TNG 3×25: Transfigurations

Estranho alienígena em metamorfose serve de escada para Beverly Crusher

Sinopse

Data estelar: 43957.2

A Enterprise encontra um módulo de fuga num planeta e resgata um sobrevivente, em estado gravíssimo. Para estabilizá-lo para o transporte, Beverly Crusher faz um elo cortical entre ele e Geordi, que passa a demonstrar uma nova confiança após o episódio.

A bordo da nave, o resgatado começa a ter uma recuperação assustadoramente rápida, enquanto suas células passam por um estranho processo de mutação. Ele reganha a consciência, mas não tem nenhuma memória de seu passado. Beverly o apelida de John Doe e está cada vez mais intrigada pelo recém-chegado.

Geordi e Data conseguem decifrar uma unidade de memória recuperada do módulo de fuga e determinam o ponto de origem de John. Picard pretende devolvê-lo, mas o resgatado diz que não pode voltar a seu planeta, embora não  lembre  por quê. Na enfermaria, ele cura O’Brien instantaneamente de um deslocamento no braço. Mas sua mutação segue progredindo, e ele acha que pode ser perigoso para a tripulação. Desesperado, ele tenta roubar uma nave auxiliar e fugir. No processo, emite um pulso de energia que derruba e mata o tenente Worf. Mas John usa seus poderes para ressuscitá-lo.

Enquanto isso, uma nave se aproxima da Enterprise. Ela protesta contra a violação do espaço zalkoniano e solicita a devolução de seu cidadão, um criminoso condenado por propagar ideias perigosas. Picard precisa decidir se deve devolvê-lo ou não, e a nave zalkoniana oferece perigo real. De algum modo, ela consegue sufocar toda a tripulação, mas John Doe usa seus poderes para salvá-los. Ele afinal se lembra de quem é: ele fugiu de Zalkon para que pudesse concluir uma metamorfose e se transformar num ser de energia — o que ele faz diante da tripulação na ponte, antes de se despedir e partir.

Comentários

“Transfigurations” é um episódio agradável por se escorar muito mais nos personagens do que na trama para manter a audiência interessada. Vemos aqui a influência do showrunner Michael Piller, em forte contraste com o que se esperaria das gestões anteriores. Um segmento desses, fosse na primeira ou segunda temporadas, provavelmente seria totalmente focado em John Doe. Com a reorientação de estilo da série a partir do terceiro ano, ele passa a ser um segmento que usa o estranho recém-chegado como elemento para explorar Beverly Crusher, até então uma personagem pouco explorada na série (há de se destacar “The High Ground”, desta terceira temporada, como uma primeira tentativa mais concreta de usar melhor a médica-chefe da Enterprise).

A trama em si é bastante simples, num esquema A-B-C-D. Tripulação descobre o acidentado alienígena, então descobre de onde ele veio, então confronta seu povo, e aí finalmente a história toda se fecha, com John descobrindo de onde veio e para onde vai. Fosse só isso, e teríamos um episódio insosso. O que segura a onda é vermos as reações da tripulação aos eventos. Geordi La Forge no antes e depois, nas cenas com Worf, é hilário, e temos também uma rara cena do tipo mãe e filho entre Beverly e Wesley, repercutindo a reação de ambos a John. Por fim, temos Picard como o prototípico capitão, tendo de tomar uma decisão de vida e morte envolvendo o resgatado e, possivelmente, a Enterprise, pesando as demandas de não interferência em outras culturas. Riker, Troi e Data entram como adereços (e é peculiar ver uma cena que sugere que o androide também foi afetado pelo processo de sufocamento; embora ele não precise respirar, vemos Data se levantando junto com os outros após John propagar seu poder “de cura” pela nave).

Algo me diz que haveria mais a se explorar do personagem convidado. Ele é muito bem atuado por Mark La Mura, que transmite segurança e benevolência em cada fala. Mas eu adoraria entender mais sobre como seu povo reage a ele, se seus poderes lhe conferem algum status religioso especial, ou se ele mesmo se vê como uma espécie de messias. Há sobretons disso no episódio, mas é tudo muito discreto. Até porque a tripulação da Enterprise jamais cogitaria pensar nele como alguma espécie de santo milagroso, seguindo a visão de Gene Roddenberry para a sensibilidade humana no século 24. Em nossos dias, contudo, se um sujeito sai por aí fazendo milagres, promovendo curas e ressuscitando mortos, a história seria outra — e essa foi a história não contada sobre John Doe em seu planeta natal. Teria sido intrigante se o roteiro tornasse mais clara a representação dele como uma espécie de Jesus de Zalkon (que, por sinal, a exemplo do Jesus cristão, também foi perseguido, condenado, morto, ressuscitado e no fim ascendeu aos céus). O fato de que havia três outros, mortos, dissipa parte do paralelo.

