DSC 4×11: Rosetta

Michael, Saru, Culber e Detmer no antigo planeta da espécie 10-C

Retomando pegada de exploração, episódio traz frescor ao mistério da espécie 10-C

Sinopse

Data estelar: 865783.7.

Com a barreira galáctica para trás, a Discovery decide explorar um planeta em um sistema vizinho ao hipercampo da espécie 10-C, na esperança de aprender algo sobre esses misteriosos alienígenas que ajude a estabelecer primeiro contato. De todos os representantes a bordo, a general Ndoye, da Terra, considera o esforço uma perda de tempo. Mas Burnham tem o apoio da presidente Rillak para prosseguir.

Enquanto isso, Book e Tarka também concluem a travessia da barreira, mas não têm ideia de como adentrar o hipercampo. Os dois então decidem simplesmente “pegar carona” na Discovery, camuflando a nave de Book e se instalando sobre o casco externo. Para isso, Tarka precisa ir a bordo e instalar um dispositivo que impedirá Zora de perceber a nave. Book decide ir junto.

Michael, Saru, Colber e Detmer prontos para a missão em última conversa com Rillak, T'Rina, Ndoye e Dr. Hirai

Burnham, Saru, Culber e Detmer partem numa nave auxiliar para o planeta desabitado, um antigo gigante gasoso que perdeu seu denso invólucro atmosférico após incontáveis colisões de asteroides, cerca de mil anos atrás. A estrela-mãe do planeta tem anéis de Dyson feitos do mesmo material do controlador da anomalia, o que sugere que aquele realmente foi o lar da espécie 10-C no passado. Ao desembarcar no planeta, o grupo encontra ossos gigantes, mas aparentemente adaptados para permitir flutuação na atmosfera. E então Saru tem um ataque de medo e começa a alucinar.

Ao adentrarem uma estrutura, Culber tem o mesmo sentimento, e depois Burnham. Apenas Detmer não foi afetada. Rastreando seus passos, os oficiais descobrem que estão experimentando contato com poeira feita de hidrocarbonetos complexos, que os trajes ambientais não foram programados para filtrar. Eles reprogramam os trajes, e os efeitos desaparecem.

Saru com medo no antigo planeta da espécie 10-C

O grupo então explora outra câmara, que parece ter sido um berçário. Com isso, concluem que a espécie 10-C tem algum nível de empatia. Ao tocarem a poeira disposta no berçário, têm uma sensação de profunda paz e segurança. E Burnham levanta a hipótese de que a poeira pode agir como feromônios, permitindo comunicação entre membros da espécie.

Na Discovery, Tarka consegue instalar o dispositivo, mas acaba flagrado por Jett Reno. Já Book ouve uma conversa em que Ndoye manifesta sua insatisfação e acaba a recrutando para servir de informante a bordo da nave. A general concorda, contanto que Book se comprometa a deixar a diplomacia tomar a frente e só aja de forma hostil caso esse caminho pacífico fracasse. Ele concorda.

Reno sequestrada pelo Tarka

Com o grupo avançado de volta, há consenso de que os compostos de hidrocarbonetos podem servir como uma pedra de Roseta, oferecendo um meio de comunicar sentimentos à espécie 10-C e tentar de algum modo estabelecer um diálogo. Com a ajuda de DOTs, a equipe consegue catalogar 16 compostos, cada um representando um sentimento distinto. Restam 25 horas para que a anomalia atinja a Terra e Ni’Var, e a Discovery parte para o hipercampo. No trajeto, T’Rina convida Saru para caminhar no holodeck, e Adira tenta conversar com Detmer, por quem confessa admiração. Book, por sua vez, retorna à sua nave para descobrir que Tarka fez Reno de refém.

Comentários

Depois de alguns episódios de frustrante protelação e trama limitada, Discovery volta à boa forma com “Rosetta”, retornando ao formato de exploração científica que há décadas cativa os fãs de Star Trek. Aqui ainda não temos todas as peças do quebra-cabeça sobre a espécie 10-C, mas já está claro que a promessa da showrunner Michelle Paradise foi cumprida: trata-se de algo jamais visto antes na franquia.

