A ciência por trás do tema “A Queima” em Discovery

Na terceira temporada de Star Trek: Discovery, a trama principal foi um mistério chamado “The Burn” (A Queima), que ocorreu 120 anos antes da nave Discovery chegar ao séc. 32.

Tudo aconteceu quando o dilithium ativo se tornou repentinamente inerte, resultando na destruição dos motores de dobra ativos, ficando a viagem de dobra restrita por mais de cem anos, com consequências desastrosas para a Federação.

Embora, alguns fãs não tenham gostado de ver que a galáxia quase morreu por causa de um filho, sofrendo por sua mãe ou achado a explicação sem muito sentido, há uma conexão científica por trás disso tudo.

Os consultores científicos Erin Macdonald e Mohamed Noor, contratados para a 3ª temporada de Discovery, ajudaram a desenvolver a ciência por trás do ficcional dilithium e também da biologia de um alienígena deixado em um ambiente único que resultou neste desastre.

Através de um artigo publicado pelo site oficial Star Trek e assinado pelos próprios consultores, você fica sabendo um pouco mais como foi desenvolvido isso.

No artigo, os consultores começam explorando a definição do que é o dilithium e como ele funciona em um núcleo de dobra.

Dra. Erin Macdonald

Erin Macdonald

Diz o artigo, “O dilithium não é combustível para os motores de dobra, é mais um regulador. Para construir uma bolha de dobra e “ir para a dobra”, a nave precisa de uma quantidade extremamente alta de energia para deformar o espaço-tempo”, definiu.

Na física de hoje, quando a matéria e a antimatéria se aniquilam liberam energia. Para Star Trek, esta reação matéria-antimatéria fornece a energia necessária para construir uma bolha de dobra. É aí que entra o dilithium: ele regula essas reações para evitar que fiquem fora de controle ou fiquem críticas.

Mohamed Noor (@mafnoor) | Twitter

Mohamed Noor

No mundo ficcional de Star Trek, o dilithium é composto de matéria bariônica tradicional (prótons, nêutrons e elétrons), bem como partículas subatômicas complexas que existem no subespaço, que permitem a formação da estrutura cristalina.

O dilithium tem uma relação estreita com o subespaço em Star Trek, que por definição é a região fora do espaço-tempo normal, como um “plano complexo”, semelhante ao conjunto dos números imaginários. A estrutura cristalina do dilithium que está tanto no espaço normal quanto no subespaço, se torna um regulador único para a quantidade de energia sendo liberada.

Dada a definição de dilithium e subespaço, vemos no episódio “Su’Kal” que uma espécie de onda de choque atravessa o subespaço, proveniente do grito do jovem Kelpiano.

Então, o artigo traz uma explicação científica para corroborar com a ficção, neste caso: “A ligação de Su’Kal com o subespaço tem raízes biológicas, e especificamente genéticas, devido a sua exposição à radiação e produtos químicos derivados do dilithium. A radiação e os produtos químicos podem causar alterações na letra do DNA (A, C, G, T) chamadas de “mutações”, mas os genes também podem ser ligados e desligados ou aumentados e diminuídos na quantidade de produto (por exemplo, RNA) que produzem em resposta a radiação ou produtos químicos. Essas mudanças nas quantidades de produtos gênicos produzidos, chamadas de mudanças na “expressão gênica”, fazem sentido porque muitas de suas células em seu corpo responderão de forma semelhante as entradas externas, ao passo que, se as mudanças aconteceram a partir de novas mutações, então, cada uma de suas células obteria mutações distintas, e o caos poderia ocorrer. Parte da resposta da expressão gênica acontece por meio do que é chamado (na vida real e também na série) de “modificação epigenética”: as letras do DNA permanecem inalteradas, mas podem ser marcadas com uma molécula para sinalizar a quantidade de produto a ser produzida. As exposições de Su’Kal, portanto, causaram mudanças epigenéticas que afetaram o desenvolvimento de seu corpo”.

Kids cause the darndest Burns: Star Trek: Discovery “Su'Kal” – the agony booth

Uma hipótese foi levantada, no final da temporada, pelo Dr. Culber dizendo que Su’Kal poderia ser um “poliploide”. Quer dizer, em vez de ter uma cópia de cada gene da mãe e uma cópia do pai, os poliplóides têm dois ou mais de cada um dos pais. A poliploidia é muito rara em mamíferos terrestres, mas é mais comum em rãs, peixes e plantas, incluindo algodão, batata e quadrotriticale (grão ficcional mostrado em “The Trouble with Tribbles”). A poliploidia pode ser induzida por radiação e pode causar alterações epigenéticas. Além disso, a poliploidia às vezes fornece maior tolerância as condições estressantes, talvez incluindo radiação, ajudando Su’Kal a viver em sua nave inundada por radiação. De qualquer modo, as mudanças epigenéticas, seja por meio da poliploidia ou não, foram induzidas pela exposição a produtos químicos e radiação, e fazem com que Su’Kal seja fisicamente diferente de outros Kelpianos.

Como uma explicação final para a “Queima”, ligando a física com a biologia, os consultores sugeriram uma teoria, que foi mostrada nos episódios finais, na qual as partículas subatômicas complexas permitem que o dilithium forme uma estrutura cristalina com uma frequência ressonante particular. A abundância dessas partículas subatômicas complexas nas regiões formadoras do dilithium fez com que elas interagissem com as mudanças físicas em Su’Kal.

Nesta proposição, as mudanças epigenéticas (ou sua natureza poliplóide) fizeram com que as cordas vocais de Su’Kal se desenvolvessem de uma maneira em que ressoassem na frequência ressonante da estrutura cristalina estável que amarra o dilithium do espaço normal ao subespaço. Por causa dessa conexão, sua crise permeou o espaço normal e também o subespaço. Quando Su’Kal gritou, ele o fez na frequência ressonante da estrutura do dilithium, causando a dissociação das porções do subespaço e do espaço normal do cristal.

A velocidade de propagação no subespaço, da maneira como é representada em Star Trek, não se limita à velocidade da luz, esta onda de choque associada ocorreu em uma vasta extensão do espaço normal quase que instantaneamente. Embora a Queima parecesse ter acontecido de uma só vez, o fato de que eles foram capazes de discernir pequenas diferenças e triangular o local mostrou que não apenas ocorreu em um ponto (a nebulosa de Verubin), mas deve ter permeado o subespaço desde que aconteceu mais rápido do que a velocidade da luz. O dilithium que estava sendo usado ativamente se desestabilizou e um efeito cascata exponencial de geração de energia resultou em uma explosão crítica instantânea do núcleo de dobra. Qualquer dilithium que não estava sendo usado por motores de dobra ainda era afetado por esta frequência ressonante e ainda fraturado, resultando em limitações para a disponibilidade e a extensão em que poderia ser usado.

Erin Macdonald (PhD, Astrofísica) é uma especialista em ciência espacial, escritora, palestrante e consultora reconhecida internacionalmente com formação em ondas gravitacionais e relatividade geral. Ela atualmente mora em Los Angeles e está trabalhando como escritora e consultora científica para a franquia Star Trek.

Mohamed Noor (PhD, Ecologia e Evolução) é Professor de Biologia e Reitor de Ciências Naturais na Duke University em Durham, NC. Ele conduz pesquisas e leciona nas áreas de genética e evolução. e foi contratado como consultor científico para a franquia Star Trek.

O que você achou da explicação científica para a “Queima”?