DS9 3×16: Prophet Motive

Fraca comédia opta por arriscada mistura de Ferengis e Profetas

Sinopse

Data estelar: Desconhecida

Quark está feliz da vida em seus aposentos, recebendo Oo-mox da mesma bela alienígena (de nome Emi) que quer fechar um grande negócio com ele. Eis que Rom traz aos aposentos do irmão o Grande Nagus Zek (com o seu servo Maihar’du), que toma posse imediata das acomodações e se livra de toda a mobília. Algum tempo depois, Zek revela aos irmãos que ele reescreveu as famosas “Regras de Aquisição Ferengis” de forma que agora elas refletem fundamentos de bondade e generosidade. Rom e Quark inicialmente pensam que é tudo parte de algum golpe genial do seu líder. Mas quando Zek diz a Emi onde ela pode comprar mais barato a mesma mercadoria que o barman Ferengi havia oferecido a ela, Quark percebe que ele está falando sério.

Ao mesmo tempo, o doutor Bashir é o mais jovem indicado de todos os tempos para o mais importante prêmio médico da Federação, o prêmio Carrington, anualmente concedido pelo conselho médico da Federação. Ao contrário do que se poderia esperar, Bashir não está muito animado com as suas possibilidades de vencer. De fato, o prêmio Carrington é dado a médicos como o coroamento de uma bem-sucedida carreira, quando eles já estão próximos ao final de suas vidas.

O Nagus estabelece uma infame “associação benevolente Ferengi” tendo como escritório central os aposentos de Quark e tendo Rom como administrador. Aí Quark começa a ficar preocupado que Zek venha a ser linchado em Ferenginar, quando ele levar de volta ao seu mundo natal as tais “regras revisadas”. Bashir examina Zek, mas não encontra nada de errado com o líder dos Ferengis. O Nagus oferece uma barra de latinum como “pagamento” ao doutor (que ele vai usar para caridade) e diz que vai dar um presente ao povo Bajoriano, mas se recusa a dizer qual.

Rom e Quark (com a inesperada ajuda de Maihar’du) entram na nave de Zek e descobrem bem à vista um Orb Bajoriano perdido. Quando Quark acidentalmente abre a arca do objeto, ele tem uma visão que revela que as “novas regras” vieram de certa maneira dos Profetas, que transformaram Zek em um tipo mais esclarecido de Ferengi (como e por quê ainda não estão claros). Examinando os diários da nave, eles descobrem que Zek conseguiu o Orb (da sabedoria) em Cardássia III e entrou na Fenda Espacial na esperança de que os Profetas lhe dessem uma visão do futuro, algo altamente lucrativo, obviamente. Quark percebe que algo foi muito mal em tal experiência e rapta Zek e o leva de volta em sua nave para a Fenda Espacial.

Enquanto tudo isto acontecia, Bashir era provocado sobre as suas possibilidades de vencer, por Dax (que havia submetido o nome de Bashir para o prêmio sem ele saber), O’Brien (em um jogo de dardos) e por Odo (que sugere que o doutor já estaria até escrevendo o seu discurso de agradecimento). Mesmo com toda a certeza de que não iria vencer, o doutor não fica nada confortável com a anunciada derrota ao final.

Dentro da Fenda Espacial, os Profetas dizem a Quark que Zek os perturbou bastante, com a sua natureza adversária e agressiva. Examinando a história Ferengi, eles descobriram que aquela raça nem sempre foi gananciosa e o “regrediram” a um Ferengi típico daquela época e dizem que vão fazer o mesmo com Quark. Quark diz que, se eles desfizerem o ocorrido, nenhum Ferengi os incomodará de novo. Eles retornam Zek ao normal. Todas as cópias das “Novas Regras de Aquisição” são destruídas e o Nagus diz que vai vender o Orb aos Bajorianos.

