TNG 5×05: Disaster

Episódio de catástrofe sem enredo coloca a tripulação em situações inusitadas

Sinopse

Data estelar: 45156.1

Em um momento de descontração, o capitão Picard conduz três vencedores de um concurso escolar de ciências por um tour pela Enterprise. Justamente quando ele está para começar o passeio, a nave encontra um fenômeno identificado como um filamento quântico, que causa sérias avarias. A comunicação entre diferentes áreas da nave é cortada e membros da tripulação ficam presos. Picard e as crianças estão em um turboelevador; já Beverly e Geordi estão presos na área de carga, onde estão ameaçados por uma combinação de radiação e contêineres de material perigoso. Riker, Worf, Data e a esposa grávida do chefe O’Brien, Keiko, tratam os feridos no bar panorâmico. Enquanto isso, Troi, a oficial mais graduada na ponte, é obrigada a assumir o comando.

Riker e Data elaboram um plano para alcançar a engenharia e restaurar a energia, deixando Worf cuidando dos feridos. Antes que cheguem a seu destino, ficam presos em um corredor estreito por onde atravessa uma corrente elétrica. Na ponte, Troi apela a O’Brien e Ro para obter o conhecimento técnico necessário à tomada de decisões. Para complicar a situação da conselheira, O’Brien e Ro discordam sobre o curso a ser seguido. Os dois só concordam em uma coisa: a nave está sob perigo de explodir, caso nada seja feito.

Incapaz de encontrar algo forte o suficiente para interromper o fluxo de energia que está no caminho para a engenharia, Data oferece seu próprio corpo. O androide garante a Riker que pode proteger seu cérebro dos efeitos da energia e manter suas faculdades mentais intactas. Como não há alternativa, Riker aceita a proposta de Data. Enquanto o corpo do androide é danificado, sua cabeça sobrevive como o prometido, e Riker a remove.

Enquanto isso, Picard, embora ferido, organiza as aterrorizadas crianças em um esforço para escapar pelo teto do turboelevador. Na área de carga, Beverly e Geordi decidem que sua única esperança é abrir a porta externa, permitindo evacuar para o espaço os contêineres e terminar com o incêndio radioativo. No bar panorâmico, Keiko começa a entrar em trabalho de parto.

Na ponte, Ro e O’Brien continuam em conflito. Ro insiste que o único meio de evitar uma explosão é separar a seção disco, abandonando a porção inferior da nave à deriva. Ro acredita que não haja sobreviventes na engenharia, mas O’Brien aponta que não há meio de saber. Forçada a tomar uma decisão, Troi opta por não separar a nave e desviar energia para a engenharia, para ajudar quem quer que esteja preso lá.

Ro a adverte de que esse procedimento poderia significar a destruição da nave toda, mas Troi permanece firme. Enquanto isso, Geordi e Beverly conseguem executar seu plano, despressurizando a área de carga. Ao alcançar a porta da engenharia, Riker conecta a cabeça de Data ao painel de controle, usando a energia de sua bateria para abrir a porta. Ele e Data ficam surpresos ao descobrir que há energia naquele setor da nave e rapidamente reanimam o gerador quebrado, restaurando a força. Picard e as crianças são libertados do turboelevador, e Keiko, com a ajuda de Worf, dá à luz uma garotinha, Molly.

Comentários

Uma coisa se pode dizer a respeito de “Disaster” sem medo de errar: que o enredo é, verdadeiramente, um desastre. Não porque seja péssimo, mas porque não existe. A ideia foi simplesmente deixar a nave em pedaços para colocar a tripulação da Enterprise em situação difícil e inusitada.

E o problema é que o roteiro nem chega a admitir que se trata apenas de um episódio destinado a complicar a vida dos personagens em situações engraçadas – um “alívio cômico” de 45 minutos. Em vez disso, tenta transmitir a aura de que é um episódio sério, com um real dilema e um conflito.

