Guia de episódios

STAR TREK II:
THE WRATH OF KHAN

1982



 









 


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       Trilha Sonora
       Trivia
       Ficha Técnica
       O DVD

       O Melhor dos Tempos

 



"Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan" é um grande marco na história da franquia por tantas razões diferentes que é difícil eleger a tônica de sua importância. Em primeiro lugar, ele marca uma ruptura definitiva, maior do que qualquer outra já vista, entre o criador e sua criação.



Depois do fiasco da produção de "O Filme" (apesar do estrondoso sucesso de bilheteria), a Paramount decidiu que Gene Roddenberry não era alguém que eles gostariam de manter na equipe responsável pela continuação. Talvez para aplacar a fúria dos fãs, o estúdio não tenha simplesmente demitido o escritor, mas em vez disso dado a ele o cargo honorífico de consultor-executivo. Era definitivamente o fim da ligação entre Gene e os personagens que havia criado.

Para o lugar dele, a Paramount escolheu Harve Bennett. Por uma razão muito simples: o estúdio queria um filme barato, e Harve já havia provado em diversas ocasiões que economizar era seu forte. Claramente, o objetivo era simplesmente fazer mais algum dinheiro com Jornada, sem se preocupar com a qualidade ou a fidelidade ao original.

Felizmente, Harve se preocupou em resgatar a magia da Série Clássica, que havia se perdido no primeiro filme, devido, entre outras coisas, à própria confusão de Roddenberry ao reinterpretar sua criação. E decidiu que o filme precisava contar as mudanças na vida desses personagens, não somente colocá-los mais uma vez em ação por duas horas. Nascia a premissa básica que faria de "A Ira de Khan", o mais fiel exemplo de produção bem-sucedida de Jornada para o cinema.

Para criar esse clima de "volta às origens", Bennett decidiu partir de um episódio da Série Clássica, "Space Seed", trazendo de volta o grande vilão Khan Noonien Singh, interpretado por Ricardo Montalban. Ele e Jack Sowards começaram a trabalhar nos detalhes do roteiro, mas não conseguiram nenhum grande resultado. Só mesmo quando Nicholas Meyer veio a bordo, formalmente como diretor e informalmente como idealizador compledo do projeto, é que a história e todos os seus espetaculares elementos começaram a travar em seus lugares.

Com um casamento perfeito (e aparentemente impossível) de premissas desencontradas em um único roteiro, com um tema uníssono, mas distribuído em vários planos da história, Meyer transformou "A Ira de Khan" em mais do que um simples filme: ele se tornou um ícone do que um filme de Jornada deveria ser.

Harve Bennett entrou com a economia -- a premissa básica que o estúdio lhe impôs -- e Nick Meyer trouxe a genialidade e a inspiração. Com isso, "Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan" se tornou mais do que "uma-continuação-para-ganhar-uns-tostões": é um filme que, no mínimo, provou que a franquia tinha um futuro sólido e lucrativo pela frente, que se estendia além do alcance desta segunda produção.

O segredo para filmes bons e baratos é altamente valioso, e só por isso a dupla Bennett & Meyer merecia todos os créditos. Mas o sucesso foi mais além. Com sua vibração e competência, Nick reenergizou todo o elenco e a equipe de produção de Jornada. Depois da sinuosa produção de "O Filme", Shatner, Nimoy e cia. não se sentiam particularmente à vontade voltando a seus postos a bordo da Enterprise. Mas essa atmosfera de "lá vamos nós de novo para essa porcaria" logo se dissipou, fazendo até o normalmente irredutível Nimoy repensar a bênção que seria ter seu personagem, Spock, dentro de um caixão até o final do filme.