Comentários

Os produtores de DS9 não têm aqui, no (absurdo) encontro entre Ferengis e Profetas, o mesmo sucesso do (absurdo) encontro anterior entre os Klingons e os Ferengis (em “The House of Quark”), mais cedo na temporada. Ainda temos esta semana, um fiapo de história tratando da expectativa da possível premiação de Bashir que, devido à falta de conteúdo humorístico e de desenvolvimento do personagem do doutor, termina quase que como um exercício em nulidade, apesar de ainda assim ser mais agradável que a história principal. Saibam mais detalhes, sem precisar consultar o Orb da Sabedoria no processo, nas linhas abaixo.

O grande problema do episódio foi fazer da condição de Zek um “mistério” que foi desvendado a passos de cágado por Rom & Quark, de uma forma extremamente bocejante. Os dois irmãos demoram demais a perceber que algo está errado com Zek e ainda mais tempo para tomar alguma atitude. Nesse meio tempo, temos (entre outros maus elementos) uma leitura interminável das “regras revisadas” e inúmeras cenas de gosto duvidoso, como quando Quark lambe as laterais do livro contendo as regras. Rom & Quark tiveram que ser escritos desta forma extremamente idiota (o que acontece de uma forma irritantemente freqüente na série, aliás) para não terminar o episódio antes dele começar.

Não somente a precária história é diluída pelo excesso de tempo devotado a ela, como Quark (e também Rom, Zek e Maihar’du) é escrito de uma forma bastante transparente, onde sabemos claramente o que ele vai dizer e fazer muito antes de tal informação aparecer em cena. Seria benéfico termos um agente externo (como tivemos em Grilka e nos outros Klingons em “The House of Quark”) que trouxesse um pouco de imprevisibilidade e mesmo trouxesse à tona algumas diferentes facetas do Ferengi.

De fato tal agente surge (na forma dos Profetas) quase no final e beneficia Quark na sua interação com eles, mas já era tarde demais e ainda assim o diálogo não consegue tirar um payoff satisfatório do insólito da situação. É uma pena que uma parte tão integral da série como os Profetas seja utilizada de forma tão mundana e inconseqüente, ainda mais em um veículo Ferengi (especialmente no rastro do excelente “Destiny”, da semana passada).

A visão inicial de Quark também careceu de qualquer sentido mais profundo para o personagem (como foi o caso até aqui para todos que tiveram experiências com os Orbs –e fica difícil aceitar que por ser um Orb diferente teríamos tal aberração de comportamento– é razoável que o escopo das visões mude, mas que continuem a ressonar de uma forma pessoal), parecendo muito mais um caso de “esquisitice pela esquisitice”(TM) com uma explicação óbvia ao seu final do que algo com um real significado a ser ponderado.

O restante da história principal do episódio ainda tem Rom agindo de forma ainda mais transparente e tola do que Quark (batendo na arca do Orb, para ver se tem algo dentro, por exemplo), Zek com uma voz ainda mais irritante do que de costume e Maihar’du chorando (?) e tomando um porre (!). O leitor pode imaginar o tamanho do “drama”.

A história secundária envolvendo Bashir funciona surpreendentemente melhor que a história principal, apesar de também ser largamente esquecível. Ao seu favor ela tem o desejo de tentar produzir humor de uma forma não tão óbvia e ao mesmo tempo retratar uma situação que é absolutamente natural e compatível com situações similares no mundo real. Infelizmente ela também é incapaz de produzir um suficiente payoff cômico e nem passa perto de oferecer alguma perspectiva nova sobre Bashir. Ainda assim ela engloba o que o episódio tem de melhor, além da participação dos Profetas ao seu final (que apesar do discutível uso feito deles aqui, serve ao menos para manter a sua presença viva na série).

A direção de estréia de Auberjonois é bastante convencional e quadrada. Apenas na visão de Quark e no seu encontro com os Profetas, no interior da fenda espacial, é que temos alguns visuais interessantes. Apesar da fidelidade de tais experiências com o que já vimos anteriormente na série (“Emissary”), tivemos algumas derrapadas como: o efeito da cabeça de Zek dentro da arca do Orb, o estranho efeito de Quark girando sobre a roda de Dabo e a queda (sem jeito) de Zek do segundo nível do Quark’s.

