TNG 6×08: A Fistful of Datas

Outra história de holodeck: o truque é velho (oeste), mas a execução é excelente

Sinopse

Data estelar: 46271.5

Um raro período de folga dá à tripulação da Enterprise uma chance de investir em seus hobbies. Geordi conduz um experimento com Data, conectando o androide ao computador da nave para ver se ele pode ser usado como um backup para casos de emergência. Enquanto isso, Worf, Alexander e Troi se transportam para a Dakota do Sul do século 19, onde participam de uma fantasia de holodeck envolvendo um criminoso sanguinário chamado Eli Hollander. Worf não tem dificuldades para prender Eli, com a ajuda providencial da conselheira.

Na Enterprise, as investidas da tripulação são interrompidas por pequenos defeitos no sistema de computador. Quando trechos de um poema de Data substituem o roteiro de uma peça que Beverly Crusher estava ensaiando com Riker, Geordi percebe que os problemas podem ser resultado dos experimentos com o androide. Simultaneamente, no holodeck, Alexander é sequestrado pelos capangas de Eli. Assustado, ele tenta interromper o programa, mas seu comando é ignorado. Em vez disso, ele é levado ao pai de Eli, Frank – um homem cuja aparência é idêntica à de Data.

Worf logo vai em busca de seu filho, quando encontra Frank no saloon. Ele presume que Frank é simplesmente Data brincando também, mas quando seu comportamento violento se torna suspeito, Worf ordena que o computador interrompa a simulação. Como no caso de Alexander, nada acontece, e Worf percebe que algo está terrivelmente errado. Ele foge do saloon, levando um tiro de raspão no braço, e conta a Troi que o computador não está funcionando corretamente e que Alexander foi raptado e está em perigo. Mas, antes que possam fazer outro movimento, os dois descobrem que seu prisioneiro, Eli, agora tem também a aparência de Data.

Troi aponta que, já que o cenário é um programa de holodeck, há salvaguardas embutidas. Embora eles não possam terminar o programa por comando de voz, ele terminará sozinho se chegarem ao fim da história. Sem outra escolha, Worf faz um acordo com Frank para trocar Eli por seu filho, na esperança de que isso leve o programa a seu final.

Só que, enquanto gasta seu tempo com Frank e Eli, Troi faz uma descoberta terrível. Os dois homens não só se parecem com Data, como têm as habilidades sobre-humanas do androide. Se um duelo ocorrer entre Worf e Frank, o klingon não terá nenhuma chance de vencer. Ao mesmo tempo, a tripulação sênior se reúne para discutir os problemas e fica surpresa ao descobrir Data se expressando com um sotaque do Velho Oeste.

Geordi percebe que partes da memória de Data foram cruzadas com o banco de dados recreativo do computador. Enquanto o engenheiro tenta corrigir o problema, Worf se prepara para o confronto com Frank. O pai do criminoso chega e liberta Alexander como prometido, mas então ele e seus capangas atiram em Worf. Por sorte, o klingon estava preparado, ativando um campo de força ao redor de seu corpo que deflete as balas.

Os dois androides holográficos fora-da-lei são derrotados, e Worf ordena que eles deixem a cidade. Entretanto, o programa não termina antes que Annie, a dona do saloon, que agora também tem o rosto de Data, possa dar um grande abraço em um constrangido xerife.

Comentários

Mais uma aventura de holodeck inspirada por um ambiente histórico. Mais uma falha no computador. Mais tripulantes presos na simulação, sem as salvaguardas de segurança. A única forma de acabar com o pesadelo é levar o programa ao seu final.

Ok, a premissa é tão velha quanto A Nova Geração. Mas são os detalhes específicos de mais essa aventura “holodeck/defeito no computador” que fazem de “A Fistful of Datas” um episódio tão interessante e agradável.

Primeiro, trata-se de um bom tratamento da relação entre Worf e seu filho, Alexander. Há um potencial latente em vermos como o rígido klingon lida com as necessidades de seu filho que, alienígena ou não, é somente uma criança. Já aqui vemos uma aproximação maior de Deanna Troi, que faz do “divertimento” de Worf com seu filho uma desculpa para estar com os dois. Já nascia nos produtores a intenção de alinhar Deanna e Worf, num “quase relacionamento” que ganharia contornos mais concretos na sétima temporada da série.

