TNG 6×12: Ship in a Bottle

Volta de Moriarty é feita em grande estilo, com direito a “Noiva de Frankenstein”

Sinopse

Data estelar: 46424.1

Enquanto se divertem em uma simulação de mais um caso de Sherlock Holmes no holodeck, Geordi e Data percebem que o programa está apresentando estranhos defeitos. Eles pedem que Barclay investigue as anomalias, mas o tenente fica chocado, ao começar seus testes com o sistema, quando o professor James Moriarty em pessoa se materializa diante de seus olhos. O personagem informa a Barclay que o computador o havia criado com tamanha perfeição originalmente que ele acabou se tornando vivo. Na cabeça do professor, Picard o manteve refém no computador por mais de quatro anos.

Moriarty requisita uma audiência com Picard. Barclay desliga o programa e vai informar ao capitão, mas, ao que tudo indica, o professor é capaz de se ligar e se desligar sozinho. Mais tarde, Picard, Data e Barclay vão se encontrar com Moriarty. Lá, o capitão da Enterprise informa que ainda é impossível permitir que o professor deixe o holodeck. Mas Moriarty está inconformado; ele não acredita em Picard e decide atravessar a porta. Para o espanto de todos, ele consegue deixar o holodeck e ir até o corredor da nave.

Incapaz de acreditar no que acaba de ver, Picard instrui Beverly Crusher a examinar Moriarty. Ela descobre que o impossível acontece – uma fantasia de holodeck se tornou um ser humano vivo e normal.

Empolgado com a nova vida que se abre, Moriarty pede a Picard um último favor: que permita dar a outro personagem, a condessa Regina Barthalomew, a mesma consciência que o professor ganhou, e que ajude a tirá-la do holodeck. A condessa foi escrita originalmente para ser a paixão da vida de Moriarty. Mesmo assim, Picard não parece tocado com a situação. Após conferenciar com Beverly, Data e Barclay, Picard decide adiar qualquer ação até que eles possam determinar melhor o que aconteceu com Moriarty.

Enquanto isso, a Enterprise está nas proximidades de dois planetas gigantes gasosos que estão para colidir. Picard tenta lançar sondas aos planetas, mas sua autorização é rejeitada pelo computador. Moriarty então entra na ponte e informa que tomou o controle da nave. Ele se recusa a devolvê-lo enquanto o capitão não aceitar dar vida à condessa e permitir que ela também deixe o holodeck. Sem opção, Picard concorda em tentar, para evitar que a Enterprise seja pega na explosão resultante da colisão planetária.

Mais tarde, conforme Picard e Geordi trabalham para restabelecer seu comando sobre o computador da nave, Data descobre que todos os eventos presenciados depois da saída de Moriarty do holodeck na verdade eram uma simulação. A dedução vem ao observar que Geordi, que é destro, estava usando sua mão esquerda para realizar as tarefas – um dos defeitos que os programas originais do holodeck estavam manifestando quando Data e Geordi pediram o auxílio de Barclay em primeiro lugar. No caso, Picard, Data e Barclay são reais, pois haviam entrado no holodeck a pedido de Moriarty, mas os demais fazem parte da simulação – criada pelo próprio professor.

Desesperado para se libertar da simulação, Picard encontra a condessa e pede que ela convença Moriarty a devolver o controle de navegação para ele. Em vez de aceitar o pedido do capitão, Moriarty trabalha com Riker para ser transportado de volta à realidade. Uma vez transportado, entretanto, ele se recusa a devolver o controle da nave se o primeiro oficial não der a ele uma nave auxiliar. Sem escolha, Riker concorda.

Conforme Moriarty e a condessa deixam a Enterprise, o professor devolve o comando a Picard, que rapidamente interrompe a simulação. Ele então informa a todos sobre o verdadeiro truque: todo o processo de teletransporte bem-sucedido e da saída de Moriarty da Enterprise também não passaram de uma simulação. Na verdade, Moriarty continua existindo somente no computador, em um pequeno cubo capaz de fornecer a ele e à condessa uma rica simulação por anos e anos.

Comentários

“Ship in a Bottle” tem três características que tornam o segmento um dos melhores da temporada e da série. Primeiro, ele aproveita uma história interessante, bem-sucedida e que pedia uma continuação (no caso, o episódio do segundo ano “Elementary, Dear Data”). Segundo, trabalha de forma adequada e inovadora os temas suscitados pelo enredo, sem, entretanto, tornar-se uma repetição do episódio original no qual é baseado. Para completar, tem uma história extremamente inteligente.

