TNG 5×06: The Game

Presciente, mas não muito divertido, segmento fala em vício e manipulação

Sinopse

Data estelar: 45208.2

Durante uma licença em Risa, uma “amiga” de Riker, Etana, dá a ele um interessante presente. É um pequeno jogo que estimula diretamente o cérebro, dando uma sensação de prazer quando se atinge o objetivo. Ansioso por dividir sua descoberta, Riker passa o jogo para Troi logo que retorna à Enterprise.

Enquanto isso, a tripulação prepara uma agradável recepção surpresa a Wesley Crusher, que está em férias da Academia da Frota Estelar. Troi passa o jogo a Beverly, e Wesley conhece uma jovem alferes chamada Robin Lefler. Ele e a jovem sentem uma atração imediata um pelo outro. Em pouco tempo os dois já estão combinando jantar juntos.

Beverly chama Data à enfermaria para ajudar com um problema, mas, quando o androide chega lá, Beverly, Riker e Troi o atacam sorrateiramente, desativando-o. Então a médica chama Picard e Geordi à enfermaria. Quando a dupla chega, todos mentem sobre o ocorrido, dizendo que o androide simplesmente sofreu um colapso. Picard deixa Data nas mãos do grupo, e Riker convence Geordi a deixá-lo aos cuidados da doutora. Nesse momento, ele aproveita a deixa para introduzir o engenheiro ao jogo.

Wesley então vai ao encontro de sua mãe e a descobre entretida com o jogo. Ela o convida para jogar, de forma insistente. Wes e Robin falam sobre isso durante o jantar, e Robin conta a ele que a popularidade do jogo está aumentando. A dupla decide descobrir o que está havendo e conecta o jogo a um computador. Após desmontar o equipamento, eles descobrem que o jogo causa alterações químicas no cérebro que fazem com que o jogador se torne fisiologicamente dependente e interrompa processos de raciocínios complexos. Wesley corre para contar sua descoberta ao capitão, sem saber que Picard já era uma das vítimas do jogo.

Wes e Robin logo percebem que o defeito de Data coincide com a chegada do jogo à nave. Eles examinam o androide e descobrem que ele foi danificado, e que as únicas pessoas a bordo com conhecimento para fazer tal dano seriam Geordi ou Beverly. Passam então a tentar consertá-lo. Uma vez que o androide seria o único tripulante imune aos efeitos do jogo, eles começam a imaginar se Data teria sido desativado por alguma razão, e se o jogo teria outra função além de entreter. Horrorizados, eles percebem que podem ser as únicas pessoas a bordo que ainda não são dependentes do aparato. Eles decidem fingir jogar o jogo para iludir o resto da tripulação.

De volta à ponte, Picard e sua tripulação conhecem Etana, a alienígena que deu o jogo a Riker. Ela os instrui a distribuir o jogo para outra nave, e a tripulação logo concorda com seu plano de tomar a Federação. Em seguida, Wesley mal consegue escapar quando Riker e Worf tentam forçá-lo a jogar o jogo. Ele começa a se esconder pela nave, mas Robin não tem tanta sorte. Após ser forçada a jogar, ela ajuda o resto da tripulação a localizar Wesley. Assim que conseguem obrigar o rapaz a jogar, Data aparece e cria um meio de reverter os efeitos do jogo na tripulação. Com a Enterprise fora de perigo, Wesley dá adeus a seus amigos e retorna à Academia.

Comentários

A passagem do tempo foi extremamente gentil com “The Game”. Presciente, ele mostra a bordo da Enterprise o que veríamos acontecer na vida real duas décadas após sua produção, com a disseminação de smartphones e redes sociais. Hoje, não é incomum entrarmos em uma espera de consultório, por exemplo, e encontrarmos todos ali da mesma maneira que vimos a tripulação de Picard neste episódio – presos em seus pequenos dispositivos, de maneira totalmente absorta. Vale dizer que, na ficção e na realidade, estamos falando de adição, vício mesmo, com efeitos deletérios na cognição, por meio de estímulos ao centro de recompensa do cérebro. Enquanto em “The Game” o estímulo é quase sexual, na vida real é um pouco diferente: ainda assim, o que as pessoas hoje vivem movidas por “curtidas” e “seguidores” não é brincadeira.

