TNG 4×23: The Host

Episódio introduz raça simbionte trill para propor dilema amoroso a Beverly Crusher

Sinopse

Data estelar: 44821.3

Beverly Crusher se envolve romanticamente com um embaixador trill, Odan, que está sendo levado pela Enterprise para mediar uma disputa no sistema Peliar. Conforme a nave se aproxima de seu destino, Riker é voluntário para conduzir uma nave auxiliar para levar Odan a um encontro com os representantes das luas Alfa e Beta, que estão prontas para entrar em guerra.

Logo após a partida, um veículo se aproxima e ataca a nave auxiliar, ferindo mortalmente o embaixador e obrigando Riker a conduzir o veículo de volta à Enterprise. No atendimento médico de emergência, Beverly descobre que há um parasita em seu corpo. Quando ela faz menção de removê-lo, choca-se ao descobrir que Odan é o parasita, e aquele corpo um mero hospedeiro. O parasita, não o corpo, deve ser salvo.

Enquanto Beverly luta para aceitar o fato de que o homem atraente por quem ela se apaixonou é na verdade um pedaço inanimado de tecido, a Enterprise contata os trills para requisitar um novo hospedeiro para Odan. Infelizmente, a situação no sistema Peliar não pode esperar e exige a atenção imediata do embaixador. Riker se voluntaria para servir como um hospedeiro temporário para Odan.

Beverly consegue transferir o simbionte para o corpo de Riker com sucesso, mas não se acostuma a ver Odan como Riker, assim como é incapaz de se relacionar com ele amorosamente, como antes. Odan tristemente concorda em se manter afastado. Logo após a transferência, o corpo de Riker começa a sofrer danos severos. Odan prossegue com a reunião de qualquer modo e descobre que o desconforto de Beverly com a noção de que ele ainda existe, dentro de Riker, é compartilhada pelos representantes das luas de Peliar. Eles suspeitam que o estranho cenário possa ser apenas uma farsa elaborada pela Frota Estelar para impor seus próprios interesses na crise de Peliar.

Por sorte, Odan é capaz de convencer o representante de Beta a aceitá-lo e continuar com as negociações, e o representante de Alfa concorda em ter uma resposta dentro de oito horas. No fim do dia, Beverly vai até os aposentos de Odan. Tomada pelo desejo, ela supera as dificuldades de aceitar a dualidade Odan/Riker e se entrega aos braços do amante.

Na manhã seguinte, enquanto se prepara para a mediação, Odan diz a Beverly que a presença dele tornou-se uma ameaça ao corpo de Riker e a faz prometer que irá removê-lo logo após o encontro. A disputa é resolvida rapidamente, e Odan volta para a enfermaria para ser cirurgicamente removido do corpo de Riker. A operação é um sucesso, mas a vida de Odan está em risco quando a nave com o novo hospedeiro trill se atrasa para o encontro. A Enterprise dispara em dobra 9 para interceptar a nave e salvar o embaixador. Quando a situação já está no limite, Worf avisa a doutora que o novo hospedeiro já chegou – na verdade, uma hospedeira.

Após transferir Odan para o corpo da mulher, Beverly explica que não é capaz de se ajustar às constantes mudanças e incertezas envolvidas nesse relacionamento, decidindo por encerrá-lo. Odan aceita sua decisão e, após uma troca de juras de amor, a agora embaixadora retorna a Trill.

Comentários

“The Host” é um episódio que consegue ilustrar muito bem a diferença entre o estilo das primeiras temporadas da série e o aprimoramento dos anos subsequentes. Fosse esta uma história do primeiro ano de A Nova Geração, com os mesmos elementos, o enfoque ficaria todo sobre a disputa entre Alfa e Beta (uma analogia com o problema contemporâneo do aquecimento global, que é causado majoritariamente por países industrializados e ironicamente afeta mais as nações que contribuem menos para as mudanças) e toda uma ladainha se desenvolveria em torno dela, criando um episódio totalmente previsível.

Mudando o enfoque para os personagens, temos uma bonita história em torno da doutora Crusher, que usa o contexto do sistema Peliar apenas para fazer o enredo avançar, trazendo novos desenvolvimentos para o relacionamento entre Beverly e Odan.

É uma ocasião rara e digna de comemoração: as personagens femininas de A Nova Geração não costumam ter episódios tão bem escritos voltados para si – uma dificuldade crônica que perseguiu os produtores por toda a série. Aqui, o enredo leva Beverly a um nível novo, mostrando um pouco mais da recatada doutora.

A discussão proposta não é trivial, e a trama chega a flertar com uma exploração da homossexualidade (ponto que surge quando Odan é transferido para um corpo feminino), embora a incapacidade de Beverly de lidar com as mudanças acabe contornando esse aspecto (o que não seria feito em Deep Space Nine, usando mais uma vez os trills para abordar a questão em “Rejoined”).

Além disso, há potenciais “confrontos” na Enterprise, quando Crusher conta a Troi seu dilema sobre Riker, e Picard descobre que sua doutora favorita anda saindo com o embaixador Odan. Nesses momentos é que podemos sentir o verdadeiro senso de amizade e companheirismo entre os tripulantes da Enterprise – os barris de pólvora são evitados de forma tão honesta e viva que chegamos realmente a acreditar que o ser humano já é de fato emocionalmente mais maduro no século 24.

