TNG 2×03: Elementary, Dear Data

Envolvente aventura de holodeck tenta dar mais status à condição de Data

Sinopse

Data estelar: 42286.3

A Enterprise chega com três dias de antecedência para se encontrar com a USS Victory. Por conta disso, a tripulação acaba ganhando um tempo livre. Sabendo que Data é um aficionado por Sherlock Holmes, Geordi o convida a ir ao holodeck, onde eles viajam de volta à Londres vitoriana para resolver um dos famosos mistérios do detetive. Geordi interpreta Watson, e Data, Holmes, mas a aventura acaba sendo abreviada –tendo memorizado todos os livros de Arthur Conan Doyle, Data é capaz de resolver o caso sem nenhum esforço.

O engenheiro sai intempestivamente do holodeck, rumo ao bar panorâmico. Lá, ele tenta explicar a Data a diferença entre dedução e memorização. A doutora Kate Pulaski ouve a conversa e desafia Data a resolver um crime real, no estilo de Sherlock Holmes. Geordi ordena que o computador crie um mistério original e um oponente capaz de derrotar o androide.

Kate se une a Data e Geordi de volta a Londres, via holodeck. Mas o jogo começa a ficar perigoso quando a médica é raptada pelo arqui-inimigo de Holmes, o professor James Moriarty. Embora a dupla consiga localizar o paradeiro da doutora, eles são incapazes de resgatá-la porque Moriarty tem o controle sobre o computador da Enterprise.

Data e Geordi deixam o holodeck e revelam à tripulação a situação. Eles descobrem que o computador não criou um adversário à altura da inteligência de Holmes, mas da de Data –o que significa que Moriarty é mais do que brilhante: ele adquiriu consciência. Picard insiste em voltar para o holodeck com Data para resgatar Pulaski.

Data leva seu capitão até Moriarty, que ainda mantém a doutora como refém. Embora Data ofereça conceder a vitória a seu inimigo para concluir o programa, Moriarty quer mais. Ele quer deixar o holodeck e tornar-se real. Por sorte, Picard é capaz de convencê-lo de que ainda não existe tecnologia capaz de dar realidade material a personagens criados artificialmente pelo holodeck, prometendo salvar seu programa e restaurá-lo assim que os meios apropriados tenham sido inventados. Moriarty aceita a proposta e liberta a doutora.

Comentários

“Elementary, Dear Data” é tão saboroso quanto um mistério de Sherlock Holmes –com a vantagem de ganharmos, de uma vez só, não só o famoso detetive britânico como também um androide do século 24. De quebra, nos defrontamos com um dos hologramas mais carismáticos da série.

A ideia toda é usar a trama para convencer a audiência de que Data é uma forma de vida. Em princípio, o episódio até consegue fazer isso, porque os fatos são interpretados arbitrariamente para que essa mensagem seja transmitida. Parece muito simples: para algum personagem de holodeck derrotar Data, ele precisa ter capacidades iguais às de Data. Se o personagem adquiriu consciência, logo Data é um ser consciente.

O detalhe que ninguém questionou é que talvez Moriarty continue tão artificial quanto os outros personagens do holodeck. Aliás, as regras não costumam ser as mesmas o tempo todo, quando estamos falando do mecanismo holográfico preferido da turma da Nova Geração. Todos se surpreendem quando Moriarty é capaz de ver e chamar o “arco”, mas ninguém se incomoda que a senhora que está com ele também consiga ver o “arco” e o classifique como bruxaria. O que diferencia a senhora de Moriarty? Seguramente, não é uma “consciência”, mas a personalidade (artificial ou não) de cada um deles.

Ninguém garante que o arqui-inimigo de Holmes tenha de fato adquirido consciência. Ele apenas parece ter conquistado essa condição por ser capaz de compreender a verdadeira natureza do ambiente em que ele vive e a real identidade de Data e Geordi. É até um pouco exagerado que ele consiga controle do computador e conecte suas engenhocas holográficas aos sistemas da nave, fazendo-a chacoalhar, mas perdoamos esses detalhes pelo incrível entretenimento proporcionado pelo episódio.

De qualquer forma, questionar a consciência de Moriarty (ou mesmo de Data, ou de qualquer outro personagem holográfico) recai em uma questão mais filosófica do que técnica. Parecer ser é ser de fato? Se você perguntar a Alan Turing, um matemático que estudou a questão décadas atrás, a resposta é sim –uma vez que não somos capazes de “experimentar” a consciência alheia, o fato de algo parecer consciente já é suficiente para resolver a questão.

A discussão dá pano para a manga, mas o episódio não se propõe a oferecer uma resposta objetiva a isso. Ele apenas faz com que os personagens deem uma de Turing e aceitem as aparências como reflexo direto de uma realidade. Resolvida essa questão, passamos ao que mais interessa neste roteiro: a aventura.

É muito divertido ver Data e Geordi interagindo como Holmes e Watson. Aliás, a amizade dos dois foi muito bem construída ao longo da série, e com certeza este episódio figura como um dos tijolos mais importantes desse relacionamento. Também é bem utilizado o antagonismo entre Data e a sempre cética Kate Pulaski, a força que leva esse episódio para a frente, com o desafio ao androide.

Moriarty é excepcionalmente bem construído, nem tanto pelo roteiro, mas pela brilhante e carismática atuação de Daniel Davis. O personagem, que mostra grande potencial para tornar-se um recorrente, voltaria a aparecer na série apenas mais uma vez, no sexto ano, para fechar a história iniciada aqui.

Finalmente, “Elementary, Dear Data” se destaca pela impressionante reconstituição da Londres vitoriana, não tanto pelo aspecto histórico, mas mais ainda pelo estilo Sherlockiano dos cenários e do ambiente londrino. Não fosse o visor de Geordi e a pele dourada de Data, um telespectador desatento trocando de canal poderia muito bem ser fisgado ao pensar estar vendo uma obra 100% baseada na saga criada por sir Arthur Conan Doyle.

O tema “inteligência artificial” é por demais espinhoso, o que acaba gerando, volta e meia, interpretações simplistas para que ele possa ser adaptado em episódios de televisão. Mais à frente, em “The Measure of a Man”, teremos um belíssimo tratado sobre o tema, como raras vezes pudemos observar em uma série de ficção científica. Por ora, o destaque fica para o carisma e para o zelo técnico que permeia este episódio.

Avaliação

Citações

“Thank you for the tea and crumpets. I guess I’ll be going.”
(Obrigada pelo chá e pelos bolinhos. Acho que vou indo.)
Pulaski

Trivia

  • Anne Elizabeth Ramsay, vista aqui como a engenheira Clancy, reaparece no episódio “The Emissary”, desta mesma temporada, porém como uma oficial da ponte de comando, e alferes.
  • O personagem de Sherlock Holmes não voltará a aparecer na Nova Geração, devido a problemas legais que a Paramount acabou enfrentando junto aos herdeiros de Arthur Conan Doyle, o criador do personagem.

Ficha Técnica

Escrito por Brian Alan Lane
Dirigido por Rob Bowman

Exibido em 5 de dezembro de 1988

Título em português: “Elementar, Meu Caro Data”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Wil Wheaton como Wesley Crusher

Elenco convidado

Diana Muldaur como Katherine “Kate” Pulaski
Daniel Davis como Moriarty
Alan Shearman como Lestrade
Biff Manard como Ruffian
Diz White como uma prostituta
Anne Elizabeth Ramsay como Clancy
Richard Merson como “pie man”

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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