Khan e Marla travam duelo intelectual que revela mais sobre seus personagens
Sinopse
Data estelar: desconhecida
A historiadora Rosalind Lear está ouvindo o registro do dia 29 do exílio de Khan em Ceti Alfa V, feito por Marla McGivers. Desde o atrito dos dois e a destruição do comunicador dela, e Khan e Marla estão se evitando. Não foi difícil; a única ocasião social ocorreu no dia seguinte, um funeral para Hugo. Alguns pensaram que ele cometeu suicídio, mas a maioria deles, inclusive Khan, acharam que ele caiu e morreu num acidente.
Semanas depois, Khan aparece à porta de Marla e pede que ela se junte ao grupo de pesquisa. Ela quis recusar, mas não o fez. Erica faz a avaliação científica do terreno, indicando frutas comestíveis e plantas venenosas. Khan a encoraja a batizar as coisas que encontrar. Richter, o desenhista, parece distraído com tudo ao seu redor. Khan solicita que ele colabore com Erica. Marla oferece o uso de um tricorder para registrar imagens, mas recebe pouca atenção.
Khan, Ivan e Joaquin, o pai, vão caçar para preparar o jantar. O líder se confidencia com Joaquin a respeito dos atritos com Marla. Joaquin lembra que se casou com Talia, uma não aumentada, de modo que ele jamais criticará a escolha de Khan por Marla. Enquanto eles conversam, Ivan indica que encontrou uma presa, um grupo de animais que se parecem com grandes javalis. Joaquin dá um tiro de longe, enquanto Ivan parte ferozmente para uma das criaturas com uma faca. Ele quase é ferido pelo tiro, mas enfim a caçada tem sucesso.
Trabalhando em outra parte, Richter e Sylvana estão romanticamente envolvidos. Marla elogia os talentos dele para desenho. Sylvana a hostiliza, o que incomoda Richter. Afinal, ela é a mulher de Khan. Erica e Marla veem grandes répteis voadores ao longe, enquanto os homens voltam da caçada e pedem que Richter desenhe as presas. Marla prepara a fogueira para assar as carnes. Em volta da fogueira, no meio da floresta, o grupo conversa. Khan convence Marla a contar uma história, dizendo que ela será a Scheherazade deles. Marla relata quem foi ela, dizendo que, muito tempo atrás, um sultão teve uma esposa e foi traído por ela, o que lhe trouxe muita vergonha e o levou a executá-la. Jurando nunca mais passar por semelhante embaraço, ele decide casar todos os dias com uma mulher diferente, uma virgem, e na manhã seguinte, antes que ela pudesse traí-lo, ele a mataria. Enfim, a última virgem remanescente era a neta de seu grão-vizir, Scheherazade, que havia passado a vida lendo cada história que pudesse encontrar. Ela se voluntaria para casar com o sultão e, na primeira noite, ela conta a ele uma história que duraria horas, quase até o amanhecer. Quando estava quase no fim, disse que precisava dormir. Ele concordou, mas fez ela prometer que contaria o fim da história na noite seguinte – o que duraria 1.001 noites, tempo suficiente para o sultão se apaixonar por ela. Ele poupou a vida dela, e fez dela sua rainha.
Todos apreciam a história, e então Marla tenta encorajar Khan a contar uma, sobre sua vida, seu reinado. Ele deve ter pelo menos 1.001 delas, e ela deseja ouvir seu lado sobre aqueles eventos – a história, ela lembra, é escrita pelos vencedores, que não costumam ser justos com os vencidos. Khan não gosta da ideia, se diz ofendido, e considera que talvez a história tenha sido mais justa com ele do que Marla supõe ou deseja recontar. Recusando-se, ele se afasta do grupo, para a frustração dela.
