SNW 2×10: Hegemony

Episódio de ação e terror gorn cria suspense para o futuro da série

Sinopse

Data estelar: 2344.2

A USS Cayuga está dando suporte a uma colônia humana em Parnassus Beta, sistema fora do espaço da Federação. Chapel pegou uma carona para se encontrar com Roger Korby e está a bordo da nave de Marie Batel, que está no planeta com um grupo de descida. A colônia é atacada por uma nave gorn, e a Enterprise recebe um pedido de socorro. Pike solicita a April autorização para um resgate, mas o almirante enfatiza que tudo está acontecendo fora do espaço federado e libera apenas uma missão de reconhecimento. Chegando a Parnassus Beta, a Enterprise encontra a Cayuga destroçada em órbita. Um sinal vindo do planeta parece bloquear comunicações, sensores e teletransporte.

Uma nave caçadora gorn aparece em órbita, e a Frota Estelar envia uma comunicação dizendo ter recebido um sinal dos gorns, com um mapa e uma fronteira – o planeta da colônia fica do lado deles. Pike decide liderar um grupo de descida mesmo assim, em busca de sobreviventes. Eles levarão novas armas projetadas para enfrentar os gorns. Ortegas pilotará a nave auxiliar, fingindo ser um detrito inerte reentrando na atmosfera.

Ela, Pike, M’Benga, La’An e Sam Kirk vão ao planeta e detectam um equipamento gorn, provavelmente a fonte do campo de interferência. O grupo detecta um filhote gorn em meio à cidade destroçada. Eles conseguem derrubá-lo com o novo rifle feiser. Dezenas de novos sinais aparecem nos tricorders e eles se fecham numa barbearia. La’An estranha que os filhotes gorns parecem estar cooperando, e Pike especula que talvez seja possível contatá-los. Sam capta um sinal humano.

O grupo vai até ele e acaba preso em um campo de força. O sinal emana de um equipamento. É uma armadilha para gorns, armada por um engenheiro da Frota Estelar preso no planeta, o tenente Montgomery Scott. Ele diz ser da nave de pesquisa solar Stardiver, que foi atacada pelos gorns e destruída. Scott conseguiu escapar numa nave auxiliar modificada, descobrindo como se esconder dos gorns em plena vista, criando um transponder similar ao deles. Ele leva os oficiais da Enterprise aos sobreviventes da Cayuga. Batel está entre eles. A capitão diz que Pike não deveria ter vindo.

Na Enterprise, enquanto novas naves gorns chegam ao planeta, Uhura tem uma ideia maluca e pede a ajuda de Pelia – atacar a fonte do campo de interferência atirando a seção disco destroçada da Cayuga na atmosfera e fazendo-a colidir com a estrutura na superfície. Spock faz a caminhada espacial para instalar os retrofoguetes na Cayuga. A bordo dela, de forma miraculosa, Chapel sobrevivera. Ela dá um jeito de estender o funcionamento do suporte de vida por mais uma hora e nota a Enterprise à distância pela janela. Chapel tenta mandar sinais luminosos com uma lanterna, mas ela logo pifa. Pouco depois, ela vê Spock do lado de fora com um traje espacial. Ela pega um traje similar e tenta ir ao encontro dele. Caminhando pela nave, ela encontra um gorn num traje espacial, tentando acessar o computador de bordo da Cayuga.

No planeta, os sobreviventes humanos dormem – ou tentam dormir –, e Pike decide partir para tentar resgatar o transponder na nave auxiliar de Scott. Ele e Batel se oferecem para ir junto. O trio consegue resgatar o equipamento, mas se vê atacado por um gorn. Batel se coloca entre eles e a criatura, que recua. Ela então explica o motivo: está contaminada com ovos gorns.

Concluindo a instalação dos retrofoguetes na ponte destroçada da Cayuga, Spock vê um gorn num traje espacial. Os dois entram em combate corpo a corpo, quando Chapel aparece na ponte. O gorn está para esmagar o capacete de Spock, quando Chapel pega um feiser flutuando e atira na criatura. É o tempo que Spock tem para pegar uma barra de metal e cravar no capacete do gorn, levando-o à morte. O disco começa a se mover na direção da atmosfera, enquanto Spock e Chapel saem abraçados da ponte pelo teto quebrado. Como planejado, ele colide com a estrutura gorn na superfície, e o campo de interferência cai.