Mais que isso, os roteiristas claramente fizeram sua lição de casa ao pensar nos aspectos gerais dessas criaturas. A ideia de que são uma espécie que vive na atmosfera de um planeta gigante gasoso já garante o frescor, dado que Jornada nas Estrelas sempre privilegiou (por questões dramáticas bem como orçamentárias) planetas de “classe M” habitados por humanoides muito similares a nós mesmos.

Ossos da espécie 10-C

Tudo que diz respeito à apresentação da espécie 10-C funciona aqui: vemos anéis de Dyson (estruturas que foram cogitadas pelo físico Freeman Dyson como possíveis fontes de energia para civilizações altamente avançadas, captando boa parte da radiação emanada por uma estrela), vemos ossos gigantes e ocos, adaptados para flutuação, e um método de comunicação por moléculas complexas de carbono que faz sentido, tem base biológica e ao mesmo tempo se presta a uma ponte entre os tripulantes da Discovery e esses estranhos alienígenas.

Talvez caiba uma pequena crítica ao fato de que trajes ambientais sofisticados não deveriam permitir a entrada dessas moléculas, independentemente de as reconhecerem ou não. Mas, suspensa a descrença nesse único ponto, todo o resto flui lindamente, com um ar de mistério e grandes atuações dos membros do grupo avançado – Doug Jones em particular, ressuscitando o Saru “versão apavorada” da primeira temporada.

Anéis de Dyson ao redor de antigo planeta da espécie 10-C

Também são extremamente elogiáveis a direção do episódio e em particular o uso dos cenários virtuais via AR Wall. Claramente houve uma curva de aprendizagem para a equipe de efeitos visuais durante a temporada, mas aqui eles chegam craques, e o cenário incrível do núcleo do antigo planeta gasoso é totalmente imersivo e realista.

Vale destacar o espaço extra dado a Detmer. Normalmente, o uso do pessoal da ponte costuma ser supérfluo e, em alguns momentos, até artificial. Mas aqui temos um bom equilíbrio entre sua importância para a trama e o passado e a personalidade da pilota. Surge como um desenvolvimento natural, o que é mais do que se pode dizer de alguns usos dos personagens secundários na série.

Detmer em antigo planeta da espécie 10-C

Neste episódio mesmo vemos alguns pecadilhos desse tipo, como a súbita admiração de Adira por Detmer, que, se por um lado não tem nada de intrinsecamente errado, seria mais efetiva se tivesse sido plantada e nutrida em segmentos anteriores. Dá uma certa impressão de que a sala de roteiristas não sabe muito bem o que fazer de Adira agora que Gray foi embora.

Em compensação, um retorno muito bem-vindo é o da Jett Reno de Tig Notaro. Ela continua tão afiada quanto sempre, com uma ótima cena com Adira e uma inserção relevante para a trama, ao flagrar Tarka a bordo e ser sequestrada por ele. Não é difícil adivinhar que ela terá um papel importante para lembrar Book da diferença entre o certo e o errado e apontar a loucura que é confiar em Tarka. Tig consegue manter seu tom sarcástico e interpretar cenas sérias, o que não é trivial e vale ser elogiado. E agora os três já parecem estar em seus lugares para o desfecho da temporada – Book para buscar sua redenção, Tarka para se confirmar irredimível, e Reno para servir como catalisadora do processo.

Reno dando conselhos para Adira

No fim, a única coisa que incomoda um pouco no episódio é a edição. Discovery tenta fazer o bolo e comê-lo também, ou seja, criar uma contagem regressiva opressora (começamos com 29 horas para o fim do mundo e terminamos com 25) e ao mesmo tempo parar a cada momento para deixar personagens terem seu lugar ao sol. Não funciona. Basta ver que, das quatro horas que se passaram, vimos quase uma hora inteira em tela. Ainda se fosse uma hora extremamente frenética, não haveria problema. Mas não é o caso. O pessoal para e faz reunião antes do embarque, depois do embarque e durante qualquer pausa que apareça. Claro, na vida real, provavelmente seria assim. Mas não funciona para criar na audiência o senso de urgência que, ao menos no texto, a série quer imprimir.

É o tipo de coisa que precisa ser resolvido na edição, com o corte de cenas que, no papel, pareciam importantes, mas na tela estão retardando a trama principal. Com edição esperta, daria para reduzir o episódio de 50 para 40 minutos super afiados e eletrizantes. Como a opção foi deixar tudo nele, a coisa anda mais devagar e saímos sem nos sentirmos pressionados como “25 horas para o fim do mundo” deveria ensejar.