Não é surpreendente, portanto, que os trechos ligados diretamente à “história séria”, como a tentativa de Riker e Data de chegar à engenharia e o conflito de comando vivido na ponte da Enterprise, não tenham sido tão felizes. Cumprem o necessário, sem grande brilho. Isso fez das cenas na ponte as mais arrastadas do episódio. A conselheira no comando talvez seja o mais interessante de tudo, cautelosamente agindo para pela primeira vez liderar a tripulação (seu melhor momento se dá ao ser confrontada por Ro Laren e ainda assim se manter firme, o mais lampejo de drama interessante nessa sequência).

Deixa com a pulga atrás da orelha, por sinal, a decisão dos produtores de colocar Ro Laren e Miles O’Brien em conflito. Tendo em vista o desejo de Michael Piller e Rick Berman de ter esses dois personagens em Deep Space Nine (Ro acabaria substituída por Kira Nerys, depois que Michelle Forbes recusou o convite para ser uma atriz regular na nova série), seria este relacionamento mais uma daquelas sementes que teriam como destino brotar no seriado seguinte? Se era, nunca admitiram.

Enquanto isso, a caminho da engenharia, a situação não está muito melhor. A subtrama de Riker e Data, em que o androide é obrigado a sacrificar seu próprio funcionamento, fazendo com que o primeiro oficial tenha de transportar apenas sua cabeça, está lá apenas porque os roteiristas acharam que seria divertido desmantelar o androide. Nada mais.

Entretanto, nem tudo em “Disaster” é ruim. Algumas sequências específicas, geralmente ligadas estritamente aos personagens e sem vínculo direto com a suposta “história” do episódio, deram bons frutos. Worf fazendo o parto de Keiko é hilário, assim como Picard tendo de superar sua implicância com crianças para escapar do turboelevador. O capitão cantando Frère Jacques com o trio infantil, por incrível que pareça, funciona.

Finalmente, Geordi e Crusher, presos na área de carga, não fazem muito a diferença do episódio. Apenas mais uma subtrama em um episódio sem trama principal. Não chegariam nem a comprometer, não fosse a insistência dos roteiristas em achar que o único problema da falta de ar é a respiração, não considerando a questão muito mais séria da ausência de pressão, que faria com que a boa doutora e o engenheiro explodissem.

Visualmente, o episódio entrega a qualidade de costume. Destaque para efeitos visuais como a eletrocução de Data e o “incêndio radioativo” na área de carga. Coisinhas simples, mas efetivas. Mas, mais uma vez, temos um episódio que depende da química entre os personagens para sobreviver. Felizmente, o que não falta a Jean-Luc e seus oficiais é carisma.

Avaliação

Citações

“Congratulations. You are fully dilated to ten centimenters. You may now give birth.”
(Congratulações. Você está totalmente dilatada em dez centímetros. Você já pode dar à luz.)
Worf, instruindo Keiko durante o parto

 “You just can’t stay away from the big chair, can you?”
“I don’t think I am cut out to be captain. First officer maybe, I understand there aren’t many qualifications.”
(Você não consegue se afastar da cadeira grande, né?)
(Eu não acho que eu leve jeito para capitão. Primeira oficial talvez, sei que não se exige muitas qualificações.)
William Riker e Deanna Troi

