TNG 5×13: The Masterpiece Society

Segmento explora limitações e deficiências da engenharia genética e social

Sinopse

Data estelar: 45470.1

A Enterprise presta ajuda a uma colônia humana em Moab IV, planeta supostamente desabitado que está para sofrer intensos abalos sísmicos em razão da aproximação de um fragmento de núcleo estelar. Picard contata o líder da colônia, Aaron Conor, com uma oferta para evacuar a população. Conor recusa, contando ao capitão que a evacuação iria destruir sua sociedade geneticamente projetada.

Em vez disso, o líder procura uma solução alternativa e, relutantemente, permite o transporte de Riker, Geordi e Troi à superfície – os primeiros visitantes que a colônia já teve em sua história – para ajudá-los. Conor escala Hannah Bates, uma cientista da colônia, para trabalhar com Geordi. Mais tarde, Riker volta à Enterprise com Geordi e Hannah, que deixa a colônia pela primeira vez para trabalhar no salvamento de seu lar.

Hannah fica fascinada pela tecnologia avançada da nave. Enquanto isso, Troi conversa com Picard, enfatizando a importância de trabalhar para preservar o modo de vida da colônia, apesar da desaprovação do capitão a respeito de engenharia genética. Mais tarde, Hannah e Geordi descobrem que a tecnologia do visor do engenheiro, adaptada ao raio trator, pode ser a solução para desviar o fragmento do planeta.

Na colônia, Troi acaba sucumbindo a seus sentimentos românticos por Conor. Na manhã seguinte, ela tristemente diz adeus, percebendo que sua composição genética iria para sempre alterar o equilíbrio engenheirado da colônia. Quando ela se prepara para sair, Geordi e Hannah estão de volta, com o anúncio de que precisarão transportar 50 pessoas para o planeta a fim de instalar o equipamento necessário para proteger a colônia. Sabendo que é o único meio de salvar seu povo, Conor concorda.

Hannah e Geordi, trabalhando na Enterprise, conseguem desviar o curso do fragmento. Mas a cientista não está muito contente – tendo encontrado e trabalhado com tecnologia superior à de seu mundo, ela quer deixar a colônia. Para conseguir isso, encena a existência de uma brecha na biosfera que iria exigir a evacuação.

Geordi, entretanto, percebe o que Hannah está fazendo e consegue desfazer o truque. Quando Hannah explica suas ações, Conor percebe que não pode mantê-la lá contra a vontade dela, e a autoriza e a outros que queiram deixar o planeta que o façam. Vinte e três colonos, incluindo Hannah, pedem asilo na Enterprise, criando um desequilíbrio irreparável na colônia, fazendo Picard se questionar se a ajuda que ele forneceu acabou sendo tão prejudicial quanto o fragmento estelar poderia ser.

Comentários

“The Masterpiece Society” parece um episódio mais adequado à primeira ou segunda temporadas da série do que à quinta, quando ele realmente foi produzido. Mas não pela qualidade. Na verdade, o que o alinha aos primeiros episódios de A Nova Geração é o tom. A história abandona ambições de desenvolvimento dos personagens principais e, em vez disso, conduz todo o seu foco para o enredo – cujo conteúdo é extremamente moral, com direito à “mensagem trekker da semana”, que era tão rotineira nos episódios da série original e nas primeiras temporadas de A Nova Geração.

Isso não necessariamente é ruim. Aliás, aqui neste caso, o episódio acabou sendo beneficiado pelo grande entrosamento e desenvolvimento já existente entre os personagens da série para enriquecer uma história totalmente voltada para si mesma, e muito pouco direcionada a eles.

Além da discussão já trivial sobre a Primeira Diretriz (onde, diga-se de passagem, é muito reconfortante ver a posição de Picard a respeito da questão, mostrando que a Primeira Diretriz, em espírito, não é feita só para civilizações não humanas, mas para toda e qualquer sociedade cujo modo de vida possa ser alterado pela influência da Enterprise), há um assunto que pouco foi abordado em Jornada nas Estrelas. Qual, afinal, é a natureza da evolução tecnológica?

Seria ela decorrência, como defende Geordi, da necessidade? Ou a curiosidade humana, por si só, já é força motriz suficiente para empurrar a tecnologia adiante? Essa discussão incomoda filósofos há um bom tempo, e não está perto de ser respondida, se é que o será um dia. Entretanto, é possível (e isso o episódio faz muito bem) partir para uma abordagem pragmática da questão, e ver que a necessidade é capaz de oferecer vantagens em princípio imprevisíveis ao desenvolvimento tecnológico.

