TNG 4×03: Brothers

Continuação de clichê do irmão malvado estabelece arco para Data

Sinopse

Data estelar: 44085.7

Uma brincadeira de mau gosto de um garoto deixa seu irmão mais novo seriamente intoxicado. Enquanto a Enterprise segue para a base estelar mais próxima a fim de tentar salvá-lo, Data inexplicavelmente apresenta um mau funcionamento, que o faz se isolar na ponte de comando e mudar a rota da nave, levando-a a um planeta.

Chegando ao seu destino, é descoberto que Data estava agindo seguindo um sinal enviado por seu recluso criador, dr. Noonian Soong. O ciberneticista explica que trouxe Data para seu lar com o objetivo de lhe dar um presente: um chip de emoções. Porém o androide e o dr. Soong são surpreendidos pela chegada de Lore, o irmão “malvado” de Data, que estava vagando pelo espaço havia anos até encontrar uma nave pakled e fora atraído ao planeta pelo mesmo sinal que trouxe Data.

Lore consegue enganar Soong e fazer com que o cientista instale nele o chip de emoções. Logo após ganhar o chip, Lore ataca o velho cientista e foge. A Enterprise consegue enviar um grupo avançado ao planeta para resgatar Data, mas é tarde demais para deter Lore ou salvar o dr. Soong. Com o androide de volta à nave, a Enterprise consegue chegar à base estelar e o menino intoxicado é salvo.

Comentários

“Brothers” traz de volta um dos clichês mais conhecidos da história da dramaturgia: o irmão bonzinho encontra seu gêmeo, mau e inescrupuloso. Mas, apesar da trama manjada e reciclada, isso não torna o episódio ruim. Pelo contrário, há grandes qualidades neste segmento que transforma “Datalore”, do primeiro ano da série, no primeiro capítulo de um arco muito maior envolvendo Data e seu irmão.

Brent Spiner sobra neste episódio, tanto pela qualidade de suas interpretações quanto pelo número de personagens interpretados, no caso três, bastante diferentes entre si. É uma boa chance para que o ator mostre sua capacidade, e ele não decepciona.

Lore continua tão carismático quanto sempre e ganha, ao menos até a página 3, alguma simpatia da audiência, sendo exposto como o irmão mais velho esquecido e negligenciado com sérios problemas psicológicos. Quebra-se, portanto, aquela aura de pura maldade que havia sido deixada sobre o personagem em sua introdução original. Não que ele se mostre bom, longe disso. Mas agora é possível entender um pouco da psique do androide e, ao menos em parte, as raízes de seu comportamento violento.

Spiner também consegue interpretar um convincente dr. Noonian Soong, o ciberneticista criador dos dois androides. Sua aparição é muito importante para criar entre os três o elo familiar. E percebe-se claramente o carinho do criador para com seus “filhos”, inclusive Lore.

Aprendemos neste episódio que Data não é uma versão “imperfeita” de Lore, mas justamente o contrário. Lore havia sido desmontado por apresentar emoções altamente instáveis. E as coisas estão prestes a ficar piores, após o androide roubar o chip de emoções criado para Data.

Pela forma que a trama é conduzida, fica muito claro que voltaríamos a ver Lore e o chip de emoções no futuro. O que de fato acontece: Lore volta em “Descent”, o episódio duplo que fecha o sexto ano da série e dá início à última temporada. Já a questão do chip será mais explorada no filme Generations.

O episódio, o melhor já produzido retratando a relação entre Data e Lore, foi escrito por ninguém menos que Rick Berman, o sucessor direto de Gene Roddenberry no comando de Jornada nas Estrelas. Embora não fosse seu costume escrever episódios, em “Brothers” Berman prova que não é por falta de capacidade.

Um roteiro bem amarrado, uma história consistente com o que havia sido visto antes na série e um bom retrato da família Lore-Data-Soong fazem deste segmento um sucesso. E para Data especialmente, o episódio faz o papel exercido por “Sins of the Father” para Worf: estabelece um arco para o personagem, que voltaria a ser abordado de tempos em tempos.

Avaliação

Citações

 “One Seven Three Four Six Seven Three Two One Four Seven Six Charlie Three Two Seven Eight Nine Seven Seven Seven Six Four Three Tango Seven Three Two Victor Seven Three One One Seven Eight Eight Eight Seven Three Two Four Seven Six Seven Eight Nine Seven Six Four Three Seven Six LOCK.”
(Um Sete Três Quatro Seis Sete Três Dois Um Quatro Sete Seis Charlie Três Dois Sete Oito Nove Sete Sete Sete Seis Quatro Três Tango Sete Três Dois Victor Sete Três Um Um Sete Oito Oito Oito Sete Três Dois Quatro Sete Seis Sete Oito Nove Sete Seis Quatro Três Sete Seis TRAVAR.)
Data

“You know that I cannot grieve for you, sir.”
(Você sabe que eu não posso lamentar por você, senhor.)
“You will… in your own way.”
(Você irá… a seu próprio modo.)
Data e Soong

“They’re brothers, Data. Brothers forgive.”
(Eles são irmãos, Data. Irmãos perdoam.)
Beverly Crusher

