TNG 6×18: Starship Mine

O intelectual Picard banca o herói de ação para defender sua nave

Sinopse

Data estelar: 46682.4

A Enterprise, atracada à estação orbital Remmler, é evacuada para a realização de uma limpeza de bárions, um procedimento que varre a nave com raios mortais para eliminar partículas acumuladas que foram coletadas pela nave durante os anos de voo em dobra espacial. La Forge informa a Picard que, porque os níveis de partículas da nave estão tão altos, uma varredura ainda mais intensa que o normal pode ser necessária para eliminar a radiação. Para isso, La Forge encomendou desviadores de campo extras para a ponte e o núcleo do computador, a fim de proteger essas áreas mais sensíveis.

Os oficiais seniores, à exceção de Worf, que conseguiu licença para não comparecer, vão à recepção promovida na base arkariana no planeta abaixo, promovida pelo comandante Hutchinson. Descobrindo que era possível cavalgar em Arkaria, Picard encontra a perfeita desculpa para deixar o evento, sob o pretexto de ir buscar sua sela na nave. Apenas minutos antes do início da varredura, ele volta à Enterprise.

O capitão já está correndo para deixar a nave quando nota que um dos técnicos que veio a bordo para os últimos preparativos antes da varredura ainda está lá, trabalhando em um painel no corredor. Desconfiado da presença de Picard, o técnico se prepara para atacar, mas o capitão antecipa seu movimento e o rende inconsciente. Picard corre até a sala de transporte, mas é tarde demais: a energia da nave é cortada e ele não consegue se teleportar para o planeta.

Picard volta a encontrar o técnico que havia derrubado e o arrasta até a enfermaria. Lá ele o desperta, e o capitão ordena que ele revele seu propósito real a bordo. O homem se recusa a falar, e Picard decide novamente deixá-lo inconsciente e roubar seu comunicador. Mas acaba sendo capturado na sequência, por outra suposta técnica de sistemas, Kiros.

Enquanto isso, na recepção, o administrador da estação, o sr. Orton, acaba tomando todos como reféns. Antes que alguém pudesse reagir, ele atira com um feiser em Geordi, que fica ferido, e no comandante Hutchinson, que acaba morto. Os oficiais são mantidos presos, mas não há exigências por parte dos sequestradores. Os oficiais começam a planejar um meio de escapar, usando o visor de Geordi para emitir um pulso hipersônico, que deixaria todos menos Data inconscientes.

Picard é levado à engenharia, onde os invasores estão trabalhando. Um deles, Satler, é posto para vigiá-lo, mas não presta atenção suficiente. O capitão consegue sabotar a engenharia e causar uma sobrecarga, além de fundir os desviadores de campo que protegeriam os técnicos da varredura. Enquanto a engenharia é evacuada, Picard foge por um tubo Jefferies. Ele acaba sendo seguido por Satler, mas o técnico é pego pela varredura e morre.

Picard escapa e contata Kelsey, a líder do grupo, avisando sobre os perigos de fazer o que eles planejam – transportar a resina de trilítio da engenharia ao bar panorâmico, onde pretendem escapar da varredura pelo maior tempo possível. Kelsey, despreocupada, faz com que seu assistente, Neil, modifique o contêiner para fazer a viagem.

Enquanto isso, Picard se arma com um arco e flechas e vai à enfermaria preparar as setas com um anestésico. Ele também encontra duas substâncias que pode combinar para produzir pequenas explosões. O capitão acerta um dos ladrões, Pomet, com uma flecha em sua perna, mas é capturado novamente por Kiros. Kelsey, já quase no bar panorâmico, mata Neil, por ele já não ser mais útil a ela. Encontrando Kiros, as duas levam Picard com elas para o bar panorâmico.

Na base de Arkaria, Riker ordena que o plano siga em frente, e logo todos, à exceção de Data, estão inconscientes. Enquanto isso, Picard revela sua verdadeira identidade e se oferece como refém em troca da resina de trilítio, mas Kelsey recusa a oferta, porque pretende vender a substância em vez de usá-la ela mesma para fins terroristas. Andando pelo bar panorâmico, Kiros pisa em duas faixas com os explosivos de Picard, criando uma distração que o ajuda a desabilitá-la. Picard e Kelsey lutam pela resina de trilítio.

Durante o combate, a varredura já surge pela parede do bar panorâmico – o tempo está acabando. Kelsey pega o contêiner e é transportada para uma nave à espera, deixando Picard encontrar seu destino na Enterprise. Desesperado, o capitão tenta contatar a base, pedindo que alguém desative a varredura de bárions. Com poucos segundos, o processo é interrompido. Data, que recuperou controle da base de Arkaria, respondeu ao chamado do capitão. Logo depois, a nave de Kelsey explode, uma vez que Picard conseguiu arrancar o pino de segurança do contêiner de trilítio durante a luta.

Comentários

“Starship Mine” é um bem-vindo segmento de ação voltado para o capitão Picard. Parece uma ideia interessante deixá-lo como o último homem a bordo, tendo de lidar com invasores criminosos, e o conceito é executado a contento.

