TNG 4×20: Qpid

Picard se apaixona e vira Robin Hood em mais uma peripécia criada por Q

Sinopse

Data estelar: 44741.9

Enquanto a Enterprise organiza um simpósio de arqueologia, Picard retoma um romance antigo com Vash, uma arqueóloga que ele conheceu quando esteve de férias, no ano passado. A paixão entre os dois é abalada quando Vash descobre que Picard nunca contou sobre ela a seus amigos e quando ele descobre que ela planeja fazer uma excursão secreta a um planeta proibido para não residentes.

A criatura conhecida como Q testemunha secretamente uma discussão entre os dois. Mais tarde ele aparece para Picard e tenta extrair uma confissão de amor. O capitão se recusa, e Q responde transformando Picard em Robin Hood e enviando-o para a floresta de Sherwood, onde ele é reunido com sua tripulação, que agora são seu bando.

Q assume o papel de xerife de Nottingham, e diz a Picard que Vash, agora lady Marian, será decapitada no dia seguinte – desafiando Picard a arriscar a vida de sua tripulação para salvar uma mulher com quem ele supostamente não se importa. O capitão diz que faria o mesmo por qualquer outra pessoa e se prepara para ir ao resgate de Vash, mas ordena que seus tripulantes permaneçam na floresta.

Enquanto isso, Vash consegue evitar sua execução ao prometer se casar com seu captor, sir Guy. Temendo que essa mudança faça com que Picard tente salvá-la, Q pede a sir Guy que mantenha o casamento em segredo. Picard finalmente chega para resgatar Vash, mas ela decide que essa missão de um homem só é muito perigosa e diz que pode cuidar de si mesma. Momentos depois, ela surpreende Picard roubando sua espada e entregando-o a sir Guy. Q se delicia com a noção de que Vash se virou contra o capitão, até descobrir que ela está escrevendo à tripulação para que venha ao resgate de Jean-Luc. Q a entrega para sir Guy, que decide executá-la junto a Picard no dia seguinte.

Segundos antes de Picard ser decapitado, seus tripulantes aparecem, disfarçados como monges. Data cria uma distração e Picard e Vash escapam de seus captores. O capitão vence sir Guy em um combate de espadas e vai ao encontro de Vash, concluindo o desafio de Q.

Picard e sua tripulação são devolvidos à Enterprise, mas Vash não está com eles. Para o alívio do capitão, ela reaparece logo depois, anunciando seus planos de viajar pelo universo com Q. Embora a ideia incomode Jean-Luc, ele admite que ela e Q têm muito em comum, e aceita a decisão, com a promessa de Q de que Vash estará em segurança.

Comentários

Ah, o amor é lindo! “Qpid” usa e abusa da entidade onipotente mais carismática do universo para colocar o capitão Picard em uma situação incomum: além de apaixonado, ele precisa encenar uma fantasia de Q na floresta de Sherwood, no papel de ninguém menos que Robin Hood.

É inegável que as situações cômicas do episódio divertem. São hilárias as cenas em que o capitão dissimula seu interesse por Vash diante de sua tripulação, seu constrangimento ao apresentar a “amiga” à dra. Crusher, a revolta de Worf para com os talentos musicais de Geordi e os diálogos cortantes de Q, ao descobrir um ponto fraco em seu capitão preferido.

Por outro lado, não se pode colocar esse episódio ao lado dos melhores de Q em A Nova Geração, como “Tapestry”, “Q Who” e “Deja Q”. O fato de a história ser muito menos significativa e a pouco convincente paixão de Picard por Vash acabam jogando contra.

Nessa aventura, Q começa a mostrar que não está sempre jogando contra a humanidade, mas sim providenciando cenários para que Jean-Luc Picard e seus comandados entendam mais sua própria natureza. Apesar do sadismo, Q continua a fazer sua transição de vilão a benfeitor, consagrada totalmente em “All Good Things…”, o último episódio da série. (E vale destacar que uma visão muito mais aprofundada e sinistra da dificuldade de Picard em formar relacionamentos duradouros, envolvendo o próprio Q, viria a aparecer na segunda temporada de Star Trek: Picard.)

Já a outra personagem recuperada de episódios passados, Vash, não pode ser listada como uma adição de grande valor à lista dos recorrentes de Jornada nas Estrelas. Em “Captain’s Holiday” sua presença até que foi útil, mas não chegava a ensejar seu retorno para um novo episódio. Contudo, para essa história específica, ela realmente se apresentava como a única opção disponível.

A ideia toda é roubar a grandiosidade das histórias de Robin Hood, trocando os personagens originais por nossos heróis do século 24. Infelizmente, a grandiosidade e o espírito de aventura não puderam ser capturados inteiramente, mantendo a história muito mais no plano da sátira e da comédia.

Além disso, há coisas meio difíceis de engolir, como Picard ainda se importar com Vash depois de ela recusar seu esforço de salvá-la e ainda traí-lo, ajudando a rendê-lo para as autoridades de Nottingham. Outra coisa esquisita, mas não importante, é a distração providenciada por Data na hora de salvar Picard de perder a cabeça. Ele tira uma peça de seu braço e joga em uma tocha. Que suas peças sejam explosivas, até podemos aceitar, mas que sejam tão descartáveis assim é mais complicado.

Em termos técnicos, temos bons valores de produção. As maquiagens e o vestuário da Inglaterra medieval estão bastante convincentes, com especial destaque para a engraçada caracterização de Data como o frei Tuck. Os cenários também estão no mesmo nível.

