DSC 4×12: Species Ten-C

Retrato apaixonante do esforço de estabelecer contato encaminha desfecho da temporada

Sinopse

Data estelar: Desconhecida

A Discovery se encaminha para o hipercampo e tenta transmitir uma mensagem de saudação previamente preparada, mas não tem resposta. Surge, então, a ideia de borrifar o hidrocarboneto que sinaliza o sentimento de paz na superfície da estrutura gigantesca, na tentativa de chamar a atenção da espécie 10-C. Os robôs DOTs enviados para fazer isso são engolidos por uma estrutura, bem como a própria Discovery. Sistemas de defesa e propulsão caem, mas o suporte de vida segue operacional. O mesmo acontece na nave de Book, ainda acoplada e camuflada.

Tarka consegue detectar a localização do controlador da anomalia e inicia um plano para tirar a nave de Book do orbe que envolve a Discovery. Enquanto isso, o orbe se transporta até um de três planetas gigantes gasosos que compõem o sistema que o hipercampo abriga. A partir do hangar de naves auxiliares, em meio às brumas da alta atmosfera do planeta, a equipe de primeiro contato consegue entrever um membro da espécie 10-C. A criatura emite certa quantidade discreta de hidrocarbonetos complexos, bem como um padrão de luzes.

Hipercampo da 10-C engolindo os DOTs da Discovery

Trabalhando em equipe, e com a providencial ajuda do dr. Hirai, a tripulação da Discovery descobre que os hidrocarbonetos correspondentes aos sentimentos da espécie 10-C estão sendo usados como símbolos, e o padrão de luzes indica a ordem de leitura. A decodificação oferece uma série de equações – padrões matemáticos simples que permitem o estabelecimento de contato.

Na nave de Book, Tarka está alheio a esses progressos e determinado a capturar o controlador da anomalia. Para escapar do orbe e fazer isso, será preciso convencer Ndoye a ejetar o plasma da nacele de estibordo da Discovery. Ela hesita, mas acaba disposta a seguir as instruções para salvar a Terra. Mas Reno começa a conversar com Book e revela uma terrível verdade: ela pôde notar o trabalho de Tarka e, se ele for bem-sucedido, o hipercampo vai implodir, destruindo a espécie 10-C e a Discovery. Além disso, o súbito colapso da anomalia criará um rastro que acabará devastando a Terra do mesmo jeito. Book confronta Tarka e acaba detido, junto com Reno.

Dr. Hirai tentando desvendar as mensagens da Espécie 10-C

Na Discovery, enquanto Stamets, Culber e Adira dão pela falta de Reno, Zora diz sentir algo de errado, sem saber o que é. No hangar, o trabalho prossegue e a espécie 10-C envia um pequeno orbe, com uma porta, e um interior com atmosfera respirável. Rillak, Burnham, Saru e T’Rina prosseguirão, enquanto Ndoye e Hirai ficarão para trás. O quarteto é transportado a uma réplica da ponte da Discovery, e surge a imagem da arma isolítica de Tarka. Decodificando a mensagem da espécie 10-C, o grupo conclui que ela quer saber por que a arma foi usada contra a anomalia. Usando um equipamento preparado por Stamets, a equipe manda uma mensagem de volta, dizendo que a anomalia está causando sofrimento similar ao que a espécie 10-C teve ao perder seu planeta de origem.

Enquanto isso, Adira, Stamets e Culber encontram a insígnia de Reno, modificada para parecer que ela ainda estava a bordo, e Zora ajuda a achar o dispositivo instalado por Tarka na engenharia. Ao desinstalá-lo, Zora é capaz de detectar a nave de Book acoplada à Discovery. Ao mesmo tempo, Ndoye recebe uma mensagem de Tarka e é persuadida a liberar o plasma da nacele. O processo abre um buraco no orbe e a nave de Book escapa com o raio trator.

Culber jogando com a Zora para ajudá-la a entender o que tem de errado

Diante da ação suspeita, a espécie 10-C encerra abruptamente o diálogo com a equipe e a manda de volta à Discovery. Com a ajuda de Book, Reno finalmente consegue mandar uma mensagem com o chip comunicador que trouxe consigo: ela explica o que está havendo e diz a Burnham que a nave de Book precisa ser detida a qualquer custo.

Comentários

Seguindo a trilha de “Rosetta”, “Species Ten-C” faz valer o título “científica” no gênero ficção científica. Temos aqui uma fascinante história de comunicação com uma mente extraterrestre que foge ao clichê de “humanoides com tradutor universal” pelo qual Star Trek é conhecida e embarca numa jornada para explorar o que, de fato, significa se comunicar com uma espécie cuja mente funciona de maneira inteiramente diferente.