É essencialmente uma aventura. Não há grandes reflexões, algo para discutir após o episódio ou mesmo algum reflexo na continuidade da série. Trata-se apenas de uma oportunidade para o capitão mostrar o quanto é capaz de defender sua nave sozinho, sem toda a estrutura tecnológica que a envolve. Nesse sentido, a varredura de bárions se torna um elemento fundamental, não só para esvaziar a nave, mas também para adicionar o risco e o fator “corrida contra o tempo” ao episódio.

É uma virtude do segmento obter todas essas implicações a partir de uma premissa simples e razoável – a manutenção exigida pela Enterprise. Algumas coisas, entretanto, incomodam. Numa nave daquele tamanho, e com o conhecimento que Picard deveria ter, ser capturado duas vezes é um pouco demais. Além disso, se fosse possível contatar a estação (como ele faz ao final do episódio), ele deveria ter tentado fazer isso antes, logo que a crise se instalou (tudo bem, de nada teria resolvido, uma vez que a estação na superfície estaria sob comando dos terroristas, mas ele deveria ter tentado).

De resto, é legal ver o capitão correndo em trajes civis e arquitetando um plano elaborado para conter os criminosos. A antecipação da ação no bar panorâmico com a criação e a montagem dos explosivos (que lembraram um pouco a estratégia de Kirk no clássico “Arena”, da Série Clássica, em que o capitão produz pólvora a partir de minérios distribuídos na árida superfície de um planeta) e o uso de um arco e flecha convencional para imobilizar os inimigos foram pontos bem utilizados.

Sendo um segmento de ação, apesar de ter aparecido um bocado durante o episódio, Patrick Stewart não precisou fazer mais que o feijão com arroz em sua interpretação. Quem se destaca pela boa atuação é Brent Spiner. As cenas em que Data tenta emular o comportamento de Hutchinson para aprender as técnicas de produzir “conversa fiada” são engraçadíssimas, embora a piada seja utilizada um pouco mais do que deveria.

Aliás, todos os trechos que envolvem a recepção de Hutchinson e a posterior situação com os reféns são lentos demais, tendo mais espaço do que deveriam. É inconcebível que a tripulação sênior da Enterprise, que conta inclusive com um androide superforte, seja mantida refém de alienígenas tão descuidados como aqueles dois arkarianos, que deixavam qualquer um de seus cativos se aproximar a qualquer momento.

A “distração” de Riker lembrou um pouco os métodos de “negociação” de Kirk, inclusive pecando pela mesma típica conveniência de roteiro. Não há qualquer razão para que o arkariano aceitasse ouvir o que Riker tinha a dizer. Se a história fosse um pouco mais realista (ou o criminoso mais esperto), Riker nem teria conseguido chegar perto o suficiente para esmurrar o alienígena.

Esses exageros de tempo nessa subtrama provavelmente são decorrentes da necessidade de preencher os 45 minutos do episódio sem entendiar o telespectador com inúmeras cenas de “Picard e seus inimigos engatinhando dentro de tubos Jefferies”. Mas, sem dúvida, alguma coisa poderia ser feita para melhorar o enredo na base arkariana sem simplesmente esticar as cenas. Worf, por exemplo, acabou dispensado da recepção, mas poderia aparecer depois, por alguma razão, e salvar o dia. Em vez disso, ele simplesmente desaparece do episódio. Melhor uso poderia ter sido feito dele e de sua ausência durante a recepção.

Apesar desses problemas, “Starship Mine” é um episódio divertido e que facilmente convence o telespectador a ir até o final. Se não pelo enredo em si, pelas bonitas tomadas da Enterprise sofrendo a varredura de bárions. E não é sempre que temos Patrick Stewart e seu Picard dando uma de Bruce Willis…

Avaliação

Citações

“You’re Starfleet. You won’t kill me.”
“You sure? (stuns Devor) It seems you’re right.”
(Você é Frota Estelar. Não vai me matar.)
(Tem certeza? (Picard tonteia Devor) Parece que você tem razão.)
Devor e Picard