O único senão técnico da produção é a cena em que o carrasco está para cortar a cabeça de Jean-Luc Picard e podemos ver o céu por sobre o castelo – uma imagem de composição de elementos que não combina perfeitamente com a iluminação do cenário, dando um tom até agressivamente falso à tomada. (Felizmente, isso foi bem suavizado na remasterização da série em alta definição.)

A despeito do clichê do desfecho, no estilo “o amor conquista tudo”, temos aqui um segmento divertido, que tenta resgatar as versões cinematográficas mais espalhafatosas de Robin Hood com a tripulação de A Nova Geração. E, claro, com Q e Vash partindo juntos, a deixa para uma futura retomada da história, o que viria apenas em Deep Space Nine.

Avaliação

Citações

“Sir, I protest! I am not a merry man!”
(Senhor, eu protesto! Não pertenço a um bando de amigos!)
Worf

“I’ll have you know I am the greatest swordsman in all of Nottingham!”
(Você descobrirá que eu sou o maior espadachim em toda Nottingham!)
“Very impressive. There’s something you should know.”
(Muito impressionante. Tem algo de que você precisa saber.)
“And what would that be?”
(E o que seria?)
“I’m not from Nottingham!”
(Eu não sou de Nottingham!)
Sir Guy e Picard

Trivia

  • A ideia para um triângulo amoroso Picard-Vash-Q foi proposta por Randee Russell. Ao desenvolvê-la, a equipe de roteiristas pensou que poderia envolver alguma história de amor clássica.
  • Ira Steven Behr, criador de Vash e produtor da terceira temporada de A Nova Geração, sugeriu que a Camelot do Rei Arthur fosse utilizada, ideia que no fim ele mesmo considerou tediosa. Mas Michael Piller quis que a trama se passasse na floresta de Sherwood, para surfar na onda do filme Robin Hood: O Príncipe dos Ladrões (1991), com Kevin Costner, que estava na moda na época.
  • Behr então foi convidado a desenvolver a trama e o roteiro. Embora ele tivesse deixado a série na terceira temporada, Piller sugeriu a ele o trabalho ao lembrar que ele era fã de Robin Hood, em particular da versão vivida nos cinemas por Errol Flynn. Behr relembrou assim: “Recebi uma chamada de Michael sobre fazer ‘Qpid’, e ele queria saber se eu queria fazer. Eu vim, nos encontramos, saí, escrevi.”
  • Quase tudo o que se sabe de Robin Hood veio das baladas e contos medievais, todos escritos antes de 1550, que se perpetuaram ao longo dos séculos. Embora Robin Hood tenha o status de lenda, muitos acham que há razões para acreditar que ele pode ter sido uma figura histórica, e pesquisadores encontraram várias provas de que existiu um fora da lei de verdade chamado Robin Hood. Se ele foi real, existiu no século 13, durante os reinados de Ricardo Coração de Leão e João Sem Terra.
  • Michael Piller disse: “Parecia que Robin Hood e seu bando eram um grupo muito legal para colocar nosso pessoal neles, e então fizemos pela diversão. Isso foi o que foi ótimo na quarta temporada que não foi tão bom na quinta. A cada semana você não sabia direito o que ia acontecer.”
  • A cena em que Worf detona o bandolim de La Forge foi escrita por Behr como uma homenagem ao filme Clube dos Cafajestes (1978).
  • O episódio foi filmado em fevereiro de 1991, e as cenas em locação da floresta de Sherwood foram gravadas em um dia, nos Descanso Gardens, próximo a Los Angeles.
  • Durante as filmagens de uma luta, Jonathan Frakes, que dispensou o uso de um dublê, se feriu no olho quando seu cajado quebrou. Teve de ser levado às pressas ao hospital, ainda no figurino de João Pequeno.
  • Ironicamente, Marina Sirtis e Gates McFadden eram os únicos membros do elenco com treinamento prévio em luta de espadas. Em cena, só os homens as usaram, e elas quebraram vasos na cabeça de alguns vilões. O diretor Cliff Bole justificou a escolha: “Era meu sentimento que estávamos de volta ao século 12 e fazendo o século 12, e eu não posso mudar a história.”
  • O destino da dupla formada por Q e Vash seria revelado apenas no episódio de Deep Space Nine “Q-Less”, da primeira temporada. Seria a terceira e última aparição de Vash na franquia. Já Q, retornaria outras tantas vezes, a próxima em “True Q”, da sexta temporada de A Nova Geração.
  • John de Lancie pediu aos roteiristas que voltassem a escrever Q mais ameaçador, achando que ele estava ficando muito amigável e engraçado a partir de “Deja Q”.
  • Segundo o dublê John Nowak, Patrick Stewart estava noivo de Jennifer Hetrick durante a filmagem do episódio. Ele e Stewart teriam enganado Hetrick durante as filmagens por sua semelhança.
  • A recepção ao episódio foi boa. Cliff Bole disse: “Ele tinha tudo que eu gostava como diretor.” Patrick Stewart também gostou da experiência. “Provavelmente nos deu como grupo mais diversão do que qualquer outro.” E Marina Sirtis brincou: “Toda vez que uma mulher vê um homem em meia-calça, não há limites.”

Ficha Técnica

História de Randee Russell e Ira Steven Behr
Roteiro de Ira Steven Behr
Dirigido por Cliff Bole

Exibido em 22 de abril de 1991

Título em português: “Q-pido”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Jennifer Hetrick como Vash
Clive Revill como sir Guy de Gisbourne
John de Lancie como Q
Joi Staton como serva

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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