Apesar de a relação supostamente amorosa entre Worf e Troi nunca ter sido bem explorada, a aproximação da conselheira aqui foi bem propícia – principalmente por dar à personagem, que via de regra não tem nada de importante para fazer, um papel importante na trama, ajudando o xerife e seu ajudante a “limpar” o Velho Oeste.

O tratamento dado a Worf no episódio é bastante consistente. É legal acompanharmos a transição entre o oficial que lamenta não ter nenhum serviço que o tire da “enrascada” de brincar com seu filho e o pai que realmente aprecia a diversão que teve com seu rapaz. Também é curioso vermos a aplicação de seus valores klingons ao Velho Oeste, especialmente levando em conta o quanto ele foi capaz de apreciar aquela época bárbara da história humana.

Agora, nada no episódio é capaz de substituir a fascinação que os múltiplos Datas propiciam à audiência. Não só por adicionarem um elemento de perigo diferenciado à velha premissa do “holodeck defeituoso”, mas principalmente por permitirem a Brent Spiner um exercício pleno de suas incríveis habilidades de atuação. O ator nos oferece três personagens diferentes (além de seu habitual androide e das mudanças que ocorrem nele após a mistureba com o computador da Enterprise), e todos são igualmente bem atuados e fascinantes.

Já não é a primeira vez que Spiner demonstra suas habilidades para múltiplos papéis (em “Datalore” ele já interpretou seu irmão gêmeo Lore, algo que ele repetiria no duplo “Descent”, e somou a ele o criador dos dois androides, Noonien Soong, em “Brothers”), mas provavelmente essa é a que permite mais flexibilidade ao ator. E ele não decepciona.

Na soma de tudo, o episódio acaba sendo uma excelente combinação de desenvolvimento de personagens (especialmente para Worf e Alexander) somado à premissa de um faroeste. Star Trek já havia tentado isso uma vez antes em “Spectre of the Gun”, da Série Clássica, mas os dois segmentos mantêm tons absolutamente distintos, evitando que o de A Nova Geração reproduza elementos já vistos no seriado original.

Enquanto o episódio clássico buscou um tom mais surreal da situação de Velho Oeste (até por uma razão de orçamento limitado), aqui a ideia é reproduzir à risca o estilo dos filmes de faroeste americanos – com a diferença de que há klingons, androides e campos de força na história.

Nesse sentido, é interessante notar todo o esforço da produção em criar o ambiente do Velho Oeste, efeito que começa no próprio nome do episódio (uma paródia de Por um Punhado de Dólares, filme de Sergio Leone com Clint Eastwood) e termina no fechamento do segmento, com uma Enterprise viajando na direção de um pôr-do-sol, uma óbvia e criativa referência ao estilão western.

A direção de Patrick Stewart faz um bom trabalho de reproduzir o ambiente do século 19, ajudado, é claro, pela efetiva cidade cenográfica usada pelo episódio. É sempre agradável quando a ação não se passa em cavernas e em salas, como costuma ser em Star Trek. No fim das contas, gostando de filmes de bang-bang ou não, o telespectador não sai desapontado.

Avaliação

Citações

“What are his rights in this century? Is there a trial… or shall I execute him?”
(Quais são os direitos dele neste século? Há um julgamento… ou posso executá-lo?)
Worf a Alexander, ainda aprendendo de brincar de Velho Oeste