A volta do professor Moriarty é um atrativo por si só. O ator Daniel Davis, em sua segunda aparição como o personagem na série, mantém o brilhantismo e a vivacidade de sua primeira atuação. E desta vez o trabalho de roteiro com o personagem está ainda mais eficiente. Não só Moriarty é um ser consciente, embora seja uma simulação do holodeck, como ele mantém seu modus operandi criminoso mesmo quando suas motivações são nobres, como é o caso aqui. Fica mais evidente que o professor, embora tenha adquirido consciência, não conseguiu superar sua natureza ficcional, o que faz todo o sentido do mundo. Não é por que ganhou vida própria que ele deveria simplesmente repudiar seu passado.

Outro belo trabalho que se faz com Moriarty é a criação de uma segunda história envolvendo o personagem. Se fosse somente uma sequência da premissa original “Moriarty ganha vida e quer sair do holodeck”, o episódio poderia ter se tornado enfadonho. Entretanto, ao permitir que o professor miraculosamente deixe o holodeck logo no início e introduzir um novo elemento, sua paixão também holográfica, a história ganha outra direção, que se provou muito prolífica. É praticamente uma recriação em holodeck da história A Noiva de Frankenstein. Mas melhor, evitando todo o mau gosto da produção de terror e mantendo todo o conteúdo filosófico que gira em torno da premissa.

Claro, depois descobrimos que a saída miraculosa de Moriarty do holodeck, espetacularmente atuada por Davis (com direito a uma imponente citação de Descartes, “cogito, ergo sum”, seguido pela tradução “penso, logo existo”), não passou de uma fraude criada pelo professor para obter mais uma vez o controle da Enterprise (ele já havia feito isso em “Elementary, Dear Data”) e convencer Picard a trabalhar em prol de seu objetivo.

Essa reviravolta na trama, descoberta também de forma sutil pelo comandante Data, ao perceber que seu amigo Geordi “está” canhoto desde a saída de Moriarty do holodeck, torna o episódio ainda mais complexo. E a solução final encontrada pela tripulação – criar uma simulação dentro da simulação, enganando Moriarty e induzindo-o a pensar que havia logrado sua meta – foi igualmente espetacular. Poucas vezes se viu uma execução tão boa do batido clichê, “o feitiço vira contra o feiticeiro”.

De forma periférica, o episódio também faz um bom trabalho com o tenente Barclay. Embora esteja longe de ser algum foco do enredo, foi boa ideia colocá-lo como o “engenheiro que deve ir consertar o holodeck” e envolvê-lo na trama. Afinal de contas, personagens holográficos são mais reais para Reg do para qualquer um; é interessante vê-lo em um conflito interno, cético com relação às capacidades de Moriarty e da condessa, mas ainda assim fascinado por sua existência e seu comportamento. Dwight Schultz mais uma vez nos brinda com uma atuação bastante convincente e notadamente discreta.

Os únicos personagens regulares que se mostraram úteis à trama foram Picard e Data, apoiados pelas regularmente competentes atuações de Patrick Stewart e Brent Spiner. O resto do elenco só cumpriu tabela, sem qualquer real importância para o episódio (a maior parte das aparições deles, inclusive, se deu na simulação criada por Moriarty, um sinal claro de que não havia realmente qualquer interesse em usá-los efetivamente na história).

Por fim, é sempre bom ver a Enterprise envolvida num projeto de pesquisa astrofísica. As tomadas de efeitos visuais envolvendo os choques dos planetas foram extremamente bem realizadas, e a nave apareceu realmente bem nas tomadas de abertura e fechamento do episódio. Foram esses os principais valores de produção com destaque no segmento. Digno de nota também é o cenário do escritório de Holmes, mas nada que de fato não tenha sido feito antes.

Da forma como foi escrito, atuado, dirigido e executado, “Ship in a Bottle” tem a dupla virtude de se sustentar sozinho como um grande episódio e ao mesmo tempo dar um fechamento digno da jornada do professor James Moriarty pela Enterprise, iniciado na segundo ano da série. Realmente um dos grandes destaques da temporada.

