TNG 6×16: Birthright, Part I

Data e Worf procuram seus pais, mas o klingon entra num ‘mato sem cachorro’

Sinopse

Data estelar: 46578.4

A Enterprise está atracada à Estação Espacial 9, acompanhando os reparos de instalações bajorianas danificadas durante a ocupação cardassiana. Worf, em uma refeição com Geordi na estação, é observado discretamente por um misterioso alienígena. Depois que Geordi parte, o alienígena, um yridiano chamado Jaglom Shrek, se aproxima. Ele afirma que o pai do klingon, Mogh, não morreu em Khitomer há 25 anos, como todos imaginavam. Shrek diz ao descrente Worf que Mogh foi levado pelos romulanos para um campo de prisioneiros distante após o massacre. Por um preço, diz Shrek, ele irá revelar o local. Furioso, Worf se recusa a acreditar nele, dizendo que um klingon preferiria morrer com honra a viver como um prisioneiro.

Enquanto isso, na engenharia da Enterprise, o doutor Julian Bashir, da Estação 9, Data e Geordi examinam um cilindro eletricamente carregado recentemente recuperado no Quadrante Gama. Conforme estão trabalhando, Bashir expressa uma fascinação incontida pelas operações do corpo androide de Data. As conexões de energia finais são feitas à câmara de dilítio, e Geordi tenta ligar o aparelho. Subitamente, o cilindro libera um tentáculo de energia que atira Data ao chão. Ele então se levanta, vendo-se em uma estranha e surreal versão de um dos corredores da Enterprise. Seguindo um som de batidas metálicas, Data entra em outro corredor para ver um ferreiro. A face é de um jovem dr. Noonian Soong, o criador de Data – o mais perto que ele chega de ter um pai.

Data busca o aconselhamento de Picard sobre sua visão, explicando algumas das interpretações que ele pôde derivar, baseadas em outras culturas. Picard encoraja o androide a explorar o que a imagem representa para ele pessoalmente. Data então retorna a seus aposentos e faz pinturas do que viu durante a experiência.

Enquanto isso, Worf, depois de ser convencido por Troi, decide checar a história de Shrek, obrigando-o a levá-lo ao setor Carraya. Descendo no planeta, onde o suposto campo de prisioneiros romulanos estaria localizado, ele faz a longa jornada pela floresta a fim de encontrar seu pai. Durante o percurso, encontra Ba’el, uma bela mulher klingon, tomando banho em um lago próximo. Ela fica chocada ao descobri-lo espiando entre os arbustos. Worf diz que está lá para resgatá-los, o que a confunde, porque ela se sente em casa. Então eles ouvem alguém se aproximando. Worf volta para a mata cerrada, pedindo a Ba’el que não conte a ninguém sobre ele. Um guarda romulano chega e a escolta para longe do lago.

Após pintar dezenas de quadros em uma tentativa fracassada de despertar sua visão, Data decide recriar o incidente que causou seu desligamento inicial. Geordi e Bashir relutantemente concordam em ajudá-lo, e Data volta a ver o dr. Soong em sua roupa de ferreiro, forjando uma asa de pássaro, que se transforma em um pássaro vivo após ser afundado em um balde de água. Desta vez, Soong fala com Data, dizendo estar orgulhoso do androide. Segundo ele, Data estava se tornando mais que uma máquina, e uma jornada maravilhosa estava se abrindo para ele. Após esse “sonho” ainda mais incomum, Data resolve se desligar periodicamente por um breve período de tempo, numa tentativa de “sonhar” mais.

Worf segue a mulher klingon e o guarda até o complexo romulano, onde ele vê um grupo de klingons, composto por jovens e idosos. Ele silenciosamente puxa um deles de lado, um senhor chamado L’Kor. O klingon diz a Worf que seu pai, Mogh, não estava lá, tendo morrido em Khitomer. Furioso por ver seus camaradas presos, Worf se oferece para ajudar a libertar os 73 klingons que estão lá. L’Kor lamentavelmente diz a Worf que ele não deveria ter vindo. Subitamente, três outros klingons veem Worf. Conforme dois deles o agarram e o derrubam, L’Kor revela que ninguém vai deixar o campo, nem mesmo Worf.