No caso do segmento, foi o advento do visor de Geordi, criado totalmente a partir de uma necessidade, que forneceu a resposta para a solução de um problema totalmente diverso – o desvio do fragmento estelar. Na história humana, exemplos do tipo também não faltam. O impacto do desenvolvimento da exploração espacial na vida cotidiana (do GPS às transmissões via satélite, passando pela meteorologia) está aí para provar, só para citar um ponto autoexplicativo.

Em última análise, “The Masterpiece Society” oferece o seguinte a respeito do tema: quanto mais problemas uma sociedade tem para resolver, maior o número de soluções que ela produzirá. Quanto mais soluções, maior a chance de encontrar aplicações não intencionais entre os diversos desenvolvimentos. A sociedade engenheirada de Moab IV carecia de problemas e, com isso, não tinha a capacidade adaptativa da tripulação da Enterprise. No fundo, a dúvida tem até um caráter darwinista. Se você elimina os fatores de seleção natural (os problemas), não há evolução.

O terreno fica escorregadio quando entramos nas ideias do darwinismo social, que é a extensão lógica do desenvolvimento da colônia: a partir de humanos precisamente projetados em nível genético, obtém-se uma sociedade supostamente perfeita. Em seu melhor estilo, Star Trek nos lembra de forma discreta do que de fato dá vida e poder de adaptação a uma colônia: não são os melhores genes, mas a maior variedade possível deles. Diversidade é a chave da adaptação na evolução biológica, ideia central que acaba ejetada na visão distorcida do darwinismo social, que busca mais uniformizar, padronizar, do que dinamizar, valorizar a diversidade.

Picard faz neste episódio a defesa mais interessante da política de vetar engenharia genética em seres humanos, ao lembrar que os colonos abandonaram sua humanidade com essa manipulação genética. “Muitas das qualidades que eles eliminaram – a incerteza, a autodescoberta, o desconhecido –, essas são muitas das qualidades que fazem a vida valer a pena. Bem, pelo menos para mim. Eu não gostaria de viver minha vida sabendo que meu futuro estava escrito, que meus limites já haviam sido estabelecidos.”

É um argumento mais sofisticado e perene do que simplesmente “humanos geneticamente modificados tendem a virar ditadores, à moda de Khan”, o mais usual nesse contexto. E, de fato, o grau de estagnação daquela sociedade é confirmação mais do que suficiente de que Picard está na trilha certa. Até mesmo os habitantes de Moab IV anseiam pelo novo, pelo diferente.

Deixando de lado as questões filosóficas, o episódio, enquanto valor de entretenimento, é bastante agradável. E Troi em particular se sai muito bem. Em vez de passar o tempo todo jogando moralidade na cara dos outros, como costuma acontecer, chegou a vez de a conselheira dar a sua pisada na casca de banana. E a cena em que ela conta a Picard o que aprontou no planeta é bastante intensa.

Quando chegamos àquele turboelevador, estamos intensamente curiosos para ver a reação do capitão ao deslize de sua oficial. E Picard reage de uma forma até surpreendente, mas absolutamente condizente com o explorador e humanista que ele é: ele compreende e alivia os ombros da conselheira.

A cena mostra, mais do que tudo, o sentimento familiar que existe entre os tripulantes da Enterprise. Fosse apenas uma cadeia de comando nos moldes militares, Troi receberia uma reprimenda e ponto final. Felizmente, não é assim que as coisas funcionam nas naves espaciais do século 24.

Avaliação

Citações

“If we’re so brilliant, how come WE didn’t invent any of these things?”
“Well, maybe the necessity really is the mother of an invention. You never really look for something until you need it.”
(Se somos tão brilhantes, como NÓS não inventamos nada dessas coisas?)
(Bem, talvez a necessidade realmente seja a mãe da invenção. Você nunca procura algo até que precise disso.)
Hannah Bates e Geordi La Forge

