TOS 1×19: Tomorrow Is Yesterday

Episódio divertido inaugura o tema das viagens no tempo em Jornada

Sinopse

Data estelar: 3113.2

Enquanto rumava em direção a Terra, a USS Enterprise é pega pela atração gravitacional de um buraco negro e, no processo para se libertar, acaba sendo jogada de volta no tempo, na segunda metade do século vinte, na atmosfera terrestre, às vésperas do primeiro pouso do homem na Lua.

Ainda parcialmente incapacitada devido às avarias causadas no esforço para se libertar, a nave é captada por uma estação de radar de uma base aérea americana, que envia um avião para investigar o estranho contato.

O avião, pilotado pelo capitão John Christopher, estabelece contato visual com a nave, enquanto esta ainda luta para retornar à altitude de órbita padrão. Christopher recebe ordens de impedir a fuga do que os militares identificaram como um OVNI, atirando nele se necessário.

Kirk, que monitorava a comunicação entre a aeronave e sua base, é alertado por Spock que, devido às avarias, talvez a nave estelar não suporte o impacto de um disparo (de míssil com ogiva nuclear) do caça. Ele, então, ordena a Scott que prenda o avião com o raio trator, mas a aeronave não suporta o esforço e começa a se desfazer, obrigando Kirk a trazer Christopher a bordo via teletransporte.

Após se materializar, Christopher fica, a principio desorientado, enquanto Kirk tenta explicar o que aconteceu ao piloto da força aérea. Depois da experiência do teletransporte, Christopher vai ficando cada vez mais confuso. Primeiro, com a explicação de Kirk para o fato de a Enterprise estar ali e, segundo, ao se deparar, entre outras coisas, com mulheres tripulantes circulando a bordo e, principalmente, com a visão de Spock, um alienígena.

Quando começa a sentir-se um pouco mais aliviado, Christopher é informado por Kirk que não poderá ser enviado de volta à Terra, pois teria adquirido conhecimento demais sobre o futuro e, se esse conhecimento se tornasse público, o próprio futuro poderia ser alterado. Christopher protesta, alegando que seu desaparecimento também poderia mudar algo no futuro, mas Spock reage dizendo que suas pesquisas históricas não revelaram nenhuma contribuição importante de John Christopher para a História.

Enquanto a tripulação pensa em seus próprios problemas, ou seja, retornar a seu tempo, Spock encontra uma falha em sua pesquisa inicial, na qual não havia considerado possíveis contribuições de descendentes de John Christopher. Durante nova pesquisa, ele descobre que um filho ainda não nascido de Christopher, o Coronel Sean Jeffrey Christopher, será responsável pela primeira sonda a alcançar Saturno. Kirk descobre nessa hora que Christopher está tentando escapar e o impede, pouco antes de este obrigar o operador de transporte, Sr. Kyle, a transportá-lo de volta à Terra.

Na enfermaria, após se recuperar do soco que havia levado, Christopher acorda e é informado das descobertas de Spock, que também diz a Kirk que eles serão obrigados a devolver o capitão da força aérea à Terra, pois, caso contrário, seu filho não nasceria e o futuro poderia ser alterado.

Kirk e Spock elaboram um plano que tem como intenção recuperar fotos que foram tiradas por Christopher usando câmeras em seu avião e que haviam sido encontradas entre os destroços do aparelho. Kirk e Sulu vão até a base e, enquanto estão pegando os rolos de fita do velho computador, são apanhados por um sargento da segurança da instalação, que acidentalmente é levado a bordo da Enterprise, complicando ainda mais a situação de Kirk e Cia.

Ainda na base, outra equipe de segurança encontra Kirk, que inicia uma luta que fornece o tempo necessário para Sulu retornar à nave com as fitas. Entretanto, o capitão da Enterprise acaba sendo preso e é interrogado pelo pessoal da base.

Sem alternativas, Spock desce à base junto com Sulu, levando também o capitão John Christopher, numa tentativa de resgatar Kirk. A ação é bem sucedida, mas, quando deviam voltar a bordo, Christopher se recusa a retornar, ameaçando o grupo com uma arma que ela havia tomado às escondidas de um segurança da base. Spock, que desconfiava que Christopher tentaria algo e havia se retirado do local pouco antes, retorna e o surpreende, mais uma vez o impedindo de realizar sua intenção de escapar da custódia de Kirk e cia.

