Entrevista com Chase Masterson

O site TrekWeb publicou uma entrevista exclusiva com a bela atriz Chase Masterson, a bajoriana Leeta da série Deep Space Nine. Masterson falou a respeito de seu mais recente longametragem Yesterday Was a Lie, agora lançado em DVD. Também comentou sobre seu início de carreira, sua vida pessoal e o tempo em que se dedicou a franquia. Detalhes a seguir.

A entrevista foi produzida por Gustavo Leão e Bill Williams.

Yesterday Was a Lie é um filme americano de produção independente, que estreou em 2008 e foi ganhador de onze premiações.

Como foi seu começo na interpretação? O que a levou a perseguir a carreira de atriz?

“Minha mãe era uma diretora de teatro, e eu cresci fazendo teatro desde que tinha cinco anos. Interpretar era realmente a única carreira que eu imaginava seguir quando crescesse, mas nunca pensei em fazer cinema, só teatro, meu primeiro amor. Agora eu amo os dois por razões diferentes. Eu sempre achei que o teatro e o cinema eram a mais poderosa forma eficaz de comunicação para um público – isso é que é atração”.

O que você pode nos dizer sobre Yesterday Was a Lie (ontem foi uma mentira)?

Yesterday Was a Lie é um filme noir, um clássico preto e branco. É ficção científica, e ele usa a mecânica quântica como uma metáfora para os relacionamentos humanos. Mas apesar disso ele é muito emocionante, o filme também tem fortes elementos emocionais. Pode ser absorvido de muitos ângulos diferentes – na verdade, ele tem que ser. Portanto, é um filme arriscado para ser feito. Mas isso é também porque tem sido aceito pela audiência do gênero melodramático – vocês são inteligentes e afetuosos o suficiente para captarem isso”.

Seu personagem é uma cantora de jazz. Por favor descreva-a para nós.

“Singer é uma mulher misteriosa com quem a personagem de Kipleigh Brown, Hoyle, se encontra, enquanto ela está em seu esforço para entender algumas estranhas manipulações do tempo que está enfrentando, junto com um senso de realidade alterada. Kipleigh traz um perfeito equilíbrio de força e vulnerabilidade ao papel de Hoyle, uma riqueza no qual o script exige. Quando os críticos falam de seu trabalho como sendo uma reminiscência de Bacall (Lauren Bacall consagrada atriz norte-americana dos anos 20 e 30), eles estão no caminho certo. E a química entre Hoyle e Singer é palpável, mas também é fundamental nessa história, como você verá após assistir o filme”.

“Embora o nome do meu personagem seja simplesmente “Singer”, que é a segunda protagonista – todos os personagens que Hoyle encontra tem nomes como “Singer” (cantora) ou “Trenchcoat Man” (homem da capa de chuva) ou Lab Assistant” (assistente de laboratório). Parece muito básico, mas é perfeito para o contexto do filme”.

“Você primeiro encontra Singer em um clube de jazz. Eu canto quatro músicas no filme, que foi um deleite, e três das canções são de jazz, que é a música que eu adoro cantar (eu tenho três CDs de jazz). Singer tem um lado espiritual, e tem um lado brincalhão. Ela tem um lado carinhoso – mas também tem uma paixão pela verdade, e ela está disposta a contá-la. Singer é um papel multifacetado, e me identifico com ela muito fortemente”.

Você também produziu o filme. Conte-nos sobre isso.

“Eu não pretendia produzir Yesterday Was a Lie – na verdade, eu tentei não fazer isso. Depois que eu fui chamada para o elenco, os produtores brigaram, que é o modo Hollywoodiano de sair. Eu disse a James que eu iria ajudá-los a encontrar um produtor. Através de telefonemas e e-mails contínuos, achei 37 produtores e entrevistamos eles, e cada um deles recusou o emprego porque o orçamento do filme não era suficiente – eles disseram que a gente nunca iria fazer este filme em alto-conceito com este orçamento”.

