TNG 6×17: Birthright, Part II

Worf tem 45 minutos só para ele, mas mal precisava de vinte, com trama repetitiva

Sinopse

Data estelar: 46579.2

Ainda preso no campo de concentração romulano habitado por klingons e tendo descoberto que seu pai está realmente morto, Worf pergunta a L’Kor e Gi’ral, os klingons que lideram o grupo, como conseguem viver pacificamente como prisioneiros. Eles explicam que, depois que foram capturados, os romulanos os impediram de cometer suicídio. Algum tempo depois, os captores viram que seus prisioneiros de nada valiam e decidiram libertá-los. Entretanto, para não desonrar suas famílias, os klingons optaram por permanecer isolados, alimentando em seus entes queridos a ideia de que eles haviam morrido heroicamente.

Mais tarde, Worf encontra Tokath, o líder romulano, e é incapaz de entender por que ele forneceu esse lar pacífico para seus inimigos jurados. Worf descobre que não apenas os romulanos vivem com os klingons em harmonia ali, mas que Tokath chegou a se casar com uma klingon.

Recusando-se a aceitar o modo de vida daquelas pessoas, Worf tenta fugir do complexo, mas é impedido. Ele fica mais surpreso ainda ao descobrir que quem o impediu de fugir foi Toq – um klingon! Tokath decide então injetar em Worf um transponder que permita que eles monitorem sua posição o tempo todo e designa Toq para vigiá-lo.

Frustrado, Worf controla sua tensão ao executar um exercício antigo de arte marcial klingon, atraindo a atenção de Toq, Ba’el e dos demais representantes da geração mais nova de klingons daquele pequeno povoado. Worf vê a oportunidade de despertar nos klingons um interesse por sua herança e cultura. Ele assume o papel de professor, contando as lendas e costumes com os quais cresceu. Conforme ele o faz, a atração física para com Ba’el fica mais forte. A mãe dela, Gi’ral, logo percebe e tenta desencorajar o relacionamento. Entretanto, justo quando ambos estão se entregando ao que sentiam, Worf vê que ela tem orelhas pontudas – ela é meio romulana. Isso faz com que Worf a rejeite, causando mal-estar entre os dois.

Enquanto isso, ele segue ensinando as tradições klingons. Ele convida Toq para uma caçada. Após alguma argumentação, ele convence as autoridades a permitir que os dois saiam brevemente do complexo. Durante o jantar, Ba’el também ecoa os efeitos das ideias de Worf, ao perguntar a Tokath se ele autorizaria que ela deixasse o planeta, caso desejasse.

A tensão está no auge quando Toq entra na sala, carregando em triunfo um animal que matou durante a caçada. Ele agora parece um legítimo guerreiro klingon e evoca todos a cantarem com ele uma velha canção de batalha. Enquanto todos os klingons cantam, Tokath é puro descontentamento. Ele volta a confrontar Worf, argumentando que a perda das raízes é um preço pequeno a se pagar pela paz. Mas Worf discorda, e o romulano dá a ele um ultimato. Ou ele aceita a vida naquela sociedade pacífica, ou será condenado à morte. Obviamente, Worf escolhe a segunda opção. Ba’el oferece a ele ajuda para fugir, mas Worf se recusa, determinado a enfrentar seu destino com honra.

Quando a execução está para acontecer, Toq se posta entre Worf e os executores romulanos. Um por um, os demais klingons tomam seu lugar à frente de Worf e Toq. Quando a própria filha de Tokath, Ba’el, se junta ao grupo, Gi’ral convence o romulano a desistir da execução. Worf promete nunca revelar a localização daquele complexo e levar com ele de volta à Enterprise todos os klingons que queiram deixar aquele lugar. Ba’el, sabendo que não seria aceita entre os klingons por seu sangue romulano, permanece no planeta com seus pais.

Ao voltar à Enterprise, Worf não revela a Picard a existência do campo, mas diz que os klingons foram resgatados após um acidente com uma nave. O capitão entende que não é verdade, mas aceita manter o segredo de Worf.

Comentários

Se a primeira parte de “Birthright” só foi de fato especial em razão da subtrama envolvendo Data e sua nova capacidade de sonhar, nada restou para alimentar a conclusão do episódio duplo. Não há qualquer menção aos eventos relacionados ao androide, deixando a estranha sensação de que aquela história não tinha nada que estar alinhada com a trama de Worf no acampamento klingon/romulano.

