TNG 6×19: Lessons

Segmento fracassa ao tentar dar ao capitão Picard uma paixão arrebatadora

Sinopse

Data estelar: 46693.1

Acordado no meio da noite, Picard fica curioso ao descobrir que muitas das funções da nave foram desligadas para alimentar de energia o departamento de ciências estelares. Ele decide ir até lá e verificar o que está acontecendo, quando conhece a tenente-comandante Nella Daren, a nova chefe do departamento.

Nella e sua equipe estão usando o silêncio da madrugada para tentar construir um mapa matemático de um sistema solar emergente. Picard está intrigado por essa mulher amável e inteligente – e sua atenção aumenta a cada noite, quando ele é arrebatado pela incrível performance de Nella ao piano durante um concerto.

O capitão expressa sua apreciação após o evento, e ela – impressionada por seu conhecimento musical – sugere que os dois toquem juntos qualquer dia. A atração parece ser mútua.

Na noite seguinte, Picard pratica com sua flauta ressikana, quando Nella lhe faz uma visita inesperada, levando junto um teclado. Ela encoraja o relutante capitão a tocar com ela um dueto, que ele começa a apreciar. Quando eles se encontram de novo, ela leva Picard a uma intersecção de tubos Jefferies onde diz haver uma acústica perfeita. Os dois iniciam outro dueto, mas sua concentração se desvia para outra coisa que não a música – e eles dão um beijo apaixonado.

Após o encontro, Picard começa a se sentir inseguro de suas ações. Mais tarde, após marcar curso para Bersallis III para estudar as tempestades de fogo do planeta, ele pede para falar com Troi em particular em seu gabinete.

Lá, ele fala francamente sobre sua atração por Nella e suas preocupações sobre ter um relacionamento com alguém sob seu comando. Ele fica aliviado quando Troi o encoraja. Picard então revela alguns de seus pensamentos mais particulares para Nella, e eles voltam a se beijar, levando a relação um passo adiante.

Entretanto, Riker está desconfortável, e diz a Picard que não se sente bem lidando com as exigências de Nella por causa de sua relação com o capitão. Picard garante a Riker que sentimentos pessoais não serão colocados acima do que for melhor para a nave e então comenta com Nella sobre sua situação incomum. Eles concordam que ela não deveria ceder, mas continuar fazendo seu trabalho da melhor forma possível.

Worf interrompe a conversa com a notícia de que as tempestades de fogo vão atingir Bersallis III muito antes do esperado, ameaçando o posto avançado da Federação ali. Picard ordena que a Enterprise ofereça ajuda na evacuação do posto, enquanto Nella e La Forge criam um plano para construir um escudo protetor para guardar o complexo da tempestade.

Riker escolhe Nella para comandar o grupo de instalação do escudo, e, embora Picard esteja preocupado em mandá-la para essa perigosa missão, ela o lembra de que a relação não pode ficar no caminho das decisões de comando corretas.

Quando a Enterprise chega ao planeta, Nella e sua equipe se transportam para a superfície com defletores térmicos para construir o escudo. Infelizmente, ela descobre que há um problema. Os membros da equipe precisarão ficar no planeta durante a tempestade para manter os defletores conectados ao calibrá-los manualmente – um procedimento que pode custar muitas vidas.

Picard está arrasado, mas percebe que esse é o único modo de salvar os 73 colonos que ainda permanecem no planeta. Ele ordena o grupo a ficar, enfrentando a horrível possibilidade de ter condenado Nella à morte. A tempestade chega e, depois que passa, Picard leva os sobreviventes a bordo. Nella está entre os últimos a voltarem, mas quando seus olhos encontram os de Picard, ele sente algo diferente. Mais tarde, Nella o perdoa pelas decisões que ele precisou tomar, mas os dois percebem que não podem continuar o relacionamento como comandante e subordinada. Nella diz a Picard que pedirá uma transferência, para evitar futuros conflitos entre interesses pessoais e profissionais dos dois.

Comentários

“Lessons” traz um esforço valoroso de explorar o lado pessoal de Picard, mas no fim das contas falho. A verdade é que se trata de um episódio sem uma história propriamente dita e condenado ao fracasso pela própria natureza da série, que não permite grande estabelecimento de continuidade. É quase certo que o desenvolvimento do relacionamento entre Jean-Luc e Nella poderia ser mais bem explorado, até com as mesmas cenas, se elas estivessem salpicadas ao longo de vários episódios – dando maior peso à relação –, em paralelo com outras tramas. A natureza episódica de A Nova Geração obriga a uma condensação da relação que a torna mais vazia. Todo o pacote é atirado de uma vez no telespectador, com um desfecho óbvio e para lá de conveniente.

Houve de fato boas intenções: a ideia de mostrar a dualidade entre o capitão e o homem, e as implicações de o líder da tripulação ter um relacionamento com uma subordinada são tratados aqui. Mas falta força motriz suficiente para que cada um desses temas seja satisfatoriamente explorado.

A música foi uma forma até interessante de aprofundar os laços entre Picard e Daren, e a citação aos eventos de “The Inner Light” foi especialmente oportuna. Também há de se destacar o desenvolvimento da amizade entre Jean-Luc e Beverly. Aparentemente os dois decidiram colocar de lado a tensão sexual que sempre existiu entre eles e viver uma madura relação fraternal. O café da manhã dos dois soa como um belo toque do cotidiano, sem introduzir algo que parecesse inconsistente ou incompatível com o que se conhecia dos personagens.