Em termos de valores de produção, trata-se de um segmento bastante econômico, contando apenas com efeitos visuais simples e ambientado totalmente na Enterprise. Ainda assim, por estar escorado nos personagens, ele funciona bem. Não é uma das melhores horas do terceiro ano, mas também não chega a entediar. Fica a sensação de que faltou um pouco mais de lapidação na trama e no roteiro para elevá-lo a seu potencial máximo — o que é totalmente compreensível, dado o avançado da temporada.

Avaliação

Citações

“It is our mission to seek out life in all forms. We are privileged to have been present at the emergence of a new species.”
(É nossa missão buscar vida em todas as suas formas. Somos privilegiados de estarmos presentes no surgimento de uma nova espécie.)
Picard

Trivia

  • Este foi o segundo episódio escrito por René Echevarria. Ele lembrou assim: “Depois de vender ‘The Offspring’ para a série, voltei a Nova York e Michael me ligou um par de semanas depois e disse que tinha uma história que estava empacada. Era uma premissa que eles haviam comprado envolvendo a gente encontrando uma nave acidentada em uma luazinha e há um homem que está basicamente morto, e usamos medicina miraculosa do século 24 para trazê-lo de volta à vida. Nós praticamente o construímos de novo, mas quem ele é e qual é a história? Pensei sobre ela por um tempo e apareci com a ideia básica de ‘Transfigurations’, de que alguém estava evoluindo para além de sua forma humana em uma forma de energia. Nós já vimos ambas as histórias antes, mas nunca vimos o passo intermediário.”
  • Após completar o primeiro rascunho do roteiro, Echevarria foi chamado para ajudar na reescrita, que foi dividida em atos entre a equipe de roteiristas. O texto então recebeu um polimento final de Piller.
  • Michael Piller comentou: “Queríamos fazer um episódio em que vemos a medicina do século 24 de perto. Beverly Crusher usa todas as suas habilidades para salvar um alienígena, reconstruindo-o e remontando-o e meio que se apaixonando por ele. É um episódio de um tipo muito espiritual.”
  • A cena com John Doe transformado foi feita de fato com apenas poucos retoques de pós-produção. O ator Mark La Mura usou um traje fluorescente laranja que brilhava com um filme especial usado na gravação.
  • Este episódio marca a primeira aparição do cenário do laboratório grande, mais tarde reutilizado como a cartografia estelar e vários outros laboratórios.
  • A trilha musical na última cena, quando John Doe deixa a nave, foi reutilizada pelo compositor Dennis McCarthy no episódio final da série, “All Good Things…”, conforme o jogo de pôquer prossegue e saímos da nave. No reúso, contudo, a trilha foi combinada a parte do tema original de Star Trek, por Alexander Courage.
  • Este episódio é o primeiro a estabelecer o interesse de O’Brien por caiaques e seu deslocamento de ombro recorrente.
  • Embora seja visto muito depressa, John Doe perdeu um braço na queda. Ele parece ter substituído por um braço artificial, embora o diálogo falado sugira que o original foi guardado em estase e mais tarde reimplantado. Partes de sua pele facial e crânio também foram arrancados no pouso forçado, revelando seu cérebro e seus molares (é até meio bizarro como Beverly pluga um equipamento nos miolos expostos do alienígena).
  • Christy Henshaw já havia dado o fora em Geordi no começo da temporada, em “Booby Trap”. Desde então, ela aparentemente mudou de ideia.

Ficha Técnica

Escrito por René Echevarria
Dirigido por Tom Benko

Exibido em 4 de junho de 1990

Título em português: “Transformações”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher
Wil Wheaton como Wesley Crusher

Elenco convidado

Colm Meaney como Miles O’Brien
Mark La Mura como John Doe
Charles Dennis como Sunad
Julie Warner como Christy Henshaw
Patti Tippo como enfermeira Temple

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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