TB conversa com Patrick Stewart, Jeri Ryan, Jonathan Del Arco e Michelle Hurd

O que pode ser mais emocionante do que acompanhar a estreia de Star Trek: Picard, com a volta do querido capitão após quase 20 anos longe das telas? Só há uma resposta: falar com o homem! Na última sexta-feira (17), o Trek Brasilis participou de uma teleconferência com a presença de ninguém menos que Patrick Stewart! De “lambuja” (e note o tamanho da “lambuja”) estavam presentes também Jeri Ryan (a inesquecível Sete de Nove, de Voyager), Jonathan Del Arco (o borg Hugh, visto em três episódios de A Nova Geração) e Michelle Hurd (que interpreta Raffi Musiker, uma nova personagem, mas que chega à nova série partilhando um passado com Picard). Confira como foi a conversa com eles. 

Patrick, no processo de concepção da série, que tipo de sugestão você deu aos produtores do que queria ver?

Patrick Stewart: Dei exemplos do tipo de lugar que eu queria estar. Picard não estaria numa espaçonave, não usando um uniforme, não em um posição de comando e autoridade. E eu citei Logan. Quando o filme começa, [o professor Xavier] está louco e perigoso e doente e perturbado e ocasionalmente lúcido, muito ocasionalmente. E isso tornou fazer aquele filme, com aquele maravilhoso diretor, James Mangold, uma experiência fantástica. Acho que não estou o estou citando errado quando ele disse para mim que o trabalho que eu fiz em Logan foi a culminação de todo o trabalho com os X-Men. Então, eu decidi: “Certo, eu não quero que vocês recontem a história de Logan. Mas, vamos achar um ambiente, vamos achar uma condição emocional para o capitão que vai tornar minha vida tão interessante quanto possível. Apenas salvem-na.” (risos)

Hugh e Sete estão de volta. O que há de novo na vida desses personagens que os interessou em fazê-los?

Jeri Ryan: Eu amo quem essa personagem se tornou. Quer dizer, ela passou por coisas bem ruins nos últimos 20 anos, mas adoro que ela as superou, adoro que ela ficou mais dura, ficou cínica, e ela está fazendo seu melhor para tentar trazer algum senso de ordem para o que ela considera uma bagunça na galáxia. E ela considera a Federação e Frota Estelar em grande parte responsáveis por isso. Então, quando encontra Picard pela primeira vez, ela não está na caravana dos adoradores dele, porque ela o vê como um representante daquele mundo.

Jonathan Del Arco: Para mim, eu passei dez anos trabalhando com um escritor e showrunner brilhante, na série em que eu estava [Crimes Graves, criada por James Duff, produtor executivo de Picard], basicamente na minha voz, basicamente no meu senso de humor, e ele realmente acreditava em escrever para um ator diretamente quem ele é para produzir televisão empolgante. Então ele convidou a nós dois [Jonathan Del Arco e Jeri Ryan], e ele também é um fã de Star Trek de longa data, e eu sabia que ele escreveria algo para Hugh que usaria minha vida e que eu não teria de interpretá-lo, que ele usaria partes de mim mesmo. Eu confiava muito nisso e quando Patrick se envolveu, virou algo como, eu serei doido de não participar? (risos) 

E você, Patrick, por que voltar?

Patrick Stewart: Porque eu fiquei satisfeito que nossos escritores iriam dizer coisas que realmente precisavam ser ditas no mundo em que vivemos hoje. Mas também porque eu teria o trabalho fascinante de encontrar um homem que nos últimos 18 anos se tornou muito desiludido, que era um capitão de nave estelar alerta, compassivo, solidário, otimista, aventureiro. E eu estava intrigado em examinar isso e ver se eu poderia dar-lhe vida.

E quanto à sua personagem, Michelle? O que a atrai nela?

Michelle Hurd: A personagem da Raffi, que eu interpreto, é tão complexa e tão cheia de camadas, que eu tinha de fazê-la. Acho que tenho a chance de contar uma história importante. Sabe, há algo na Raffi que se relaciona com muitas pessoas no mundo agora, tem a ver com demônios, tem a ver com vício, e luta, tentando desesperadamente navegar e chegar ao fim de cada dia… Elas poderiam ser nossas irmãs, nossos irmãos, nossas mães, nossas esposas, nossos amigos, nossos vizinhos, e não se pode descartá-los. Eles ainda contribuem significativamente com nosso ambiente e com nossa sociedade, e eu amo a oportunidade de me colocar nos sapatos deles. Porque ela é realmente inteligente, ela tem todas aquelas coisas, inteligente, ela tem coração, ela tem esperanças e tem muitos medos. Ela quer andar de forma ereta, ela quer fazer a coisa certa, mas, você sabe, algumas vezes você precisa se agarrar a algo que ajude a cruzar o caminho.

