Discovery deixa hoje o catálogo da Netflix

O mundo estava estranhando a ausência de Star Trek: Discovery da lista de lançamentos para a Netflix neste mês de novembro. E agora sabemos por que: a ViacomCBS acaba de fechar um contrato para trazer a série capitânia da nova fase da franquia para o Paramount+ nos mercados internacionais, inclusive o Brasil. O furo foi do site de notícias de entretenimento Deadline. Isso significa que não deveremos ver a quarta temporada de Discovery na Netflix. Aliás, a série deve deixar inteiramente a plataforma à meia-noite desta terça-feira (16).

E quando teremos os novos episódios por aqui? Não sabemos exatamente. A reportagem fala em 2022. Mas não seria totalmente surpreendente se acontecesse ainda neste ano.

ATUALIZAÇÃO, 18h21: Em comunicado oficial nas redes sociais, o Paramount+ confirmou que o plano é levar a série para os mercados internacionais em que está instalada (inclusive o Brasil) “no começo de 2022”. Ou seja, os fãs brasileiros estarão privados de ver os episódios em sincronismo com a exibição americana.

O Trek Brasilis apurou que o ritmo de dublagem da série segue o padrão das temporadas anteriores, e os três primeiros episódios já foram dublados em português brasileiro.

O acordo recém-fechado pelo “repatriamento” da série, segundo o site, atingiu oito dígitos, o que significa que envolveu pelo menos US$ 10 milhões. E a vontade de fechá-lo antes da estreia da nova temporada explica a reticência total da Netflix sobre a possível chegada da quarta temporada, embora o evento Star Trek Day, realizado pela ViacomCBS no último dia 8 de setembro, tivesse anunciado a chegada dos novos episódios pela empresa de Ted Sarandos. Após o acerto, a Netflix perde qualquer vínculo com Discovery, que passa a ser uma propriedade exclusiva da ViacomCBS. E, claro, deixando para fechar o negócio a dois dias da estreia, a Netflix garantiu que o Paramount+ não pudesse surfar a onda da quarta temporada em âmbito internacional.

EXPANSÃO GLOBAL
A recompra dos direitos acompanha a estratégia do Paramount+ de se expandir pelos mercados internacionais. De acordo com o Deadline, países como Reino Unido, Alemanha, Irlanda, Áustria e Suíça estarão entre os primeiros a exibir Discovery via sua nova “velha” casa, junto com os mais de 20 mercados em que a plataforma está disponível fora da América do Norte (incluindo o Brasil). Por sinal, episódios antigos de Discovery já pintaram no serviço gratuito PlutoTV, também da ViacomCBS, em mercados europeus (mas não aqui no Brasil). A companhia diz que é parte de uma expansão acelerada e que esperam estar em cerca de 45 mercados até mais ou menos o fim do ano que vem. Nesse sentido, a presença da série estrelada por Sonequa Martin-Green é um trunfo importante.

A Discovery devem eventualmente se juntar ao Paramount+ as séries de catálogo das duas primeiras eras televisivas de Star Trek (Série Clássica, Série Animada, A Nova Geração, Deep Space Nine, VoyagerEnterprise). Mas para isso acontecer o contrato dessas séries com a Netflix precisa expirar. É improvável que a ViacomCBS vá fazer um esforço extra para encerrar de forma antecipada esse acerto, embora nos EUA alguns dos contratos dessas séries já tenham expirado (e lá todas estão disponíveis no Paramount+).

O cenário, portanto, começa a clarear para os fãs internacionais. Aqui no Brasil, passamos a depender do Paramount+ para Discovery, Lower DecksProdigy (ainda por estrear) e Strange New Worlds (ainda por estrear). Para Picard, seguimos com o Amazon Prime Video. E as séries antigas, ao menos por enquanto, devem permanecer na Netflix.

