VOY 3×17: Unity

Os Borgs finalmente acham a Voyager e dão as caras no quadrante Delta

Sinopse

Data estelar: 50614.2

Retornando de uma missão na Expansão Nekrit em uma nave auxiliar, Chakotay e a alferes Kaplan detectam um pedido de socorro com sinal da Federação vindo de um planeta. Eles lançam uma bóia para informar a sua posição à Voyager e aterrissam, sendo atacados por um grupo de humanóides hostis assim que chegam à superfície. Kaplan morre e Chakotay, ferido, é salvo por outro grupo, liderado por uma mulher chamada Riley. Ela explica que faz parte de uma cooperativa de diferentes espécies que foram abduzidas por alienígenas e deixadas lá à própria sorte. Nem todos eles, no entanto, são amigáveis.

Na Voyager, a tripulação detecta um cubo Borg à deriva no espaço. Quando o infiltram, encontram 1.100 drones mortos. Uma investigação posterior revela que a nave deixou de operar há cerca de cinco anos.

No planeta, Chakotay fica chocado ao descobrir que Riley e os outros são todos Borgs — ou, pelos menos, foram. Não se tratou de abdução; eles tinham sido assimilados pela Coletividade. Mas, cinco anos atrás, o cubo em que estavam foi avariado por uma tempestade eletrocinética que rompeu o elo dos drones com os Borgs. Os que sobreviveram se instalaram no planeta, porém começaram logo a lutar por comida e suprimentos.

Riley pede que Chakotay a ajude. Mas, por ora, é o comandante que precisa de auxílio. Sua única opção é ligar temporariamente sua consciência às daqueles que formam uma pequena coletividade, com o intuito de curar. Mais tarde, quase recuperado dos ferimentos, Chakotay sente-se mais próximo daquelas pessoas, em especial Riley.

Rastreando a bóia lançada por seu primeiro-oficial, a Voyager consegue localizá-lo. Ele é transportado com Riley, que pede à capitã ajuda para reativar o gerador no cubo, a fim de restabelecer o elo neural entre os antigos drones. Riley crê que isso terminaria as lutas e permitiria que todos trabalhassem em uma verdadeira comunidade. Janeway não concede o pedido, levando em conta o risco que tal ação representaria. Riley retorna ao planeta, onde usa da consciência compartilhada para forçar a cooperação de Chakotay. Ele pega uma nave auxiliar e faz tudo o que lhe é pedido. Assim que a ligação é restabelecida, a nova coletividade destrói o cubo e libera Chakotay, agradecendo-lhe e ao resto da tripulação pela ajuda forçada.

Comentários

Os Borgs fazem uma impressionante primeira aparição em Voyager. Embora o episódio costume ser subestimado por muitos fãs – que esperavam mais ação na história -, a direção e roteiro são impecáveis. “Unity” vem para calar aqueles que não acreditam na capacidade de a série render tramas boas e originais.

A expectativa do público não passou desapercebida. Todos os envolvidos na produção sabiam da responsabilidade que estavam assumindo, pois assim que foram introduzidos na segunda temporada de A Nova Geração, os Borgs se tornaram os vilões mais populares de Jornada. Seu aparecimento em Voyager era apenas questão de tempo. Afinal, já havia sido estabelecido que eles eram nativos do quadrante Delta.

O diferencial do episódio é que a Coletividade é vista por um outro ângulo. Normalmente, não é possível lidar com os Borgs usando a boa e velha diplomacia. Não dá para coexistir ou discutir com eles. O negócio é traçar um curso na direção oposta, e em dobra máxima. Aqui, podemos não apenas entender por que agem do jeito que agem, mas até concordar com a sua filosofia – o que torna a história tão perturbadora. Riley é muito persuasiva. Mas ela convence por sua perspicácia, inteligência e lucidez. Ela tem boa fé e oferece argumentos fortes para querer restabelecer a ligação neural entre os habitantes do planeta.

“Uma família harmoniosa”. É como Riley descreve a Coletividade. Isto não deixa de ser verdade. Como em uma colmeia, em que há a cooperação mútua entre indivíduos, entre os Borgs não há diferenças, disputas, preconceitos, ódio, discordância. Todos vivem e trabalham por um propósito comum. Só há um porém nessa história. Conforme Janeway comenta, essa família nasceu da assimilação violenta de povos inocentes. O papel do indivíduo desaparece e não há opiniões pessoais ou escolhas.