Trivia

  • Em 2011, o escritor Morgan Gendel disse em uma convenção que sua proposta para o episódio era “Duro de Matar na Enterprise”. Em outras entrevistas, contudo, ele minimizou essa referência. “Não vou falar dele como Duro de Matar. Esse é trabalho de outra pessoa. É uma ideia que vi incontáveis vezes. O que eu gostei foi do elemento que bolei do capitão afundando com a nave, que foi rejeitada como uma noção no século 24. Essa era uma linha forte para mim – um capitão sozinho com sua nave. Minha teoria é que o que Picard mais amava era a Enterprise. Eu não acho que a equipe concordava comigo. Acho que eles pensavam que era muito um conceito do século 18, ou 20, ou de Kirk.”
  • A história inicialmente era chamada de “Revolution”, em referência à música dos Beatles (e seguindo uma tradição, já que seu episódio anterior ganhou o título de “The Inner Light”, também saído da discografia da banda). Mas os produtores descartaram o nome, por ser muito parecido com “Evolution”, da terceira temporada.
  • O episódio recebeu uma reescrita não creditada de Ronald D. Moore. “A marca de Michael no comando da série era [trabalho com] personagens, mas uma vez que fizéssemos isso, há também espaço para fazer coisas que são apenas correr e pular. Acho que há um reconhecimento de que às vezes tudo bem fazer um episódio de ação e não ter de tentar impor uma peça de personagem em cima disso. Foi divertido fazer uma história de ação simples e fazer a comédia no planeta. O que você rapidamente confronta são questões financeiras, como é usual com tudo mais na série, então eu tive de conter o correr e pular e então tínhamos de lidar com o seguinte: isso é brutal demais, muitas mortes? Eu sempre sou o cara que mata gente nos roteiros em todo canto, e as pessoas estão sempre pedindo para recuar – não é Star Trek, e eu estou sempre, ‘mate mais, mate mais!’.”
  • O diretor Cliff Bole lembra que o episódio sofreu uma grande reestruturação no último minuto. Michael Piller e Rick Berman não gostaram de como estava saindo e pediram uma reescrita total. As páginas estavam vindo cerca de dez por dia enquanto eu estava filmando.”
  • A conversa fiada de fundo na recepção foi roteirizada, a pedido de Cliff Bole. Brannon Braga e René Echevarria se encarregaram disso, e os diálogos foram gravados, mas a maior parte dele não foi incorporada no episódio final.
  • Bole também lembrou que o episódio foi difícil de filmar por conta da iluminação, diferenciada em razão da nave desligada. Para tanto, o diretor de fotografia Jonathan West bolou novas formas de iluminar o cenário, abandonando as configurações deixadas por seu predecessor, Marvin V. Rush.
  • O diretor achou que o episódio sofreu um pouco com a redução da agenda de filmagens para sete dias. “O episódio ainda parou em pé, mas eu poderia ter adicionado um bocado a mais, e o cinegrafista também.”
  • O orçamento também prejudicou as cenas da recepção, sem a possibilidade de incluir figurantes.
  • Depois que leva um tiro, Hutchinson não é mais mencionado no episódio. Mas diálogos adicionais presentes no roteiro indicam que ele morreu.
  • Patrick Stewart fez várias das cenas de ação de Picard no episódio e gostou muito de atuar nele. “Eu curti o episódio enormemente. Está na minha meia dúzia de episódios favoritos. Foi maravilhoso estar fora do uniforme um episódio inteiro e estar na nave sem nenhum dos outros tripulantes chatos”, brincou.
  • O papel de Kelsey era para ter ido para Robin Curtis (Saavik em Jornada nas Estrelas III: À Procura de Spock), mas ela teve de recusar por conta de outro trabalho que havia aceitado menos de meia hora antes. A personagem acabou vivida aqui por Marie Marshall.
  • Tim Russ, que aqui vive Devor, ficaria mais conhecido como Tuvok, o oficial de segurança vulcano de Voyager. Ele ainda interpretaria o klingon T’Rul, no episódio “Invasive Procedures” (Deep Space Nine) e um oficial da ponte da Enterprise-B em Jornada nas Estrelas: Generations (por sinal, ao lado de Glenn Morshower, ator que neste episódio faz o terrorista Orton).
  • Em uma cena, parece que Picard faz Devor desmaiar com um toque neural vulcano. Na verdade, segundo o roteiro, o que ele fez foi bloquear a artéria carótida.
  • Como já havia feito em “Pen Pals” (segunda temporada) e “The Loss” (quarta temporada), Picard aqui manifesta seu interesse por cavalos. A próxima vez em que ele irá tocar nesse assunto será no filme Generations, quando cavalga ao lado de James T. Kirk.
  • A cena mostrando a base de Arkaria já havia sido utilizada em “Unnatural Selection” (segundo ano) e ainda será utilizada no último episódio desta temporada, “Descent”. Nos três episódios ela representa estruturas diferentes.
  • A bajoriana terrorista Kiros foi interpretada por Patricia Tallman, que trabalha nos episódios da série como dublê da atriz Gates McFadden. Ela também é conhecida como Lyta Alexander, da série Babylon 5.
  • Rick Berman e Michael Piller tiveram opiniões diferentes sobre episódio. Enquanto o primeiro gostou de ver Patrick Stewart como herói físico e achou que Cliff Bole foi bem na direção, o segundo ficou decepcionado, alegando que não parecia Star Trek e que foi muito violento. Morgan Gendel, ao ver o segmento duas vezes, teve impressões diversas. “Na primeira vez que vi, não tinha certeza de quão bem havia funcionado. Mas então voltei e vi uma segunda vez, e realmente gostei, achei que estava fiel ao que eu estava tentando fazer.”

Ficha Técnica

Escrito por Morgan Gendel
Dirigido por Cliff Bole

Exibido em 29 de março de 1993

Título em português: “Gato e Rato”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

David Spielberg como Calvin Hutchinson
Marie Marshall como Kelsey
Tim Russ como Devor
Glenn Morshower como Orton
Tom Nibley como Neil
Tim deZarn como Satler
Patricia Tallman como Kiros
Arlee Reed como garçom arkariano
Alan Altshuld como Pomet
Majel Barrett como voz do computador

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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