TB entrevista Anson Mount

Desde sua primeira aparição em Discovery, os fãs clamaram por uma série com o capitão Pike a bordo da USS Enterprise, vivido por Anson Mount. O sonho está prestes a se tornar realidade, a partir de 5 de maio, quando estreia Strange New Worlds, no Paramount+. Mas Mount garante que não é o astro do programa. “Não é Pike, é a Enterprise”, disse o ator, em entrevista ao Trek Brasilis.

Mount foi um dos maiores defensores da volta ao formato episódico, que agora volta a se manifestar na franquia em live-action, após as serializadas Discovery Picard. “Era importante para mim fazer uma série episódica porque Star Trek, o motor de Star Trek, eu acho, é a grande ideia da semana. Algumas pessoas chamam de ‘o planeta da semana’, mas é a grande ideia. Eu acho que a televisão em seu melhor, e talvez seu melhor resultado, é quando ela funciona meio como uma plataforma metafórica em que podemos falar sobre outras coisas basicamente.”

O bate-papo foi parte de uma rodada de imprensa promovida pelo Paramount+ para promover a chegada da série. O TB teve a chance de se juntar a jornalistas de várias partes do mundo para trocar ideias com praticamente todo o elenco principal de atores que trarão à vida as novas aventuras da nave estelar USS Enterprise. Confira a seguir um trecho do papo em vídeo e, abaixo, a transcrição completa da conversa com Anson Mount.

Queria perguntar sobre o formato da série, porque mesmo antes que a série tivesse recebido a luz verde você dizia em entrevistas que sentia que era importante voltar a um estilo clássico, mais episódico, grande ideia da semana, e fico me perguntando por que você pensava assim e como se sente agora, com quase duas temporadas filmadas. Como você se sente com esse novo estilo e formato?

Anson Mount – Primeiro de tudo, obrigado a todos por estarem aqui, eu agradeço o interesse na série. Para responder à sua pergunta, era importante para mim fazer uma série episódica porque Star Trek, o motor de Star Trek, eu acho, é a grande ideia da semana. Algumas pessoas chamam de “o planeta da semana”, mas é a grande ideia. Eu acho que a televisão em seu melhor, e talvez seu melhor resultado, é quando ela funciona meio como uma plataforma metafórica em que podemos falar sobre outras coisas basicamente. E, quando você faz um programa serializado – embora eu ache que há outras séries de Star Trek que fizeram isso muito bem e é apenas um animal diferente –, quando você tem de acompanhar tantos relacionamentos semana após semana após semana, não há muito espaço para a grande ideia da semana, e tenho mantido desde o início e continuarei a manter que eu não sou a estrela da série, não é Pike, é a Enterprise.

Seu trabalho anterior em Discovery foi muito bem recebido pelos fãs. Como você se sente a esse respeito?

Anson Mount – Sim, nunca tive uma reação de fãs que fosse parecida com aquela. Eu fiquei meio surpreendido por ela. E quando houve esse grande movimento de fãs pedindo por uma série baseada em Pike, eu realmente não sabia o que fazer com ele. Mas fiquei feliz e ainda aprecio. Isso mudou a minha vida. Isso me deu um trabalho em uma época muito importante, muito difícil, para atores. Isso me deu a liberdade de escolha de ter uma família. Então sou extraordinariamente grato e sinto um tremendo senso de responsabilidade em fazer o melhor que puder, no máximo que puder.

Você disse em entrevistas anteriores que é um grande fã da série original. Como Strange New Worlds faz um equilíbrio entre a série original e as séries modernas de Star Trek?

Anson Mount – Eu não tenho certeza de que sei a definição de “séries modernas de Star Trek“. Acho que cada série é sua própria coisa. Tudo que sei é que eu, Alex Kurtzman, Akiva [Goldsman], Henry [Alonso Myers], nós todos queríamos fazer algo que fosse fortemente influenciado pela série original e nós nos debruçamos sobre ela de vários modos, não apenas tecnicamente, em termos da natureza episódica ou o design, sabe, a forma como os feisers se parecem ou algo assim, mas tanto quanto no senso de otimismo e diversão e aventura que quisemos trazer. Queríamos que nossa audiência sentisse, eu queria que nossa audiência se sentisse do mesmo modo que eu senti quando tinha oito anos, todo domingo à noite, seis horas, quando eu não tinha ideia de para onde a Enterprise estava indo, que tipo de aprontos iam rolar, e a força motora daquela série para mim era a clara diversão que os roteiristas e os atores estavam tendo. Então eu realmente quis trazer aquele senso nesta série e acho que, em grande medida, tivemos sucesso. Estou definitivamente orgulhoso do produto que vi até agora e mal posso esperar para fazer mais.

Qual você acha que é o legado de Strange New Worlds para seu personagem, Chris Pike?