“Eu adoro um bom desafio, então eu fiz isso. Eu nunca tinha produzido a este nível antes, mas estava ali o bastante para conhecer os elementos que eram necessários e onde encontrá-los. E, peça por peça, o filme foi feito. O orçamento foi inferior a 200 mil dólares, que é quase inédito para este tipo de filme estilístico – e essa é uma razão por estarmos contentes que ele tenha sido tão bem sucedido”.

Como foi trabalhar com o diretor James Kerwin?

“James é um escritor/diretor extraordináriamente visionário, com uma atenção enorme com o tipo de detalhe que você não encontra frequentemente na TV – e sua visão estende-se, literalmente, em todos os detalhes do filme. Não há nada que não seja proposital – Yesterday Was a Lie é cheio de simbolismo, complexidade. Isso é delicioso para um ator”.

Sobre Yesterday Was a Lie, você ficou satisfeita com o produto final, agora lançado em DVD?

“Muito. O processo de produzir e interpretar foi extremamente difícil, devido ao conceito extremamente elevado e o baixo orçamento. Mas James e eu tivemos uma obrigação incessante com a qualidade, porque o projeto merecia. E é ótimo ver todo o trabalho duro ser recompensado em termos de aclamação da crítica”.

Conte-nos sobre o que o levou a sua escalação para o elenco como Leeta em Deep Space Nine.

“Na verdade, Deep Space Nine é a série principal que eu rezei para entrar, em grande parte porque as histórias de Jornada são muito prolíficas. Então eu consegui o que queria ao encontrar com o diretor de elenco, Ron Surma, numa exposição. Através disso, eu consegui um teste para o papel de Mardah na segunda temporada (que acabou ficando com a a triz Jill Sayre no episodio The Abandoned).

“O papel veio para mim e para uma outra atriz. Aparentemente Avery Brooks (que dirigiu esse episódio) admitiu em uma convenção que ele queria que eles me lançassem no elenco regular como um interesse amoroso para Sisko! Isso seria algo, não seria?”.

“De qualquer forma, então eu fui chamada para o papel de Leeta. Dois anos depois que eu passei pelo teste na série, Ira Behr me disse que escreveu o papel de Leeta para mim”.

Você  já foi uma fã de Jornada antes de ser posta em Deep Space 9?

“Durante A Nova Geração, eu tinha um namorado que era um fã de Jornada, e que eu só podia chamá-lo durante os comerciais. Isso foi na verdade a razão porque eu comecei a assistir, assim ficaria sabendo quando os comerciais começavam. Que estúpidez da minha parte, né? Mas foi assim que eu realmente percebi que as histórias eram tão fortes. Foi também minha primeira pista sobre o fenômeno do fandom”.

Quem você diria ser seus os atores favoritos para trabalhar e por quê?

“Trabalhar com atores experientes como Rene Auberjonois (Odo) foi uma experiência excelente. Quero dizer, ele trabalhou com Hepburn, conhecia o Gershwins. E depois que eu consegui meu diploma em arte dramática, a maioria dos meus colegas passaram a receber seus mestrados na Julliard (onde Rene lecionou) e vim para Los Angeles para fazer TV. E por causa da experiência de Nana na Broadway – que eu tinha visto sua dança em um musical da Broadway quando eu era criança – eu colheria informações sobre a interseção entre teatro e cinema. Então, eu considero tudo isso um pouco de meu próprio curso de mestrado prático”.

“E eu adorava trabalhar com Max Grodénchik – ele é uma alma boa, e ele se tornou realmente Rom de dentro para fora, quando ele tinha aquela maquiagem. E foi muito bom trabalhar com Armin Shermann (Quark). Ele foi muito gentil, muito acolhedor com Max e eu – e isso pode realmente ajudar um ator recorrente a encontrar um nível de conforto entre o elenco regular”.

“E eu tenho que mencionar o trabalho com Wally Shawn (Zek, o Grande Nagus). Indescritivelmente bom ator e divertido. Eu costumava ficar até mais tarde para vê-lo atuar, mesmo se eu já tivesse trabalhado 14 horas por dia. Cada tomada, ele era de fazer a gente se mijar nas calças de tão engraçado”.

