DSC 4×10: The Galactic Barrier

Barreira galáctica em Discovery

Em episódio sobre comunicação, Discovery leva 50 minutos para pular um muro

Sinopse

Data estelar: Desconhecida

Uma reunião de alto nível no Quartel-General da Frota Estelar discute as possibilidades de estabelecer contato com a espécie 10-C. Kovich indica o dr. Hirai como membro da equipe de contato, que contará com delegados de diversos planetas. A Discovery passa por adaptações, equipando-se com escudos de antimatéria programável, para cruzar a barreira galáctica, já que é impossível usar a rede micelial para transpô-la.

A presidente Rillak comunica ao almirante Vance que está passando o poder ao vice-presidente, para acompanhar pessoalmente a missão de contato — mesmo sabendo que há risco de ser uma missão sem volta. A bordo da Discovery, ela e a capitão Burnham discutem os limites de atuação de cada uma, a fim de manter o bom funcionamento da nave. Adira também retorna para a missão, e Saru procura T’Rina para se despedir e revelar seus sentimentos por ela. No fim, descobre que ela irá junto e fica desconfortável, mas é tranquilizado por Culber.

Reunião da Federação/Frota e aliados sobre a missão diplomática para o primeiro contato com a espécie 10-C

Enquanto isso, Book é convencido por Tarka a não deixá-lo para trás. O cientista diz saber como adaptar a nave com escudos de antimatéria programável para cruzar a barreira, a fim de que possam encerrar a ameaça da DMA. Os dois vão a um planeta deserto, onde conseguirão a antimatéria.

A Discovery realiza o salto micelial para a borda da galáxia e, então, inicia a travessia da barreira. A densidade de energia negativa é maior que a esperada, o que exige um plano mais cuidadoso de travessia. Stamets sugere entrar em uma das flutuações quânticas de tamanho macroscópico que agem como bolhas estáveis em meio à barreira. Eles fazem isso, mas acabam presos em um tráfego de bolhas.

Discovery dentro da barreira galáctica

No planeta, Book identifica uma torre típica dos campos de trabalhos forçados da Corrente Esmeralda e ameaça Tarka com uma arma. O cientista, então, conta a sua história: diz ter sido detido neste campo quase 10 anos atrás, depois de 4 ou 5 anos aprisionado em completo isolamento, para trabalhar com outro cientista, um alienígena chamado Oros, e descobrir, em favor da Corrente Esmeralda, o que ele estava desenvolvendo. Os dois desenvolvem uma amizade próxima e Oros revela estar construindo um teletransporte interdimensional, capaz de levá-los a Kayalise, uma dimensão mítica de paz plena. A palavra se traduz como “lar”. Uma vez construído, eles tentam usá-lo, mas mesmo a energia geotérmica abundante do planeta e o novo motor de dobra que desenvolveram é insuficiente para ativá-lo. Os dois acabam sendo atacados pelos soldados da Corrente Esmeralda e a traição de Tarka é revelada. Ele consegue se desvencilhar e neutralizar os soldados, para depois desprender seu controlador de escravidão da nuca, assim como o de Oros. Mas o colega está ferido demais para se deslocar, e Tarka foge sozinho, prometendo retornar. Contudo, mesmo voltando, ele nunca mais vê Oros. Restou apenas na parede uma marca do símbolo que adotaram para Kayalise. Tarka acredita que Oros conseguiu viajar para outro universo e agora busca o controlador da anomalia para ativar seu próprio transporte interdimensional. Book se convence das intenções de Tarka e prossegue com ele.

Tarka e seu amigo Oros

Na Discovery, antes que a nave saísse do alcance das comunicações pela travessia da barreira, Rillak e Burnham recebem a comunicação de que a anomalia se deslocou e deve ameaçar a Terra, Titã e Ni’Var em questão de poucos dias, possivelmente 71 horas. Com a ajuda de Stamets, a nave consegue saltar para outra bolha e evitar o tráfego para chegar ao outro lado da barreira. Rillak, então, conta a todos a bordo a terrível notícia, e Burnham propõe que visitem um planeta a 2 anos-luz do hipercampo que circunda a espécie 10-C, em busca de pistas que ajudem a compreender e travar contato com essa civilização misteriosa.

Comentários

“The Galactic Barrier” começa intrigante e saboroso, mas vai perdendo impulso conforme progride e termina quase inercialmente. São 15 minutos fantásticos, que se convertem em meia hora sólida e terminam como 50 minutos para “pular um muro”, que é o que atravessar a barreira galáctica acaba sendo.