Trivia

  • Segundo Jeri Taylor, a história deste episódio foi apresentada por um par de escritores externos e atraiu por ser algo nunca feito antes pela produção. “Acho que refresca a série. Se você vê a mesma história semana após semana fica muito tedioso… eu sou favorável a quebrar a fórmula, mudar algo e fazer um tipo diferente de história. Foi ‘vamos fazer algo diferente – pará-los à deriva no espaço e dar a eles um monte de problemas’.”
  • Ron Moore, o roteirista, pensou: “Vamos nos divertir com isso. Colocamos nosso pessoal em situações interessantes e divertidas. Foi legal colocar a Troi na cadeira do capitão e Picard no fosso do elevador. Foi muito episódio, e eu me lembro de que os melhores momentos foram enquanto quebrávamos a história. Michael deixou a sala e estávamos olhando para diferentes elementos – Data e Riker no tubo de força, em particular – e alguém disse: ‘E se o Riker tirar a cabeça do Data?’ Michael voltou e nós dissemos: ‘Você vai odiar isso, mas e se tirarmos a cabeça dele?’ E ele riu, virou os olhos e disse: ‘Façam. Ninguém vai nos deixar fazer, mas vá em frente, vai ser divertido.’ Eu escrevi e o Rick [Berman] nunca disse uma palavra. Foi incrível com o que conseguimos nos sair.”
  • Moore lembrou: “A trama do Worf veio de nossa busca constante de coisas para jogar contra sua natureza feroz e hipermasculina klingon. Todos nos apaixonamos pela ideia de ele ser o cara que faz o parto do bebê. E Michael Dorn gostou de fazer comédia. Acho que ele estava cansado de nós batendo nele o tempo todo.”
  • De início, Moore queria que chovesse no fosso do elevador, inspirado por notícias de que nuvens estavam se formando no enorme VAB (Vehicle Assembly Building, o prédio que a NASA usa para montar seus foguetes no Centro Espacial Kennedy, na Flórida). Mas a ideia acabou cortada por conta de impedimentos práticos: ninguém ia encharcar os cenários só para essas cenas.
  • Moore indicou que, seguindo procedimentos navais modernos, Deanna Troi não estaria na cadeia de comando para assumir a ponte em uma crise. Mas decidiu torcer as regras em favor do drama. Ele considerou o episódio a homenagem de A Nova Geração a filmes de catástrofes.
  • Uma versão inicial do episódio previa a Enterprise colidindo com um asteroide, mas os roteiristas, preocupados com o fato científico de que um asteroide não causaria os danos descritos no roteiro, decidiram inventar o “filamento quântico”.
  • O episódio foi filmado entre 16 e 27 de agosto de 1991, nos galpões 8, 9 e 16 da Paramount. A Fundação Make-a-Wish visitou o set no dia 19.
  • Este foi o último episódio veiculado antes da morte de Gene Roddenberry, em 24 de outubro de 1991.
  • A cena dos barris voando para fora da área de carga foi feita com uma miniatura, construída por Greg Jein e colocada na vertical. Pinos mantinham os barris no chão da maquete. Ao serem retirados, os barris cairiam na direção de um fundo azul, filmados em alta velocidade, para então serem encaixados em câmera lenta e produzirem o efeito final.
  • Já o incêndio de plasma foi criado filmando uma bandeja transparente de vidro com água quente e grânulos de gelo seco, iluminada por trás. Por fim, um filtro verde foi aplicado à imagem.
  • Este episódio marca a primeira aparição de Molly O’Brien, como recém-nascida.
  • A personagem de Jana Marie Hupp é creditada como alferes Monroe, mas diálogo e figurino indicam que ela é tenente.
  • Rosalind Chao volta como Keiko neste episódio. Sua última aparição havia sido em “In Theory”, o penúltimo episódio da temporada anterior. Rosalind voltaria apenas em “Violations”, daqui a sete episódios.
  • Michelle Forbes reaparece como a alferes Ro, depois de ficar de fora do episódio anterior, “Silicon Avatar”. Mas, depois desse, ela só voltaria em “Conundrum”, daqui a nove episódios.
  • Michael Piller avaliou o episódio como “divertido”, elogiando o roteiro de Ron Moore, mas reconheceu suas falhas. “Não atingiu a prateleira de cima dos episódios para mim porque não tinha um mistério ou uma base de ficção científica para ele.” Piller também criticou o uso de Ro Laren, colocando-a numa situação de antagonismo muito cedo após a introdução da personagem. E ele acha que ela deveria ter terminado sem dar o braço a torcer a Troi, dizendo que na verdade ela teve sorte. “A sequência da ponte foi a minha parte menos favorita do episódio porque me pareceu muito previsível.”

Ficha Técnica

História de Ron Jarvis & Philip A. Scorza
Roteiro de Ronald D. Moore
Dirigido por Gabrielle Beaumont

Exibido em 21 de outubro de 1991

Título em português: “Desastre”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Rosalind Chao como Keiko O’Brien
Colm Meaney como Miles O’Brien
Michelle Forbes como Ro Laren
Erika Flores como Marissa Flores
John Christian Graas como Jay Gordon Graas
Max Supera como Paterson Supra
Cameron Arnett como Mandel
Jana Marie Hupp como Monroe

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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