“Eu também fiquei contente em ser dirigida por LeVar Burton (La Forge) e alguns outros atores; LeVar é uma pessoa muito criativa em muitos níveis, foi ótimo vê-lo em ação no comando. Trabalhar com os diretores que também são atores pode ser um processo muito gratificante, eles trazem uma riqueza de material que você não encontra nos diretores que abordam uma opinião essencialmente técnica”.

O que foi que fez do seu personagem Leeta um papel fascinante para atuar? 

“Embora Leeta não tenha conseguido mostrar o tipo de força que eu gostaria de mostrar, ela foi um estudo de opostos. Como uma menina Bajoriana de Dabo, ela era tanto divertida quanto altamente espiritual. Se vestia muito sexy, mas era suficientemente inteligente para saber como abordar o Dr. Bashir. Não foi do tipo “hey, baby …” era mais tímida, mais doce. Enquanto era uma funcionária que estava abaixo na posição hierárquica,  estava disposta a arriscar tudo para fazer a coisa certa e defender na união Ferengi. E embora Leeta amasse Rom com aquele compromisso, ela não era nenhuma trouxa. Ela defendia o que acreditava estar certo nas questões envolvendo discussão pré-nupcial, latinum e vestuário, como uma mulher Ferengi. E agora ela é a esposa do Grand Nagus. A Dabo-girl que virou primeira-dama do Império Ferengi. Há empregos piores”.

Leeta foi muito mais um personagem cômico, e eu estou querendo saber se você já ansiava por um papel mais importante, tipo ação?

“Sinceramente? Eu nunca disse isso em entrevista antes, mas aqui vai. Vamos encarar os fatos: Leeta estava lá, inicialmente, por uma razão. Uma coisa que seja agradável aos olhos mas necessita pouca análise intelectual é importante na TV, e as meninas peitudas de alguma forma nunca deixaram de estimular índices de audiência. E é bom que Leeta tenha deixado de ser uma menina humilde do Dabo para se casar com o irmão Ferengi azarado – a mudança foi muito indicativa “das coisas não são o que inicialmente parece” nos conceitos em Jornada”.

“Mas, tanto quanto o desenvolvimento emocional profundo, não havia muito a ser desejado. Sim, Leeta providenciava um alívio cômico, mas era uma farsa e, estilisticamente, nunca iria decolar na TV hoje, agora que as audiências têm desenvolvido um gosto para um sci-fi mais realista, como Battlestar”.

“Então, eu achei o meu papel em Jornada como uma faca de dois gumes. Eu amo ser parte desse legado. Mas ele também foi limitado. Os diretores de elenco não perceberam que Leeta era apenas um dos muitos papéis que eu interpretei e que tem uma enorme gama de diversidade: uma trabalhadora social motivada, uma jornalista de TV travessa, uma piloto que enfrenta os riscos, uma mãe deprimida no episódio que ganhou Emmy de Plantão Médico. E agora a profundamente empática, a perversa cantora em Ontem Foi uma Mentira”.

“Lá, eu disse isso. Eu amei Leeta, mas há muito mais força e mais profundidade aqui – tanto na tela quanto fora dela – do que eu seria capaz de mostrar com ela. É frustrante ter uma reputação na indústria ou na base de fãs fazendo esse tipo de papel limitado – Leeta fazia parte de quem eu sou, mas não pára por aí”.

Quais foram os momentos que ficaram na sua mente?

“Uma memória amarga foi do último dia de filmagem, quando Jimmy (James Darren) estava cantando “The Way You Look”. Não poderia ter sido mais relevante – não apenas para a série, mas para nós. Os momentos tristes nas filmagens de Dogs of War (Cães de Guerra) e Favor the Bold   (A Sorte Favorece os Bravos) vem à mente, assim como The Sacrifice of Angels (Sacrifício dos Anjos). Tudo muito poderoso”.

“Mas houve outros momentos favoritos, também, fora das câmeras, como no trailer de maquiagem com todos no período da manhã, correndo a vista nos textos. Foi muito bom, energia criativa.