Não temos uma reciclagem do que esse fenômeno inteiramente fictício introduzido na Série Clássica significa para uma tripulação tentando atravessá-lo, porque o objetivo não é usar a barreira como um meio para atingir um determinado objetivo dramático. Ela é um fim em si mesmo, que acaba perdendo sua potência em meio a tanta tecnobaboseira inserida para justificar a travessia. O que acontecia em questão de minutos nos episódios em que ela foi vista (“Where No Man Has Gone Before”, “By Any Other Name” e “Is There In Truth No Beauty?”) ocorre aqui em horas. Longas horas, em que a tripulação pode parar para bater papo, a despeito da tentativa de nos convencer que se trata de uma travessia perigosíssima. É onde o episódio falha.

Ponte da Discovery no comando da Capitão Michael Burnham

Felizmente, ele não é sobre a barreira. Seu verdadeiro tema é “comunicação” e pode ser resumido por uma frase de Michael Burnham dita à presidente Rillak: “Se não conseguimos nos comunicar entre nós, como podemos nos comunicar com a espécie 10-C?” Todas as tramas de personagens no segmento são mobilizadas por esse tema.

A começar por Burnham e Rillak, que definitivamente acertam seus ponteiros e encontram uma zona de conforto em que podem trabalhar juntas. É um importante avanço e salutar que Michael volte a se preocupar com ter sua autoridade questionada diante da tripulação, depois do lapso absurdo visto em “Rubicon”, quando a comandante Nhan volta à Discovery para ser babá dela, com sua anuência. (Claro, isso nos obriga a perguntar se os roteiristas estão lendo os roteiros uns dos outros antes de filmá-los, pois é uma transição grande de atitude entre dois episódios sequenciais.)

Presidente Rillak e Michael recebendo mensagem de Vance

Comunicação também é o tema entre Saru e T’Rina, em que o kelpiano faz um movimento “ousado” de revelar seus sentimentos à vulcana e depois fica desesperado ao saber que ela estará a bordo para a missão. O romance adolescente continua, talvez meio fora de lugar, mas certamente tornado saboroso pela atuação carismática e ao mesmo tempo contida de Doug Jones e Tara Rosling.

E essa também é a situação entre Stamets e Adira, que volta à nave depois de uma temporada em Trill com Gray. O comandante confessa não ter tido toda a atenção que desejaria de seu pai e admite que tenta sobrecompensar isso em sua própria relação paternal com Adira. Elu entende numa boa.

Saru e T'Rina na Discovery

Por fim, também vemos isso ser abordado entre Book e Tarka, em que o cientista, depois da trairagem do episódio anterior, precisa se apresentar como confiável. Ele o faz reiterando o que já havia contado de forma resumida, o que nos lança em uma série de flashbacks que introduzem seu amigo Oros e a saga de irem para outra dimensão. (A propósito, amigo mesmo? Filho adotivo? Amante? As cenas são ambíguas nesse quesito.) Essas sequências não trazem muita novidade, mas dramatizam de forma eficiente e cativante o que já sabíamos. Até aqui, seguem o roteiro original apresentado por Tarka como sua motivação. Mas deixam aberta a porta para uma reviravolta. Tarka aparentemente passou anos preso em isolamento, que o levaram a falar sozinho e a se adaptar à solidão. Não seria nada absurdo se Oros e o tal universo de paz fossem fruto da imaginação do perturbado cientista. Será? O mistério fica para os episódios finais.

Tarka e Book em prisão onde Tarka esteve com Oros

Discovery também reincide aqui no velho truque de ampliar os riscos muito além do que seria a escala saudável. Claaaro que a anomalia tinha de mudar de lugar e ameaçar nada menos que a Terra e Ni’Var (os romulanos, realocados no antigo planeta Vulcano, devem achar que é perseguição com eles…). O artifício serve como mais um relógio a pressionar a tripulação e eleva as apostas, mas também levanta a pergunta: isso era realmente necessário? É um truque barato, a essa altura, ameaçar a Terra. Ainda mais por nos dar a convicção de que ela vai sobreviver, afinal. (Vai, né? A série teria coragem de destruir a Terra? Se tiver, é uma má escolha; se não tiver, torna o truque barato. É mais um daqueles momentos em que os roteiristas se colocam num canto apertado e depois têm dificuldade em sair ilesos.)

Michael e Presidente Rillakno final do episódio Galactic Barrier

De toda forma, depois de 50 minutos pulando um “muro”, num episódio apenas razoável, restam apenas três episódios na temporada e não há muito espaço para mais protelações. Precisamos começar a descobrir qual é a dessa espécie 10-C. E, claro, o preço do arco tão alongado para isso é o aumento das expectativas. Os roteiristas serão cobrados pelo que conseguiram inventar. A conferir.