A própria cooperativa mostra como pensar em coletividade pode ser uma faca de dois gumes. Os membros, com seus nobres ideais, não hesitaram em usar Chakotay como um marionete quando lhes parecia importante. Nesse ponto, eles não são melhores do que os Borgs. Certo, manipular um indivíduo para o “bem maior” nem se compara à destruição em massa de toda uma espécie. Mas houve uma série de enganações, meias-verdades e ideias pretenciosas.

Quem é Riley para determinar o destino dos outros 80 mil habitantes daquele planeta? Na verdade, o episódio quer que gostemos daqueles ex-Borgs. Eles salvam a vida de Chakotay e destroem o cubo depois que conseguem o que queriam. Mas em que a ação deles difere da dos Borgs? Ao final da história, eles são a própria Coletividade. Até quando seus ideais durarão, isso nunca saberemos.

A direção de McNeill enfoca muito o lado humano dos personagens, e talvez por isso seja tão notável. A história não é de Chakotay, embora ele esteja presente o tempo todo. Mas temos novas amostras do relacionamento entre primeiro-oficial e capitã. Janeway quase parece mostrar um olhar de ciúmes na sala de reuniões. Ela procura esclarecer o que ele está sentindo. Ela sabe que Chakotay e Riley estão próximos, mas quer entender qual a natureza dessa proximidade.

Os outros personagens são sub-utilizados, mas, reunidos em algumas cenas, enriquecem bastante o episódio. Dois momentos em especial devem ser lembrados. O primeiro é a tensão quando B’Elanna comenta que pode haver um inimigo ainda mais poderoso do que os Borgs. Talvez seja a falta desse medo nos outros episódios que tire o realismo da série. O que poderia ser mais forte que os Borgs? Para a tripulação, uma pergunta que nem merece resposta; para a capitã, talvez alguém poderoso o suficiente para mandá-los para casa, ou ao menos poupá-los de possíveis confrontos com a Coletividade. A outra cena é a autópsia do cadáver na enfermaria, com o humor do Doutor, o susto no olhar de B’Elanna e a perplexidade de Kes. São momentos dramáticos.

Alguns outros interessantes sobre a história… Como Riley foi assimilada em Wolf 359 se aquele cubo – o único no quadrante Alfa – nunca retornou para casa? Mesmo que tivesse voltado, como havia Klingons, Cardassianos e Romulanos a bordo? Foi meio forçado. Outra coisa estranha é o número de habitantes no planeta. Teoricamente eles todos vieram do cubo… mas 80 mil indivíduos? E por que não passou pela cabeça de ninguém na Voyager recuperar alguma tecnologia na nave à deriva? Outra crítica é a morte totalmente desnecessária da alferes Kaplan, e a perda de mais uma nave auxiliar.

Em todo caso, foi interessante rever as cenas da batalha de Wolf 359, assim como acompanhar a evolução na qualidade dos efeitos visuais da série. A Voyager (versão CGI, gerada por computador) está muito mais manobrável e esguia do que antes. Daqui para frente, ela vai fazer coisas que nunca fez, e se parecerá mais com um caça do que com uma nave estelar. À medida que caminhamos para o final da terceira temporada e entramos na quarta, fica muito claro que Voyager quer cada vez mais se tornar uma série de ação.

Avaliação

Citações

“You’re saying we are lost, Ensign?”
“That depends what you mean by ‘lost’, sir.”
(Você está dizendo que estamos perdidos, alferes?)
(Depende do que quer dizer com ‘perdidos’, senhor.)
Chakotay e Kaplan

“It’s not exactly a United Federation around here, if you know what I mean.”
(Não somos uma Federação Unida por aqui, se entende o que quero dizer.)
Riley

“You know, they oughta rename this place the ‘Negative Expanse’. We haven’t run across anything interesting for days.”
“If you’re bored, Mr. Paris, I’m sure I can find something else for you to do. The warp plasma filters are due for a thorough cleaning.”
“Now that you mentioned it, Captain, I find this region of space a real navigational challenge.”
(Sabe, eles deveriam renomear este lugar a ‘Expansão Negativa’. Não vemos nada interessante há dias.)
(Se está entediado, sr. Paris, com certeza posso encontrar alguma coisa para você fazer. Os filtros do plasma de dobra precisam de uma limpeza completa.)
(Agora que mencionou isso, capitã, eu acho esta região do espaço um verdadeiro desafio de navegação.)
Paris e Janeway