O FIM DE UM CASAMENTO TURBULENTO
A saída de Discovery da Netflix representa o fim de uma era para o desenvolvimento do chamado Universo Star Trek. Série capitânia dessa nova fase comandada por Alex Kurtzman, ela era a mais cara de todas as produções e a que trazia mais episódios por temporada. O contrato original fechado com a Netflix, em 2016, fornecia uma contribuição generosa para o orçamento do programa, que serviu para desenvolver infraestrutura mais tarde aplicada a todas as séries (basta lembrar o detalhado cenário da ponte da Enterprise, na temporada 2, ou a construção de um ambiente de cenário virtual, o AR Wall, para a temporada 4).

Agora, com a reaquisição da série, fica claro que a ViacomCBS está convencida de que seu investimento na franquia pode impulsioná-la com força em mercados internacionais importantes — afinal, não terá mais com quem dividir a conta pela produção.

A Netflix, por outro lado, passou por um processo de amadurecimento na guerra dos streamings. De início, a empresa de Sarandos achou que poderia construir uma base de franquias fortes por meio de parcerias com estúdios como Marvel/Disney e CBS. Descobriu, do jeito difícil, o tamanho da ilusão. Com a Marvel, interrompeu a produção das séries com os Defensores assim que percebeu que estaria fortalecendo o futuro concorrente Disney+. O contrato permitia. Com Star Trek, caiu na conversa de que a CBS (então com o CBS All Access) ficaria satisfeita apenas com o mercado doméstico norte-americano, “emprestando” a franquia sci-fi para si no resto do mundo. (Um executivo da Netflix contatado pelo Trek Brasilis que preferiu não se identificar comparou o caso com o da Marvel, falando da nova decisão sobre Discovery.)

A primeira desilusão veio logo no começo, quando a CBS vetou que a empresa de Sarandos usasse o slogan “A casa de Star Trek“. Mas foi um pequeno detalhe de marketing, que não chegou a incomodar. A segunda desilusão veio no ano seguinte à estreia de Discovery, quando a CBS evocou detalhes em uma cláusula do contrato para levar Picard ao Amazon Prime Video. O acerto com a Netflix daria direito de primeira opção em qualquer spin-off… de Discovery. Alegando que a série com Patrick Stewart era uma derivada de A Nova Geração, puderam comercializá-la para a concorrência. Desde aquele momento, ficou claro que o casamento das companhias tinha data para terminar.

Poderia ter sido com o fim do contrato por Discovery e pelas séries antigas, que provavelmente contemplava cinco temporadas. Mas a ViacomCBS decidiu abreviar o caso, repatriando mais cedo as aventuras de Michael Burnham e sua tripulação para o Paramount+ em águas internacionais.

O FUTURO DE DISCOVERY
Vamos combinar que é improvável que a ViacomCBS tenha feito esse investimento todo para em seguida puxar o fio da tomada na série. Se fosse para deixar ter uma morte “natural”, teriam esperado o fim do contrato com a Netflix. É muitíssimo provável que tenhamos uma renovação para a quinta temporada. Depois disso, é difícil especular. O programa não tem mais uma duração “mínima”; pode prosseguir indefinidamente ou até mesmo ser encerrado após o quarto ano. Tudo vai depender da vontade da ViacomCBS e do desempenho global da série no Paramount+, além da fila de novas atrações que vai se avolumando nos escritórios da produtora Secret Hideout à espera de uma luz verde do estúdio (sim, Section 31 e Starfleet Academy, estamos falando com vocês).

Uma aposta mais ou menos segura é a redução do número de episódios por temporada. Sem um contrato que exija um mínimo de 13, Discovery pode vir a ter 10, como parece ser o número padrão das novas atrações em live-action de Star Trek. Mas neste momento tudo isso não passa de especulação. O que será da série nesta nova fase, só o futuro dirá.

A quarta temporada de Discovery estreia nos EUA e no Canadá nesta quinta-feira (18), com o episódio “Kobayashi Maru”. No Brasil, “começo de 2022”.