SNW 1×07: The Serene Squall

Spock explora suas múltiplas verdades em meio a uma descompromissada história de piratas

Sinopse

Data estelar: 1997.9

A Enterprise recebe a bordo Aspen, que já frequentou a Academia da Frota Estelar, mas agora atua de forma independente como civil em suporte a colonos. Aspen explica que precisa do apoio de Pike para resgatar naves colonizadoras isoladas sem força na beira do espaço da Federação, numa região onde a pirataria é comum, em particular por uma nave que se identifica como a Serene Squall. Pike concorda e ordena que a Enterprise vá ao encontro dos colonos. Quando chega às últimas coordenadas deles, encontra destroços de duas das três naves – sem sinais de vida.

Pike decide perseguir uma assinatura de dobra que ruma para fora do espaço federado, enquanto o pedido de autorização para a ação transita pelo subespaço. Ao entrar em um campo de asteroides, a nave acaba presa em uma rede de lasers. Spock identifica, com um pouco de sorte, o asteroide que origina a armadilha. Com um disparo, a armadilha é desativada, e a Enterprise segue viagem – sem saber que está sendo seguida por uma pequena nave.

Enquanto isso, Aspen forma uma conexão com Spock. Sugerindo que o vulcano hesitou ao lidar com a crise do asteroide, indica que Spock deve aceitar a diversidade dentro de si, evitando tentar se colocar dentro de algum padrão preestabelecido.

A Enterprise encontra a nave colonizadora, com um número de sinais de vida compatível com os colonos, e Pike decide abordá-la com um grupo. É uma armadilha, e eles são capturados. O aparente líder, chamado Remy, declara: “Bem-vindos à Serene Squall.” Ao mesmo tempo um grupo de piratas vai a bordo da Enterprise e tenta tomar a nave estelar. Una, no comando, é rápida em travar o acesso ao computador de bordo, impedindo quaisquer operações. Mas a maior parte da tripulação é rendida e levada à Serene Squall. Escapam apenas Spock, Aspen e, de forma independente, a enfermeira Chapel.

A bordo da nave pirata, Pike rapidamente coloca em ação um plano para fazer os tripulantes da Serene Squall se virarem uns contra os outros. Ele primeiro os convence a deixá-lo preparar uma refeição para eles e depois induz Remy a vendê-los como escravos para os klingons – plano tido como temerário por parte dos piratas. A ideia é iniciar um motim a bordo e assumir o comando.

Na Enterprise, Spock, Aspen e Chapel vão à engenharia, tentar recuperar o controle da nave por lá e enviar um pedido de socorro. Contudo, quando liberam acesso ao computador, Aspen os trai, revelando que na verdade é Angel, comandante da Serene Squall. Angel não está atrás da Enterprise, e sim de Spock, a quem pretende trocar por um prisioneiro mantido na instalação de reabilitação vulcana de Ankeshtan K’til, onde trabalha T’Pring. Esse prisioneiro, Xaverius, é seu marido.

T’Pring cogita ceder, e para impedi-la Spock decide agir contrariamente a seu padrão. Ele diz ter de terminar o elo com a vulcana por estar tendo um caso com Chapel. Para tornar tudo mais convincente, os dois se beijam. T’Pring então desiste da troca de prisioneiros. Angel pretende agir raivosamente quando se vê sem controle da Enterprise – Una conseguiu, via códigos de acesso, derrubar os sistemas de defesa da nave, a partir do computador da Serene Squall, que sai de dobra sob o comando de Pike (embora com o motim ainda em andamento) e dispara contra a Enterprise.

Em fuga, Angel se transporta para a pequena nave que estava perseguindo a Enterprise todo esse tempo e parte. Spock se reconcilia com T’Pring, e Chapel diz entender que não há nada, além de amizade, entre eles dois – embora ninguém mostre muita convicção nisso. Por fim, o vulcano revela que identificou quem seria Xaverius, um codinome para seu meio irmão, Sybok.

Comentários

Chegou a hora de curtir uma aventura de piratas espaciais, com direito a Pike promovendo um motim e falando como um corsário do mar, em “The Serene Squall”. Sob uma capa de ação bem-humorada, o segmento traz uma camada mais complexa, que usa o dueto Spock e Aspen/Angel para explorar o senso de identidade e a estrutura da personalidade – como cada indivíduo tem idiossincrasias e incongruências que desafiam a categorização simples e sabotam estereótipos.

Mais uma vez, Strange New Worlds confronta uma questão social profunda por meio de alegoria, ao mesmo tempo em que retrata um século 23 inclusivo e celebratório das diferenças entre seres humanos. Nesse aspecto, Aspen/Angel se apresenta como figura fundamental: tendo como intérprete a atriz trans Jesse James Keitel, Aspen/Angel se introduz como uma pessoa não binária. Não é uma novidade para Star Trek a essa altura, após a apresentação de Adira Tal como personagem regular de Discovery, mas aqui o interessante é o que Aspen/Angel traz à mesa, por meio de sua perspectiva única, para explorar o personagem de Spock – o verdadeiro foco da trama.

