Yamato: a “Jornada nas Estrelas” do Japão

Se você estiver como eu na casa dos 30 anos (mas com corpinho de 20), certamente se lembrará de um desenho animado exibido no início dos anos oitenta, época em que a Xuxa debutou no mundo da tevê através da extinta Manchete. O desenho em questão, Patrulha Estelar (considerada a Jornada nas Estrelas japonesa), fez a cabeça da molecada daquela época, fissurada pelas aventuras da Argo e do capitão Derek Wildstar. “Uchuu Senkan Yamato” (“Encouraçado Espacial Yamato”), título original do anime, é considerada por muitos como a maior saga espacial em anime de todos os tempos.

O desenhista Reiji Matsumoto criou o mangá original, em 1972. Juntamente com o produtor Yoshinobu Nishizaki, transpôs sua obra para a TV, em 1974. A saga da nave espacial Argo (ou Yamato, no original japonês), que defendia a Terra de todo tipo de ameaça com sua corajosa tripulação, cativou os fãs mundo afora. Os principais personagens, conhecidos no Brasil pelos nomes utilizados nos EUA (entre parênteses, os nomes originais japoneses), eram Derek Wildstar (Susumu Kodai), Lola (Yuki Mori), Stephen Sandor (Shiro Sanada), Mark Venture (Daisuke Shima) e o Capitão Abraham Avatar (Juzo Okita), além do vilão Desslock (Deslar). A única que teve o nome “aportuguesado” foi Lola, que em inglês se chamava Nova Forrester.

O primeiro arco de histórias, com 26 episódios, ficou conhecido como “The Quest for Iscandar” (“A Busca por Iscandar”) e foi exibido no Japão entre 1974 e 1975..Essa primeira fase não fez tanto sucesso por lá e em 1977 foi condensada em um longa-metragem para cinema, batizado Space Battleship Yamato (Encouraçado Espacial Yamato). O filme foi um êxito de bilheteria e animou os produtores a continuar a saga espacial Não podemos nos esquecer do seguinte fato: a primeira série – “The Quest for Iscandar” – é datada de 1974, três anos antes da estréia de “Star Wars” nos cinemas norte-americanos. A série, inédita no Brasil, narra o primeiro encontro da Terra com o arqui-inimigo, o generalíssimo Desslok, e traz o mítico Capitão Avatar no comando da nave.

O segundo longa chegou aos cinemas em 1978. Com o título “Farewell to Space Battleship Yamato – In the Name of Love” (“Adeus ao Encouraçado Espacial Yamato – Em Nome do Amor”) ou “Arrivederci Yamato” (Adeus, Yamato), também fez muito sucesso. Com essa história ocorreu o inverso do que aconteceu na primeira série de TV. Sua trama foi “esticada” e transformada na segunda série de 26 episódios, “O Cometa Império” (“The Comet Empire”), exibida no Japão entre 1978 e 1979 e no Brasil no começo da década de 80. O final do filme, muito trágico, foi alterado na série de TV. A versão exibida no Brasil foi a americana, inclusive com o tema de abertura em inglês.

Em 1979 foi produzido o telefilme “Space Battleship Yamato: The New Voyage” (“Encouraçado Espacial Yamato: A Nova Viagem”). O Império Golba destrói o planeta Gamilon e coloca Iscandar fora de sua órbita Em Iscandar vivem apenas Starsha, Alex Wildstar e a filha deles, a pequena Sasha. O Yamato recebe um pedido de socorro de Deslock e entra na luta para defender Skandar. A nave principal da frota Golba consegue resistir ao ataque dos aliados. Para evitar o sacrifício de Deslock no auge da batalha, Star-sha se rende e autoriza a descida da nave Golba em Skandar..Então, ela coloca Alex e Sasha num módulo de fuga. Enquanto a nave Golba desce, Star-sha aperta um botão e Skandar explode violentamente, levando consigo a nave invasora. Em seguida veio a terceira série, novamente com 26 episódios, chamada “A Crise do Sol (“Bolar Wars”), exibida na Brasil também pela extinta Rede Manchete. Na abertura em japonês exibida no Brasil (inclusive a canção tema), via-se o título original, Yamato III.

