Site publica revisão completíssima de “Broken Bow”

Garth Franklin, editor do site Dark Horizons, publicou a versão mais completa já produzida de uma revisão do roteiro de “Broken Bow”, episódio-piloto de Enterprise.

Entre outras coisas, o review confirma a ponta de James Cromwell, como Zefram Cochrane, na forma de videotape, mantendo a série em meados do século 22 (por volta de 2260), permitindo a visualização da fundação da Federação. Além disso, ele dá mais detalhes sobre a cena com as garotas de Órion (que na versão lida, datada de novembro de 2000, ainda não eram de Órion) e revela que há, de fato, um inimigo do futuro longínquo influenciando os eventos da série.

Em uma informação das mais interessantes para nós, Franklin revela que a alferes Hoshi Sato nasceu no Brasil! Tomara que esse detalhe permaneça na versão final do roteiro.

Ele classifica o piloto como o melhor de todas as séries de Jornada. Confira abaixo uma tradução na íntegra do review de Franklin.

Um review do episódio-piloto de Enterprise

Gênero: Sci-Fi/Aventura

Elenco: Scott Bakula, Jolene Blalock, John Billingsley, Linda Park, Connor Trinneer

Sinopse: Piloto de duas horas da quinta série de TV de Jornada nas Estrelas, ambientado por volta do ano 2160 –cerca de um século antes da série original. Nessa época a humanidade apenas começou a explorar as estrelas com a maior parte dos humanos tendo pouco ou nenhum contato com alienígenas, enquanto os Vulcanos supervisionam e controlam o destino dos programas de exploração espacial humanos. Nessa época uma nave Klingon se acidenta no meio-oeste americano, com seu ocupante tendo sido perseguido por dois alienígenas conhecidos como Suliban –uma raça nômade cujos membros passaram por grande processo de engenharia genética. Seriamente ferido durante seu combate à dupla, o Klingon é levado para o quartel-general da Frota Estelar, onde o capitão Jackson Archer se voluntaria para levá-lo de volta ao mundo natal Klingon, Qo’noS, contra a vontade dos Vulcanos. Archer e uma tripulação escalada às pressas, que inclui um médico alienígena, uma oficial de comunicações japonesa poliglota e uma oficial de ciências e supervisora Vulcana, partem na SS Enterprise para fazê-lo –a primeira nave capaz de dobra 5 (cem vezes mais rápida que qualquer outra nave humana) que foi construída pelo pai de Archer. Não muito depois do início da missão, os Suliban, liderados por uma criatura chamada Silik, que está recebendo ordens de uma entidade desconhecida de outra época, atca e sequestra o Klingon –forçando a tripulação a descobrir para onde ele foi levado e por que eles o querem tão desesperadamente. Durante o caminho eles visitarão um exótico mercado alienígena subterrâneo, voarão pela atmosfera líquida de um gigante gasoso e aprenderão que o espaço pode ser um lugar muito perigoso.

Prós:
Cheio de ação
Alguns personagens interessantes
Não é sentimental ou filosófico

Contras:
Mais desenvolvimento de personagens
Grande raça de vilões/líder vilão fraco

Nota: A revisão desse roteiro é baseada na “Segunda Versão” de novembro de 2000 do piloto da série, que sem dúvida sofreu numerosas mudanças e edições, de modo que nomes de personagens e sequências serão diferentes. Essa revisão possui frequentes pequenos spoilers do roteiro mencionado.

Resumo: Jornada sempre foi o franchise para mim –mais que “Star Wars” foi ou jamais será. Mas mesmo dentro de Jornada há divisões –e eu não estou com a maioria. A Nova Geração sempre foi a maior para mim –a série que estava sendo exibida durante meus anos de adolescência e pela qual eu nutri lembranças queridas. Eu amei a Nova Geração pelos personagens e pelas histórias. Enquanto os filmes da tripulação original eram divertidos, a série original naõ conseguia me atrair na época, e embora eu me divirta mais com ela agora –eu ainda não posso realmente abraçá-la. É muito como comparar o “Batman” dos anos 60 com a série animada dos anos 90, ambas têm seu charme, pontos fortes e diferentes bases de fãs. Como naquele franchise, eu apreciei ver o show dos anos 60, mas amo assistir ao dos anos 90. Os spin-offs pós-Nova Geração, entretanto, acabaram tristemente sendo clones diluídos –Deep Space Nine estabeleceu sua direção própria e quando a história do Dominion apareceu melhorou bastante, mas muitos dos episódios ‘stand-alone’ tinham defeitos. Voyager é um bom passatempo, mas tristemente apenas um clone da Nova Geração –mesmo que Janeway seja uma boa capitã e o Doutor um grande personagem, o resto era –eh.