O que você mais sente falta em Deep Space 9?

“Sinto falta de estar na Paramount em uma base regular. Começar a trabalhar antes do amanhecer, quando a lua está ainda fora, sentindo a história  e o espírito da Paramount no silêncio, antes de mais alguém estar acordado”.

“E eu sinto falta das pessoas. Felizmente, Jornada é uma daquelas séries extremamente raras que nunca vamos realmente deixar para trás (como o último episódio), porque nos vemos em convenções, e porque os fãs são muito graciosos. Então, eu sinto falta dela – todos nós – mas ela ainda continua muito presente”.

Um de seus momentos mais diversificados em Jornada foi como a Comandante Leeta no segmento do Universo Espelho “The Emperor’s New Cloak”. Como foi colocar uma interpretação diferente sobre uma personagem familiar?

“Bem, é sempre divertido surpreender uma audiência – e eu acho que a cena surpreendeu-os de várias maneiras. É engraçado, nós tivemos mais agitação (do público) nesta pequena cena do que qualquer outro cenário diferente que eu tenha filmado, exceto talvez por Leeta e Rom ter ficando juntos. O sexo vende, como eles dizem …”

Nota: no episódio The Emperor’s New Cloak, a Leeta do Universo Espelho tinha um relacionamento amoroso com Ezri.

Você ainda mantem contacto com algum dos seus colegas de série hoje?

“Sim, nós nos vemos em convenções todo o tempo, e há uma grande camaradagem – você não faz isso em cada série. Porque nós amamos fazer o seriado, temos um lugar especial dentro de todos os que trabalharam nele”.

Como a Deep Space Nine abriu as portas para a sua carreira?

“Os fãs de ficção científica são muito fiéis – é um prazer, e agradeço a Deus por ser uma parte do legado de Jornada. Essa é uma das razões porque eu queria estar na série, porque eu sabia que iria abrir portas em outros projetos de ficção científica. E abriu”.

Você voltou para o universo de Jornada interpretando uma perigosa garota escrava oraniana, na produção independente Star Trek Of Gods and Men. Você se divertiu com este papel, que era tão diferente de Leeta?

“Sim, eu me envolvi com Xela. Definitivamente, ela está muito longe de Leeta. Xela é sombria por dentro, devido a ter que usar seus instintos de sobrevivência nessa base regular. Isso faz com que se movimente diferente, que fale de maneira diferente. E Xela foi esperta. Abordei-a com a mentalidade de que ela era muito influente nas decisões que Harriman tomava – longe de ser uma escrava, eu acho que Xela era inteligente o suficiente para virar a mesa. Você não consegue ser a garota escrava do capitão à toa. Por isso, foi divertido, chegando a combinar tudo”.

Para finalizar, que conselho você daria a atores e atrizes aspirantes que procuram entrar na indústria?

“Vou lhe dizer o que um de meus primeiros professores de drama me disse: – não faça isso a menos que você precise. É um negócio muito difícil de se fazer, e se você está lá porque quer ser famoso, você provavelmente não vai durar muito – Estas podem ser palavras duras de ouvir, mas a rejeição e a quantidade de trabalho duro pode ser tão extenuante que realmente tem que haver uma forte razão para ficar”.

“Você sabe que no fundo se essa arte e o negócio estiver em seu sangue, e quando você não puder sequer imaginar ser feliz em outra linha de trabalho – quando parte de você quer estar apenas em um ensaio mais do que em qualquer lugar do mundo. Se isso é quem você é, então faça com tudo o que você tem, e não aceite um não como resposta. Não importa o que digam, mantenha a sua paixão e sua fé. E as chances são boas de que você consiga. Persistência, talento, habilidade, estratégia. Sucesso neste negócio é uma combinação de todas essas coisas. Mas, para ser cumprida, você tem que ter mais do que “sucesso”. Você tem que ter alegria no trabalho, não apenas desfrutar quando você está ganhando. Quando você festejar o fato de que está recebendo uma chance de criar – seja para fazer um teste ou para um episódio da semana – isso é o verdadeiro sucesso”.