Citações

“Policemen. I’d recognize them in any century.”
(Policiais. Eu os reconheceria em qualquer século.)
James Moriarty

“Captain, I have determined how Moriarty was able to leave the holodeck. He never did. Neither did we. None of this is real. It is a simulation. We are still on the holodeck.”
(Capitão, eu descobri como Moriarty foi capaz de sair do holodeck. Ele nunca saiu. Nem nós. Nada disso é real. É uma simulação. Ainda estamos no holodeck.)
Data

“Computer, end program!”
(Computador, terminar programa!)
Reginald Barclay, certificando-se de que estava fora do holodeck

Trivia

  • Este é o primeiro episódio de A Nova Geração exibido após a estreia de Deep Space Nine, em 3 de janeiro de 1993. Aliás, entre o último episódio inédito de A Nova Geração exibido na época (“Chain of Command, Part II”) e “Ship in a Bottle”, nada menos que cinco episódios de DS9 foram exibidos nos EUA.
  • Por anos a produção quis fazer uma sequência de “Elementary, Dear Data”, mas foi impedida por uma disputa legal entre a Paramount e o espólio de Arthur Conan Doyle, o criador de Sherlock Holmes. A possibilidade só se reabriu quando Jeri Taylor decidiu reinvestigar a possibilidade, apenas para descobrir que tudo não passara de um mal-entendido. O espólio de Conan Doyle estava irritado com a Paramount por conta do filme O Enigma da Pirâmide (Young Sherlock Holmes). Quando este episódio foi concebido, os herdeiros do autor se mostraram dispostos a licenciar o personagem pelo que Taylor descreveu como “uma taxa de licenciamento muito razoável”. O ator Brent Spiner ficou especialmente encantado com a chance de voltar a viver Holmes.
  • A premissa do episódio é derivada de uma história proposta por René Echevarria a Michael Piller na terceira temporada. “Eu ofereci uma história depois de vender ‘The Offspring’ sobre Riker e Picard indo em uma missão, e Riker o transporta para o holodeck de uma base estelar e parece que Riker está assumindo o controle da nave e a levando a território inimigo. Na verdade, o que ele está fazendo é criando um cenário em que Picard seria protegido. Era um plano para desacreditar algum malfeitor, e Michael se lembrou e disse que adorou o truque do holodeck. Quando estávamos todos na casa da Jeri num domingo para uma sessão de histórias, alguém mencionou que poderíamos fazer Moriarty de novo. Eu contei a todo mundo que havia uma história de que Michael gostara que poderíamos usar. No primeiro rascunho, nós encontramos um meio de ajudá-lo a escapar do holodeck ao andar sobre um raio de transporte, e não funciona e ele morre – mas durante a ‘quebra’ bolamos a noção de dar a ele o que queria e nunca deixar que ele soubesse que foi enganado.”
  • Barclay foi adicionado à história quando os roteiristas tiveram a sensação de que precisariam de alguém que não soubesse sobre o primeiro encontro com Moriarty.
  • Segundo Ronald D. Moore, os vários universos encapsulados no episódio confundiram até a equipe de roteiristas, que acabou desenhando diagramas durante as sessões de “quebra” para mantê-los coerentes.
  • Para o decorador de set Jim Mees, o maior desafio de recriar o escritório do 221B da Baker Street era ser fiel tanto às descrições das histórias originais quanto às cenas em “Elementary, Dear Data”. Contudo, foi preciso mudar o papel de parede com relação ao episódio anterior, porque pararam de comercializar o antigo.
  • Para o diretor Alexander Singer, um dos aspectos mais difíceis do episódio foi escalar o papel de Regina Barthalomew. “Sua escalação foi a mais difícil porque precisávamos de alguém que pudesse ter um sotaque inglês e uma aparência sofisticada, mas que também fosse muito, muito sexy em trajes vitorianos. Quando eu vi Stephanie [Beacham], eu disse, é isso, fim da história.”
  • Embora Moriarty não mencione a doutora Katherine Pulaski nominalmente, ele alude a tê-la feito refém em “Elementary, Dear Data”.
  • Daniel Davis volta à série como Moriarty. O ator ficou mais conhecido no Brasil como Niles, o mordomo de The Nanny. Ele e seu personagem voltariam a Star Trek na terceira temporada de Picard.
  • A criação de Moriarty abriu caminho para o desenvolvimento de personagens holográficos sencientes, dos quais o maior representante é o Doutor, de Voyager (com menção honrosa para Vic Fontaine, de Deep Space Nine).

Ficha Técnica

Escrito por René Echevarria
Dirigido por Alexander Singer

Exibido em 25 de janeiro de 1993

Título em português: “Navio na Garrafa”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Daniel Davis como James Moriarty
Stephanie Beacham como Regina Barthalomew
Dwight Schultz como Reginald Barclay
Clement von Franckenstein como senhor
Majel Barrett como voz do computador

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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