Trivia

  • Esta foi a primeira contribuição de Robert Hewitt Wolfe para Star Trek. Ele se tornaria um dos roteiristas mais importantes de Deep Space Nine e seria, logo depois, contratado para desenvolver uma série baseada em escritos de Gene Roddenberry, Andromeda.
  • Wolfe lembra como aconteceu. “Eu havia proposto histórias para A Nova Geração algumas vezes. Não vendi nada, mas Michael Piller gostava o suficiente das minhas premissas para me chamar de volta. Finalmente vim e ofereci duas histórias, uma que eu tinha certeza que eles comprariam – e não compraram – e outra que eles acabaram comprando.” A história não vendida levaria Picard e Geordi de volta a Los Angeles do século 20, pouco antes das revoltas de Watts – premissa que acabaria sendo usada para o episódio duplo “Past Tense”, de Deep Space Nine.
  • O título do episódio é uma homenagem ao filme Por um Punhado de Dólares (A Fistful of Dollars), clássico faroeste espaguete (assim apelidado por ser filmado na Itália) de Sergio Leone, estrelando Clint Eastwood. Originalmente, ele iria se chamar “The Good, the Bad and the Klingon”, homenagem a outro filme da trilogia que emparceirou Leone e Eastwood.
  • Depois que Wolfe entregou sua versão do roteiro, coube a Brannon Braga a tarefa de reescrevê-lo. O roteirista não estava familiarizado com faroestes e viu vários filmes para se inspirar. Passou a gostar deles depois da experiência.
  • O escritor Ira Steven Behr sugeriu que a trama fizesse homenagem a Onde Começa o Inferno (Rio Bravo), de 1959.
  • A história original de Wolfe trazia Alexander tentando aproximar Troi e Worf. Jeri Taylor apontou que esse ângulo foi extraído porque estavam com a impressão de que a relação entre Worf e Alexander estava ficando com muito sabor de novela contemporânea ou mesmo de uma sitcom.
  • Patrick Stewart assumiu a direção deste episódio. Ele relembrou assim: “Houve rumores nos escritórios de produção por alguns meses de que havia um episódio de faroeste vindo e, claro, todos os diretores queriam pegá-lo, porque todo mundo sente que tem pelo menos um faroeste dentro de si.” Originalmente, a tarefa recairia sobre outro diretor, mas uma troca de última hora acabou premiando Stewart. “Não há nada que eu tenha feito em minha carreira que pudesse superar a emoção incrível de dirigir um faroeste.”
  • Apesar do entusiasmo, Stewart não conhecia muito o gênero. Jeri Taylor relembrou assim: “Patrick abordou isso com tanto zelo – ele saía e alugava dois faroestes clássicos toda noite. Na manhã seguinte ele vinha e dizia que grandes ideias teve, e nós sempre podíamos adivinhar o que ele tinha visto.”
  • Stewart revelou que a cena em que Alexander olha por baixo da porta do saloon foi uma homenagem a uma tomada similar no filme Os Brutos Também Amam (Shane).
  • As sequências de faroeste foram filmadas em um dia na área externa da Universal Studios em Los Angeles, mais especificamente na “Western Town”. A equipe teve muito pouco tempo para filmar, o que fez Stewart pedir que os sets fossem preparados à noite, para que pudessem usar toda a luz do dia para as gravações.
  • Segundo o designer de produção Richard James, filmar ao ar livre foi uma experiência bem desconfortável para a equipe e o elenco, por conta do calor. Michael Dorn em particular, com a maquiagem e a peruca, sofreu um bocado.
  • Patrick Stewart gostou, a despeito do calor. “Aquele foi um dos dias mais empolgantes da minha vida. Eu tinha três cameras filmando quase o tempo todo, incluindo uma câmera-lenta de ação. Eu tinha a maior grua que podíamos ter em Hollywood. Tive brinquedos maravilhosos com que brincar.”
  • Marina Sirtis originalmente havia sido incluída na história como a dançarina do saloon. Só depois mudou para a forasteira. Como Durango, ela tentou soprar anéis de fumaça, mas Michael Dorn a cortou. “Pare! Não seja mais engraçada que eu, este é meu episódio.”
  • Brent Spiner gostou de trabalhar com múltiplos papéis. “Eu tive a chance de interpretar cinco ou seis personagens em um episódio e Patrick dirigiu, o que fez adicionalmente divertido. Certamente o episódio mais divertido que eu fiz e eu teria gostado de fazer um episódio chamado “For a Few Datas More” (referência ao segundo filme da trilogia de Leone e Eastwood).
  • Neste episódio La Forge aparece cultivando uma barba, que está mais cheia no segmento seguinte, “The Quality of Life”. La Forge já tinha aparecido de barba uma vez em “The Outcast”, da temporada anterior.
  • A flauta ressikana de Picard, introduzida em “The Inner Light”, faz uma aparição aqui. Ela voltaria a aparecer em “Lessons”.
  • A parte traseira do jogo que Alexander usa no começo do episódio é feita de frentes de drives de disquetes de 5¼ polegadas, tecnologia de computador hoje arcaica, mas então em uso.

Ficha Técnica

História de Robert Hewitt Wolfe
Roteiro de Robert Hewitt Wolfe e Brannon Braga
Dirigido por Patrick Stewart

Exibido em 7 de novembro de 1992

Título em português: “Por um Punhado de Datas”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Brian Bonsall como Alexander Rozhenko
John Pyper-Ferguson como Eli Hollander
Joy Garrett como Annie
Jorge Cervera, Jr. como Bandito
Majel Barrett como voz do computador

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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