O ponto fraco do segmento de abertura era justamente a trama de Worf. Ela perde totalmente o sentido a partir do momento em que o klingon descobre que seu pai está mesmo morto, iniciando uma nova história para a segunda parte. Essa descontinuidade é negativa, ao subverter expectativas.

Ademais, a própria narrativa envolvendo Worf e seus colegas klingons é bem sonolenta. A discussão de princípios que envolve o episódio é até interessante, mas fica ofuscada pelo fato de que Worf não teria outra opção: independentemente do que ele pensava a respeito da “solução” de Tokath para estabelecer a convivência pacífica entre klingons e romulanos, ele precisaria provocar os klingons para que procurassem suas raízes, de modo que ele mesmo pudesse escapar dali.

A contraposição de origens e sua perda em nome da paz acaba perdida na visão imutável de Worf. O klingon em nenhum momento para e pensa sobre o que Tokath conseguiu promover e sobre a possibilidade de isso ser de fato positivo. Perde-se uma chance de desenvolver um pouco mais o personagem, fazendo-o reagir sensivelmente àquela situação.

O mais perto que chegamos disso é quando Worf leva um tapa na cara de seu próprio preconceito, ao descobrir que Ba’el é meio romulana. Mas até isso acaba perdido em um roteiro que aposta totalmente na inflexibilidade e teimosia do klingon da Enterprise. Em outros segmentos, como em “The Enemy”, esse valor moral diferenciado de Worf jogou tremendamente a favor de seu personagem. Mas aqui, dado que estávamos falando só de klingons, faltou um pouco de trabalho.

Não que Worf devesse realmente mudar de opinião e apoiar a iniciativa de Tokath. Mas ele deveria ao menos mostrar alguma hesitação, alguma dúvida sobre se estava fazendo o certo ou o errado. Com a ausência de dilema moral na cabeça de Worf, vão-se todas as chances de estabelecer um bom drama para a história.

Para completar a desgraça, o enredo é por demais vagaroso e depende muito do próprio Worf para sobreviver. Deve ter sido a glória (e ao mesmo tempo o esgotamento) para Michael Dorn – ele aparece em pelo menos 90% das cenas do episódio. Sem dúvida, um tour de force. Mas infelizmente o roteiro não conseguiu traduzir em evolução para o personagem todo o tempo de tela que foi dado a ele.

Estando o problema na concepção original da história e em seu roteiro, não havia nada que os atores convidados pudessem fazer para ajudar, embora todos tenham feito um bom trabalho em seus respectivos papéis. No fundo, o episódio todo é um enorme marasmo. Não há muitas sequências ou momentos memoráveis. Talvez a melhor cena seja a dos klingons cantando, após Toq voltar da caçada.

Tecnicamente, o episódio até é bom, com o trabalho de cenografia qualificado para o complexo romulano/klingon (embora aparentando ser pequeno demais para abrigar todos os seus moradores), os belos aparatos klingons enferrujados e o trabalho discreto e competente do diretor Dan Curry.

Aliás, discrição seria um bom modo de definir “Birthright” – um segmento esquecível, com sérios problemas de estruturação narrativa e uma grande oportunidade perdida de dar mais substância a Worf.

Avaliação

Citações

“A place can be safe and still be a prison.”
(Um lugar pode ser seguro e ainda ser uma prisão.)
Worf