Tendo dito tudo isso, a trama em si é repetitiva, irritante e até mesmo enfadonha. Tão divertida quanto observar dez pessoas nos dias atuais absortas em suas telinhas individuais por uma hora. O episódio consiste basicamente em nos deixar observar a tripulação da Enterprise ficando cada vez mais estúpida, fruto do uso do jogo. É pouco crível que todos eles tenham caído vítimas dessa manipulação antes de notar que havia algo errado (até mesmo nós, no século 21, somos capazes de perceber às vezes o que está nos acontecendo, imagine os luminares do século 24).

A estrutura de manipulação do jogo, ligando-o à sensação de prazer, é uma alusão óbvia ao uso de drogas. O que surpreende é que uma equipe preparada como a da Enterprise seja tão suscetível a uma droga pelo simples fato de não conhecê-la. Usar um equipamento alienígena ligado ao cérebro não é o que se pode chamar de atitude sensata. E uma vez que você se dá conta do absurdo na caracterização dos personagens, o castelo de cartas sobre o qual o segmento está montado se desfaz. Mesmo utilizando outro dos clichês ligados ao uso de drogas – a pressão que um grupo de pessoas confiáveis exerce para que seus membros mais resistentes arrisquem a experiência –, a atitude de Picard e cia. vai na contramão de suas personalidades.

A ideia de manipular a mente de tripulantes para atingir fins nefastos, por sua vez, foi realizada de forma dramaticamente mais satisfatória em “The Mind’s Eye”, no final da temporada anterior.  Lá as possibilidades de controle da mente foram trabalhadas com mais inteligência, assim como os mandantes do esquema e seus objetivos. Aqui é difícil entender como se vai do vício e da idiotização para a lavagem cerebral e a obediência cega (ironicamente, no paralelo do mundo real com as redes sociais, é bem mais fácil de fazer a conexão).

Wesley Crusher é trazido a bordo para reprisar a mesma atitude que teve enquanto foi um dos regulares a bordo da Enterprise. Sua função aqui é, essencialmente, ser o menino-prodígio de sempre e salvar o dia. Pelo menos sua atitude faz sentido, e é divertido vê-lo se emparceirando com a alferes Lefler.

Por fim, o objetivo de Etana é tão megalomaníaco que não vale a pena comentar. Quando os romulanos programaram Geordi, em “The Mind’s Eye”, eles tinham um plano preciso, limitado, calculado e com objetivo bem escolhido – dissolver a aliança entre o Império Klingon e a Federação através de um incidente diplomático de graves proporções. Aqui, a mulher quer simplesmente controlar toda a Federação espalhando seu joguinho pela galáxia. Pataquada é o melhor termo para definir essa “brilhante” estratégia.

Ou não? Veja o alcance do poder que empresas como Facebook, Google e Twitter têm sobre a sociedade hoje. Apesar de parecer inacreditável em A Nova Geração, e o segmento em si não estar entre os mais bem executados, a presciência da alegoria involuntária não tem como deixar de impressionar.

Avaliação

Citações

“A conflict has arisen between the planetary evolution team and the stellar physicists. Each wishes to be the first to use the thermal imaging array.”
“Well, tell them to flip a coin. We’ve got to work together on this mission or otherwise we’ll never get it done.”
“A coin. Very well, I will replicate one immediately.”
(Um conflito surgiu entre a equipe de evolução planetária e os físicos estelares. Ambos querem usar primeiro o conjunto de sensoriamento térmico.)
(Bem, diga a eles para disputar na moeda. Precisamos trabalhar juntos nessa missão ou nunca a terminaremos.)
(Uma moeda. Muito bem, replicarei uma imediatamente.)
Data e La Forge