Continua…

Comentários

A primeira parte de “Birthright” é interessante, ainda que fundamentalmente desencontrada. Os efeitos maléficos desses problemas de concepção do episódio são mais pronunciados na segunda parte, mas a raiz estrutural já se observa de cara.

O episódio abre com uma premissa comum: dois personagens principais, Data e Worf, partem, independentemente, em busca de seu “pai”, mas acabam fracassando na busca. Em vez disso, descobrem algo sobre si mesmos que é totalmente novo e surpreendente. O arco de Data já é fechado na primeira parte; o de Worf só se resolve na continuação.

Não fosse mais nada, só isso já apresenta um problema sério na estrutura dramática do episódio. Dois enredos paralelos andando em ritmos diferentes e destruindo a eventual simetria entre os personagens que os roteiristas inicialmente pareciam querer introduzir.

O resultado final é que a busca de Data pelo significado de suas “visões”, por mais concluída que estivesse ao final de “Birthright, Part I”, ainda apresenta uma sensação de inacabada (isso pelo fato de, mesmo inconscientemente, a audiência estar conduzindo as histórias de Worf e de Data ao mesmo tempo em suas cabeças). Esse efeito mina totalmente o aspecto mais interessante do episódio – a capacidade do androide de “sonhar”.

Não que seja o caso de jogar toda a sequência no lixo: muito ao contrário, se há algo que sustenta a primeira parte do episódio, é o arco de Data. Tanto do ângulo conceitual (pode um androide sonhar?), como da perspectiva dramática (a jornada de um personagem rumo ao autoconhecimento), trata-se do ponto alto do segmento. Isso sem falar no melhor: a execução.

Os sonhos de Data são soberbamente retratados com o uso de um ângulo de câmera mais baixo e uma lente de campo mais amplo, além de uma condução fluida – uma grande jogada do diretor veterano Winrich Kolbe. Além disso, as imagens difundidas no sonho (o ferreiro, a asa que vira um pássaro e que voa para todos os lados, sem limitações) são bastante representativas do potencial que se abre para o androide: com o desenvolvimento de sua “imaginação”, Data agora está livre, assim como o pássaro, para voar para onde quiser. Seu criador, o dr. Noonian Soong, tal como um ferreiro, partiu de um material inerte e inorgânico e produziu uma forma de vida singular e capaz de alcançar voos cada vez maiores. As imagens ecoam de forma intensa toda a evolução de Data e servem muito bem à ideia geral do episódio, no que diz respeito ao androide.

Ainda se nada disso fosse interessante, só aquele voo de câmera panorâmico para fora da Enterprise e de volta, como se Data fosse um pássaro, já valeria o episódio – talvez a tomada de efeitos visuais mais bonita já feita da Enterprise-D. E a música, de Jay Chattaway, também é de tirar o fôlego. Se tivéssemos uma visão daquelas toda noite, também estaríamos ansiosos para repetir o fenômeno (como nosso amigo positrônico).

A presença de Julian Bashir nos experimentos de Data (e dos cenários de Deep Space Nine no episódio como um todo) trazem um toque especial à situação. O crossover feito entre as séries fica meio perdido pela falta de um enredo que o justifique, mas ainda assim é um interessante elemento que une mais fortemente o universo de Star Trek como um todo.

Agora, vamos às más notícias: o trabalho de Worf no episódio. A premissa até que começa interessante – um alienígena diz que o pai de Worf não morreu, mas foi capturado pelos romulanos e está atualmente em um campo de prisioneiros. O klingon parte à procura dele.

O grande problema com a “saga” de Worf é que ela é arrastada até dizer chega. Enquanto Data segue em sua busca dinâmica pela explicação de seus sonhos, com a estratégia das pinturas e a recriação do experimento original, Worf só amargura o dilema de acreditar ou não no alienígena e partir em busca de seu pai. Em tese, os personagens deveriam se ajudar na hora de resolver seus respectivos dilemas (como sugere o diálogo existente entre Worf e Data durante o episódio), mas nada disso acaba transparecendo de forma efetiva (mais um problema no suposto paralelismo dos enredos).