Mais uma vez, e a exemplo do início da temporada, a equipe de roteiristas fez a lição de casa, tocando em muitas ideias que pesquisa séria e real sobre METI (Messaging Extraterrestrial Intelligence, ou Mensagens para Inteligência Extraterrestre) costuma abordar. METI, para quem não está familiarizado com o termo, está um passo além de SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence, ou Busca por Inteligência Extraterrestre). Enquanto SETI envolve apenas a procura passiva por sinais que possam vir de outras civilizações no cosmos, METI é o esforço para desenvolver mensagens que possam ser inteligíveis para essas hipotéticas sociedades alienígenas avançadas.

Orbe enviado pela espécie 10-C como forma de comunicação com a Discovery

Todo o encontro e contato com a espécie 10-C tem sido formatado nesta temporada como um desafiador e urgente esforço de METI, e as soluções criativas usadas aqui estão à altura de grandes clássicos da ficção que exploraram esse tema. Podemos citar Contatos Imediatos do Terceiro Grau, Contato e A Chegada como três bons exemplos. A dupla “Rosetta”/”Species Ten-C” não fica a dever a esses longas-metragens.

Como todos são mais ou menos baseados na mesma ciência, não é surpresa que produzam padrões semelhantes. Ainda assim, vale destacar que Discovery consegue se diferenciar, trazendo alguns conceitos inéditos para a ficção do tipo, desde a ideia de que se trata de uma sociedade que habita planetas gigantes gasosos até o uso inteligente de hidrocarbonetos similares a feromônios como a base para comunicação mais complexa.

Discussão inicial sobre a comunicação com hidrocarbonetos

A premissa básica usada por pesquisadores de METI de que matemática e ciência, por refletirem regras e fatos universais, seriam os alicerces a viabilizar a comunicação é bem explorada aqui e, por meio de diálogos afiados e notavelmente econômicos, conseguimos acompanhar o passo a passo até que mensagens simples possam ser enviadas à espécie 10-C. Faz muito sentido, o que torna tudo muito bonito. Parte da graça de Star Trek é se defrontar com esses grandes desafios e dilemas que a exploração do espaço traz e, como audiência, nos juntarmos à tripulação na busca por respostas. E essa sensação é muito bem traduzida neste episódio, com ênfase em conhecimento e trabalho em equipe. Até mesmo a turma da ponte ganha entradas apropriadas para contribuir.

Claro, para além do lance sci-fi da comunicação com a 10-C, o episódio faz parte de um arco de 13 e precisava colocar algumas peças em posição para o desfecho. Ele o faz sem surpresas (o que até é bom, pois segue o que faz mais sentido), mas também sem grande brilhantismo. Dava para antecipar basicamente tudo que aconteceu a bordo da nave do Book neste episódio: Reno estava lá para expor Tarka e fazer Book mudar de lado, mas isso não poderia acontecer sem que Tarka levasse a melhor para colocar o drama necessário no último episódio. E que surpresa que, ao final, ele se revelou um genocida impiedoso e totalmente egoísta, né? Zero pessoas foram enganadas nessa. Ou melhor, apenas uma: Book, que deixou o cara traí-lo TRÊS vezes. O personagem não saiu muito bem dessa aventura, mesmo levando em conta o trauma pelo qual passou. E, para quem gosta dele, este episódio pressagia uma má notícia: o fato de Book revelar a Reno (e à audiência) de onde veio o nome Cleveland Booker indica que, provavelmente, ele não terá outra chance de contar isso. Se a lógica for respeitada, nosso portador favorito bate com as dez no próximo episódio (de preferência se redimindo de algum modo).

Tarka prendendo Book junto com a Reno

Até porque esse “preço a ser pago” por Michael Burnham também foi algo telegrafado desde o primeiro episódio da temporada, “Kobayashi Maru”: Rillak lá diz que ela terá de aprender que, às vezes, é simplesmente impossível salvar todo mundo. A conta chegou agora, no desfecho eletrizante e bem executado de “Species Ten-C”, com Burnham literalmente entrando em parafuso. (Bela sacada do diretor Olatunde Osunsanmi!) De novo, a conferir.

Duas pequenas críticas pontuais ao segmento: para começar, a mania cada vez mais irritante de Discovery de quebrar o ritmo para introduzir reflexões da vida interna dos personagens. Pessoal está para embarcar no misterioso orbe e Michael decide puxar Saru de lado para falar de sua insegurança diante das incertezas. Sério? Primeiro, parece inapropriado para o momento. Segundo, parece artificial – finalmente eles estão fazendo progressos no contato com a 10-C, por que ela está mais insegura agora do que semana passada? Terceiro… a gente precisava mesmo de terapia do grito primal? E quarto, será que não teria sido mais econômico e elegante que Michael e Saru transmitissem esses mesmos sentimentos um ao outro com uma troca de olhares? Melhor uso dos atores (Sonequa Martin-Green e Doug Jones têm alcance de sobra para isso) e não quebraria o ritmo da história com uma pausa estranha. O desfecho da cena até é bonitinho, mostrando a amizade e o carinho que Michael e Saru têm um pelo outro, mas é o tipo de material que fica legal como extra de DVD, depois de cair do episódio na sala de edição.