De volta à Enterprise e com todas as provas fotográficas resgatadas, Spock e Scott apresentam seu plano para retornar ao futuro, que prevê uma corrida em direção ao Sol, seguida de uma súbita tentativa de escapar da atração gravitacional da estrela, causando uma repetição (ao contrário) do efeito que lançou e nave no passado. Durante o retorno no tempo, os dois passageiros indesejados seriam devolvidos e, no processo, suas memórias das experiências relativas à presença da Enterprise seriam apagadas. Kirk segue o plano, que funciona de acordo com o previsto. Christopher e o sargento da base são devolvidos aos seus devidos lugares e todas as lembranças da presença da Enterprise desaparecem. A nave, então, retorna a seu tempo sem maiores problemas.

Comentários

Se levarmos em consideração as diversas discussões e muitos dos temas abordados pela Série Clássica ao longo de sua existência, podemos concluir que “Tomorrow Is Yesterday” é um dos episódios mais despretensiosos da série, quase uma brincadeira. Mas é interessante notar como essa história divertida se tornaria um marco importante em Jornada, ao trazer o tema da viagem no tempo para a franquia.

Essa é a primeira história com esse tema em Jornada nas Estrelas – falaremos sobre “The Naked Time” mais adiante –, tema este que seria repetido em mais de 50 episódios ao longo da história da franquia numa viagem sem volta. Mas, embora o tema viagem no tempo tenha sido e continue sendo muito presente em Jornada, com vários episódios de sucesso, o tema é algo que não pode mesmo ser tratado com muita seriedade cientifica. Por esse viés, “Tomorrow is Yesterday” oferece bons 50 minutos de entretenimento.

De início, essa é a primeira vez que uma tripulação retorna à Terra, mas não a Terra do futuro, por uma questão de orçamento, mas a Terra da época de produção da série (por questões de economia). Ao fazer isso, podemos ver como seria a reação de uma pessoa do “presente” tendo contato com o futuro ficcional de Jornada nas Estrelas e é ai que entra o capitão John Christopher como representante desse público.

A abertura do episódio, utilizando cenas de caças F-104 Starfighter preparando-se para decolar e logo a seguir a visão de uma Enterprise contra as nuvens dentro da atmosfera, já causa certa sensação de estranhamento e curiosidade. Como consequência desse encontro incomum, temos a chegada de Christopher (Roger Perry) a bordo da nave como um dano colateral indesejado.

Roger Perry faz um ótimo trabalho demonstrando, a princípio, uma óbvia e esperada confusão, mas também uma firmeza de propósito no mesmo nível que Kirk e cia demonstrariam em situação análoga, algo que faz muito bem à dinâmica dos acontecimentos. Essa firmeza de propósito do personagem ajuda a propiciar algumas situações bem divertidas ao longo do episódio.

Interessante perceber que, mesmo em um tom mais suave, Jornada nas Estrelas ainda é capaz de endereçar algumas questões importantes. É o que acontece quando Christopher se depara com mulheres a bordo e com uma tripulação miscigenada na ponte, onde se encontram Sulu, Uhura e claro, Spock. Uma breve lembrança de que Jornada sempre teve uma pauta de inclusão, sempre adequada à sua época, é claro

Os personagens principais também estão muito à vontade aqui. Shatner, Nimoy e Kelley conseguem uma atuação leve, divertida e competente, totalmente alinhados com o espírito do segmento, o que ajuda a produzir alguns minutos do melhor bom humor que caracterizou a série ao longo de sua existência. As cenas em que Spock diz que também não acredita em pequenos homens verdes de frente para um atônito capitão Christopher ou quando o vulcano admite sua falha durante a pesquisa sobre o hóspede indesejado são apenas alguns exemplos desse bom humor.

Nem tudo são flores, é claro, e, na relação dos problemas, podemos começar citando os menores, como o fato do capitão Christopher ter sido deixado sem vigilância e à vontade na nave, ou de Kirk descer pessoalmente à base militar (ok, isso é marca registrada de Série Clássica, mas não deixa de ser estranho) quando o problema podia ser resolvido por qualquer outra pessoa a bordo. Entretanto, estes são pecados menores.

Passamos para o nível dois de problemas, que são os efeitos especiais. Dada a ambição ao menos conceitual do segmento, seriam necessários efeitos ainda não produzidos na série, como a Enterprise entrando na atmosfera ou em sua corrida em direção ao sol. Infelizmente, a Westheimer Company, empresa responsável pelos efeitos visuais, não conseguiu entregar um bom trabalho nesse caso, em função da dificuldade de realização e do baixo orçamento disponível. Felizmente, a versão remasterizada corrige esses problemas e melhoram em muito e experiência de assistir ao segmento.