Michael e Culber conversando após voltarem de antigo planeta da espécie 10-C

Apesar disso, temos aqui um segmento de ficção científica maduro, forte e bem conceitualizado. É ao mesmo tempo tematicamente apropriado para Discovery que a forma de comunicação universal com uma espécie alienígena bizarra seja por meio de sentimentos e racionalmente justificável, já que até do ponto de vista evolutivo os instintos parecem preceder o surgimento da estrutura cerebral responsável pela razão, o córtex.

Com lampejos inspirados como este, “Rosetta” se revela um dos pontos altos desta temporada.

Avaliação

Citações

“For as much as we like to bury certain emotions, perhaps it is freeing to acknowledge that we would not be who we are had we not experienced all that we did.”
(Por mais que gostemos de enterrar certas emoções, talvez seja libertador reconhecer que não seríamos quem somos se não tivéssemos experimentado o que experimentamos.)
Saru

Trivia

  • O título do episódio é uma referência à Pedra de Roseta, um artefato arqueológico do século 2 a.C. que, no século 19, permitiu a decifração dos hieróglifos egípcios, por conter o mesmo texto em três versões: hieróglifos, copta (egípcio antigo) e grego. Encontrada no Egito em 1799, ela hoje está no Museu Britânico.
  • Este é o terceiro roteiro de Terri Hughes Burton, que se juntou à série nesta temporada. E, pela segunda vez nesta temporada e na história de Star Trek, temos dois diretores assinando o episódio: o veterano Jeff Byrd (em seu primeiro trabalho na franquia) e a relativamente novata Jen McGowan, que pela segunda vez dirige um episódio da série.
  • O que vemos da espécie 10-C faz lembrar os floaters, criaturas hipotéticas inventadas pelo astrônomo Carl Sagan (1934-1996) que flutuariam como imensos balões, podendo assim viver nas nuvens de Júpiter sem jamais afundar para as camadas mais profundas e inabitáveis da atmosfera do planeta gigante gasoso. Ilustrações que dão vida a essa ideia aparecem na série Cosmos (1980).
  • A falha nos replicadores da Discovery fez com que eles só produzissem bananas no vapor, o que parece uma referência à estreia de Lower Decks, que mostrou um replicador produzindo “banana, quente” em rápida sucessão.
  • É a primeira vez que vemos anéis de Dyson em Star Trek, mas já vimos uma esfera de Dyson, no episódio “Relics”, de A Nova Geração. Ambos são artefatos hipotéticos propostos pelo físico britânico Freeman Dyson (1923-2020) para civilizações altamente avançadas.
  • Rillak perguntou se as cruzadinhas do dr. Hirai eram altonianas, como o teaser cerebral altoniano que Jadzia Dax jogava em Deep Space Nine.
  • Saru andou aprendendo mais idiomas. Aqui Burnham diz que ele pode falar mais de 100, mas eram 90 e poucos em “New Eden”, da segunda temporada.

Ficha Técnica

Escrito por Terri Hughes Burton
Dirigido por Jeff Byrd & Jen McGowan

Exibido em 3 de março de 2022

Título em português: “Roseta”

Elenco

Sonequa Martin-Green como Michael Burnham
Doug Jones como Saru
Anthony Rapp como Paul Stamets
Wilson Cruz como Hugh Culber
Blu del Barrio as Adira Tal
David Ajala como Cleveland “Book” Booker

Elenco convidado

Shawn Doyle como Ruon Tarka
Chelah Horsdal como Laira Rillak
Tara Rosling como T’Rina
Hiro Kanagawa como Hirai
Phumzile Sitole como Ndoye
Emily Coutts como Keyla Detmer
Patrick Kwok-Choon como Gen Rhys
Oyin Oladejo como Joann Owosekun
Sara Mitich como Nilsson
Raven Dauda como Tracy Pollard
David Benjamin Tomlinson como Linus
Calyx Passailaigue como engenheiro 1
Jas Dhanda como engenheira 2
Piotr Michael como computador da nave auxiliar

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Edição de Mariana Gamberger
Revisão de Susana Alexandria

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