TNG 3×17: Sins of the Father

Primeira visita ao Império Klingon abre saga épica para Worf

Sinopse

Data estelar: 43685.2

A Enterprise recebe o comandante klingon Kurn, como parte de um programa de intercâmbio. Ele é bruto e exigente com toda a tripulação, menos com Worf, o único que não se importaria. Sentindo que se trata de uma provocação, o oficial de segurança questiona Kurn, que revela suas verdadeiras intenções a bordo da Enterprise: ele é um irmão perdido de Worf, separado dele após o ataque romulano a Khitomer que matou sua família.

Mogh, pai de Worf, está sendo acusado de trair os klingons e facilitar o ataque romulano, e Kurn quer que seu irmão vá ao planeta natal para desafiar o veredicto. Worf pede autorização a Picard, que concorda em levar a Enterprise até Qo’noS.

Lá, Worf apresenta seu desafio. K’mpec, líder do Alto Conselho, aconselha-o a desistir. O acusador Duras, por sua vez, tenta convencer Kurn a abandonar Worf sozinho, não cumprindo sua função de cha’DIch. Kurn se recusa e é esfaqueado. Worf então pede que Picard assuma o papel de cha’DIch, e o capitão concorda.

A tripulação da Enterprise investiga as evidências contra Mogh, confrontando os registros capturados com os romulanos com os diários de uma nave federada na região, a USS Intrepid. Eles descobrem sinais de adulteração das provas e também identificam que houve uma sobrevivente do ataque: Kahlest, que servia Mogh e sua família.

Picard vai até Kahlest e a convence a testemunhar. Ela o ajuda a escapar de um atentado e concorda em acompanhá-lo. Ao chegar ao Alto Conselho, a sessão é suspensa, e Kahlest é impedida de testemunhar. K’mpec sabe que Mogh é inocente, e que o verdadeiro traidor é o pai de Duras, mas acusá-lo levaria o Império Klingon à guerra civil. Para proteger a estabilidade e a vida do irmão, Worf aceita ser banido, o que equivale a admitir a culpa do pai, e parte de Qo’noS em desonra.

Comentários

“Sins of the Father” é um episódio fantástico, que usa Worf como trampolim para abrir a “caixa-preta” dos klingons. Apesar dos vários encontros com esses alienígenas desde a Série Clássica, e alguns bons episódios anteriores com eles, esta é a primeira vez que vamos ao planeta natal klingon (mais tarde batizado de Qo’noS) e nos defrontamos com a política do império.

Poderia ser algo arrastado, ou mesmo descambar para o ridículo, mas a execução 100% séria, sem piadinhas, funciona e estabelece a base para o que podemos esperar de um episódio “klingon”: muitas artimanhas e politicagens, revestidas por uma camada de hipocrisia escorada na tal “honra” dos guerreiros.

É muito interessante a contraposição entre os aspectos ritualísticos e a política rasteira praticada no Alto Conselho, e o episódio ganha vida com os cenários que retratam o coração da capital klingon. É verdade que o “Grande Salão”, visto de dentro, não é tão grande assim, mas o teto alto e a ornamentação ajudam a vender a ideia. E, claro, a fantástica pintura que retrata Qo’noS, combinada a elementos em live-action, é um espetáculo à parte.

É seguro dizer que nunca vimos antes em qualquer produção de Star Trek tantos klingons juntos, o que ajuda na imersão dessa primeira visita ao planeta natal deles. Do ponto de vista dramático, o episódio é bastante centrado em Worf, seguindo a orientação do showrunner Michael Piller de usar as tramas para explorar os personagens. Michael Dorn tem bastante com que trabalhar, mas vale destacar também o excelente trabalho de Tony Todd como Kurn.

Fora esses, Patrick Stewart ganha destaque e, mais uma vez, faz o bom e decisivo papel que costumamos esperar do capitão Jean-Luc Picard. E talvez a maior ousadia do episódio tenha sido seu desfecho: pela primeira vez, temos a sensação de que não acabou tudo como começou. Worf foi banido de seu planeta natal, e isso naturalmente ensejaria consequências, por mais que elas não reverberassem no dia a dia da Enterprise. Com isso, A Nova Geração faz seu primeiro flerte consistente com a serialização, abrindo um arco klingon que teria ainda muitos episódios, retratando não só a situação de Worf como a política do próprio império, em meio a ameaças de guerra civil e trapaças envolvendo romulanos.

O episódio faz excelente uso da mitologia pré-estabelecida, e até mesmo a velha metáfora da Guerra Fria para os klingons funciona bem aqui, retratando uma burocracia corrupta e antiquada no século 24, pouco antes de a própria União Soviética colapsar, no século 20. Com este roteiro, Ronald D. Moore se sedimenta como o “grande narrador da história klingon”, papel que lhe caberia em A Nova Geração e, mais tarde, em Deep Space Nine.

Seja por seus valores intrínsecos, por seu sucesso dramático ou pelo impacto que teria no futuro da saga de Star Trek, “Sins of the Father” é um grande marco.