Com um material tão “peso pluma” quanto este apresentado no episódio, fica até difícil encontrar alguma atuação de destaque positivo ou negativo, exceto por Wallace Shawn (Zek) que foi excessivamente irritante como um “Proto-Ferengi”. Fica a dúvida se isto foi devido às escolhas do ator ou a orientação que recebeu, mas o resultado final foi bastante ruim.

Nog está em Ferenginar com a avó (Ishka), que irá aparecer na série em breve, em “Family Business”, desta mesma temporada. O fato de Rom ter guardado na memória as tais “Novas Regras de Aquisição” terá uma implicação interessante quase ao final da série (ver “The Dogs of War”). O fato de Bashir não poder fazer nada a respeito de Zek também é consistente com o que veríamos ao longo da série com relação aos poderes dos Profetas.

Sisko ensinou aos Profetas sobre tempo linear, vida corpórea e comunicação lingüística. Aqui eles se referem a Sisko, pela primeira vez na série, como “O Sisko” (em simetria com “O Zek”). Eles se referem pela primeira vez a uma existência linear como “O jogo”. Aqui é estabelecido que eles podem examinar o passado de outras raças, fato que será utilizado de novo no clássico “Far Beyond the Stars”, da sexta temporada de DS9.

Durante os últimos 10 mil anos, nove Orbs foram encontrados pelos Bajorianos (cinco no cinturão Denórios). Apenas um estava de posse de Bajor no início da série. Os orbs (dentre tais nove) que foram citados explicitamente em tela são os seguintes: “O Orb da Profecia” (ou “O terceiro Orb” ou “O Orb da Mudança” ou “O Orb da Profecia e Mudança”), visto em “Emissary”, “The Circle”, “Destiny”, “Rapture” e “Ressurection”; “O Orb da Contemplação”, visto em “Tears of the Prophets”; “O Orb do Tempo”, visto em “Trials and Tribble-ations” e “Wrongs Darker Than Death or Night” E “O Orb da Sabedoria”, visto aqui em “Prophet Motive” e “In the Cards”.

“O Orb do Emissário” não é citado nos textos Bajorianos (e nem é um dos nove Orbs citados acima) e foi encontrado por Sisko em “Image in the Sand” e “Shadows and Symbols” (sétima temporada), no planeta Tyree.

“Prophet Motive” é um outro péssimo episódio de Deep Space Nine que passa a maior parte do tempo em um estado de torpor quase que absoluto, dificilmente evocando qualquer reação por parte da audiência. O fato de termos mais uma comédia Ferengi na temporada, especialmente uma lidando com os Profetas de Bajor, fala diretamente sobre os problemas de direcionamento que a série enfrentou nesta terceira temporada. O mais triste é que ainda temos mais uma comédia Ferengi se aproximando…

Avaliação

Citações

“You better hurry. I got the dampening field on this ship for a substantial discount.”
(É melhor correr. Eu comprei o amortecedor dessa nave com um desconto substancial.)
Zek

“April Wade is 106; the last time she was nominated, people said it was premature! Put my name up for nomination in seventy years and I promise you I will get very excited.”
(April Wade tem 106; da última vez que ela foi indicada, as pessoas disseram que foi prematuro! Coloque meu nome para indicação em setenta anos e eu prometo que vou ficar muito empolgado.)
Bashir

“You’d rather play a game of racquetball?”
“Chief, since Keiko’s been on Bajor we’ve played 106 games of racquetball.”
“Right. So throw a dart.”
(Você prefere jogar uma partida de raquetebol?)
(Chefe, desde que Keiko foi para Bajor nós jogamos 106 partidas de raquetebol.)
(Certo. Então atire o dardo.)
O’Brien e Bashir

“He [the Nagus] says I’m malleable.”
(Ele [o Nagus] diz que sou maleável.)
Rom

“But I bet there are doctors all over the Federation saying ‘Julian Bashir? Who the hell is HE?'”
(Mas aposto que há médicos por toda a Federação dizendo ‘Julian Bashir? Quem diabos é ELE?)
O’Brien