De qualquer modo, agora que estabelecemos algum background, estou feliz em dizer que, na versão atual do roteiro [novembro de 2000], Enterprise é o melhor piloto de Jornada já feito. Os pilotos de todas as séries anteriores tiveram questões bem artificiais preenchidas com os bordões “nós amamos todo mundo” e “adoraria fazer parte de sua jornada” que podem ser bem nauseantes. Enterprise, entretanto, mostra uma aventura-ação direta, com os personagens indo direto ao assunto logo de cara e com muito mais troca de tiros de feiser envolvida do que todos os pilotos anteriores juntos –as únicas sentimentalidades nele com as artificalidades duram duas páginas. Para os fãs que preferem jornadas mais espirituais, como os episódios da Nova Geração “The Inner Light” e “Chain of Command, Part II”, ou mesmo a série rival “Babylon 5”, Enterprise desapontará pela falta de profundidade e substância. Os que apreciam ação direta e disputas entre personagens, como episódios à la “The Best of Both Worlds”, estarão bem servidos. Na verdade, de todos os Jornadas que vi antes, a mistura de política e ação nesse piloto lembra mais “Jornada nas Estrelas VI – A Terra Desconhecida” –não é Jornada em seu melhor, mas é sólido, muito empolgante e divertido, assim como mais atraente para os não-fãs.

A tripulação é um grupo interessante. Archer chega logo de cara como um líder bem forte, que prefere ação a palavras e tem uma marca especial –Bakula é uma boa escolha para o papel. T’Pau [agora T’Pol], por outro lado, é um saco de gatos –a relação entre ela e Archer não é ao estilo Kirk/Spock, mas mais como a relação Skinner/Mulder em “Arquivo-X”, com um nível mútuo de respeito e animosidade, com T’Pau sabendo bem mais das situações que estão por vir , mas ela não voluntaria nada a não ser que seja totalmente necessário –por isso, irá depender de como Blalock a interpreta. Como muitos esperavam, o excêntrico doutor Phlox irá ser bem divertido, e embora não tenha o repertório do doutor de Voyager, ele compensa com abordagens únicas da medicina que normalmente envolvem muitas solução com criaturas tipo sanguessuga. Surprendentemente forte também é a japonesa poliglota oficial de comunicações Hoshi Sato, que nasceu no Brasil e fica enjoada quando a nave passa de certa velocidade. De todos os humanos com baixas patentes ela, e o ‘adorável veterano’ ligeiramente xenofóbico engenheiro chamado Spike, são os melhores personagens, cada um estabelecido firmemente em seus próprios termos. O mesmo não pode ser dito do piloto Reed e oficial de segurança Mayweather [o revisor deve ter se confundido, já que Reed é o oficial de armas, e Mayweather é o piloto], que são ambos bem rasos e desinteressantes, com apenas Mayweather recebendo um pouco mais de profundidade com uma cena de desenvolvimento de personagem decente. Com sorte eles foram desenvolvidos em versões futuras do roteiro, como deveria ser o almirante no começo, que estava um pouco melhor, mas ainda irá realmente depender do ator que o interpretar.