A ideia do episódio é que todos nós podemos ser várias coisas ao mesmo tempo, inclusive quando há contradições entre elas. O ícone do tema é o próprio título do episódio, que também batiza a nave pirata: Serene Squall, ou “Tempestade Serena”, é uma contradição em termos. Nunca haverá de fato uma tempestade serena, exceto no plano psicológico – em que humanos podem reunir ternura e fúria, verdade e intriga, tudo no mesmo pacote.

A natureza não binária de Aspen/Angel, bem como a revelação bombástica de que não é quem diz ser, ainda que haja componentes de verdade em toda a encenação, ajudam a ilustrar esse ponto. Tudo isso como uma contraposição à dualidade de Spock, que ainda luta para eliminar essas aparentes incoerências em sua psique, sofrendo entre suas naturezas humana e vulcana. Ele fez a opção consciente por seguir o modo vulcano – e ainda assim foi servir entre humanos na Frota Estelar, preterindo a Academia de Ciências de Vulcano. É uma contradição? Sim, uma das muitas que estão presentes em Spock e, no fim das contas, em todos nós. A mensagem aqui é: a necessidade de se enquadrar em uma ou outra categoria é falaciosa; é possível ser simplesmente quem se é, sem precisar aderir a uma definição simples e redutora. Trata-se de uma lição que, como sabemos, Spock levará um bom tempo para assimilar, tendo alguns marcos claros ao longo do caminho, como em Jornada nas Estrelas: O Filme e Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida, culminando no século 24 com a aparição do vulcano em A Nova Geração, no episódio duplo “Unification”, onde ele enfim aparece completamente à vontade com seus lados humano e vulcano.

Outro elemento que ajuda a reforçar essa contraposição mestiça de Spock são as importantes participações de T’Pring (a essa altura em sua terceira visita à série) e Chapel, servindo como atratores de cada um dos lados de Spock. A lógica vulcana o arrasta para o lado de T’Pring, e a paixão humana o puxa para Chapel – e que paixão! O beijo dos dois ao final do episódio, embora de início parte de um embuste, é um ponto alto da aventura. Ethan Peck e Jess Bush têm uma química incrível, e dá para sentir na cena uma transição entre o que seria um beijo cenográfico para um real. Todo mundo que viu sabe que tem coelho nesse mato, embora ao final todos os envolvidos tentem também desfazer a importância do que ocorreu. É mais uma instância em que “múltiplas verdades não necessariamente compatíveis entre si” se manifestam.

Tudo isso acontece a bordo da Enterprise, onde a trama segue o formato de uma tentativa de repelir uma invasão, com uma súbita (embora para alguns telegrafada) reversão de expectativas quando Aspen se revela Angel, traidora e comandante dos tripulantes da Serene Squall.

A outra metade da história se desenrola a bordo da nave pirata e, a partir do momento em que Pike chega nela, o tom do episódio se transforma quase em uma comédia. É divertida, ainda que não totalmente verossímil, a forma como ele incita um motim entre os piratas. E os roteiristas Beau DeMayo e Sarah Tarkoff usam um truque clássico para suavizar a pouca credibilidade da sequência: eles a enfatizam. Pode parecer incoerente, mas geralmente funciona. E é o que escritores na indústria do entretenimento apelidaram de “pendurar uma lanterna”.

O truque é simples: se algo parece implausível à audiência, mas plausível para os personagens, cria-se um abalo na suspensão da descrença. Você simplesmente não aceita que todo mundo ache normal aquilo que é absurdo. Contudo, se os personagens eles mesmos apontam o absurdo da situação, você se sente na mesma página que eles – todos espantados pela improbabilidade daquele desfecho – e supera rapidamente a crise.

Aqui, a coisa é feita com certa elegância, quando Pike vai explicar a Una o que está fazendo e ela apenas diz: “Não Alfa Braga IV.” E ele confirma, “sim, Alfa Braga IV”, e completa: “Estamos começando um motim.” A descrença e preocupação de Una servem como a lanterna pendurada sobre a questão. Assim como a audiência, ela acha a ação temerária e considera improvável que o plano vá dar certo. Mas Pike está tranquilo, funcionou uma vez (em Alfa Braga IV), vai funcionar de novo. E isso basta. Mais adiante, quando as coisas seguem progredindo na direção desejada por ele, Pike ainda diz: “Funciona toda vez.” Mais reconhecidamente absurdo, impossível. Porque é mesmo: um prisioneiro, após levar uma surra, se oferecer para fazer uma refeição e, aos poucos, instigar parte da tripulação insatisfeita com o capitão (interino)? É meio sem sentido, e os roteiristas sabem disso.