Trivia

  • A história inicial de Rick Berman para este episódio não incluía Lore. O personagem foi incorporado por sugestão de Michael Piller, que julgava necessário incluir um elemento de perigo adicional. Berman, por sua vez, disse ter curtido muito escrever seu primeiro episódio de Star Trek e o considera um de seus favoritos.
  • Piller relembrou assim: “Estamos andando em volta da história do Rick e minha sensação, depois de ler a primeira versão, era a de que a ideia de Data voltando para ver o sr. Soong e a história da criança ferida em uma brincadeira não eram elementos suficientes para segurar o episódio. Uma vez que Data volta para ver o dr. Soong, é basicamente um bate-papo e, sem alguma ameaça ou outro evento para levar adiante, eu temia que fosse ser monótono. Falamos sobre o que poderíamos fazer e, no fim, a coisa óbvia era trazer Lore de volta. Eu soube, do momento em que bolamos isso, que Brent Spiner em três papéis iria fazer um episódio inesquecível e acho que foi.”
  • A música cantada por Lore no episódio é “Abdullah Bulbul Ameer”, uma canção popular com mais de um século de existência. Embora muitos acreditem que seu autor seja anônimo, ela foi composta em 1877, em Dublin, na Irlanda, pelo irlandês Percy French. Com a imigração irlandesa para os Estados Unidos, a música tornou-se popular entre os americanos e é geralmente cantada para as crianças. Ela conta a história de dois valentões rivais, Abdullah Bulbul Amir e Ivan Skavinsky Skivar, respectivamente da antiga Pérsia e da antiga Rússia. Os dois um dia se cruzam e acabam se atracando numa sangrenta luta que termina por levar ambos à morte. Como toda canção popular que se perpetua pela tradição oral (como diz o ditado, “quem conta um ponto aumenta um ponto”), existem várias versões diferentes de “Abdullah Bulbul Ameer”, com pequenas variações nos versos. A do episódio também não reflete a letra original.
  • Em algum momento pensou-se que não seria viável ter Spiner nos três papéis e vários atores asiáticos mais velhos (dentre eles Keye Luke, que participou do episódio “Whom Gods Destroy”, da Série Clássica) foram considerados para o papel do dr. Soong.
  • Este foi o último episódio dirigido por Rob Bowman, que havia sido o principal diretor da série nas duas primeiras temporada.
  • Bowman, Spiner e Robert Legato, supervisor de efeitos visuais, passaram três dias ensaiando no cenário do laboratório de Soong, montado no galpão 16. O produtor David Livington relembrou assim: “Eles resolveram algumas tomadas de controle de movimento e fizeram muita preparação em termos do que fazer, porque esse tipo de tempo de preparação no cenário quando todo mundo está em volta não é uma boa ideia. O que fizemos foi colar fitas no chão como em uma peça de teatro ou um show multicâmeras, e então blocamos e ensaiamos. Fiquei feliz de termos feito, porque nos salvou muito tempo. Se não tivéssemos feito, teria sido realmente complicado.”
  • Durante as filmagens no laboratório de Soong, Spiner filmou um dia como Lore e Data e o seguinte como o dr. Soong. O ator comentou: “Foi difícil porque eu tinha de ouvir diálogo que eu ainda não havia lido vindo da boca de outra pessoa antes que eu chegasse a ele. [Eu tinha de] lembrar onde eu estava quando eu era o Data, e assim por diante.” Para ajudá-lo, o set ficou fechado durante dois dias e meio, enquanto Spiner atuou sozinho.
  • Spiner disse que descobriu como interpretar o dr. Soong somente após a maquiagem de envelhecimento. “Pelo menos 75% daquela atuação era de Michael Westmore. Ele pôs a ideia na minha cara, e eu subitamente entendi.”
  • Westmore comentou o trabalho de maquiagem do episódio, que lhe valeu uma indicação ao Emmy. “A primeira coisa que eu fiz ao criar a maquiagem do Brent para o dr. Soong foi aumentar sua estrutura craniana para sugerir que ele tinha mais células cerebrais que um ser humano normal. Então fizemos uma maquiagem completa de envelhecimento de quatro horas nele. Tínhamos lentes especiais para os olhos para simular catarata. Fiz um conjunto de dentes velhos para cobrir seus dentes de verdade. Cobrimos sua cara inteira com uma camada fina de apliques. E fizemos peças para cobrir as costas das mãos.”
  • Os artistas de quadrinhos Jerome J. Moore e Arne Starr visitaram os sets durante a filmagem e presentearam Spiner com uma caricatura dele como Superman, ou melhor, Spinerman.
  • O código criptográfico inserido por Data no computador da Enterprise-D permitia 3652 combinações diferentes, o equivalente a uma chave de 269-bits em criptografia simétrica, algo que seria impossível de quebrar atualmente.
  • O esqueleto de dinossauro visto no laboratório do dr. Soong foi alugado do Museu de História Natural.
  • Neste episódio vemos pela primeira vez o interior de uma insígnia-comunicadora.
  • É a primeira vez, desde “Encounter at Farpoint”, que Data imita a voz de alguém. Ele também assobia aqui a música “Pop Goes the Weasel”, a mesma que ele tentou assobiar no piloto da série.
  • Não foi a primeira vez que Spiner fez uma atuação múltipla em um episódio de A Nova Geração. Em “Datalore”, ele interpretou Data e Lore, assim como em “Descent”. Mas foi em “A Fistful of Datas”, do sexto ano, que Brent atingiu o ápice da multiplicidade. Interpretou nada menos que sete personagens!
  • Quando Lore diz que estava com os pakleds, ele não está mentindo! Nesse episódio ele estava usando uma genuína vestimenta pakled, como vista no episódio “Samaritan Snare”, do segundo ano.
  • O dr. Soong cita a “entidade cristalina”. Essa forma de vida foi vista em “Datalore”, do primeiro ano, e em “Silicon Avatar”, episódio do quinto ano.

Ficha Técnica

Escrito por Rick Berman
Dirigido por Rob Bowman

Exibido em 8 de outubro de 1990

Título em português: “Irmãos”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher
Wil Wheaton como Wesley Crusher

Elenco convidado

Cory Danziger como Jake Potts
Colm Meaney como Miles O’Brien
Adam Ryen como Willie
James Lashly como alferes Kopf
Brent Spiner como Lore/Soong

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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