Uma menção especial vai também para a cena entre Beverly e Daren, em que a médica se mostra desconfortável com a relação amorosa florescente entre a astrofísica e o capitão. Totalmente executada no subtexto, ela ajuda a reforçar a situação mal resolvida entre Beverly e Jean-Luc, ainda que os dois tenham optado por sublimar o lado romântico de seu relacionamento.

O episódio também acaba se tornando enfadonho com o passar do tempo, tão fortemente escorado na relação pessoal de Picard e Daren, sem qualquer outra trama paralela que o sustente. A “falsa encrenca” só vem ao final, para sublinhar a inviabilidade dessa paixão – algo que Jean-Luc deveria ter visto a quilômetros de distância, reforçando o clássico tema de que “o amor é cego”.

A direção apagada de Robert Wiemer, e os efeitos visuais pouco convincentes (como o cenário do planeta a ser atingido pela tempestade) também não ajudam. Na cena dos tubos Jefferies, há um túnel que é claramente uma fotografia, e a ilusão não se sustenta nem por um segundo. Resta a se elogiar os aspectos mais humanos do episódio, e a atuação de Wendy Hughes como Nella Daren. Mas é muito pouco para tornar o segmento algo mais que esquecível.

Avaliação

Citações

“Well, Captain, now that I am on your ship, maybe you should start expecting the unexpected.”
(Bem, capitão, agora que estou em sua nave, talvez você devesse começar a esperar o inesperado.)
Nella Daren a Jean-Luc Picard

Trivia

  • O episódio nasceu como uma ideia de história de Michael Piller durante uma reunião da equipe de roteiristas na quinta temporada. Piller considerou que seria interessante ter um romance para Picard em que ele se visse atraído por alguém sob seu comando. Jeri Taylor ofereceu fraco apoio à ideia e ela acabou escanteada. Seu ressurgimento no fim da sexta temporada veio com a luta dos roteiristas por encontrar novas ideias. Taylor passou aos freelancers Ron Wilkerson e Jean Louise Matthias a tarefa de escrever o roteiro.
  • Wilkerson relembrou o episódio, destacando que, como seu outro segmento, “Lower Decks”, “o que era importante não era a missão, mas as relações das pessoas”.
  • Brannon Braga havia sido originalmente escalado para polir o roteiro, mas trocou com René Echevarria depois de ter ficado insatisfeito com o romance que escrevera em “Aquiel”.
  • René Echevarria relembrou que, diferentemente de outros romances anteriores para Picard, neste a produção quis escalar uma atriz que parecesse mais próxima em idade a Patrick Stewart. “Queríamos alguém que tivesse peso, em vez de ser algo puramente sexual.” A escolha acabou recaindo sobre Wendy Hughes, atriz nascida na Austrália em 1952.
  • Jeri Taylor fez reuniões com a produtora Wendy Neuss e com o músico Dennis McCarthy para construir cuidadosamente a cena do dueto. Ela disse: “A música tinha de refletir que ela o estava fazendo se sentir confortável e o deixando testar essas águas estranhas e sendo gentil com ele, não o sobrecarregando com uma atitude do tipo ‘olhe para mim, veja como eu sou ótima!’.”
  • A pianista Natalie Martin serviu como dublê para Hughes, e Patrick Stewart fez a maioria das cenas manuseando a flauta, mas contou com closes com Noel Webb e John Mayhem. Webb também foi dublê de mãos de Brent Spiner na cena em que Data toca o violino.
  • O tema de “The Inner Light”, composto por Jay Chattaway, volta de forma bastante apropriada neste episódio.
  • A tempestade de fogo foi criada pelos supervisores de efeitos visuais Dan Curry e Ronald B. Moore espirrando nitrogênio líquido em um veludo preto sobre uma mesa e apontando uma mangueira de ar sobre ele.
  • Pela primeira vez vemos a sala de cartografia estelar na Enterprise-D, mas ela aparece de forma muito menos elaborada do que em Generations.
  • Jeri Taylor acabou satisfeita com o episódio, comentando que ele tinha “verdadeira substância e genuíno calor” na relação entre Picard e Daren. “Ela tinha uma honestidade e simplicidade que era muito interessante. Wendy Hughes, que é uma atriz maravilhosa, tornou toda a relação crível. Você acredita que Picard ficaria encantado por essa mulher e eu estava errada [de ter uma] resposta pouco entusiástica no começo. Acabou se saindo algo que era doce e querido.”
  • O diretor Robert Wiemer concordou. “O roteiro era um prazer e realmente tivemos atuações potentes. Se tivéssemos tido atuações apenas moderadas teria ficado sem graça.”
  • Michael Piller elogiou a escalação de Wendy Hughes e o final contido do episódio. Já Brannon Braga achou o conceito falho, por não ter um componente significativo de ficção científica, embora tenha elogiado as contribuições de René Echevarria para o roteiro, dizendo que “ele sempre acha a emoção genuína”.

Ficha Técnica

Escrito por Ron Wilkerson & Jean Louise Matthias
Dirigido por Robert Wiemer

Exibido em 5 de abril de 1993

Título em português: “Lições”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Wendy Hughes como Nella Daren
Majel Barrett como voz do computador

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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