Patrick, você conta que de saída você não queria voltar ao personagem e então eles apresentaram a você um documento de 35 páginas que o fez mudar de ideia. O que havia nesse documento que fez você mudar de ideia e quanto disso acabou indo parar na série?

Patrick Stewart: Em 1994, quando encerramos A Nova Geração e nos preparávamos para fazer o primeiro dos nossos quatro filmes, eu já sentia que estava muito perto de ter dito tudo que eu poderia dizer sobre Jean-Luc. Já havíamos feito 178 horas de televisão, e não restava muito, não havia para onde ir. Então eu soube que era o momento de dar uma despedida forte e resistir a todas as tentativas que seriam feitas de me atrair de volta aos sapatos do capitão. “Obviamente não” – eu imediatamente dizia não. E então, quando eles me procuraram, eu pensei, bem, até posso fazer uma reunião, ouvir o que eles têm a dizer, e aí dizer a essas ótimas pessoas que “não, eu não quero fazer sua série”. Mas, tendo dito isso, eles contra-argumentaram dizendo que as razões pelas quais eu não queria fazer a série, eles não queriam mostrar na série. Então prepararam esse documento do que queriam fazer e perguntaram, o que você acha? Eu comecei a ver cada vez mais que o mundo que eles apresentavam era muito diferente. Não havia a segurança de uma nave estelar, não havia a segurança de uma tripulação de primeira classe, não havia a segurança de pessoas que conheciam seu trabalho até pelo avesso. E desde que ele deixou a Frota Estelar, Picard tem cometido muitos erros. Escolhas ruins, julgamentos equivocados. E ele está debilitado por culpa e pela responsabilidade de não ter podido continuar com a evacuação. Ele se opôs à Federação naquele momento e decidiu aplicar o método não muito sutil de dizer, “se vocês não fizerem, vou pedir baixa”. Ele pensou, “eles nunca vão aceitar”. E, claro, eles disseram, “ok, tchau, tchau”. Então, eu estava sendo apresentado a uma diversidade de situações, de personagem – e então de conjunto, quando a companhia se reúne e eu encontro todos os outros atores juntos. A série também faz afirmações sociais sobre o mundo. Então, estou muito feliz de ter tomado a decisão que tomei e de que eles insistiram em tentar me trazer a bordo.

Jeri Ryan: Nós estamos meio que felizes também que você decidiu isso. (Risos)

E você, Jeri, por que você decidiu voltar a fazer a Sete de Nove e o quanto você estava ciente do papel que a personagem teria na história quando foi consultada?

Jeri Ryan: Para mim, eu fui abordada, como Johnny [Del Arco] mencionou antes, cerca de dois anos atrás, por nosso amigo mútuo, James Duff, com quem fomos ao Hollywood Bowl, só tomando champanhe, e depois de algumas taças ele achou que era a hora apropriada para tocar no assunto e disse, “estamos querendo trazer a Sete de volta”. E ele disse “sério, vá pensando, mas não posso te dar uma ideia completa, porque Patrick precisa saber da história que bolamos”. E eu disse, “tchau, Duff”, e fui pra casa. E aí, conforme ele explicou mais o que ele via para a história dela, pelo que ela passou, depois de 20 anos, na Terra, ou de volta do Quadrante Delta, foi, francamente, interessante demais para sair fora, e, como Johnny disse, eu estaria em boas mãos. E sabendo que todos os outros escritores na série e os criadores da série são, no fundo, fãs de Star Trek, e que eles amam esses personagens tanto quanto nós e seriam tão cuidadosos com esses personagens quanto precisam ser, especialmente com este mundo e esta franquia, em que os fãs têm tamanho conhecimento e têm um sentimento tão proprietário com relação à franquia, eu, pelo menos, mas acho que todos nós sentimos a responsabilidade de não desapontá-los.