Michael conversando com Saru sobre suas inseguranças quanto ao contato com a 10-C

A segunda crítica é obviamente fruto de restrições orçamentárias. Sério que a espécie 10-C recriou a ponte da Discovery para estabelecer contato com a tripulação? Obviamente é uma estratégia para não precisar construir outro cenário, ainda mais numa sequência relativamente curta, mas também é uma escolha que subtrai a potencial estranheza que a situação poderia trazer.

Nada disso, contudo, tem impacto negativo significativo no episódio. E o que não faltaram foram imagens bonitas de efeitos visuais. O aspecto do hipercampo, bem como a captura da Discovery e a misteriosa espécie 10-C (ainda por ser inteiramente revelada) revelam muito bom gosto por parte do design de produção da série. E excelente a escolha de levar a ação ao hangar de naves auxiliares. Além da amplitude incrível, nos tira da ponte, usada à exaustão nesta temporada.

Michael, Saru, Rillak e T'Rina na ponte simulada da Discovery

Terminamos com um segmento que nenhum fã de ficção científica (e discussão séria sobre contato com extraterrestres) colocará grandes defeitos e numa posição muito boa para o encerramento da quarta temporada de Discovery. Após escolhas duvidosas na conclusão dos arcos anteriores, aqui parece que temos todos os ingredientes para um gran finale.

Avaliação

Citações

“It is easy for misunderstanding to occur between different cultures when one lacks context.”
(É fácil que desentendimentos ocorram entre culturas diferentes quando uma delas não tem contexto.)
Saru

Trivia

  • O dr. Hirai menciona aqui que a espécie 10-C pode ter atingido nível 2 na escala Kardashev. A escala Kardashev é algo real, usado por pesquisadores que exploram ideias sobre inteligência extraterrestre. Criada pelo astrônomo soviético Nikolai Kardashev em 1964, ela categoriza civilizações com base na quantidade de energia que conseguem usar. As de tipo 1 manipulam toda a energia disponível em seu planeta. As de tipo 2 usam energia na escala de seu sistema planetário, incluindo sua estrela (e a construção de anéis de Dyson, como visto em “Rosetta”, sugerem que a espécie 10-C estaria nessa posição). Já as de tipo 3 usam energia de uma galáxia. Nós, terráqueos do século 21, ainda estamos no “tipo 0”.
  • Além de um ramo de estudo, METI também é nome de um instituto, criado em 2015, e Anson Mount (ator que vive o capitão Christopher Pike) faz parte do painel de diretores. O episódio menciona também Lincos, uma contração de lingua cosmica, expressão em latim (mas de fácil compreensão em português) que denota um idioma descrito pela primeira vez por Hans Freudenthal em 1960, para uso em tentativas de contato com civilizações extraterrestres.
  • A showrunner Michelle Paradise agradeceu vários cientistas no Twitter por suas contribuições na concepção da espécie 10-C. “O combo de biologia, química e linguística em nossos últimos episódios foi supercomplexo, em termos de história. Agradecimentos especiais para nossos gurus Mohamed Noor [consultor biológico de Star Trek] e os drs. Sheri Wells-Jensen e Douglas Vakoch, da METI International (citada no episódio 412) por sua valiosa orientação.
  • Este é o segundo episódio de Discovery escrito por Kyle Jarrow, que se juntou à série na quarta temporada. Além disso, é o décimo primeiro episódio dirigido por Olatunde Osunsanmi, o recordista da série.
  • O hangar de naves auxiliares da Discovery costumava ser recriado digitalmente com filmagens em fundo verde. Mas, para este episódio (num procedimento que deve se tornar comum), o ambiente foi recriado no AR Wall (cenário virtual).

Ficha Técnica

Escrito por Kyle Jarrow
Dirigido por Olatunde Osunsanmi

Exibido em 10 de março de 2022

Título em português: “Espécie Dez-C”

Elenco

Sonequa Martin-Green como Michael Burnham
Doug Jones como Saru
Anthony Rapp como Paul Stamets
Wilson Cruz como Hugh Culber
Blu del Barrio como Adira Tal
Tig Notaro como Jett Reno
David Ajala como Cleveland “Book” Booker

Elenco convidado

Shawn Doyle como Ruon Tarka
Chelah Horsdal como Laira Rillak
Tara Rosling como T’Rina
Annabelle Wallis como Zora
Hiro Kanagawa como Hirai
Phumzile Sitole como Ndoye
Emily Coutts como Keyla Detmer
Patrick Kwok-Choon como Gen Rhys
Oyin Oladejo como Joann Owosekun
Sara Mitich como Nilsson
Orville Cummings como Christopher
David Benjamin Tomlinson como Linus
Jahkeil Goldson como oficial de ciências
Fabio Tassone como computador da nave de Book

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Edição de Mariana Gamberger
Revisão de Nívea Doria

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