Para completar a catástrofe, o episódio termina numa espécie de anticlímax. O pai de Worf está de fato morto, como sempre pensamos. A jornada dele até aquele lugar foi inútil e em vão. Por mais que os roteiristas tentassem salvar a tensão do episódio estabelecendo que Worf será mantido cativo por seus colegas klingons, é inegável que uma história está terminando (a busca de Worf por seu pai) e outra está começando (a busca por um meio de sair dali). Até por isso o episódio é estranho, e sua conclusão já fica, desde já, prejudicada.

No fim das contas, “Birthright” é um episódio que não justifica de modo algum o fato de ser duplo. Por mais que a segunda parte pudesse ser interessante (mas não fique muito entusiasmado, porque ela não é), ainda assim não há sentido em criar uma história em dois episódios que rompe tanto com o senso de continuação entre eles. O único motivo pelo qual o episódio da semana que vem é um “Part II” é porque os produtores precisavam de um “Anteriormente, em Jornada nas Estrelas: A Nova Geração…” para explicar o que Worf estava fazendo naquele mundo alienígena com um monte de klingons e romulanos…

Avaliação

Citações

“Well, your creator went to a lot of trouble to make you seem human. I find that fascinating.”
(Bem, seu criador teve muito trabalho para fazer você parecer humano. Eu acho isso fascinante.)
Julian Bashir, para Data

