KHN 1×05: Imagination’s Limits

O tirano Khan vive um dia de Contatos Imediatos do Terceiro Grau em Ceti Alfa V

Sinopse

Data estelar: desconhecida

Rosalind Lear grava novo diário sugerindo que os dados colhidos até o momento sugerem que Khan era um líder benevolente e sensível. Ela é chamada aos aposentos do capitão Sulu, que cede a ela os dados de sensor colhidos pela Enterprise do sistema Ceti Alfa na data estelar 3143.1. Embora eles mostrassem instabilidade mínima no núcleo do sexto planeta, nada indicava que ele estaria perto de um colapso. Os relatórios foram assinados pelo oficial de ciências, Spock. Lear está intrigada – as chances de um planeta com as leituras obtidas pela Enterprise detonar sozinho eram infinitesimais. Mais que isso: ela faz uma defesa apaixonada dos aumentados, discriminados por terem sido geneticamente alterados. Sulu lembra a experiência pessoal que teve com Khan, sugerindo que ele mereceu o retrato que a história pintou dele.

Lear volta a ouvir os registros de Marla McGivers, já casada com Khan, tentando colher informações sobre seu passado na Terra. Ele, como sempre, se evade. Paolo interrompe os dois com a informação de que Ceti Alfa VI explodiu – algo que não deveria ter acontecido por milhões de anos, no mínimo. Um bólido então surge no céu, sobrevoando o acampamento e impactando alguns quilômetros adiante. Era uma nave espacial que se acidentou no planeta.

Khan organiza um grupo para fazer reconhecimento do local do impacto. Marla insiste em ir junto e, a pedido dele, leva seu tricorder e seu feiser. Com sua experiência na Frota Estelar, ela estima que eles devem ser mais avançados tecnologicamente, apesar do acidente que sofreram. Marla sugere que os alienígenas poderiam ajudá-los a escapar da tragédia iminente sobre Ceti Alfa V, quando os detritos do planeta vizinho provocarem um inverno nuclear.

A nave alienígena está em pedaços, mas há sobreviventes. São humanoides, com pele aperolada e cabelos prateados. Eles parecem pacíficos. Ivan sugere que devam atacar e matá-los.

No acampamento, os jovens discutem a situação. Joachim está animado com a perspectiva de que Khan declare guerra contra os alienígenas. Paolo fala da catástrofe que está para se abater sobre o planeta, e essa é a guerra que precisam travar. No conselho, Khan apresenta o plano de ataque para derrotá-los rapidamente, mesmo eles estando em maior número. Marla levanta a hipótese de que eles sejam mais perigosos do que parecem. Embora não tenham armas, eles podem ser telepáticos e, com isso, até mais ameaçadores. Madot propõe uma estratégia defensiva, mas Khan está determinado a seguir a sugestão de Ivan – atacar com ferocidade.

Erica está frustrada por ter de aprender a batalhar em poucas horas. Ela disse que foi treinada para botânica, não para guerra. Joachim a ajuda e admite estar assustado também – será a primeira batalha dele. Erica o beija, sugerindo que os dois agora teriam algo pelo que viver.

Paolo solicita uma audiência com Khan e sugere que não prossigam com o plano de ataque. Com o colapso iminente do planeta, o grupo precisará sobreviver no subterrâneo, o que exigirá a localização de cavernas adequadas e fontes de água. Khan decide manter o plano de ataque, com a provisão de que alguns dos alienígenas sejam mantidos vivos para que possam fornecer a ajuda tecnológica de que precisam para sobreviver.

Marla ainda faz um último apelo a Khan, revelando como o primeiro contato com os vulcanos, após o desenvolvimento do motor de dobra por Zefram Cochrane, mudou a trajetória da humanidade. Khan teria aqui a mesma oportunidade, mas ele opta pela guerra, no que Marla vê um limite para sua imaginação.

Com um discurso potente, Khan chama seus aumentados ao ataque, evocando a superioridade física e intelectual deles. O avanço sobre os alienígenas será ao amanhecer. Eles são mais numerosos do que o esperado e parecem cientes de uma ameaça iminente, embora não mostrem armas. Khan e os demais começam a ouvir um som sinistro que os paralisa. As armas passam a derreter nas mãos deles… Ivan quer avançar com combate corporal. Khan reconhece que Marla estava certa e ordena que Ivan lidere uma retirada, enquanto ele sozinho avança contra os alienígenas.

Então um deles entra em contato telepático com Khan – Delmonda é seu nome, e ele vem de um mundo chamado Elboria, a muitos milhares de anos-luz dali. Sua nave sofreu danos e entrou no sistema para efetuar reparos quando foi atingida pela explosão do sexto planeta, o que a fez cair em Ceti Alfa V. Khan diz que esse planeta é deles e que devem partir. Os elborianos concordam, e Delmonda deixa Khan com uma visão: uma luta feroz, seguida por pingos de água.