O motim termina em tom ainda mais engraçado, com Pike e seus tripulantes comandando a Serene Squall, mas requisitando transporte de emergência, pelo fato de a revolta ainda estar “em andamento” – com membros da tripulação contrários a eles prestes a invadir a ponte, que, sim, conta com um leme no formato dos antigos navios. Até a maquiagem e o figurino maltrapilho dos tripulantes é feita para evocar um estilo Piratas do Caribe. E a cena final na ponte com Pike imitando um pirata das antigas amarra com um lacinho essa trama meio sem pé nem cabeça.

Desnecessário dizer que nem toda maquiagem (no roteiro e no episódio) permite esconder os defeitos que ele tem. A história é enrolada demais (a coisa da rede de lasers no começo parece falsa encrenca pura, dispensável; não está claro o que esses piratas têm a ganhar no resgate do tal Xaverius; todas as conveniências do motim, e por aí vai). Por vezes, também se torna arrastada, a despeito de toda a ação contida nela. No resumo da ópera, este é possivelmente o episódio mais fraco da temporada.

Como principais destaques, ficam as atuações – em particular a da atriz convidada Jesse James Keitel, que consegue transitar com sucesso entre os lampejos psicológicos inteligentes de Aspen e a atuação espalhafatosa como Angel com grande carisma. É personagem que deve voltar à série mais adiante. Até porque…

Sybok! O episódio termina com uma aparição fantástica, ainda que totalmente misteriosa, do meio-irmão de Spock! Introduzido originalmente em Jornada nas Estrelas V: A Última Fronteira, o personagem sempre causou algum desconforto nos fãs, tanto pelo fato de Spock jamais ter mencionado até então a Kirk ou McCoy que tinha um meio irmão quanto pelo fato de que a história do filme é desconjuntada demais para se tornar uma doce lembrança. Mas é fato que, assim como ocorreria mais tarde com a introdução de Michael Burnham à família de Sarek, a adição de Sybok à história de Spock criou novas oportunidades narrativas – e Strange New Worlds promete explorar esse caminho. O final é quase uma promessa de “Continua…”, e não custa lembrar que, quando Spock se reencontra com o meio irmão em A Última Fronteira, Sybok diz: “Parece que você ganhou uma segunda chance de se juntar a mim.” Se há algum lugar para conhecermos quando e como foi a tal primeira chance, é nesta série.

Avaliação

Citações

“I urge you to consider that you do not need to be either Vulcan or human. That is and always has been a false choice. The question isn’t what you are. It’s who you are.”
(Eu peço que você considere que não precisa ser vulcano ou humano. Essa é e sempre foi uma falsa escolha. A questão não é o que você é. É quem você é.)
Angel para Spock