Trivia

  • A trama A deste episódio foi derivada de duas premissas separadas. Uma, apresentada por George Brozak, envolvia klingons capturados orgulhosos demais para voltar para casa. A outra, de Daryl F. Mallett, Arthur Loy Holcomb e Barbara Wallace, envolvia a notícia de que o pai de Worf, Mogh, pudesse ainda estar vivo após o massacre de Khitomer.
  • Michael Piller sugeriu quebrar a história em duas partes, acreditando que havia muito a contar em um episódio só. Ele comentou: “Como essa era a temporada seis, a temporada de assumir riscos, de não ter medo de fazer coisas que Star Trek não havia feito antes, eu disse: ‘Por que não fazer outro duplo? Por que esperar o fim da temporada ou esperar um Spock? Se uma história justifica ser maior que uma hora, vamos fazê-la’. Eu havia ficado muito feliz com os resultados de ‘Chain of Command’ e disse a Rick [Berman] que deveríamos fazer e ele disse, tudo bem. Eu também senti, muito enganado, como depois ficou claro, que seríamos capazes de economizar dinheiro se expandiremos para duas horas usando os cenários duas vezes.”
  • Quando ficou decidido que seria um episódio duplo, a equipe de roteiristas encarou o desafio de achar uma trama B adequada, concentrando-se em Data. Jeri Taylor relembrou assim: “A coisa toda do Data nasceu de desespero, com a gente dizendo: ‘O que podemos fazer com Data? O que não fizemos com Data ainda?’.
  • Ronald D. Moore sugeriu que Data tivesse algum tipo de experiência religiosa. Taylor apontou: “Veio dos klingons terem um lado meio que místico, mítico, espiritual, e pensamos que o Data talvez pudesse ter um.” Brannon Braga, expandindo isso, considerou a ideia de Data ter uma experiência de quase-morte. Entretanto, como René Echevarria explicou, a ideia foi considerada muito parecida com “Tapestry”. Com isso, a equipe teve a ideia de Data sonhando.
  • Braga comentou o esforço de desenvolver as imagens dos sonhos. “Eu tentei realmente mergulhar nos arquétipos junguianos e em imagens de sonho que nunca haviam sido mostradas antes. De início Michael não achou a história do sonho de Data muito envolvente e ele tinha um par de ideias para consertá-la, especificamente mostrar uma parte do sonho no começo, o que eu não tinha feito. Suas sugestões foram muito boas e fizeram funcionar.”
  • O escritor gostou muito do processo. “Adoro que tive uma chance de experimentar com os sonhos de Data, e imagens de sonhos. Foi algo que eu queria fazer havia algum tempo. Há algumas imagens metafóricas adoráveis ali.”
  • Este é o único episódio em duas partes com uma trama secundária que termina na primeira parte (o programa de sonhos de Data). Muitos ficaram desapontados com a falta de uma continuação no episódio seguinte.
  • Braga criou o nome Jaglon Shrek a partir de Henry Jaglom, diretor de filmes independentes, e a velha palavra iídiche para “grito” (“shriek” em inglês). Nada a ver com o famoso ogro das animações da DreamWorks, que só apareceria muito tempo depois.
  • O diretor Winrich Kolbe se sentiu tolhido na criação das imagens surreais dos sonhos de Data. “Eu queria ir com tudo. Eu não via nada exceto tons de 2001. Mas ficou decidido pelos produtores que não faríamos superexposição ou subexposição [do filme]. Se fizermos algo, eles disseram, que seja subexposição, mas não é isso que eu tinha em mente. Eu queria estourar a luz e dar aquele visual diferente, mas algumas pessoas acharam que isso havia sido feito muitas vezes e que não ficaria bom. Então decidi que não vou mais falar sobre minhas ideias criativas, vou apenas fazer o que eu quero fazer.”
  • Segundo o compositor Jay Chattaway, a sequência de sonho de Data envolveu o primeiro uso pela produção de um instrumento de sopro eletrônico.
  • As pinturas de Data foram colagens geradas em computador fornecidas pelos membros do departamento de arte Alan Kobayashi, Jim Magdaleno e Michael Okuda. A pintura do corredor foi criada por Okuda, que usou Photoshop para estender digitalmente uma fotografia para ser maior que o cenário real.
  • Na versão original do episódio, depois que Data vira um pássaro em sua segunda visão, a maquiadora June Abston Haymor pode ser vista sentada no corredor lateral, atrás do dr. Soong. Mas não procure mais por ela: na versão remasterizada em alta definição, ela foi digitalmente apagada. (Ainda resta uma aparição-relâmpago na primeira visão, abruptamente interrompida pelo despertar de Data.)
  • Originalmente, quem faria a ponta representando o elenco de Deep Space Nine seria Terry Farrell (Jadzia Dax), mas ela estava ocupada filmando “Move Along Home”, e Siddig El Fadil (Julian Bashir) foi escalado em seu lugar. Farrell comentou: “Eu chorei. Eu deveria ter caído da pedra para que eu pudesse ir lá em vez de Sid, porque quando estávamos filmando ‘Move Along Home’ seu personagem desapareceu, e eu tinha de atuar até o final dele com Nana [Visitor] e Avery [Brooks], e acabamos ficando juntos.”
  • James Cromwell, que faz Jaglom Shrek, já havia aparecido antes em A Nova Geração como o primeiro-ministro Nayrok, em “The Hunted”. Mas seu papel mais famoso em Star Trek é como Zefram Cochrane, no filme Jornada nas Estrelas: Primeiro Contato.
  • Richard Herd, que aqui faz o klingon L’Kor, ficaria mais famoso entre os fãs como o almirante Owen Paris, pai de Tom Paris, na sexta e sétima temporadas de Voyager.
  • Seguindo a numeração das datas estelares, este episódio se passa entre “Q-Less” e “The Storyteller”, ambos de Deep Space Nine.
  • Esta é a primeira aparição da Estação Espacial 9 fora de Deep Space Nine. A segunda seria no piloto de Voyager, “Caretaker”, e a terceira em “Hear All, Trust Nothing”, de Lower Decks.
  • A visão de um corvo associada a Data voltaria a aparecer em “The Bounty”, da terceira temporada de Picard.
  • Rick Berman gostou bastante do episódio: “Foi um dos meus favoritos. Eu adorei cada elemento dele e meu filho Tommy também… A história B e a história A tinham igual importância para mim, e tudo funcionou.”
  • René Echevarria comentou que o segmento era incomum, com duas histórias não conectadas, exceto pelo tema, e elogiou a cena em que Worf e Data conversam no bar panorâmico. “Foi um episódio muito maravilhoso com tudo. Muito bem dirigido, o sonho foi espetacular.”
  • Brent Spiner também gostou. “Foi o melhor conceito para o personagem em um longo tempo. Ele expandiu uma ideia realmente bem. Achei a ideia de Data ter um programa de sonhos inspirada; e realmente excelente escrita.”

Ficha Técnica

Escrito por Brannon Braga
Dirigido por Winrich Kolbe

Exibido em 22 de fevereiro de 1993

Título em português: “Direito de Nascença, Parte I”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Siddig El Fadil como Julian Bashir
James Cromwell como Jaglom Shrek
Cristine Rose como Gi’ral
Jennifer Gatti como Ba’el
Richard Herd como L’Kor

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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