Khan desperta no acampamento, e diz a Marla e Ursula que viu água no subsolo, onde ela deve existir, algo que Delmonda mostrou a ele. O elboriano quer que todos eles sobrevivam. Khan então lidera seu povo a um oásis subterrâneo. Em uma gravação privada, que Lear ouviria anos depois, o líder se mostra surpreso com a generosidade de Delmonda e se confessa com medo – medo daquilo que ele não entende.

Comentários

Com uma história de ficção científica fascinante, “Imagination’s Limits” entrega o ingrediente que faltava à minissérie: imprevisibilidade. Ele mais que compensa a evidente especulação de que esse seria o segmento que traria a explosão de Ceti Alfa VI, agregando mistérios suficientes para manter até mesmo o mais profundo conhecedor do cânone satisfeito.

Ao mesmo tempo, ele resgata de forma potente a visão de Khan como anti-herói, conforme ele desfila suas piores qualidades de tirano implacável e impiedoso. Nos episódios anteriores, em particular “Magical Thinking”, ele vinha se mostrando mais simpático e gentil do que costumamos nos lembrar dele, até destoando um pouco do que seria uma releitura razoável do personagem. Aqui descobrimos que era uma armadilha dos roteiristas – a mesma armadilha em que caiu a historiadora Rosalind Lear, que abre o episódio convencida das qualidades redentoras de Khan, apenas para descobrir que o líder dos aumentados exilado por James T. Kirk em Ceti Alfa V jamais hesitou nos planos de massacrar um grupo de alienígenas aparentemente indefesos que se acidentaram por lá.

Numa bem-vinda volta de George Takei como o capitão Sulu neste episódio (embora o ator pareça um pouco desmotivado no papel, meio que mandando sua interpretação por fax), temos uma conversa entre ele e Lear no começo do episódio que já antecipa essa possibilidade. Interessante como Sulu se mostra curioso acerca das descobertas de Lear, e ela, por sua vez, se revela impermeável (ao menos a princípio) à ideia de que Kirk e a Frota Estelar possam ter sido justos e corretos com Khan, mesmo depois de ele ter tentado matar o capitão e tomar o controle da Enterprise.

Por sinal, a mesma atitude pragmática e amoral que vimos em “Space Seed” – digna de um super-homem nietzschiano, indigna de uma bom ser humano – ressurge aqui, quando ele decide acatar o conselho de Ivan e massacrar sem dó os alienígenas. E a mesma falha fatal dele em Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan – a hubris, o excesso de confiança em sua superioridade, em contraste com a experiência da Frota Estelar com o desconhecido – também se manifesta, convertendo o que parecia a princípio uma batalha fácil em uma situação sem vitória possível. Seria o fim para Khan, não fosse a real superioridade moral de Delmonda e dos visitantes elborianos, que mostram compaixão e disposição para cooperar mesmo diante do ódio puro daqueles que tentam destruí-los.

Os eventos não só encaminham Khan e os aumentados para uma possibilidade de sobrevivência, diante do cataclismo iminente em Ceti Alfa V, como obrigam o líder sanguinário a repensar suas premissas. Enquanto a Frota Estelar (representada por Sulu no episódio) anseia pelo desconhecido, Khan teme o desconhecido, mesmo quando ele se mostra benevolente. Isso, por sinal, o intriga: para alguém que vê a força como a única resposta para os problemas, perceber um ente que abdica dela e investe na compaixão, mostrando-se assim verdadeiramente superior, é chocante. Lembra um pouco Kirk decidindo poupar o gorn, em “Arena”, motivando os métrons a acreditarem que a humanidade é mais promissora do que parecia a princípio. Só que aqui os papéis são invertidos: o protagonista é o derrotado, equivocado, e o antagonista é o vencedor. Eis Khan como o perfeito anti-herói, um anti-Kirk.

Muito interessante a introdução dos elborianos, desconhecidos da Frota Estelar, ao universo de Star Trek. Seria muito legal se em algum ponto futuro ganhássemos uma versão live-action deles, mas por ora o episódio faz um bom trabalho em descrever sua aparência e estilo, sem parecer excessivamente expositivo. Por sinal, temos aqui um uso excelente de efeitos sonoros para contar uma história muito dinâmica e difícil de retratar sem imagens, com combates, alucinações e comunicação telepática. Talvez seja o episódio mais natural, em termos de fluidez, de toda a minissérie.

O segmento também explora um pouco dos personagens secundários, mostrando sobretudo os mais jovens: Paolo (o curioso cientista), Erica (a charmosa botânica) e Joachim (destinado a se tornar o braço direito de Khan e único desses personagens a aparecer explicitamente em Jornada II). Mas o que mais se destaca mesmo no episódio é a trama, e a capacidade de contar uma história típica de Star Trek, com elementos novos, entrelaçada com a desventura de Khan em Ceti Alfa V.

