Desfecho da trama no universo Espelho é puro suco de nostalgia
Sinopse
Data: 18 de janeiro de 2155
A tripulação de Archer consegue ativar os sistemas da Defiant, atacar os tholianos e fugir. Mas a nave segue sem o sistema de dobra. Ao interrogar um dos prisioneiros, Archer descobre que Slar, um gorn, está à solta pela nave. Além de vasculhar os computadores da Defiant para saber mais sobre a realidade paralela de onde ela veio, bem como sobre suas contrapartes, Archer faz planos para matar o gorn. Ele é bem-sucedido, e o sistema de dobra é reparado.
A Defiant se encontra com a Avenger, NX-09, comandada pelo almirante Black, mas a nave está sob ataque de andorianos e vulcanos. Com a tecnologia superior, Archer rapidamente destrói os inimigos. Então ele solicita a Black que sua promoção a capitão seja oficializada, com a Defiant sob seu comando. O almirante recusa, e Archer o mata. O plano é usar a nova nave para subjugar o Império e se proclamar imperador.
Enquanto isso, T’Pol, Soval e Phlox conspiram para sabotar a Defiant. Eles quase são bem-sucedidos, e a nave perde os sistemas durante uma batalha com a Avenger, mas Tucker consegue neutralizar Phlox e repará-los. A Avenger é então destruída. Archer quer expurgar a presença de alienígenas e punir T’Pol, mas acaba não vendo de onde virá a real traição: Hoshi Sato o envenena, toma o controle da nave e chega à Terra exigindo rendição e se proclamando imperatriz.
Comentários
“In a Mirror, Darkly, Part II” tem menos recheio que a primeira parte, resumindo-se a uma trama muito simples: Archer toma o controle da Defiant e decide usar sua tecnologia para se proclamar imperador. Fora a surpresa muito bem sacada no final, em que Hoshi Sato e Travis Mayweather conspiram para tirá-lo de circulação, a história avança de maneira bastante linear e pouco surpreendente.
Para preencher esse vazio, o episódio lança mão do maior número possível de elementos de nostalgia. É um forte sabor “quem está na chuva é para se molhar”, e o segmento não tem vergonha de explorar os cenários internos da Defiant, principalmente sua ponte, criando alguns corredores jamais vistos na Série Clássica no caminho, e até mesmo colocando boa parte da tripulação em trajes do programa original.
E o que mais poderia atiçar a curiosidade dos fãs? Os produtores se aproveitam do terreno canônico livre no universo Espelho para atirar logo um gorn na tela. O clássico alienígena visto antes em “Arena”, da Série Clássica, sofre uma forte atualização e agora é uma recriação 100% animada por computador. Infelizmente, a tecnologia ainda não estava lá para tornar o antagonista perfeitamente realista. Foi uma tentativa valente, a equipe fez o que era possível, mas ficou devendo um pouco.
Depois disso, temos outros eventos sabor “fan fiction”, com a Defiant superpoderosa detonando toda e qualquer nave em batalha. Aproveitando-se do caos violento do universo Espelho e da superioridade tecnológica do século 23, vemos o design clássico de Matt Jefferies dando surras em naves tholianas, vulcanas, andorianas e até mesmo uma pobre NX (foram duas destruídas no episódio duplo, a Enterprise NX-01 na primeira parte, e a Avenger NX-09 na segunda).
Os atores fazem o que podem com um material que não é particularmente inspirado em termos de desenvolvimento de personagens. O único que de fato se beneficia é o Archer do Espelho, que revela toda a sua insegurança depois de conhecer mais da história gloriosa de sua contraparte da realidade federada e passa o episódio todo vendo seu alter ego do outro universo contando vantagens e o colocando para baixo. Foi um uso interessante e criativo do clichê “personagem encontra a si mesmo”, tantas vezes presente nas séries de Star Trek, sobretudo no programa original, com o capitão Kirk.
No fim das contas, o que fica claro é que os roteiristas se divertiram muito escrevendo este episódio e, a se considerar o desfecho quase em sabor de cliffhanger, tinham planos para voltar ao universo Espelho se a série ganhasse uma quinta temporada — o que infelizmente não aconteceu.
Avaliação
Citações
“You are speaking with Empress Sato. Prepare to receive instructions.”
(Você está falando com a imperatriz Sato. Prepare-se para receber instruções.)
Hoshi Sato para o almirante Gardner
Trivia
- Esse episódio originalmente seria escrito por Manny Coto, mas o showrunner gostou do que Mike Sussman fez com a primeira parte e perguntou se ele não toparia escrever também a continuação. Apesar do desafio de roteirizar dois episódios seguidos, Sussman topou e escreveu o roteiro desta segunda parte baseado em argumento produzido por Coto.
- A trama originalmente havia sido pensada para um episódio, mas a produção decidiu fazer dele um duplo para poder amortizar os custos de construção dos cenários clássicos, entre outras despesas do segmento. Isso exigiu pensar no que fazer da segunda parte, algo que Sussman originalmente não havia concebido.
- A ideia da luta de facas entre Hoshi e T’Pol veio de Manny Coto, mas foi Sussman que decidiu onde encaixá-la. Coto também foi o responsável pela ideia de que Hoshi sairia como autoproclamada imperatriz ao final.
- O comentário de Phlox sobre comparar Shakespeare nos dois universos foi influenciado por uma passagem no romance Dark Mirror, de Diane Duane, que retrata Picard e a Enterprise-D no universo Espelho. Também veio de lá fazer de Mayweather o guarda-costas de Archer, inspirado no livro de 1993, que mostrava Barclay como o guarda-costas de Picard.
- A luta entre Phlox e Tucker originalmente ia se passar no monitor manual de emergência, uma sala sobre a engenharia principal. Mas o custo proibitivo de fazer o cenário fez com que ela fosse transferida para os túneis de acesso.
- Os produtores há tempos queriam incluir os gorns na série. O universo Espelho foi a saída perfeita para não violar o cânone.
- O desejo de voltar ao universo Espelho numa hipotética quinta temporada fez com que Sussman deixasse alguns destinos de personagem em aberto. Não sabemos se Reed e Archer morreram ou não.
- Foi durante as filmagens deste episódio, em 2 de fevereiro de 2005, que a rede UPN declarou oficialmente que Enterprise seria cancelada ao final da sua quarta temporada. A notícia deixou todos chateados, mas não surpresos.
- Mike Sussman chegou a escrever a história para uma continuação a este episódio, que acabou publicada como a novela Age of the Empress, publicada em fevereiro de 2007.
Ficha Técnica
História de Manny Coto
Roteiro de Michael Sussman
Dirigido por Marvin V. Rush
Exibido em 29 de abril de 2005
Títulos em português: “Reflexo Sombrio, Parte II”
Elenco
Scott Bakula como Jonathan Archer
Jolene Blalock como T’Pol
John Billingsley como Phlox
Anthony Montgomery como Travis Mayweather
Connor Trinneer como Charlie ‘Trip’ Tucker III
Dominic Keating como Malcolm Reed
Linda Park como Hoshi Sato
Elenco convidado
Gary Graham como Soval
Gregory Itzin como Black
John Mahon como Gardner
Derek Magyar como Kelby
Pat Healy como escravo alienígena
Majel Barrett como voz do computador
David Sobolov como Slar
Enquete
Edição de Mariana Gamberger
Revisão de Susana Alexandria