Trivia

  • A vida de diretor em DS9 começou para René Auberjonois no início da terceira temporada da série, quando Rick Berman deu sinal verde para o ator seguir esse caminho. Desde aquele momento ele começou a observar de perto encontros dos produtores e sessões de edição, escolha de elenco e de dublagem, se preparando cuidadosamente para a sua nova função. Auberjonois diz que algo que facilitou o seu trabalho (enquanto diretor novato) foram os intensivos ensaios conjuntos de Armin Shimermam e Max Grodénchick, mesmo nos finais de semana, deixando tudo preparado para os dias de filmagem.
  • Os ensaios deram origem a diferentes idéias para tomadas, diferentes das sugeridas nas cenas do roteiro. Por exemplo, quando Quark e Rom lêem sobre as novas regras, e são colocados em cena dentro da moldura da janela do quarto de Quark (a cena originalmente tinha Rom sentado no chão, lendo, enquanto Quark andava em volta dele). Tal janela teve de ser equipada com um fundo de estrelas móveis especialmente para a cena. Apesar de pequenas idéias deste tipo, Auberjonois foi bastante convencional e formulaico a maior parte do tempo. Por exemplo, ele teve extremo cuidado em recriar cuidadosamente os visuais das experiência com os Profetas dentro da Fenda Espacial de “Emissary”, o piloto da série.
  • Um grande esforço foi tomado pela equipe de efeitos visuais e pelo cinegrafista Jonathan West para recriar também aquele visual particular. Cabe notar que as imagens da experiências (fantasias) com os Profetas são produzidas compondo uma camada da cena fora de foco sobreposta a uma camada em foco da cena. O vôo da nave de Quark dentro da fenda foi feito com base no vôo do exlorador de Sisko no piloto da série, tendo como fonte consulta o vídeo do episódio. Os dados de comando numérico da tomada original foram perdidos.
  • A história do episódio se baseia em Uncle Sylvester, um roteiro (nunca vendido) de Ira Behr (o mentor de DS9), para o antigo sitcom da Paramount, Taxi. O irônico é que, apesar do desfecho do episódio desta semana, Behr e cia. finalmente mudariam a cara da sociedade Ferengi com a participação fundamental da mãe de Quark, Ishka (que será introduzida em “Family Business”, mais tarde nesta mesma terceira temporada) e de seu irmão Rom, ao final da série.
  • A história do prêmio que não foi dado a Bashir tem origem em uma brincadeira interna entre os produtores da série a respeito do prêmio Emmy (o Oscar da TV) de melhor série dramática de 1994, que não foi dado a série A Nova Geração (indicada naquela ocasião). Todos sabiam que não iria levar o prêmio mesmo e não levou, apesar de que, em um certo momento, a certeza da equipe começou a se transformar em um “será possível?” (a série vencedora daquele ano acabou sendo Picket Fences). O episódio também marca a introdução dos jogos de dardos entre O’Brien e Bashir (e que logo seriam transferidos para o Quark’s) como uma alternativa para os jogos de cartas de A Nova Geração e para a mesa de bilhar de Voyager. Quando nós vemos um dardo atingir ao alvo, ele seguramente foi atirado por James Lomas ou por seu reserva Shawn McConnell, consultores do jogo para a série.

Ficha Técnica

Escrito por Ira Steven Behr & Robert Hewitt Wolfe
Dirigido por René Auberjonois

Exibido em 20 de fevereiro de 1995

Título em português: “A Bênção dos Profetas”

Elenco

Avery Brooks como Benjamin Lafayette Sisko
René Auberjonois como Odo
Nana Visitor como Kira Nerys
Colm Meaney como Miles Edward O’Brien
Siddig El Fadil como Julian Subatoi Bashir
Armin Shimerman como Quark
Terry Farrell como Jadzia Dax
Cirroc Lofton como Jake Sisko

Elenco convidado

Max Grodénchik como Rom
Juliana Donald como Emi
Tiny Ron como Maihar’du
Wallace Shawn como Zek
Bennet Guillory como um médico

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Edição de Mariana Gamberger

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