O quarto filme, “Be Forever, Yamato” (“Para Sempre, Yamato”) chegou aos cinemas em 1980. O mesmo Império Golba do filme anterior ataca a Terra para se vingar. Eles plantam uma bomba capa de apagar toda a vida orgânica do planeta. A única chance do Yamato vencer é ir para o misterioso planeta inimigo, que fica atrás de uma nebulosa negra. A jovem Sasha se sacrifica no final do filme. Sensacional, o filme, o primeiro da série em widescreen, é uma das aventuras mais épicas de toda a saga. Finalmente, em 1983, o derradeiro filme foi produzido, “Final Yamato” (“Yamato, o Final”). O terrível Império Dinguil consegue o impossível: com um mega sistema de teleporte, eles trazem todo seu sistema estelar para nossa dimensão. Seu plano é atrair o planeta aquático de Aquarius para a Terra. Conforme se aproxima da Terra, Aquarius começa a se desfazer em vagalhões capazes de engolir nosso planeta. Sem alternativa, o ressucitado Capitão Avatar, agora em comando da Yamato, ordena que a tripulação fuja, enquanto ele fica para detonar a Arma de Ondas. A violenta explosão faz a água retroceder e a Terra é salva novamente. A Patrulha Estelar chora a morte do Capitão e o fim da nave que serviu de lar para eles durante muitas viagens pelo espaço. Na epílogo, Wildstar e Lola finalmente se casam.

Houve uma tentativa de modernizar a série, com Yamato 2520, mini-série ao estilo Jornada nas Estrelas: A Nova Geração, produzida diretamente para o mercado de vídeo, em 1994. Apesar do design da espaçonave ter sido idealizado por Syd Mead (“Blade Runner”, “Aliens“), a história da série não agradou aos fãs mais fanáticos. A história começa 300 anos após os eventos de “Final Yamato”. Os humanos se espalharam pela galáxia e entraram em conflito com o Império Selene. Depois de uma guerra que durou 100 anos, décadas após o fim da guerra, humanos descobrem os destroços da trigésima nave chamada Yamato, que lutou na guerra, Com a ajuda do ex-capitão da nave, jovens do planeta colônia colocam a nova Yamato em ação novamente, e vendo isso como uma afronta ao tratado de paz, ambos os lados reiniciam a guerra. A série, programada para 6 episódios, teve apenas 4 episódios lançados no Japão em vídeo, e ate hoje não se sabe como a história da Yamato do ano de 2520 acabou. Uma pena, por que a animação, a trilha sonora e o desenho de produção de Mead eram excelentes.

Outra tentativa de trazer a Patrulha Estelar de volta, foi o filme chamado Yamato Rebirth, que foi cancelado devido a disputas judiciais sobre os direitos autorais da saga. Apenas um vídeo de 90 minutos detalhando a pré-produção do filme e mostrando os storyboards e testes de animação foi lançado no Japão. Em Yamato Rebirth, 20 anos apos a destruição do Yamato em Final Yamato, a Terra seria ameçada por um grande buraco negro e um já adulto e barbado capitão Wildstar, junto com sua filha adolescente chamada Myuko e sua antiga tripulação, tem como missão resgatar os destroços do Yamato original, agora encontrados nos asteróides de gelo do que era antes o planeta Aquarius, reconstruir a nave e partir em busca da salvação da Terra. Infelizmente, o que seria uma volta triunfal da tripulação da série original de Patrulha Estelar, não chegou a sair do papel.

Mas os fãs do Yamato não se desanimam! Leiji Matsumoto, co-criador da Patrulha Estelar, preparou mais dois projetos: um manga chamado Great Yamato, que mostra os decendentes da tripulação original em 3199, com uma nova missão em uma Yamato bem parecida com a original, e uma nova série em vídeo baseada na original: “Dai Guinga Dai Yamato 7 vs. 7” (algo como “Galáxia Imortal Infinita: Yamato 7 vs. 7”). A série prevista para ter 52 episódios, estava situada no ano 3199 e desconsiderava completamente os eventos de Yamato 2520 (isso mesmo, em Yamato, como Jornada, também existe o cânon e o não-canônico). Descendentes dos tripulantes do Yamato original são acionados quando uma nova ameaça chega à Terra: os alienígenas “Medanoids”. As forças de defesa do planeta estão escassas e decide-se reativar o “aposentado” Encouraçado Yamato a fim de que se possa combater os invasores.

A odisséia continua…

Artigo originalmente publicado no conteúdo clássico do Trek Brasilis em 22 de janeiro de 2005.