Trivia

  • A história nasceu de uma premissa de James Kahn intitulada “The Perfect Human”. Segundo Adam Belanoff, quase nada desse início sobreviveu no episódio, mas uma das coisas que restaram foi a sociedade geneticamente engenheirada. “Na concepção de Kahn, era uma comunidade idílica que continha essencialmente cem Dolphs Lundgrens e Paulinas Porizkovas correndo seminus, em um estilo Adão e Eva. Era uma bela colônia Lagoa Azul.”
  • A história passou por cinco roteiristas antes de chegar a Michael Piller, que tinha como maior dificuldade definir como seria uma sociedade geneticamente engenheirada. Em dado momento, ele estava inclinado a abandonar o conceito, e aí Belanoff sugeriu que seria mais interessante se a colônia tivesse pessoas com aparências e talentos diversos, cada um dos quais por si só uma “obra-prima” de um modo diferente. Joe Menosky então sugeriu colocar a história em uma biosfera artificial, inspirada pela instalação Biosfera 2, no Arizona. Belanoff explicou: “As pessoas precisam de obstáculos. Em um lugar em que todo mundo é um Einstein ou um Mozart, não há para quem atuar, tudo é fornecido, e a vida é muito fácil. As coisas tenderiam a estagnar. Então criamos uma biosfera em que tudo era tão delicadamente equilibrado que mesmo a partida de uma pessoa poderia prejudicá-la.”
  • “The Masterpiece Society” foi filmado entre 7 e 15 de novembro de 1991, nos galpões 8, 9 e 16 da Paramount.
  • Segundo David Livingston, foi difícil visualizar a biosfera. “Rick [Berman] queria garantir que víssemos efeitos fora da janela. Ele não queria fazer o que normalmente fazemos no estúdio, que era algo tangível e real. Isso apresentou alguns desafios ao diretor, porque o fundo azul estava bem no meio do cenário, mas ele filmou ao redor dele um pouco e acho que funcionou direito.”
  • A peça de piano que o jovem Matthew toca na colônia é a Prelúdio em Mi menor (Op. 28 No. 4), de Frédéric Chopin.
  • O episódio dividiu opiniões na equipe de roteiristas. Michael Piller foi um dos que gostaram. “Foi o começo de eu me sentir melhor com a temporada. Foi outro daqueles episódios que estava por aí por um tempo e muitos roteiristas haviam tentado resolver. Lidava com engenharia genética e abortos e coisas interessantes para Geordi fazer, e a relação entre Troi e o líder da sociedade. Acho que é uma verdadeira tragédia clássica, porque todo mundo estava tentando fazer a coisa certa naquele episódio e acabou em destruição. Fora algum desapontamento com elenco, eu fiquei bem satisfeito com ele. Acho que muitas pessoas ficaram felizes de terem gostado tanto quanto gostaram.”
  • Rick Berman foi mais crítico. “É uma questão muito filosófica que nos preocupava seriamente, e um episódio que achei decepcionante e não saiu tão bem quanto eu esperava. Foi lento e falante e tivemos problemas de elenco.” O produtor executivo descartou, contudo, que pudesse haver uma mensagem antiaborto nele. “Isso é bobagem. Foi totalmente não intencional. Acho que há muito poucas pessoas em nossa sala de roteiristas que estariam envolvidas em algo que apresentasse uma visão não pró-escolha.”
  • Jeri Taylor também não se entusiasmou. “Michael e eu estávamos em lados opostos nesse. Era uma ideia que não gostei desde o início. Eu não gostava do conceito. Eu não estava empolgada com o roteiro. Achei que foi um dos episódios mais fracos da temporada.”
  • O diretor Winrich Kolbe criticou a escalação de John Snyder como Aaron Conor. “As pessoas eram muito perfeitas, e não acho que perfeição produza bom drama. Eu não estava muito intrigado com o ator principal também e esse acabou se tornando um episódio sem graça para mim. Eu gostei da ideia, mas não fiquei satisfeito com a escalação de elenco. Não acho que o episódio tinha energia suficiente. Talvez seja injusto culpar o elenco. Talvez eu não tenha dado energia a ele. Eu gostei do conceito e do roteiro, só não gostei do episódio.”
  • Adam Belanoff lembra que seu professor de genética ligou para ele após o episódio elogiando o drama, mas classificando a ciência como “terrível”.

Ficha Técnica

História de James Kahn e Adam Belanoff
Roteiro de Adam Belanoff e Michael Piller
Dirigido por Winrich Kolbe

Exibido em 10 de fevereiro de 1992

Título em português: “Perfeição”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

John Snyder como Aaron Conor
Dey Young como Hannah Bates
Ron Canada como Martin Benbeck
Sheila Franklin como alferes

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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