Erica está preocupada com a presença de criaturas que ela chamou de cetidáctilos, os tais répteis voadores, e eles se enfronham na floresta. Sylvana encontra um inseto de carapaça dura. Ivan assume a vigília para guardá-los dos perigos da floresta. Khan pede desculpas a Marla, o que a surpreende. Ele diz que não está pronto para fazer reflexões sobre si mesmo, ainda mais publicamente. Os dois novamente discutem sobre poder e sua conquista. Marla o confronta dizendo que ele a acusou de traí-lo duas vezes. Ela alega que não fez nada disso. Os dois conversam sobre os sentimentos dela a bordo da Enterprise, onde ela se sentia deslocada. Enfim, ela também pede desculpas a ele. Khan finalmente se abre e diz que queria criar um paraíso na Terra, mas antes precisaria destruir. E ele não quer ser lembrado pelo que destruiu, mas pelo que criou. A conversa é interrompida por Sylvana: algo sobe pela perna dela. É um tipo de inseto grande e resistente, que deposita larvas – Erica os batiza de ceti-enguias. Nisso, o grupo é atacado por um javali – aparentemente revoltado por ter perdido sua companheira para os caçadores. Ele ataca Joaquin, e Khan tenta atrair a atenção da criatura, mas tarde demais. Joaquin está morto. Em meio à confusão, Richter desaparece. Khan ordena que Ivan leve Marla, Erica e Sylvana de volta ao acampamento, junto com o corpo de Joaquin, enquanto ele parte sozinho à procura de Richter.
Comentários
“Scheherazade” traz um intenso duelo intelectual entre Khan Noonien Singh e Marla McGivers, conforme os dois passam a se enxergar mais como iguais, cada um com seus interesses. Ele se propõe a tentar entender mais o que a motiva e estimula, e ela, sempre a historiadora, se esforça para desvendar segredos da época em que ele foi um dos tiranos derrotados na Terra – descrição que obviamente o incomoda, não pelo “tirano” (que ele abraça com um fervor fáustico, alegando que, para construir algo maravilhoso, é preciso antes também destruir), mas sim pelo “derrotado”.
Para Khan, é mais que uma questão de sobrevivência – é uma questão de honra – vencer em Ceti Alfa V, depois de sua fuga da Terra e sua derrota a bordo da Enterprise. Começamos a ter a visão dele como uma figura bem-intencionada, a de um “déspota esclarecido”, mas em essência equivocada, nas premissas e nas ações. É um retrato mais sofisticado do que um vilão típico costuma ter, mas nada que o redima de fato.
A intrigante história de Scheherazade e a lenda das Mil e Uma Noites entra aqui como uma metáfora para a relação entre Khan e Marla, aparentemente abraçada por ambos – ele é o sultão, traído e determinado a não mais sofrer o mesmo dissabor; ela é a mulher inteligente que, por meio da sagacidade, consegue domar e enfim envolver o sultão em um laço de amor. O paralelo funciona em muitos níveis, revelando a qualidade literária da minissérie.
Também aprendemos mais sobre Marla e como ela se sentia pouco à vontade a bordo da Enterprise, onde uma historiadora era pouco requerida. De fato, em “Space Seed”, Kirk mal lembrava do nome dela. Khan constata aqui que Marla já vivia numa prisão muito antes de ter de enfrentar uma corte marcial.
Fora isso, temos oportunidade para vivenciar o que seria um dia de sobrevivência no ainda benigno planeta, antes da tragédia que irá torná-lo praticamente inabitável. A luta de Khan e seus homens é contra a vida selvagem de Ceti Alfa V, e aqui temos conhecimento de alguns de seus perigos – os cetidáctilos (versão local dos pterodáctilos), javalis selvagens gigantes e a famosíssima ceti-enguia, criatura que teria papel de destaque em Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan. A julgar pela crise, Sylvana pode ter sido a primeira infectada por esses nefastos animais.
A morte de Hugo planta a semente da discórdia entre os aumentados – uns acham que ele se matou, outros que morreu acidentalmente, mas ninguém desconfia que ele foi morto por Ivan. A despeito de sua lealdade a Khan, está claro que seu modo de resolver as coisas o colocará em conflito com o líder, e aqui temos mais evidências de suas tendências selvagens e violentas.
Podemos passar mais algum tempo com os jovens resgatados por Khan antes da partida da Terra, dentre eles Erica, Sylvana e Richter – esse último desaparece no fim, mais uma vez impondo um desafio de sobrevivência ao líder, que sai sozinho para procurá-lo, enquanto evita expor sua fragilidade com a morte do amigo Joaquin. Desenha-se aqui mais um passo para que Khan acabasse por “adotar” Joachim como se fosse seu próprio filho, como sugere a relação próxima entre os dois vista em Jornada II.
