TNG 3×19: Captain’s Holiday

Picard ‘descansa’ com romance e a busca de um perigoso artefato do futuro

Sinopse

Data estelar: 43745.2

O capitão é convencido pela tripulação a tirar uma semana de férias no planeta Risa. Chegando lá, ele tromba com uma mulher que, para não ser identificada por um ferengi, finge conhecê-lo e o beija.

Contrariado, Picard toma banho de sóis e tenta relaxar lendo um livro, mas é abordado pelo tal ferengi, Sovak, que o acusa de estar mancomunado com a tal mulher. Ao retornar a seu quarto, ele é abordado por dois alienígenas, vorgons, que dizem ser oficiais de segurança do futuro que vieram resgatar o Tox Uthat, um artefato com o poder de interromper a fusão nuclear no coração de uma estrela. Criado no século 27, ele teria sido levado ao passado, ao século 22, onde teria sido escondido. E a história futura registrava que ele seria descoberto por Picard em Risa.

O capitão confronta a mulher, Vash, e descobre que ela está justamente atrás do Tox Uthat, assim como o ferengi. Picard e Vash se tornam parceiros improváveis na busca pelo artefato, em uma caverna. Sovak tenta impedi-los, mas não consegue. Ainda assim, ele acaba alcançando a dupla, no local onde supostamente o artefato estaria escondido. Também aparecem por lá os dois alienígenas. Mas, depois de muito escavarem, nada é encontrado.

De volta a seus aposentos, Vash se desvencilha de Picard e tenta partir “à francesa”, mas o capitão a flagra. Ele conclui que ela já havia achado o Tox Uthat, antes mesmo de os dois terem se conhecido, e criou todo o ardil para tirar Sovak de seu encalço. Ela confirma e mostra o artefato, enquanto a Enterprise contata Picard informando já estar em órbita.

Os vorgons aparecem mais uma vez e demandam que o Tox Uthat lhes seja entregue. Mas não conseguem provar ser quem dizem, e Picard ordena que a Enterprise transporte o artefato e o destrua, colocando fim à aventura. De volta à nave, o capitão parece ter tido férias bastante satisfatórias.

Comentários

Star Trek flerta com comédia desde a Série Clássica, mas “Captain’s Holiday” se enquadra em um tipo bem particular de comédia, mais raro na franquia: trata-se de uma comédia romântica.

Parte do sucesso do episódio depende da química entre os personagens, que aqui entregam as melhores versões de si mesmos. Os primeiros minutos, com Crusher, Troi e Riker tentando convencer Picard a partir em férias são excelentes. É interessante como a cena de Beverly com Jean-Luc lembra uma similar de Spock com Kirk, no clássico “Shore Leave”, mas aqui mais aprimorada: o capitão já saca rapidamente que se trata dele, o que torna as reações e respostas ainda mais engraçadas. Igualmente hilário é o uso de Lwaxana Troi, e uma possível visita à Enterprise, para convencer Jean-Luc a aceitar um descanso fora da nave.

Então somos introduzidos a um planeta que se tornaria notório em Star Trek: Risa. Ele combina uma cultura hedonista a um ambiente de paraíso tropical caribenho e seria palco de várias outras aventuras da saga, tanto em Deep Space Nine como em Enterprise, isso sem contar as menções.

E lá fazemos a transição entre uma comédia simples para uma romântica, com o encontro inicial entre Picard e Vash. A trama ganha ares de aventura arqueológica com um sabor sci-fi (já que o tal Tox Uthat é proveniente do futuro), mas o artefato não passa de um “McGuffin” — jargão da indústria do entretenimento usado para designar um objeto cuja existência faz a trama andar, sem necessariamente ter alguma importância ou consequência depois de ser encontrado (o que de fato se confirma, uma vez que Picard o destrói).

Mais uma vez, o que sustenta são os personagens, e as boas escolhas de elenco. Depois de muito cobrar, Patrick Stewart ganha um romance para Picard, e sua química com Jennifer Hetrick, que interpreta Vash, é excelente (tanto que ela acabaria voltando à série na quarta temporada, com “Qpid”). Também vale destacar a aparição de Max Grodénchik como Sovak. Ele mais tarde interpretaria um ferengi mais famoso, em Deep Space Nine: Rom, o irmão de Quark.

Temos aqui um episódio leve e divertido, que expande o personagem do capitão ao mostrá-lo longe de sua tripulação e um pouco mais relaxado. Mas não muito — afinal, estamos falando de Jean-Luc Picard.

