TNG 6×13: Aquiel

Poderia ter sido uma bela trama política, mas foi mais um “monstro da semana”

Sinopse

Data estelar: 46461.3

A Enterprise chega a uma estação de transmissão subespacial da Federação perto da fronteira klingon que não responde a tentativas de contato. Riker, Geordi e Beverly Crusher abordam o posto para investigar e descobrem apenas um cachorro abandonado e o que parecem ser os restos mortais de Aquiel Uhnari, uma tenente da Frota Estelar.

A equipe tenta descobrir precisamente o que aconteceu investigando uma nave auxiliar abandonada atracada à estação. Ao estudarem os danos na nave, Beverly e Riker suspeitam que Aquiel e o tenente Rocha, seu colega desaparecido, possam ter sido vítimas de um ataque klingon.

De volta à Enterprise, Geordi estuda os registros pessoais de Aquiel, na tentativa de descobrir o que houve. Em uma mensagem dela para sua irmã, Shianna, Aquiel menciona seus temores de um klingon chamado Morag. Geordi continua a investigar nos diários pessoais e descobre que Aquiel tem uma relação delicada e conflituosa com o tenente Rocha.

Geordi comunica ao capitão sobre o possível envolvimento klingon no incidente. Picard contata o governador klingon Torak. Num primeiro momento, o guerreiro é reticente, mas acaba decidindo ajudar a Enterprise em suas investigações. Em reunião com a tripulação sênior da nave, Torak surpreende a todos apresentando Aquiel – viva! Ela explica que Rocha a atacou e que ela escapou para o espaço klingon com uma nave auxiliar. Logo, os restos mortais encontrados na estação deveriam provavelmente ser de Rocha, mas ela não se lembra precisamente do que teria ocorrido.

Para ajudar a esclarecer o que realmente aconteceu, Picard pede para falar com o comandante Morag, o klingon que supostamente teria intimidado Aquiel. Atraído por essa estranha tão familiar por seus diários, Geordi acaba formando uma amizade com Aquiel, com quem vai ao bar panorâmico. Ele revela que tem estudado seus diários e sua correspondência pessoal em uma investigação. Geordi então pergunta sobre Rocha, e ela diz que não gostava do tenente, mas nunca poderia desejar sua morte. Ela percebe, entretanto, que a tripulação da Enterprise a tem como suspeita de assassinato.

Enquanto isso, Beverly continua a examinar os resíduos celulares encontrados na estação, e Riker e Worf descobrem um feiser largado na nave auxiliar, configurado para matar. Com esse achado, Riker e Worf questionam Aquiel, e ela segue insistindo que não seria capaz de matar seu colega. Geordi acompanha o interrogatório e fica óbvio que ele acredita em sua nova amiga.

O comandante Morag chega à Enterprise e encontra a tripulação sênior. Ele admite que esteve presente quando Rocha foi morto e que apagou registros da estação. Geordi então confronta Aquiel sobre o apagamento de trechos dos diários de Rocha, e ela explica que fez aquilo porque Rocha estava dizendo que ela era insubordinada e beligerante. Assustada com a possibilidade de essa evidência condená-la pelo assassinato de Rocha, ela só concorda em permanecer na Enterprise porque Geordi acredita nela. Ele e Aquiel usam um antigo método do povo dela para união e compartilhamento de seus pensamentos.

Enquanto Beverly está conduzindo mais testes no DNA encontrado, o material voluntariamente a toca e forma uma réplica perfeita de sua própria mão. Em razão disso, ela suspeita que o Rocha real possa ter sido morto por esse estranho organismo, e uma réplica dele pode ter atacado Aquiel na busca por um novo corpo. Repentinamente, o cão de Aquiel se transforma na criatura bem na frente de Geordi. Felizmente, o engenheiro consegue se defender contra a criatura bizarra, que aparentemente trocou de forma de Rocha, para Aquiel, para seu cão.

Com a criatura contida, Aquiel deixa a Enterprise, esperando poder reencontrar seu amigo Geordi no futuro.