Trivia

  • René Echevarria comentou sobre o desenvolvimento do episódio: “Foi muito pessoal, de algum modo. Meus pais são imigrantes de Cuba, e todas as questões que apareceram no episódio – sobre assimilação e como você mantém sua herança – são algo com que eu fui criado.”
  • Michael Piller viu esse episódio como uma chance para o personagem de Worf reafirmar sua natureza klingon. “Eu tinha acabado de ver Malcolm X, e eu disse que Worf é o cara que fala ‘Você é negro e deveria ser orgulhoso de ser negro’. Foi daí que eu comecei com o ponto de vista do personagem, mas quando você mergulha nisso e percebe que há algo de bom nessa sociedade e que ele vai perder essa mulher pela qual está apaixonado porque não consegue se livrar do próprio preconceito, é um preço que ele tem de pagar por seu personagem e seu código… acho que é maravilhoso quando pessoas agem de formas heroicas que se viram contra elas.”
  • O episódio foi o primeiro filmado em 1993, e as gravações se deram entre 6 e 15 de janeiro, nos galpões 8, 9 e 16 da Paramount. Durante a pausa de fim de ano, as plantas e árvores vivas nos cenários foram acidentalmente deixadas no escuro e tiveram de ser substituídas para a filmagem da segunda parte.
  • Embora James Cromwell (Jaglom Shrek) apareça neste episódio, ele não tem falas. Isso ocorreu, em parte, porque Cromwell quebrou a perna no período entre a filmagem dos dois episódios, o que levou ao corte da maioria das suas falas. Uma cena em que Shrek confessa já ter sido prisioneiro ele mesmo foi perdida, bem como um em que ele teria sido assassinado por um dos filhos adultos dos klingons que estava determinado a não ouvir a verdade sobre seu pai. “Uma ideia era que Worf visse que ele tinha alguma tatuagem, tendo sido prisioneiro, e Shrek contaria sobre ser prisioneiro e que seu governo o deixou apodrecer e foi preciso que a família dele viesse e arriscasse a vida para libertá-lo”, contou Echevarria. “Ele diz que sabe como governos podem ser e não confia neles. ‘Você acha que faço isso por dinheiro, mas faço na verdade porque sei como é’, Shrek diz a Worf.”
  • Por conta do tempo, várias outras cenas foram cortadas, como uma que aprofundaria a relação entre Worf e Ba’el, e outra com uma confrontação entre Worf e Gi’ral, em que ela defende seu casamento com um romulano.
  • Este foi o primeiro e único episódio de Star Trek dirigido por Dan Curry, o supervisor de efeitos visuais – e criador do bat’leth e das artes marciais klingons, entre outros elementos da saga. Curry, por sinal, foi a pessoa por trás das câmeras que atirou a lança gin’tak em lugar de Michael Dorn.
  • As tomadas externas da fortaleza romulana foram criadas por Curry, que inseriu tomadas de uma miniatura nas fotos de floresta que ele fez no Laos [ou na Tailândia, segundo Michael Okuda] na década de 1960.
  • Foi a primeira maquete do tipo construída na série desde a usada para Mordan IV, de “Too Short a Season”, da primeira temporada.
  • A tomada completa seria reutilizada como uma vila bajoriana em “The Storyteller” e, ligeiramente modificada, como o assentamento de “Meridian”, ambos episódios de Deep Space Nine.
  • Fora a recapitulação da primeira parte, Marina Sirtis (Deanna Troi) não aparece neste episódio. Ela até tinha uma breve cena na ponte, mas foi cortada. Brent Spiner (Data) aparece brevemente, mas sem falas, depois de ter sido essencial na primeira parte do episódio duplo.
  • No áudio original, em inglês, é possível ouvir um erro de Patrick Stewart ao gravar o diário do capitão. Ele diz que a data estelar é 46759.2 em vez da correta, 46579.2 (presente no roteiro e consistente com o episódio anterior).
  • Um mapa estelar que aparece durante o episódio mostra que uma das estrelas do setor em que está a Enterprise tem o nome de “Echevarria”, sobrenome do autor.
  • A música do episódio foi composta por Jay Chattaway, que usou vários instrumentos que Dan Curry obteve no Laos. Já a canção klingon foi composta por Chattaway, com letra de Brannon Braga.
  • Michael Dorn, como seria de se esperar, gostou do episódio. “Achei ótimo. Também mostrou que esse é um poço sem fundo. Nunca vai secar. A história klingon vai continuar e continuar.” Ele também disse: “Estou feliz que Dan [Curry] o dirigiu porque sempre gostei dele. Ele é um cara muito interessante e muito paciente. Temos bom entrosamento e foi maravilhoso trabalhar com ele.”
  • René Echevarria reagiu às críticas de fãs de que Worf soou como um fascista racista. “Seus motivos são de fato racistas, quando ele está lidando com os romulanos. Mas suas ações são diferentes; tudo que ele disse foi que essas pessoas deveriam saber a verdade e ter liberdade para sair. Ele nunca advogou violência e derramamento de sangue.”
  • Michael Piller gostou do episódio no papel, mas não tanto na tela. “É sempre interessante quando podemos explorar preconceitos. Eu achei que o roteiro se saiu muito bem, o episódio apenas não teve exatamente a força que eu esperava que tivesse. Não sei realmente por quê.”

Ficha Técnica

Escrito por René Echevarria
Dirigido por Dan Curry

Exibido em 1º de março de 1993

Título em português: “Direito de Nascença, Parte II”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Cristine Rose como Gi’ral
James Cromwell
como Jaglom Shrek
Sterling Macer, Jr. como Toq
Alan Scarfe como Tokath
Jennifer Gatti como Ba’el
Richard Herd como L’Kor

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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