“It’s like a ghost ship.”
(Parece uma nave fantasma.)
B’Elanna

“But what caused the shutdown in the first place?”
“It could have been some kind of natural disaster, or…”
“Or what?”
“Maybe the Borg were defeated by an enemy even more powerful than they were.”
(Mas o que causou a desativação em primeiro lugar?)
(Poderia ter sido algum tipo de desastre natural, ou…)
(Ou o quê?)
(Talvez os Borgs tenham sido derrotados por um inimigo ainda mais poderoso.)
Harry e B’Elanna

“I must say, there’s nothing like the vacuum of space for preserving a handsome corpse.”
(Tenho que dizer que não há nada como o vácuo do espaço para preservar um belo cadáver.)
Doutor

Trivia

  • Quando Ken Biller percebeu que ia escrever o primeiro roteiro Borg para Voyager, tentou encontrar um jeito novo e interessante de olhar para a Coletividade. “Como personagens, eles não são tão interessantes, porque só fazem uma coisa”, disse. “Eles perseguem e consomem seus inimigos incansavelmente.” Biller leu o roteiro de Primeiro Contato, que ainda não tinha sido filmado, e ocorreu-lhe que os Borgs poderiam de alguma forma perder essa característica. “De repente me veio a imagem da Torre de Babel”, comentou, “essa comunidade incrivelmente complexa tinha sido criada e se sua estrutura fosse abalada você teria todas essas pessoas falando em idiomas diferentes, incapazes de se comunicar. Me ocorreu que um grupo de ex-Borgs seria uma comunidade interessante a explorar”.
  • Biller também traçou um paralelo com a quebra do bloco soviético, e o novo período de nostalgia com relação ao comunismo, pela visão de Riley, a ex-Borg. ”Por que temos que pensar que ser um Borg é uma experiência tão horrível?”, brincou Biller. “Talvez quando você se torna um Borg, a experiência é tão extraordinária quanto Riley diz”.
  • O episódio foi dirigido por Robert Duncan McNeill (Tom Paris), que teve vários problemas técnicos para solucionar. O cenário Borg não veio do filme. “O set Borg, acredite ou não, era um corredor com cerca de 1,20m de comprimento, curvado nas pontas”, disse. “Era o menor set que eu já tinha visto na minha vida. Não tínhamos espaço na plataforma para construir uma nave Borg grande, porque os outros sets tinham ocupavam muito espaço. Todo espaço que eles tiveram era de basicamente 1,20m em um semicírculo. Eu disse ‘Vocês não podem fazer isso. Os Borgs deveriam ter cubos enormes’. Acho que conseguimos esconder esse fato, e fazer parecer como se eles estivessem num labirinto de túneis de verdade”
  • McNeill também comentou sobre outras dificuldades de se filmar um episódio com os Borgs. “O que assusta sobre os Borgs, como diretor, é que eles gastam muito tempo na maquiagem. Você pode se prejudicar com problemas na maquiagem. Tínhamos um Borg com um braço mecânico. Ele tinha um braço que tinha de se parecer com tesouras, mas os cabos não estavam funcionando. De repente você olha no relógio e percebe que uma hora ou duas se passaram e você não fez nada porque estava brincando com os cabos. O braço veio do filme. O figurino e maquiagem vieram do filme. Era o novo Borg, mais assustador”.
  • Aqui fica estabelecido que Chakotay é vegetariano, algo desmentido no episódio “Timeless”, do quinto ano, em que ele e Harry comentam sobre o almoço: sanduíches de salame…
  • Segundo Chakotay, a Voyager está a 67 anos de distância de casa
  • Mais uma nave auxiliar é perdida em “Unity”.
  • A Expansão Nekrit, cenário de “Fair Trade”, é novamente mencionada.
  • O ator Ivar Brogger (Orum) volta a aparecer em Voyager como Barus, no episódio “Natural Law”, do último ano.
  • A alferes Kaplan já havia aparecido em “Future’s End”. Ela morre em “Unity”, mas é citada em “Imperfection”, da última temporada da série.

Ficha Técnica

Escrito por Kenneth Biller
Dirigido por Robert Duncan McNeill

Exibido em 12 de fevereiro de 1997

Título em português: “Unidade”

Elenco

Kate Mulgrew como Kathryn Janeway
Robert Beltran como Chakotay
Roxann Biggs-Dawson como B’Elanna Torres
Robert Duncan McNeill como Tom Paris
Jennifer Lien como Kes
Ethan Phillips como Neelix
Robert Picardo como Doutor
Tim Russ como Tuvok
Garret Wang como Harry Kim

Elenco convidado

Lori Hallier como Riley Frazier
Ivar Brogger como Orum
Susan Patterson como alferes Kaplan

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Edição de Ricardo Delfin

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