Avaliação

Citações

“From the moment I met you, I knew you were going to be trouble.”
“You look like a man who could handle trouble.”
(Do momento que a conheci, soube que você seria problema.)
(Você parece ser um homem que consegue lidar com problemas.)
Picard e Vash

Trivia

  • Trazido pelo showrunner Michael Piller na terceira temporada para ajudá-lo na sala de roteiristas, Ira Steven Behr tem sua primeira chance aqui com um roteiro solo (embora tivesse contribuído antes com um dos atos de “Yesterday’s Enterprise”). “Quando finalmente tive um roteiro meu para escrever, bolei essa ideia desse planeta do prazer.”
  • A versão original da história, que Ira Behr escreveu com alguns palpites de Ronald D. Moore, era bem diferente. Risa era apenas o local em que Picard encontraria uma atração em que visitantes confrontavam seus maiores medos, e ele se veria em um futuro como almirante, com um trabalho chato de escritório, enquanto Riker era capitão da Enterprise. Michael Piller gostou da ideia, mas ela foi vetada por Gene Roddenberry, que considerava que esses medos sobre idade e futuro não fariam parte da humanidade no século 24. Mas Gene adorou o conceito de Risa e encorajou Behr a achar outra história que pudesse usar o planeta. Elementos da história original acabariam reaproveitados no episódio “Future Imperfect”, da quarta temporada.
  • A nova versão da história contemplava o desejo de Patrick Stewart por mais “sexo e tiros” para Picard. Ira Behr relembrou assim: “Patrick vivia dizendo que o problema da série é que não havia ‘f-ing’ e ‘f-ing’ suficiente: fighting (luta) e fornicating (transa).”
  • Michael Piller relembra a gênese da nova história: “Originalmente seria uma história tipo Relíquia Macabra (Maltese Falcon), em que uma coisa rara e velha havia sido perdida e várias pessoas a estavam procurando nessa ilha… Era originalmente um bom roteiro, mas poderia ter sido [um episódio de] Magnum. Ron [Moore] estava lá com a equipe e disse, ‘em vez de ser do passado, não poderia ser do futuro?’, e eu disse, ‘o que significa que os caras que a estão perseguindo são do futuro’, e isso começou a dar um novo rumo à trama.”
  • Uma versão preliminar do roteiro terminava com uma repetição da cena dos vorgons que abre o segundo ato, sugerindo que eles no fim teriam sucesso em obter o artefato. De acordo com Piller: “Achamos que era um pouco confuso e cortamos. Era um final meio Além da Imaginação e não funcionava bem.”
  • Patrick Stewart atribuiu a si mesmo a ideia de Vash. “Eu disse que sentia que nosso público poderia querer ver o capitão se envolvendo ao conhecer uma pessoa nova.” Segundo Ira Behr, seu objetivo ao introduzir Vash “foi uma tentativa de trazer uma mulher corajosa que não é uma mulher típica de Star Trek, que pensava com clareza em termos do que fazia com a própria vida e sexo e tudo mais”.
  • De início, os roteiristas ficaram bem empolgados com o episódio, mas ele ainda precisaria ser aprovado por Roddenberry. “Rick [Berman] diz, ‘você precisa falar com o Gene’”, contou Ira Behr. “Então eu vou e ele é muito gentil. Ele diz: ‘Eu gosto da ideia do planeta do prazer e eu quero que seja um lugar em que você vê mulheres acariciando e beijando outras mulheres, e homens de mãos dadas, se abraçando e se beijando, e podemos sugerir que eles estão fazendo sexo ao fundo’. Huh, sério?” Behr então ficou apreensivo em como dizer a Gene que aquilo jamais passaria pelos executivos. “Estou meio que, ‘eita, estou no meio de um Além da Imaginação’. Volto ao Rick. Ele vira: ‘Pft, não preste atenção nisso, apenas faça o capitão transar.”
  • Este é o primeiro episódio dirigido por Chip Chalmers, que trabalhava como assistente de direção na série. Ele ainda dirigiria muitos segmentos de A Nova Geração e Deep Space Nine. Neste aqui, ele teve de trabalhar boa parte do tempo gripado, o que não foi fácil. Ainda assim, foi um de seus favoritos: “Porque foi o primeiro. Este episódio também foi incrível porque Patrick é um ator maravilhoso. A outra coisa para mim é que tive uma atriz maravilhosa, Jennifer Hetrick, e nos divertimos trabalhando no episódio. Posso relembrar esse episódio e sorrir por muitas razões, mas certamente o resultado mais feliz é que provamos que Patrick Stewart é extremamente engraçado.”
  • Jennifer Hetrick também comentou o episódio: “Pareceu uma história do tipo Tudo por uma Esmeralda/Os Caçadores da Arca Perdida. Eu usei isso como exemplo, mas não especificamente para meu personagem. Eu apenas usei minha imaginação e o que conheço de mim e a descobri muito aventureira e trapaceira até certo ponto, mas também vulnerável e dedicada. Eu adorei o ferengi, Sovak. Fui poupada da maquiagem, felizmente. Quando vi o que todo mundo tinha que passar, fiquei empolgada. Graças a Deus, eu era humana.”
  • Wesley (Wil Wheaton) e La Forge (LeVar Burton) não aparecem neste episódio.

Ficha Técnica

Escrito por Ira Steven Behr
Dirigido por Chip Chalmers

Exibido em 2 de abril de 1990

Título em português: “As Férias do Capitão”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Jennifer Hetrick como Vash
Karen Landry como Ajur
Michael Champion como Boratus
Max Grodénchik como Sovak
Deirdre Imershein como Joval

Enquete

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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