No entanto, o maior problema, certamente, é a overdose de suspensão de descrença necessária para aceitar a concepção e a execução do plano que devolveria os visitantes à sua origem, apagaria os vestígios da visita da Enterprise e mandaria a nave de volta ao futuro. O buraco negro, nesse ponto do roteiro, é tão grande que não vale a pena perder tempo nos detalhes. Basta dizer que é difícil entender o conceito de “fita rebobinada” que aparece como solução.

De toda forma, levando em conta todos os fatos não há como negar que “Tomorrow Is Yesterday” é um episódio muito divertido e que proporciona bons minutos de entretimento, inaugurando a longa tradição de “episódios temporais”, que seriam uma das marcas da franquia, merecendo com justiça um lugar de carinho na memória dos fãs.

Avaliação

Citações

“If I remember my history, these things were being dismissed as weather balloons, sundogs, explainable things– at least publicly.”
(Se eu me lembro da História, essas coisas eram descartadas como balões meteorológicos, fenômenos atmosféricos, coisas explicáveis, pelo menos publicamente.)
Kirk

“Must have taken quite a lot to build a ship like this”.
“There are only 12 like it in the fleet.”

(Deve ter demorado muito para construir uma nave como esta.)
(Existem apenas 12 iguais na frota.)
Capitão Christopher e Kirk

“I never have believed in little green men.”
“Neither have I.””

(Nunca acreditei em homenzinhos verdes.)
(Nem eu.)
Capitão Christopher e Spock

“I made an error in my computations.”
“Oh? This could be an historic occasion.”

(Eu cometi um erro em meus cálculos.)
(Oh? Esta pode ser uma ocasião histórica.)
Spock e McCoy

“I never thought I’d make it into space. I was in line to be chosen for the space program… but I didn’t qualify.”
“Take a good look around, Captain. You made it here ahead of all of them.”

(Nunca pensei que chegaria ao espaço. Eu estava na fila para ser escolhido para o programa espacial … mas não me qualifiquei.)
(Dê uma boa olhada ao redor, capitão. Você chegou aqui antes de todos eles.)
Capitão Christopher e Kirk

Trivia

  • Este é o primeiro episódio escrito por D.C. Fontana para Jornada nas Estrelas. Ela já havia colaborado com o roteiro de Charlie X com Gene Roddenberry.
  • Este episódio deveria ser uma sequência imediata dos eventos de “The Naked Time”, no qual a Enterprise é obrigada a fazer um procedimento de “partida a frio” dos motores para escapar de uma queda. Após o processo, a nave volta no tempo três dias. A sequência acabou não acontecendo por problemas de produção.
  • O “efeito estilingue” seria usado novamente no episódio “Assignment: Earth”, e em “Star Trek IV: The Voyage Home”
  • Numa infeliz coincidência, um dia após a exibição do episódio em 26 de janeiro de 1967, um incêndio na cabine durante um ensaio de lançamento matou todos os três membros da tripulação do que seria a missão Apollo I.
  • O episódio prevê que o primeiro voo do homem à Lua seria realizado numa quarta-feira. A Apolo XI partiu numa quarta, 16 de julho de 1969.
  • O problema no computador da nave é relatado no livro Web of the Romulans (A Teia dos Romulanos), publicado pela editora Aleph. Nesse texto, a personalidade feminina do computador faz com que este se apaixone pelo capitão, causando problemas ainda maiores do que os vistos no episódio.
  • “Little Green Men” se tornaria o título de um episódio de Deep Space 9. Nesse episódio, Quark e Rom levam Nog para a Academia da Frota Estelar, no novo transporte pessoal de Quark, e por acidente vão parar na Terra, no ano de 1947.
  • Durante a 2a Guerra Mundial, o segundo tenente Gene Roddenberry voou 89 missões no Pacífico Sul, integrando a tripulação de bombardeiros B-17.

Ficha Técnica

História de D.C. Fontana
Dirigido por Michael O’Herlihy

Exibido em 26 de janeiro de 1967

Título em português: “Amanhã é Ontem” (AIC-SP), “Amanhã é Ontem” (VTI-Rio)

Elenco

William Shatner como James Tiberius Kirk
Leonard Nimoy como Spock
DeForest Kelley como Leonard H. McCoy
George Takei como Hikaru Sulu
Nichelle Nichols como Uhura
James Doohan como Montgomery Scott

Elenco convidado

Roger Perry como capitão John Christopher
Hal Lynch como sargento

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Edição de Carlos Henrique Santos
Revisão de Nívea Doria

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