Além do poder da própria história, outro elemento reforça sua capacidade de envolver o espectador – a música. Normalmente utilizada como mero pano de fundo para os episódios, a trilha sonora aqui contraria essa regra, ao estabelecer o tom de muitas das melhores cenas do segmento.

Por fim, vale uma nota sobre a primeira aparição dos trills – bem diferente do que veríamos depois sobre essa raça com Jadzia Dax em Deep Space Nine. As razões para as discrepâncias são óbvias: enquanto aqui os trills são apenas “alienígenas da semana”, um instrumento para criar o dilema na boa doutora, lá eles ganham foco com um membro do elenco principal. Isso permitiria a exploração de ângulos mais interessantes (para não falar de uma maquiagem mais atraente e menos alienígena).

Avaliação

Citações

“Perhaps it is a human failing, but we are not accustomed to these kinds of changes. I can’t keep up. How long will you have this host? What would the next one be? I can’t live with that kind of uncertainty. Perhaps, someday, our ability to love won’t be so limited.”
(Talvez seja uma falha humana, mas não estamos acostumados a essas mudanças. Não consigo acompanhar. Por quanto tempo você terá esse hospedeiro? O que será o próximo? Não posso viver com esse tipo de incerteza. Talvez, algum dia, nossa habilidade de amar não seja tão limitada.)
Beverly Crusher, ao terminar com Odan

Trivia

  • O título de trabalho deste episódio era “E Pluribus Unum”, “de muitos, um”, em latim.
  • A história original se concentrava nas negociações de guerra e não tinha um elemento romântico. “A adição de Beverly à história é o componente vital”, relembrou Ronald D. Moore. “Muitos freelancers pegariam aquela premissa e diriam que é um episódio sobre o embaixador e as dificuldades da criatura parasítica e as negociações de guerra. Ninguém realmente liga para isso. Mas quando vira um problema da Beverly, que está na posição com problema, e em certo sentido Riker, aí é que vira uma história de Star Trek.”
  • Brannon Braga lembrou da proposta original como “a história mais repulsiva já oferecida para nós”. “Estar apaixonado por alguém não é muito novo. Ter o parasita como o hospedeiro é. Não foi originalmente apresentada como uma história de amor, foi apresentada como uma minhoca que é realmente a inteligência.”
  • Embora o episódio seja creditado a Michel Horvat, o roteiro final foi primariamente escrito por Jeri Taylor, que ficou satisfeita com o resultado. “Eu derramei um bocado de coisa boa nele, e tudo se encaixou. Tornou-se um episódio maravilhoso, memorável.”
  • O segmento foi filmado entre 8 e 19 de março de 1991, com filmagens de segunda unidade e tomadas de inserção feitas em 18 de abril.
  • O diretor deste episódio, Marvin V. Rush, é o diretor de fotografia da série desde a terceira temporada. Ele trabalhou em A Nova Geração até “Realm of Fear”, do sexto ano, sendo depois substituído por Jonathan West. Segundo Marvin Rush, o maior problema que ele encontrou para dirigir este episódio foi o de disfarçar a gravidez de Gates McFadden (dra. Crusher). James Cleveland McFadden-Talbot nasceu três meses depois, no dia 10 de junho de 1991, durante o período de intervalo entre as temporadas.
  • Marvin Rush discordou de críticas que sugeriram que a rejeição final de Odan por Beverly tivesse tons homofóbicos. “Eu senti que era mais sobre a natureza do amor, por que amamos e o que nos impede de amar. Para mim a melhor analogia é, se seu amado vira uma barata, você poderia amar uma barata? É a mesma pessoa, se a pessoa for a personalidade e o núcleo dela, mas você pode superar o lado de fora? Nós, como humanos, somos afetados pelo pacote completo, inclusive a casca externa, e Gates em sua última cena diz que talvez algum dia nossa habilidade para amar não seja tão limitada. Ela diz: a humanidade pode um dia ser capaz de lidar com isso, mas eu não consigo.”
  • Gates McFadden disse que algumas pessoas ficaram furiosas de ver “qualquer sugestão de homossexualidade no episódio”. Em uma convenção, ela disse ter adorado o segmento, mas preferia que a primeira história romântica de Beverly tivesse acontecido depois da gravidez dela.
  • Este episódio apresenta os trills, uma raça de seres que vive em simbiose com outro ser hospedeiro. Em Deep Space Nine, com a presença da trill Jadzia (depois Ezri) Dax, essa raça seria plenamente desenvolvida para o público. A maquiagem dos trills foi mudada em DS9, passando de uma testa estranha para agradáveis pintas ao longo da lateral do corpo (inspiradas pelo episódio “The Perfect Mate”, da quinta temporada de A Nova Geração). As restrições dos trills ao teletransporte, mencionadas aqui, nunca mais seriam abordadas.

Ficha Técnica

Escrito por Michel Horvat
Dirigido por Marvin V. Rush

Exibido em 13 de maio de 1991

Título em português: “O Hospedeiro”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Barbara Tarbuck como Leka Trion
Nicole Orth-Pallavicini como Kareel Odan
William Newman como Kalin Trose
Patti Yasutake como Alyssa Ogawa
Franc Luz como “Odan”

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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