O “envelope” aqui é praticamente deixado de lado, usado apenas como uma introdução, conforme Rosalind Lear ouve um relato que começa no dia 29 do exílio, destacando como Khan perdeu dois homens em menos de dois meses. Infelizmente para ele, sabemos que esse é só o começo de uma série de tragédias que enfim quebrarão completamente seu espírito, tornando-o cego pelo desejo de vingança.
A despeito da falta de imagens, o episódio é muito eficaz em transmitir as circunstâncias do que está acontecendo, às vezes até com brutalidade visceral, como quando Joaquin é atacado pelo javali. Sem vê-la, sabemos estar diante de uma cena medonha, com a imaginação do espectador substituindo com muita potência o que poderia ser uma visão até mesmo mais branda se houvesse imagens. A combinação de sonoplastia, música e interpretação consegue envolver completamente o ouvinte na história de Khan em Ceti Alfa V. As atuações seguem excelentes e o material consegue reavivar de forma honesta, e ao mesmo tempo moderna, as versões dos personagens vistos em “Space Seed”.
Avaliação




Citações
“I was designed to lead armies into battle. But to win, one must first destroy. I would have made Earth a paradise. Not for myself, but for all who live there. But I could not make them see the future I wanted so badly for them. The peace and glory of it. I don’t know how to tell you who I am, Marla, but I want to be remembered for what I create, not what I destroy.”
(Eu fui projetado para liderar exércitos em batalha. Mas, para vencer, é preciso primeiro destruir. Eu teria feito da Terra um paraíso. Não para mim, mas para todos que vivem lá. Mas eu não pude fazê-los ver o futuro que eu queria tanto para eles. A paz e a glória dele. Eu não sei como dizer quem eu sou, Marla, mas quero ser lembrado pelo que eu crio, não pelo que destruo.)
Khan Noonien Singh, a Marla McGivers
Trivia
- Este episódio revela de onde vieram os nomes das criaturas de Ceti Alfa V, em particular a famosa ceti-enguia (Ceti eel), que vitimaria muitos dos seguidores de Khan e acabaria sendo convertida em uma arma de manipulação por ele, como visto em Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan.
- A morte de Joaquin, apresentada aqui, é um elemento importante para explicar a relação de Khan com o filho dele, Joachim, como vista no filme.
- Scheherazade, que dá nome ao episódio, é o nome da rainha persa que atual como a narradora da célebre coleção de contos árabes As Mil e Uma Noites.
- Demonstrando erudição, Marla e Khan mencionam Sócrates, filósofo que se escora na dúvida, e Platão, que se apoia no idealismo. O primeiro seria o mestre do segundo, mas não deixou nada escrito, aparecendo apenas como referência nas obras do pupilo, o que faz alguns pensarem que ele pode ter sido meramente um personagem criado por Platão para seus escritos. Contudo, a maioria acredita que ele existiu mesmo, pois há menção a ele por outros autores contemporâneos dele na Grécia Antiga do século 5 a.C., como Aristófanes e Xerofonte.
Ficha Técnica
História de Nicholas Meyer
Roteiro de Kirsten Beyer & David Mack
Dirigido por Fred Greenhalgh
Exibido em 15 de setembro de 2025
Título em português: “Scheherazade”
Elenco
Naveen Andrews como Khan Noonien Singh
Wrenn Schmidt como Marla McGivers
Sonya Cassidy como Rosalind Lear
Juliette Goglia como Sylvana
Tina Ivlev as Erica
Maury Sterling as Ivan
Elenco adicional
Maxwell Whittington-Cooper
Paul Castro Jr.
Aleena Khan
Tina Ivlev
Adriel Jovian Nerys Rivera
Juliette Goglia
Juan Francisco Villa
Jacqueline Jackson
Cynthia Hood
Fajer Al-Kaisi
Hamish Sturgeon
Hayden Bishop
Ethan Dubin
Christina Tellesca
Chad Chenail
Regina Taufen
Aaron Hendry
Aaron Fors
Jeremy Maxwell
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Edição de Maria Lucia Rácz
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