Comentários

“Aquiel” é uma decepção em todos os aspectos. Em primeiro lugar, o episódio se apoia em Geordi La Forge apenas o suficiente para torná-lo o principal foco da história, mas ainda de forma ambígua, sem de fato trazer qualquer desenvolvimento ou aprofundamento para o engenheiro. Ele sai da história tão raso quanto entrou, em mais uma oportunidade perdida.

Depois, as possibilidades que se abrem para o enredo são tão mais interessantes que o desfecho. Um crime misterioso ocorre na fronteira klingon. Há um klingon suspeito, representantes governamentais conduzindo uma investigação, um mistério que pode até mesmo levar a um conflito entre a Federação e o Império. Um exemplo do que uma premissa dessas pode render é “The Mind’s Eye”, da quarta temporada, que curiosamente também tem como principal foco Geordi La Forge.

Em compensação, o que ganhamos aqui? Um legítimo desfecho no formato “monstro da semana”, com direito a inúmeras forçadas de barra. Não bastasse a solução ser horrível, ainda fica o vislumbre de que poderia ter sido infinitamente melhor, caso os produtores tivessem a coragem de abandonar a premissa inicial (um serial killer metamorfo invade a Enterprise), que por sinal é uma das mais batidas da história de Star Trek e da ficção científica em geral.

Além do problema inerente à premissa e, especialmente, ao seu desfecho, ainda há uma situação grave a ser resolvida: é muito tempo para pouca história. Infelizmente, essa é mais uma coisa que não é trabalhada pelos roteiristas, deixando para a audiência um episódio que, além de batido, é chato e arrastado. Para exemplificar a situação, basta ver quanto tempo levou para que Crusher descobrisse que há alguma espécie de criatura metamórfica envolvida no crime, algo que ela faz de forma absolutamente acidental depois da metade do episódio.

De Geordi, tudo que aprendemos é que o sujeito é mais carente do que seria considerado saudável. Em meio a uma investigação criminal (aliás, por que foi ele a analisar os diários da tenente Uhnari, em vez de Worf, o chefe de segurança?), o engenheiro conseguiu ficar envolvido por Aquiel antes mesmo de ela dar o ar da graça na Enterprise (quando ela aparece, já está claro que Geordi está balançado). Essa característica do engenheiro já havia sido enfatizada em vários outros episódios da série (“Booby Trap”, do terceiro ano, é o que primeiro vem à mente), de forma até mais interessante, de modo que não há nenhum ganho real aqui.

Ao contrário, a repetição da mesma história só faz com que vejamos o engenheiro como um dos mais bidimensionais personagens da série. Não fosse pelo talento e pela simpatia de LeVar Burton, La Forge poderia acabar entre os personagens menos populares da franquia.

Do ponto de vista técnico, o episódio é competente. A direção não afeta negativamente o segmento, que é arrastado em razão do roteiro e da falta de conteúdo. Os efeitos especiais também são bem satisfatórios, tanto com as múltiplas tomadas espaciais da Enterprise, da estação da Federação e da nave klingon, como com a representação da criatura coalescente. Mas não há nada que realmente impressione.

No fim das contas, resta muito pouco pelo qual alguém possa querer rever este episódio, ou ainda refletir sobre sua importância na série. “Aquiel” foi mesmo feito para ser esquecido.

Avaliação

Citações

“I think you’ve let your personal feelings cloud your judgment.”
“I’m not the one making judgments.”
(Acho que você deixou seus sentimentos pessoais nublarem seu julgamento.)
(Não sou eu quem está fazendo julgamentos.)
Will Riker e Geordi La Forge