Como uma boa trama serializada, ela continua nos instigando – junto a Lear, a protagonista da história-envelope – a investigar os eventos que se desenrolaram por lá. Aqui a historiadora obtém a resposta a uma de suas perguntas com os dados da Enterprise, que inocentam Kirk de ter deixado Khan em um mundo condenado de forma intencional. Mas ela abre outra pergunta: o que teria causado a improvável e imprevisível explosão do sexto planeta?

Ao evocar essa pergunta, a série propele a trama em novas direções e deixa a audiência com esse sabor de “quero mais”. No fim das contas, “Imagination’s Limits” satisfaz tanto aqueles que procuram meramente se aprofundar na trajetória de Khan quanto os que estão mais preocupados com ter uma história sci-fi provocante e, em certa medida, imprevisível no universo de Star Trek.

Avaliação

Citações

“Doctor, it’s a big universe – and we’ve barely begun to explore the wonders it contains.”
(Doutora, é um grande universo – e mal começamos a explorar as maravilhas que ele contém.)
Hikaru Sulu

Trivia

  • Essa é a primeira aparição dos elborianos em Jornada nas Estrelas. Descobrimos que eles são humanoides de pele perolada e cabelos prateados, são pacíficos e generosos, mas possuem extraordinárias habilidades telepáticas. Seu planeta, Elboria, fica a milhares de anos-luz de Ceti Alfa V, o que indica que eles são entusiastas da exploração espacial – eles aparentemente viajaram duas “durações” (anos?) para chegar lá.
  • O episódio se passa cerca de seis meses após “Space Seed”, já que Khan diz em Jornada II que Ceti Alfa VI explodiu seis meses depois que eles foram deixados lá. Paolo é o especialista local da tragédia e já antecipa todas as catástrofes que tornarão Ceti Alfa V inabitável: além do já conhecido deslocamento de sua órbita, desestabilizando o clima, descobrimos que detritos do planeta vizinho destruído cairão em massa sobre o planeta produzindo uma espécie de “inverno nuclear”, em que a poeira erguida na atmosfera bloqueia a luz solar e leva ao colapso dos ecossistemas, já que as plantas, na base da cadeia alimentar, não terão mais luz para subsistir por meio da fotossíntese.
  • Sulu diz que as leituras do sistema Ceti Alfa foram feitas pela Enterprise na data estelar 3143.1. Na Série Clássica, “Space Seed” se desenrolou entre as datas estelares 3141.9 e 3143.3, mostrando o cuidado do roteiro com esse tipo de detalhe.
  • Embora o tabu contra humanos geneticamente melhorados venha desde a Série Clássica, a ideia de que a Federação promoveu um banimento de aprimoramento genético só foi apresentada em “Doctor Bashir, I Presume”, da quinta temporada de Deep Space Nine. Por sinal, em “Unnatural Selection”, da segunda temporada de A Nova Geração, Picard e Pulaski encontram humanos geneticamente aprimorados na Estação Darwin, e não há qualquer impressão de que fossem experimentos ilegais.
  • O conselho de Joachim a Erica sobre como usar uma espada vem de uma fala de A Máscara do Zorro (1998), em que perguntam a Alejandro Murrieta (vivido por Antonio Banderas) se ele sabe usar uma espada e ele diz: “O lado pontudo vai no outro homem.”
  • McGivers cita as primeiras linhas do poema de Samuel Taylor Coleridge “Kubla Khan: or A Vision in a Dream” (1797). Coleridge diz ter composto o poema inteiro influenciado por um sonho induzido por ópio, mas só conseguiu escrever algumas linhas até ser interrompido por um “homem de Porlock” a trabalho, o que o fez esquecer 200 a 300 linhas do poema.
  • As mesmas falas também são usadas no clássico Cidadão Kane (1941), de Orson Welles, para descrever as posses de Charles Foster Kane, uma extensão de seu ego e hubris, que acabam em ruínas, onde ele morre em isolamento – talvez um lance presciente do destino da colônia de Khan.

Ficha Técnica

História de Nicholas Meyer
Roteiro de Kirsten Beyer & David Mack
Dirigido por Fred Greenhalgh

Exibido em 6 de outubro de 2025

Título em português: “Limites da Imaginação”

Elenco

Naveen Andrews como Khan Noonien Singh
Wrenn Schmidt como Marla McGivers
George Takei como Hikaru Sulu
Tim Russ como Tuvok
Sonya Cassidy como Rosalind Lear
Olli Haaskivi como Delmonda
Maury Sterling como Ivan
Zuri Washington como Madot
Mercy Malick como Ursula
Maxwell Whittington-Cooper como Paolo
Tina Ivlev como Erica

Elenco Adicional

Paul Castro Jr.
Aleena Khan
Adriel Jovian Nerys Rivera
Juliette Goglia
Juan Francisco Villa
Jacqueline Jackson
Cynthia Hood
Fajer Al-Kaisi
Hamish Sturgeon
Hayden Bishop
Ethan Dubin
Christina Tellesca
Chad Chenail
Regina Taufen
Aaron Hendry
Aaron Fors
Jeremy Maxwell

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Edição de Maria Lucia Rácz

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