Avaliação

Citações

“In times of crisis, people need to know that their leaders are not rattled by uncertainty or overwhelming odds. They need to know that there is a plan, that they’ll be okay.”
(Em tempos de crise, as pessoas precisam saber que seus líderes não se abalam com incerteza ou probabilidades esmagadoras. Elas precisam saber que há um plano, que ficarão bem.)
Michael Burnham

Trivia

  • A barreira galáctica foi vista pela primeira vez em “Where No Man Has Gone Before”, da Série Clássica. Mas ela só seria cruzada inteiramente pela Enterprise em “By Any Other Name” e “Is There In Truth No Beauty?”. A Enterprise-D, por sua vez, viajou para fora da galáxia uma vez em “Where No One Has Gone Before”, mas a barreira sequer foi mencionada (presumivelmente vencida pelos poderes misteriosos do ente conhecido como Viajante). Ou seja, quando Vance diz neste episódio que a Discovery está deixando a galáxia e que “nunca fizemos isso”, ele só pode estar se referindo à Frota Estelar do século 32.
  • Anne Cofell Saunders se juntou a Discovery na terceira temporada, mas já tem aqui seu quarto crédito como roteirista. Já Deborah Kampmeier estreia como diretora da série. Mais conhecida por escrever, produzir e dirigir filmes independentes, ela começou a dirigir para televisão em 2019.
  • Depois de estar ausente por dois episódios, Blu del Barrio (Adira) volta à série.
  • Em meio à tecnobaboseira para a travessia da barreira, Stamets menciona a possibilidade de viajar em uma flutuação quântica. Essas flutuações existem mesmo e derivam do princípio da incerteza de Heisenberg (por isso ele diz que é preciso agradecer ao físico alemão do século 20), mas não assumem formas macroscópicas nem duram por longos períodos – pelo menos não na realidade convencional. Na misteriosa (e inteiramente fictícia) barreira galáctica, aparentemente sim.
  • A proporção áurea, discutida por Tarka e Oros, é definida como a divisão de uma reta em dois segmentos em que, quando a soma desses segmentos é dividida pela parte mais longa, o resultado é de aproximadamente 1,61803398875, o chamado “número de ouro”. Seu símbolo é a letra grega Fi (Φ), símbolo adotado pelos dois para representar Kayalise, o universo paralelo ultrapacífico.
  • O dr. Hirai (Hiro Kanagawa), introduzido neste episódio, é especialista em astrolinguística, xenofonologia e semiótica teórica, todas disciplinas reais. Mas xenofonologia costuma ser relacionada a linguagens criadas artificialmente, como o idioma klingon.
  • O planeta visitado por Book e Tarka foi filmado em locação, na pedreira Lafarge, nas cercanias de Toronto (mesmo local que serviu como vários outros mundos ao longo da série).
  • Kovich diz que deixar a galáxia para o Comitê de Primeiro Contato será como uma “viagem de três horas” (three-hour tour), numa referência à série Gilligan’s Island (Ilha da Fantasia).
  • Dentre os dispositivos vistos na mesa de conferência no começo do episódio estão uma insígnia de comunicação dos anos 2380-2400 (Picard), um comunicador do século 23 (possivelmente da série Strange New Worlds), e tradutores universais do século 22 (Enterprise) e 23 (Série Clássica).

Ficha Técnica

Escrito por Anne Cofell Saunders
Dirigido por Deborah Kampmeier

Exibido em 24 de fevereiro de 2022

Título em português: “A Barreira Galáctica”

Elenco

Sonequa Martin-Green como Michael Burnham
Doug Jones como Saru
Anthony Rapp como Paul Stamets
Wilson Cruz como Hugh Culber
Blu del Barrio como Adira Tal
David Ajala como Cleveland “Book” Booker

Elenco convidado

Oded Fehr como Charles Vance
David Cronenberg como Kovich
Shawn Doyle como Ruon Tarka
Chelah Horsdal como Laira Rillak
Tara Rosling como T’Rina
Annabelle Wallis como Zora
Hiro Kanagawa como Hirai
Phumzile Sitole como Ndoye
Osric Chau como Oros
Emily Coutts como Keyla Detmer
Patrick Kwok-Choon como Gen Rhys
Oyin Oladejo como Joann Owosekun
Ronnie Rowe, Jr. como R.A. Bryce
Sara Mitich como Nilsson
Orville Cummings como Christopher
David Benjamin Tomlinson como Linus
Christopher Allen como guarda órion

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Edição de Mariana Gamberger
Revisão de Nívea Doria

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