De certa maneira, "A Ira de Khan" está para "Where No Man Has Gone Before" assim como "O Filme" está para "The Cage". O primeiro piloto de Jornada para TV, "The Cage", mostrou aos executivos da rede NBC que o formato tinha potencial. Mas faltavam muitos ajustes com os personagens e era preciso mudar o equilíbrio entre aventura e filosofia. Com "Where No Man Has Gone Before", os executivos ficaram satisfeitos e Jornada nas Estrelas ganhava um espaço na programação de TV. Da mesma maneira, "O Filme" demonstrou um enorme potencial -- especialmente com sua bilheteria estrondosa --, mas faltava muito do carisma e do espírito de aventura que poderiam manter um público interessado por cada continuação. "A Ira de Khan" atingiu esse delicado estado de equilíbrio, a um custo baixíssimo.

Na verdade, o filme retoma a premissa que fez a Série Clássica tão bem-sucedida: não importa o orçamento; se o roteiro é bom, se as idéias são boas, o sucesso é garantido.

Não fosse revolução suficiente, "A Ira de Khan" também elevou Jornada nas Estrelas a um outro padrão estético, muito mais atraente e vivo do que o tedioso aspecto de "O Filme". Os novos uniformes da Frota Estelar se tornaram uma marca entre os fãs (até hoje há os que consideram esses os melhores modelos já produzidos para Jornada) e se tornaram o padrão para os filmes seguintes. O aspecto naval da série foi retomado e ampliado, realçando a "realidade" por trás daquela ficção científica.

Os efeitos especiais conseguiram o impossível: são econômicos e ao mesmo tempo revolucionários. Temos a primeira tomada extensa feita em CGI (por computador) da história do cinema. Temos uma nebulosa que se tornaria uma das mais recicladas da franquia. Temos a mais celebrada batalha de naves espaciais já retratadas em Jornada nas Estrelas. E temos uma etiqueta de preço que agradou até ao mais sovina dos executivos da Paramount. Um sucesso.

Simplesmente tudo que poderia dar certo numa produção, apesar das remotas probabilidades de isso acontecer (ou é todo dia que um diretor aparece e conserta um roteiro destroçado em apenas uma semana e meia?), aconteceu durante a confecção de "A Ira de Khan". E só por isso que Jornada nas Estrelas encontrou seu futuro no cinema.

Em contrapartida, sobrou muito pouco para Nicholas Meyer fazer quando a Paramount o convidou para reeditar o filme para a nova versão em DVD. Ele basicamente reciclou uma edição que já havia feito para a TV logo após o lançamento nos cinemas. E as mudanças são bem sutis e não fazem grande diferença com relação à versão original.

Nem poderia ser diferente. Havia pouca coisa para ser mudada em "A Ira de Khan". Alguns momentos dos personagens foram ligeiramente explicados, entendemos a relação entre Preston e Scotty, vemos a reação de Spock ao filho de Kirk e temos uma versão maior da clássica cena entre Kirk e McCoy no apartamento do almirante em San Francisco. Mas nada que mude os rumos ou a estética do filme, como aconteceu com a reedição de Robert Wise em "O Filme".

Durante a festa de lançamento da Edição do Diretor em Hollywood, em 2002, Nicholas Meyer e Ricardo Montalban estiveram presentes. Enquanto o ator contou ao público algumas anedotas sobre como ele recapturou o espírito de Khan, após mais de uma década sem tê-lo interpretado, Meyer fez questão de enfatizar que o filme a ser projetado em breve era essencialmente o mesmo de 1982.

Ainda bem. Porque havia muito pouco a reparar no esforço original -- "A Ira de Khan" já nasceu um vencedor. Uma mensagem clara para o público, a captura dos personagens originais para os fãs, uma gorda bilheteria para a Paramount, uma espetacular cena de morte com o mais popular personagem da franquia. O filme tem de tudo. Se há algo que mudou para sempre a forma de se encarar Jornada nas Estrelas, especialmente no cinema, ela se chama "A Ira de Khan". E a Enterprise parte em velocidade de dobra, rumo à próxima aventura.