a nave estelar da Seção 31, e Spock é entregue a Leland. Ele reforça a promessa de que o oficial não será ferido, mas Georgiou diz a Michael que isso não é verdade e que Spock será morto. Ela recomenda que Burnham fuja com Spock e colabora com a ação, ao apenas simular resistência. Os dois fogem, para a frustração de Leland, que ainda tem de aturar Georgiou ameaçando-o com “a verdade”: de forma enigmática, ela diz que ele seria o responsável pela morte dos pais de Burnham.

De partida em sua nave auxiliar, Burnham consegue despistar as naves da Seção 31 num campo de asteroides, e então se toca que os números que Spock balbuciava sem parar estavam invertidos. Uma busca no computador de bordo revelou que eles eram coordenadas para um planeta: Talos IV. Ela então marca um curso para essa misteriosa destinação.

Comentários

“Light and Shadows” é um espetáculo maravilhoso do ponto de vista das interações dos personagens. O episódio escrito por Ted Sullivan traz muitas camadas à dinâmica familiar da família Sarek, numa sequência antológica de diálogos entre Michael, Amanda e Sarek, tendo como pano de fundo a presença zumbi de Spock. É o mais perto que Star Trek já chegou de fazer um programa “Casos de Família”, edição vulcana. E, claro, com aquele modo contido e muito lógico que Sarek tem por nascimento, e Amanda e Michael têm por educação.

Todos os que estão em cena estão fantásticos, mas quem se sobressai mesmo é Mia Kirshner como Amanda. A firmeza e a paixão que ela demonstra, revestida por um modo contido cultivado ao longo de uma vida vivida entre vulcanos, é absolutamente marcante, e faz a gente querer ver o personagem mais e mais. James Frain faz seu habitual bom trabalho como Sarek, mantendo-se contido exceto diante da possibilidade de perder, de uma vez, Spock e Burnham. Parece consistente com o personagem que diria, anos mais tarde, diante de uma alta sacerdotisa vulcana, que “minha lógica é incerta no que diz respeito a meu filho”.

O jogo de empurra entre Amanda e Sarek sobre quem tem culpa de quê para Spock estar tão perdido é honesto e sentido. Verdades são ditas. Sarek na verdade não tem tanto apreço pelos humanos como diz ter, segundo Amanda. Em compensação, de acordo com Sarek, Amanda teria prejudicado intelectualmente os dois filhos cultivando neles um apreço por uma “obra sobre o caos”, a eterna referência a Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll. Não se engane pela forma contida dos vulcanos; os nervos estão à flor da pele, e dá para sentir.

Na segunda trama do episódio, vemos diálogos igualmente afiados, com o sparring entre Pike e Tyler interessante e revelador. Em meio ao conflito — cultivado cuidadosamente desde que o ex-klingon, ex-tenente, atual agente da Seção 31 chegou a bordo –, verdades também aparecem. Pike tem se colocado na linha do perigo por remorso de ter ficado de fora da Guerra Klingon. Tyler acredita que sua insígnia lhe dá plenos poderes a bordo da Discovery, e o capitão o coloca no seu lugar. E a revelação de que estão lidando com interferências do futuro — e não necessariamente benignas, como parecia até agora — vem de forma plena, com a sonda que viaja 500 anos no futuro e volta, “atualizada”, para roubar o banco de dados da Federação e fazer sabe-se lá mais o quê.

É impossível, nessa hora, não se lembrar de “Calypso“, o Short Treks escrito por Michael Chabon que, inexplicavelmente, mostrou uma Discovery que passou mil anos abandonada e foi encontrada por um “astronáufrago” no século 33. O que acontecia ali já se tornou um pouco menos inexplicável depois de “Light and Shadows”, e a essa altura acredito ser uma aposta segura especular que ainda veremos na segunda temporada a própria Discovery fazer essa jornada de mil anos no futuro e então voltar, atualizada com a misteriosa inteligência artificial Zora, deixando o futuro da nave completamente em aberto.

O segmento da Seção 31 também é o melhor uso até agora da misteriosa agência de inteligência ligada à Frota Estelar. Até a imperatriz Georgiou, que andou fazendo uma linha caricata, parece mais tridimensional aqui (e sem perder o charme que Michelle Yeoh traz à personagem). A rede de intrigas começa a ficar interessante, embora vejamos uma boa dose de síndrome de universo pequeno. Sério que há conexão entre Leland e a morte dos pais de Michael? Pode haver uma história fantástica a ser contada aí, mas essas coincidências que vão se empilhando incomodam.

E, claro, como fã das antigas, é impossível não se arrepiar quando, ao final do episódio, descobrimos que Michael e Spock estão a caminho de Talos IV! Isso faz automaticamente do próximo episódio, “If Memory Serves”, o mais aguardado entre os fãs da velha guarda.

Mais uma vez, Ted Sullivan se mostra um talentoso “preenchedor de lacunas” do cânone, enriquecendo o passado de Spock da mesma maneira que fez no brilhante Lethe, da primeira temporada. Mas há algo que impede este de ser tão bom quanto aquele.

“Light and Shadows” por vezes é um tanto econômico no que diz respeito à verossimilhança da trama. Há algumas coisas nele que a gente precisa aceitar pelo valor de face, porque não param em pé sob escrutínio maior. Exemplos: como Spock conseguiu se esconder tão bem em Vulcano, ajudado por Amanda, estando piradão, debaixo das barbas da Federação? Depois, como foi fácil para Burnham descobrir que Amanda estava escondendo Spock? Depois, como foi ainda mais fácil fugir de uma nave estelar avançada da Seção 31 com Spock literalmente “às costas”? E, por fim, na trama secundária, envolvendo a fenda espacial, como ninguém está nem aí com Kaminar, onde eles acabaram de protagonizar uma revolução planetária? E como ninguém se deu ao trabalho de checar o que o “tsunami temporal” pode ter feito ao planeta?