Os vilões da peça são os Suliban, uma raça nômade que não tem um mundo natal para ser explodido em duas partes ao longo do caminho. Considerando a aparência externa, sua pele tem uma textura estranha, mas são suas outras características “geneticamente modificadas” que são realmente legais e vão variar com cada membro da raça, dependendo do que eles melhoraram (e sim, há diferentes facções dos Suliban). Características que a maior parte deles parece ter é pele camaleônica, que permite que eles pareçam com outros elementos do ambiente, olhos dilatados para ver claramente no escuro e a habilidade de escalar paredes e tetos assim como respirar e sobreviver em quase todos os tipos de atmosfera. Suas naves são pequenos “veículos salvavidas” no estilo de células que se combinam em centenas para formar a nave-mãe “Hélice”. O roteiro do piloto faz muito bom uso em mostrar suas várias características com muito combate homem-a-homem entre eles e os “good guys”, com os bonzinhos normalmente saindo derrotados e seriamente feridos. Como uma raça eles foram estabelecidos bem, com muito potencial. O líder Silik, entretanto, não é tão bom –o personagem dificilmente teve tempo para ser estabelecido e com o tempo que ele teve, em diálogo e ação, ele se sai como apenas outro membro da raçã, em vez de um esperto, diabólico ou divertido vilão. Mais interessante será descobrir a identidade de seu chefe, uma figura do futuro distante que ele pode ver apenas em sombra em uma “câmara temporal” especial onde todo tipo de efeitos temporais ocorre –principalmente efeito precedendo a causa por um segundo ou dois. Essa distorção temporal dá a Silik uma interessante vantagem –permitindo que ele saiba de eventos e o desfecho de situações antes que elas aconteçam. É uma vantagem realmente não utilizada no piloto, mas que irá sem dúvida aparecer em episódios futuros.

A história do piloto é relativamente simples e estabelece bem as questões sem precisar de muito conhecimento prévio de Jornada, embora “Jornada nas Estrelas – Primeiro Contato” talvez valha uma assistida antes disso para fazer as coisas um pouco mais fáceis de entender se você é um recém-chegado (há também uma “mensagem de vídeo” de Cochrane que James Cromwell irá possivelmente reprisar). O diálogo é interessante, mais como os dias de hoje do que alguns fãs prefeririam, mas eu não me incomodei. Aqueles que ouviram rumores das escravas de Órion no piloto podem ser recompensadas em um segmento em que a tripulação visita um mercado de vários andares cheio como todo tipo de coisas, incluindo um distrito da luz vermelha onde Reed e Mayweather acabam vendo moças pouco cobertas comendo borboletas (não eram de Órion nesse roteiro, mas poderiam facilmente ter sido mudadas) e são abordados por um negociante oferecendo os “serviços” delas (não parece um momento “trekker”, parece?). Há várias outras coisas não vistas antes, como uma luta em um planeta gigante gasoso onde há uma ‘camada de fósforo líquido’ por onde eles passam, um tiroteiro à la John Woo em um campo de aterrissagem de naves cercado por gelo ártico, uma batalha empolgante na enfermaria enquanto a nave passa por um blecaute, e uma cena de luta em câmera lenta na já mencionada câmara temporal. É mais elaborado, mais arenosa e mais aventura do que Jornada já foi e lembra um dos episódios de pura ação dos spin-offs anteriores, como “Starship Mine” (Picard preso com terroristas na Enterprise) e “Macrocosm” (Janeway vira “Rambo” para destruir alienígenas que invadem a Voyager). Há algumas coisas não-explicadas (ou, ao menos, não em um nível satisfatório) que irão sem dúvida ter mais cobertura em episódios futuros, enquanto outras precisam ser mais apertadas, o que tenho certeza que eles fizeram nas versões posteriores.

Isso irá ressuscitar o franchise? Difícil dizer. É certamente um início mais interessante do que DS9 ou Voyager tiveram. É o tipo de série que irá trazer um novo público e aqueles que pensavam que os spin-offs não tinham o estilo e a diversão da série original. Aqueles que nunca entraram realmente no drama de DS9 e preferiam o estilo de mais ação de A Nova Geração e Voyager irão entrar nessa também. Isso é mais “Doctor Who” do que “Babylon 5” em tom, sua mira está em mais aventura e fantasia selvagem so que os outros spin-offs de Jornada. Como resultado, tenho certeza de que essa série será a mais discutida de todos os spin-offs –em minha opinião, entretanto, ela não é de chacoalhar o chão, mas certamente é um bom começo e deve ser uma série interessante.

Avaliação: 7/10