Trivia

  • Este é o segundo crédito de escrita de Strange New Worlds tanto para a coprodutora Sarah Tarkoff quanto para o produtor supervisor Beau DeMayo.
  • Este é o primeiro crédito de Star Trek para a diretora Sydney Freeland.
  • Spock fica horrorizado com a necessidade de confiar em seu instinto para escolher onde atirar, o que é uma perspectiva aterrorizante. Esta é uma referência a alguns dos melhores momentos de Spock da Série Clássica, como quando ele é forçado a confiar no instinto e nos palpites em vez da lógica em “The Galileo Seven”.
  • A explicação de Spock sobre o atraso de dois dias na comunicação de volta à Frota Estelar, devido à distância da nave dos relés subespaciais, oferece uma solução simples e elegante para os variados tempos de comunicação com a Frota Estelar que vemos em toda a Série Clássica.
  • O plano do primeiro imediato órion da Squall de vender a tripulação da Enterprise aos klingons é uma alusão à acusação chave contra o Império Klingon em “Errand of Mercy”, em que Kirk atesta os campos de trabalho planetários do Império Klingon. Esta é, entretanto, a primeira vez que tal acusação é confirmada em tela.
  • O plano da Remy para vender a tripulação da Enterprise aos klingons iria começar na Colônia Qu’Vat, o mundo klingon para onde o Dr. Phlox foi levado para curar o vírus Augment, no episódio “Affliction” de Star Trek: Enterprise.
  • Quando Angel assume a Enterprise, eles disparam os feisers da nave como um teste; oito feixes, em quatro grupos de dois, são disparados para a frente. Apesar de todo conhecimento sobre onde estão todas as baterias dos feisers na Enterprise, não temos ideia de onde vieram esses oito feixes.
  • Este episódio também apresentou sutilmente o personagem Stonn como um colega da T’Pring em Ankeshtan K’Til. Está estabelecido que ela o escolherá como marido em vez de Spock no episódio “Amok Time” da Série Clássica.
  • Diz-se que Sybok (também conhecido como Xaverius) é um membro do V’tosh ka’tur – ou “Vulcanos sem lógica” – introduzido no episódio “Fusion” de Star Trek: Enterprise, e reintroduzido em “Spock Amok”. Sybok havia sido teorizado por ser um membro deste grupo dissidente pelos fãs após sua primeira aparição na Enterprise.
  • A existência de Sybok meio-irmão de Spock, e sua rejeição da lógica, foi revelada pela primeira vez no filme Jornada nas Estrelas V: A Última Fronteira. Os eventos desse filme acontecem 28 anos após este episódio, no ano de 2287.
  • Bruce Horak (Hemmer) e Celia Rose Gooding (cadete Nyota Uhura) não aparecem neste episódio.
  • A armadilha que envolve a Enterprise em uma teia de lasers se assemelha à armadilha de teia empregada pelos tholianos nos episódios “The Tholian Web” da Série Clássica e “In a Mirror, Darkly” de Enterprise.
  • O plano de Angel de capturar a Enterprise, pretendendo representar uma nave estelar em perigo, é semelhante ao de Kalara em Star Trek: Sem Fronteiras.
  • Angel (como Dr. Aspen) chamou Pike de “Escoteiro da Frota Estelar”, e a Número Um disse que isso estava em seu arquivo. Em Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan David Marcus chama o capitão Kirk de “escoteiro super crescido”, embora ele nunca tenha sido escoteiro. Tanto Jonathan Archer quanto Malcolm Reed eram escoteiros Águia, a maior classificação alcançável no programa de Escoteiros dos Estados Unidos, como contam no episódio “Rogue Planet” de Enterprise.
  • Usar códigos remotos para tomar conta de uma nave da Frota Estelar é um movimento que Kirk usará em Khan Noonien-Singh para assumir a USS Reliant no filme Jornada nas Estrelas: A Ira de Khan.
  • O plano de Pike “Alpha Braga IV” para fomentar motim com os piratas pode ter sido ser nomeado como homenagem ao escritor/produtor de longa data de Star Trek Brannon Braga.
  • A localização do Centro de Reabilitação Criminal Vulcano Ankeshtan K’Til é na 3ª lua de Omicron Lyrae, que é uma referência a um local recorrente no videogame X.
  • Aspen foi conselheira na Base Estelar 12, mencionada em várias séries da StarTrek, começando com a “Space Seed” da Série Clássica.
  • Como um bom navio pirata, a nave pirata Serene Squall tinha um leme em roda funcional típico. A nave de Jornada nas Estrelas V: A Última Fronteira, onde também aparece o Sybok, também tinha uma.
  • Na Serene Squall, Remy sentou-se na mesa (presumivelmente da capitão Angel), que tinha o que parecia ser um jogo vulcano Kal-toh.
  • O moderno tabuleiro de xadrez 3-D de Pike visto em seus aposentos, foi originalmente criado para o gabinete da capitão Geogiou em “The Vulcan Hello”️, mas também apareceu no quarto/sala de Spock em “Brother” e nos aposentos de Burnham em “Project Daedalus” e “Perpetual Infinity”, de Discovery.
  • Se você olhar bem de perto, na tela dos destroços das naves, você pode ler os nomes das três naves coloniais: As duas naves destruídas são a S.S. Raccoona e a S.S. Carlos. A nave intacta que se tornou a Serene Squall é a S.S. Tiptree. Tanto a S.S. Tiptree quanto a S.S. Raccoona parecem ser referências à autora americana de ficção científica e fantasia James Tiptree Jr, pseudônimo de Alice Bradley Sheldon. De 1974 a 1985 ela também usou o pseudônimo de Raccoona Sheldon.

Ficha Técnica

Escrito por Beau DeMayo & Sarah Tarkoff
Dirigido por Sydney Freeland

Exibido em 16 de junho de 2022

Título em português: “A Serene Squall”

Elenco

Anson Mount como capitão Christopher Pike
Ethan Peck
como oficial de ciências Spock
Jess Bush
como enfermeira Christine Chapel
Christina Chong
como La’an Noonien-Singh
Melissa Navia como tenente Erica Ortegas
Babs Olusanmokun como Dr. M’Benga
Rebecca Romijn
como Una Chin-Riley

Elenco convidado

Jesse James Keitel como Dr. Aspen/capitão Angel
Gia Sandhu
como T’Pring
Shawn Ahmed
como imediato Shankar
Michael Hough
como Remy
Phi Huynh
como Pirata #1
Alex Kapp como Computador da USS Enterprise
Lawrence Libor como Pirata das Armas
Roderick McNeil
como Stonn
Sophia Walker como Fran

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