Trivia

  • Como “Darmok”, este episódio precisou percorrer um longo caminho até ser produzido. Susan Sackett, secretária de Gene Roddenberry, e Fred Bronson, escritor de “The Counter-Clock Incident”, da Série Animada, propuseram a história durante a quarta temporada (depois de terem vendido “Ménage à Troi”, no terceiro ano), e vários roteiristas tentaram desenvolvê-la sem sucesso. Dois roteiros chegaram a ser abandonados.
  • Bronson se inspirou a bolar a premissa por conta do clássico jogo de computador Tetris. “Foi baseado no fato de que eu tinha Tetris no meu computador em casa. Sempre que eu queria me distrair eu jogava Tetris e era muito viciante”.
  • Michael Piller achava que a premissa não tinha salvação. Foi Rick Berman quem apontou que o próprio Piller estava preocupado com a falta de premissas de ficção científica na série. Ele então sugeriu dar a trama a Brannon Braga, em sua primeira tarefa após ser integrado oficialmente à equipe de roteiristas (ele havia chegado como estagiário na temporada anterior).
  • Braga decidiu levar para um lado mais sombrio, resumindo sua abordagem como “Wesley volta para casa e sua família quer pegá-lo”. Ele o comparou ao filme de terror Os Invasores de Corpos (1978).
  • O roteirista comentou sobre algumas das críticas que o episódio teve. “É um episódio atípico de alguns modos e muita gente teve dificuldade em acreditar que Picard ficaria viciado e todas essas pessoas seriam fisgadas, mas essa é a história”, disse. “Ou você a conta, ou não. Não que não tenhamos pensado bem em como os personagens ficariam viciados. Os personagens só se tornam viciados porque estão pegando o jogo de pessoas em quem confiavam, o que é exemplificado pela notória cena do chocolate, que teve uma reação bem heterogênea, mas eu me diverti muito em escrever.”
  • Braga também destacou seu esforço de dar a Wesley uma postura um pouco mais relaxada – e uma namorada.
  • O episódio foi filmado entre 28 de agosto e 6 de setembro de 1991, nos galpões 8, 9 e 16 da Paramount.
  • Brent Spiner contou que, na cena em que Data é desativado e cai em uma biocama, ele cortou o queixo e teve de ir ao hospital. Após voltar ao set, o diretor Corey Allen imediatamente pediu que ele refizesse a cena.
  • “The Game” foi o primeiro episódio a ir ao ar após a morte de Gene Roddenberry, em 24 de outubro de 1991.
  • Esta foi a segunda e última aparição de Robin Lefler (Ashley Judd) em A Nova Geração, depois de “Darmok”. Os roteiristas pretendiam trazê-la de volta no episódio seguinte com Wesley, “The First Duty”, mas acabou não acontecendo.
  • Wil Wheaton tem boas lembranças de filmar com Ashley Judd, que teve seu primeiro beijo em tela com ele. Brannon Braga admitiu ter dado em cima dela durante a produção do episódio, mas foi solenemente ignorado.
  • Os dispositivos do jogo ktariano foram criados por Alan Sims, a partir de headsets telefônicos. Eles voltariam a aparecer em Star Trek em Lower Decks.
  • Esta foi a primeira aparição do uniforme de cadete de Wesley Crusher, que voltaria a figurar em “The First Duty”.
  • Pela primeira vez uma pintura foi usada para representar uma extensão de um tubo Jefferies.
  • Piller ficou satisfeito com o episódio e com o trabalho de Braga como roteirista. “Achei que foi um ótimo episódio. Era um episódio que lidou com minha fascinação ao ver meus dois filhos com sua obsessão por videogames e fazer um episódio que lidava com uma questão não aterradora, mas a obsessão das pessoas, quase vício, por certos tipos de jogos.”

Ficha Técnica

História de Susan Sackett & Fred Bronson e Brannon Braga
Roteiro de Brannon Braga
Dirigido por Corey Allen

Exibido em 28 de outubro de 1991

Título em português: “O Jogo”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Ashley Judd como Robin Lefler
Katherine Moffat como Etana
Colm Meaney como Miles O’Brien
Patti Yasutake como Alyssa Ogawa
Wil Wheaton como Wesley Crusher
Diane M. Hurley como mulher
Majel Barrett como voz do computador

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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