Trivia

  • A história foi gestada como outra tentativa de dar a La Forge um romance recorrente. Jeri Taytor relembrou: “Estávamos procurando uma nova pegada para colocar uma história de amor. Uma história de amor direta não parecia boa o suficiente.”
  • Por sugestão de Michael Piller, o romance foi atrelado a uma mistério, inspirado pelo filme Laura, de 1944, em que um detetive investiga o assassinato da personagem título e se apaixona por ela, só para descobrir que ela está viva e pode ela mesma ser uma assassina.
  • Com a saída de Colm Meaney (O’Brien) e Rosalind Chao (Keiko) da série, para Deep Space Nine, A Nova Geração perdeu seu único casal. A ideia por trás deste episódio era mostrar que casamentos e relações sérias ainda eram comuns no século 24. Como disse Taylor: “Nós agora retratamos o século 24 como sendo cheio de gente solteira. […] Parece que esse não é o comentário que deveríamos estar fazendo.” Com efeito, na temporada seguinte, a enfermeira Alyssa Ogawa e seu marido, Andrew Powell, começaram uma nova família, explorando essa ideia.
  • Brannon Braga, Ronald D. Moore e Taylor passaram dois dias “quebrando” a história. Braga relembra essa como uma “experiência torturante”.
  • Na premissa inicial, Aquiel teria sido a assassina, mas a equipe achou que ficaria muito parecido com o filme Instinto Selvagem. Passou-se então a considerar a possibilidade de atribuir a culpa a Keith Rocha ou a Morag, mas foram tidos como óbvios demais. Segundo Moore, “em algum ponto, finalmente dissemos ‘Por que não o cachorro?’.” Ele sempre esteve no roteiro e era para ter ficado com Geordi.
  • Versões iniciais do roteiro tinham mais detalhes da história familiar de La Forge, mas eles foram derrubados por arrastarem demais a trama.
  • A cachorra Maura foi vivida por Friday, uma terrier mix. Ela já havia atuado na novela General Hospital.
  • Renée Jones, a Aquiel, embora seja relativamente jovem, é veterana de séries de TV, tendo participado como convidada em episódios de Anjos da Lei, O Rei do Pedaço, A. Law, Carro Comando e a novela Days of our Lives. No cinema seu filme de maior sucesso foi Sexta-Feira 13 Parte VI, em que interpretou Sissy Aker, uma das vítimas do assassino Jason Voorhees.
  • Wayne Grace, o governador Torak, também participou de um episódio da cinessérie Sexta-Feira 13, mas na parte IV. Além disso ele pode ser visto em episódios da seguintes séries: Kojak, Mulher-Maravilha, Starman, Contos da Cripta, Arquivo-X, Time Trax, Frasier e Seinfeld. Grace ainda fez um cardassiano em “Wrongs Darker than Death or Night”, da sexta temporada de Deep Space Nine.
  • O visual da criatura coalescente desapontou a equipe. Ronald B. Moore, supervisor de efeitos visuais, disse que o efeito foi subcontratado e entregue sem tempo suficiente para mexidas capazes de adicionar textura e movimento, requeridos para torná-la mais interessante.
  • É comentado aqui que não há ataque klingon à Federação em “sete anos”, ou seja, desde 2362. Ronald D. Moore adicionou isso ao episódio para mostrar que a situação ainda era tensa na aliança Federação-Klingon.
  • O episódio desapontou muitos dos envolvidos na produção, que o consideraram o mais fraco da boa sexta temporada. Jeri Taylor não gostou da atuação de Renée Jones e julgou que ela não tinha química com Levar Burton. Já Ronald D. Moore citou que, se pudesse fazer algo diferente durante seu tempo com Star Trek, não teria escrito “Aquiel”, embora tenha gostado da subtrama klingon incluída nele. Brannon Braga ficou no meio do caminho. “Eu achei que seria terrível, mas quando me sentei e o assisti eu meio que gostei do mistério.”

Ficha Técnica

História de Jeri Taylor
Roteiro de Brannon Braga & Ronald D. Moore
Dirigido por Cliff Bole

Exibido em 1º de fevereiro de 1993

Título em português: “Aquiel”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Renée Jones como Aquiel Uhnari
Wayne Grace como Torak
Reg E. Cathey como Morag
Majel Barrett como voz do computador

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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