São pontos sem nó que não resistem a uma puxadinha mais forte no fio. Alguns podem ainda vir a ser respondidos, outros certamente ficarão como estão. Mas eram todos pontos solucionáveis com um cadinho de engenhosidade e mais cinco minutos de episódio — que certamente poderiam existir, já que “Light and Shadows”, com seus modestos 40 minutos, é o mais curto dos episódios da segunda temporada até agora.

A despeito desses problemas, o episódio é uma beleza de se ver. A diretora Marta Cunningham acerta em cheio no tom, abandonando os movimentos de câmera frenéticos que por vezes são usados de forma exagerada em Discovery. Aqui a ideia é produzir algo mais “assentado”, orientado aos personagens, e dá para sentir de forma intuitiva o “respiro” que isso produz, sem prejuízo das sequências de ação.

Algumas das transições de cena são dignas de aplausos, como a que vai da trilha de queima de plasma da nave auxiliar de Pike para o teto de um laboratório da Discovery, ou a que vai do olho de Airiam para o teto da ponte da nave da Seção 31. E as câmeras menos frenéticas também valorizam em muito cenários, adereços e efeitos visuais. A quantidade de cenas esteticamente maravilhosas aqui impressiona: a chegada de Burnham a Vulcano, o encontro com Spock numa cripta, a belíssima imagem da abertura com um voo majestoso da Discovery ao redor de Kaminar… são momentos de encher os olhos.

“Light and Shadows” parece um pouco como a calmaria antes da tormenta. Ao que tudo indica, depois de tanto cozinhar o galo, a história dos sinais vermelhos vai entrar em ritmo acelerado agora, com Spock finalmente integrado à trama e partícipe da situação. E aí muito do peso deve recair sobre o jovem e talentoso Ethan Peck, que fez um ótimo trabalho em seu episódio de estreia, mas ainda ainda não fez por onde ser plenamente avaliado como Spock. Agora, que o timbre da voz dele evoca de forma quase sobrenatural Leonard Nimoy, poucos a essa altura negariam…

Avaliação

Citações

“I’m sorry, sir, you know how I get around violations of causality. Plus, you said I shouldn’t curse when I was on duty.”
“Mr. Tyler, the chair outranks the badge.”
(Lamento, senhor, você sabe como eu fico quando vejo violações da causalidade. Além disso, você disse que eu não deveria falar palavrão quando em serviço.)
(Sr. Tyler, a cadeira supera a insígnia.)
Tilly e Pike

Trivia

  • Nas primeiras versões do roteiro, este episódio era chamado de “More Than Nothing“.
  • Com duração de 40m14s, este é o episódio mais curto da temporada até agora.
  • “Light and Shadows” é o primeiro episódio em que os antigos showrunners Aaron Harberts e Gretchen J. Berg não são creditados como produtores executivos. E vemos aqui a estreia de James Duff como produtor executivo.
  • Marta Cunninghan, a diretora deste episódio, é esposa do ator James Frain, o Sarek de Discovery.
  • A nave auxiliar de Spock foi achada no Setor Mutara, que é onde fica a Nebulosa de Mutara, local do nascimento do planeta Genesis em Jornada nas Estrelas 2 – A Ira de Khan, e da morte do próprio Spock, 28 anos após este episódio.
  • A ação de Pike em acender o plasma da nave auxiliar lembra a atitude de Spock em “The Galileo Seven”, da Série Clássica, episódio que se passa aproximadamente nove anos após “Light and Shadows”.
  • O santuário vulcano tem uma réplica do Kir’Shara, uma espécie de bíblia vulcana escrita por Surak, como visto no episódio “Kir’Shara” de Star Trek: Enterprise.
  • O registro da nave da Seção 31 comandada por Leland é NCIA-93.
  • Talos IV é o primeiro planeta visitado em tela em Star Trek, no episódio-piloto que jamais foi ao ar, “The Cage”, de 1964. Posteriormente, ele aparece no duplo “The Menagerie”, do primeiro ano da Série Clássica. Desde então, Talos IV nunca mais apareceu ou foi citado em outra produção de Jornada, até “Light and Shadows”. Em Jornada nas Estrelas 2: A Ira de Khan, seu vizinho Talos III estava em uma linha de diálogo, que não chegou a ser filmada.
  • As coordenadas para Talos IV são 749 marco 148.
  • Na abertura vemos uma nova imagem do Anjo Vermelho, mais detalhada.

Ficha Técnica

História de Ted Sullivan & Vaun Wilmott
Roteiro de Ted Sullivan
Dirigido por Marta Cunningham

Exibido em 28 de fevereiro de 2019

Título em português: “Luz e Sombras”

Elenco

Sonequa Martin-Green como Michael Burnham
Doug Jones como Saru
Anthony Rapp como Paul Stamets
Mary Wiseman como Sylvia Tilly
Shazad Latif como Ash Tyler
Anson Mount como Christopher Pike
Michelle Yeoh como Philippa Georgiou

Elenco convidado

James Frain como Sarek
Mia Kirshner como Amanda Grayson
Ethan Peck como o tenente Spock
Alan van Sprang como Leland
Hannah Cheesman como a tenente comandante Airiam
Emily Coutts como a tenente Keyla Detmer
Patrick Kwok-Choon como o tenente Gen Rhys
Oyin Oladejo como a tenente Joann Owosekun
Ronnie Rowe Jr. como o tenente R.A. Bryce
Julianne Grossman como o computador da Discovery
Arista Arhin como a jovem Burnham
Liam Hughes como o jovem Spock

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Edição de Mariana Gamberger

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