Avaliação

Citações

“It is a good day to die, Duras, and the day is not yet over.”
(É um bom dia para morrer, Duras, e o dia ainda não acabou.)
Worf

Trivia

  • Este episódio nasceu a partir de dois roteiros diferentes, um de Drew Deighan, que trazia o pai de Worf acusado de traição, e outro de Beth Woods, em que o irmão de Worf vinha a bordo da Enterprise. Logo após se juntar à equipe da série, Ronald D. Moore recebeu os dois roteiros com a instrução de Michael Piller de combiná-los em uma só história. Como Moore ainda era inexperiente, W. Reed Moran foi colocado para trabalhar com ele. Mas Moran logo se afastou, por não conhecer nada da série. No fim, Moore e Piller deram forma final ao episódio.
  • Moore relembra: “Eu estava apaixonado por ‘Sins of the Father’ e lutei por ele quando houve dúvidas sobre o que fazer com ele. Eu realmente gostei do fato de que Worf levou um no queixo nesse episódio. Dizia que ele estava disposto a se erguer e fazer a coisa certa para seu povo, mesmo que eles não fossem fazer a coisa certa com ele. Patrick e eu estávamos juntos na premiação do Saturn, e ele deu uma sugestão muito boa. Quando Worf pede a Picard para ser seu cha’DIch, Picard originalmente diz uma palavra em klingon, mas Patrick achou que seria bom se Picard conhecesse uma fala inteira do ritual. Naquele momento não era um ritual formal, e não havia uma para Kurn também, então voltei e escrevi uma fala para ele dizer em klingon e repeti para Picard.”
  • A criação visual do episódio seria um desafio e tanto. O diretor Les Landau relembrou assim: “Aqui estava uma oportunidade de explorar o mundo klingon em profundidade, do começo ao fim. Quer dizer, Ron Moore criou uma história maravilhosa que Richard James, o diretor de arte, e Jim Mees, o decorador de set, tinham de visualizar em termos de design de cenário e decoração. Além disso, Marvin Rush, o cameraman, tinha de encontrar conceitualmente uma representação visual de como era o mundo klingon. Acho que esses três senhores cumpriram a tarefa completamente. De fato, Richard e Jim ganharam prêmios Emmy por esse episódio, algo que muito me orgulha. O trabalho do Marvin fala por si mesmo. Foi visualmente um dos episódios mais dinâmicos já feitos. Parece um filme. Houve longas e detalhadas conversas sobre como, conceitualmente, deveríamos lidar com eles. No fim, Rick Berman deu a aprovação final para cada um dos detalhes e ideias, e nós mostramos um mundo que até então nunca tinha sido visto, e que o público anseia em ver mais. Eu nunca fui um dos fãs da Série Clássica, contudo. Minha atitude era, é e sempre será, de nunca ver o que veio antes, mas ir aonde ninguém foi antes e visualizar no meu pensamento e na minha mente como o visual deve ser, algo que é ditado pela história. Precisamos sempre voltar às palavras e ao que a história é, porque sem ela não temos nada para contar. Afinal, um episódio de televisão nada mais é do que contar uma história.”
  • Como uma piada interna, o capitão da USS Intrepid é listado como Drew Dieghan em um monitor. É o nome do autor original da ideia que embasou o episódio.
  • O design do Grande Salão Klingon (e de outros cenários no episódio) ganhou um Emmy de melhor direção de arte para o designer de produção Richard James. O exterior do Grande Salão e a circundante Primeira Cidade são uma pintura criada por Syd Dutton, na Illusion Arts.
  • O Grande Salão foi um reaproveitamento, com várias alterações, da estação de pesquisa de Tanuga IV, construída para o episódio “A Matter of Perspective”.
  • Michael Piller ficou satisfeito com o resultado final: “Foi complicado, porque estávamos combinando personagens e roteiros, tentando montar uma história de Worf de que gostássemos. Acho que saímos disso bem, com um bom episódio.”
  • Ron Moore elogiou a atuação de Tony Todd. “Achei que Tony Todd fez um ótimo trabalho como o irmão de Worf. Eu estava preocupado, porque tem sempre aquela hesitação de trazer outros membros da família que ninguém nunca viu. Metade do público está pronto para jogar objetos na tela, e você está pensando, ‘É melhor que isso funcione’. Eu estava lá quando ele entrou em cena e se apropriou do papel.”
  • O roteirista também destacou a importância do desfecho. “A maior decisão neste episódio foi o final… em que Worf leva no queixo e decide aceitar sua desonra, mesmo sabendo ser uma mentira, mas pela glória maior do Império, e ele sai pela porta e terminamos com aquele senso de: ‘Oh meu Deus. Isso mudou Worf para sempre, e o que vai acontecer com ele depois?’ E o que fizemos com a franquia de um modo geral é que de repente a gente dizia que tem uma história contínua aqui… Assim que Worf sai pela porta com sua desonra, isso exige uma sequência. E é por isso que acabamos tendo “Reunion” e “Redemption” e outros mais. Todas as histórias do Worf nascem daquele momento, e também abriu a ideia a toda a franquia de que talvez pudéssemos fazer histórias contínuas. Foi realmente um momento central, quando olhamos para como estruturamos A Nova Geração.”
  • Michael Dorn também ficou bem satisfeito. “Havia muito mais nele do que os roteiristas perceberam. Coisas que têm a ver com lealdade e honra klingon. Eles não dão a ele seu valor. Você olha para Worf sob uma luz diferente, e eu o atuei sob uma luz diferente desde aquele episódio. Não é algo que eles bolaram. Estou fazendo isso por conta própria. Ei, a culpa é deles. Eles escreveram. Então, agora, vou continuar com isso.”

Ficha Técnica

Roteiro de Ronald D. Moore & W. Reed Moran
Baseado em um roteiro de Drew Deighan
Dirigido por Les Landau

Exibido em 19 de março de 1990

Título em português: “Pecados Paternos”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher
Wil Wheaton como Wesley Crusher

Elenco convidado

Charles Cooper como K’mpec
Tony Todd como Kurn
Patrick Massett como Duras
Thelma Lee como Kahlest
Teddy Davis como técnica do transporte

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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