Anson Mount – Sabe, foi muito interessante ser escalado nesse papel, porque eu realmente tinha um senso de responsabilidade por um personagem que é tão venerado no cânone de Star Trek. Mas, estranhamente, havia muito pouco material sobre ele. Não havia muito Pike. E isso tinha suas vantagens e desvantagens. Havia menos em que mergulhar em termos de pesquisa, mas me forneceu um senso maior de liberdade para trazer meu próprio estilo ao papel e acho que, entrando nisso, a gente havia visto o Pike do primeiro ato, nos anos 1960, e era o do Jeffrey Hunter, e aquele era um Pike diferente. Havia algo meio que um Pike mais jovem, mais questionador, nos 20 e alguma coisa, meio em crise de identidade. E eu queria trazer um Pike do segundo ato. O Pike que é um pouco mais seguro em suas botas, sobre quem ele é e que tipo de capitão ele quer ser. Mas há, como eu disse antes, há um tremendo senso de responsabilidade, especialmente para alguém como eu que é um trekkie. E tem um momento estranho todos os dias em que estou no set, pensando em Star Trek.

Meio que já foi respondido, mas como Jeffrey Hunter e Bruce Greenwood influenciaram você? Esses atores influenciaram sua abordagem sobre Pike?

Anson Mount – Vai soar como uma resposta terrivelmente tediosa, mas não muito mesmo. Não porque eu não apreciasse o que esses atores fizeram, sou grande fã do Bruce Greenwood, e, sabe, Jeffrey Hunter era o Pike para mim quando eu estava crescendo. Mas eu venho do teatro e você não vai para uma produção de Hamlet pensando, ok, tenho de fazer o Hamlet de Olivier ou fugir do Hamlet do Mel Gibson. Não, você apenas faz Hamlet, você faz o seu Hamlet, então eu realmente não, quer dizer, eu obviamente os reassisti para me recolher onde havia os postes de meta [uma metáfora de esqui], mas não me senti impedido de qualquer forma ou com a sensação de que as pegadas eram muito fundas.

Minha pergunta é sobre Pike. Ele viveu alguns momentos memoráveis, mas também traumáticos, na temporada dois de Discovery, e eu queria saber como isso afeta na forma como o vemos aqui em Strange New Worlds.

Anson Mount – É, nós decidimos no começo que não poderíamos entrar nas minúcias da série sem lidar com a questão de o que faz uma pessoa, particularmente um líder, como ela recebe o conhecimento de seu futuro daquele jeito e consolida isso em sua vida e em seu estilo de liderança. E não queríamos meio que lidar com isso e então desencanar. Queríamos integrar isso ao desenvolvimento do personagem na própria série. E foi um grande exercício de imaginação, porque eu não acho que alguém já tenha realmente experimentado aquilo. Tem, claro, aqueles que recebem um diagnóstico terrível, mas em termos de saber o momento, local e causa exatas da sua morte, é algo bem pesado. Acho que, dada a escolha, a maioria das pessoas recusaria a oferta desse conhecimento. Então, acho que os roteiristas fizeram um trabalho incrível de incorporar isso no desenvolvimento.

No ano que passou, nas redes sociais, você disse que o papel permitiu-lhe fazer muitas coisas que nunca havia feito como ator. Você pode elaborar sobre essa afirmação?

Anson Mount – É, acho que sei do que você está falando. É difícil, é uma pergunta muito difícil de responder sem revelar tramas. Eu posso dizer isso: essa é uma das coisas mais divertidas em que já trabalhei por causa da abordagem que escolhemos fazer, por causa da cultura que escolhemos estabelecer nesse set, tanto em termos do tom da série e por nossa abordagem do trabalho. Nós nos divertimos muito aqui, nós todos tendemos a ser adultos e atores muito práticos, não deixamos ninguém num cantinho, você sabe, tentando evocar as emoções de sua infância. Nós, mais frequentemente do que não, estamos tentando encontrar a diversão em tudo, porque acho que essa é a chave para a criatividade de um ator. É diversão e travessura, então, sem responder diretamente à sua questão, espero que tenha dado algum senso do sentimento que me levou a tuitar aquilo.

Uma das coisas incríveis sobre Star Trek é que ela pega sua ambientação sci-fi futurista, mas responde a questões da ordem do dia. Eu me pergunto se isso é algo que vocês vão continuar a fazer em Strange New Worlds.

Anson Mount – Com certeza, sim, eu não sei se foi nessa mesa redonda ou na anterior que eu disse que uma série de TV em seu melhor serve como uma plataforma metafórica através da qual podemos falar sobre outras coisas. E é uma época muito interessante para estar vivo, acho que todos podemos concordar. E acho que o otimismo e a visão de progresso e a crença em nossa bondade intrínseca como pessoas, uma série que é baseada nisso, é um momento muito bom para ter isso. E também é algo divertido, que as pessoas vão escapar para. Acho que vocês já viram um pouco de como estamos respondendo a questões do dia no episódio piloto. Não posso realmente especificar do que estou falando, mas vocês provavelmente viram do que estou falando em termos de como escolhemos falar sobre nosso passado de uma perspectiva do futuro. Então sim, você acertou na mosca, eu quero continuar fazendo mais disso, e quero continuar fazendo de modos diferentes. Obviamente não sou um pregador, não nasci para ser um pregador, não tenho interesse em ser um pregador, mas acho que temos um mandato como artistas de encorajar pessoas a explorar a vida, o universo, pensamento, tanto quanto possível. Temos de ser sobre alguma coisa um pouco mais que uma série sci-fi. Tem de ser mais profundo que isso.

Colaborou Gustavo Gobbi.

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