Spock e Chapel se transportam para a Enterprise, e Pike retoma o contato com a nave, ordenando o transporte de todos no planeta. Ele, Batel e Scott sobem diretamente à enfermaria, enquanto Una rastreia os demais sobreviventes – que no entanto acabam sendo transportados primeiro pelos gorns. Enquanto Chapel busca uma cura para Batel, Scotty reencontra sua professora, Pelia.

De volta à ponte, Pike solicita contato com a Frota Estelar para revelar informações críticas sobre os gorns e como eles parecem ser atraídos por tempestades estelares, algo que Scott descobrira. Nisso, a Enterprise é atacada por várias naves inimigas. April envia uma mensagem ordenando a retirada imediata. Sob fogo cerrado, o capitão hesita entre ficar e tentar resgatar os capturados e obedecer a ordem.

 Continua…

Comentários

“Hegemony” é um episódio cheio de ação que dá sequência ao arco gorn criado desde o início da série de forma eletrizante, enquanto explora para efeito dramático as circunstâncias pessoais de Pike (com Batel) e Spock (com Chapel). Apesar de bem-sucedido de uma forma geral, o segmento falha em aspectos pontuais.

Começamos com uma colônia em Parnassus Beta que, de forma conveniente, lembra muito uma cidadezinha do meio-oeste dos EUA e mais um ataque dos gorns. As sequências são muito efetivas, tanto da invasão em si (com uma sabor meio Independence Day, e uma enorme nave aparecendo no céu e projetando sombra sobre a cidade) quanto das cenas de ação noturna em meio à devastação pós-ataque. Os gorns continuam aqui sendo um artifício para a exploração do gênero terror, mas para este episódio, graças aos espaços abertos e à presença de criaturas mais crescidas, temos um sabor que lembra mais Jurassic Park que Alien.

Talvez o principal avanço com relação a essa exploração dos gorns que a série pretende fazer seja o início da transição deles de monstros irredimíveis a criaturas potencialmente incompreendidas – algo que está no cerne de “Arena”, episódio que introduziu essa espécie alienígena na Série Clássica. Vale destacar que, quanto mais o arco avança, mais difícil fica reconciliar o que vimos naquele segmento (ambientado em 2267, ou seja, mais de sete anos após os eventos vistos nas duas primeiras temporadas de Strange New Worlds). Exemplo: aqui vemos que a Frota Estelar aprimorou seus tricorders para detectar sinais de vida gorns. Contudo, na visita a Cestus III em “Arena”, Spock detecta criaturas de sangue frio, mas é incapaz de correlacioná-las com os gorns.

A razão, claro, é que a intenção original de “Arena” era fazer daquele o primeiro contato entre a Frota Estelar e os gorns. Contudo, à luz das reinterpretações promovidas por Strange New Worlds, é preciso racionalizar de outra forma tudo que acontece no episódio clássico. Não é difícil, mas são questões que vão se empilhando e podem incomodar os mais puristas. Para quem não está preocupado com o alinhamento preciso de cada fala de cada roteiro já filmado em Star Trek, esse é um não problema.

O que não exime “Hegemony” de suas reais falhas. É estranho ver a tripulação da Enterprise tão determinada a matar gorns logo no começo do episódio, por mais que os eventos passados tenham deixado a impressão de que eles são criaturas impiedosas e além de qualquer apelo. É para fazer contraste com a constatação de Pike e La’An, mais tarde no episódio, de que os gorns filhotes são capazes de cooperar entre si, mas acaba carregando demais nas tintas.

Também parece estranho Spock defender que ele seria o único capaz de instalar os retrofoguetes na Cayuga. Tudo que vimos não nos leva a pensar que as habilidades vulcanas dele fossem estritamente necessárias. É ilógico, para dizer o mínimo, que um dos retrofoguetes a ser instalado ficasse na destruída ponte de comando da Cayuga. E o suprassumo da conveniência é Chapel ter sido a única sobrevivente na seção disco. Pior: não sabemos realmente disso. A “teoria maluca” de Uhura era efetiva, mas exigia jogar a seção disco destroçada da Cayuga na atmosfera, e não havia então a certeza de que ela não abrigava sobreviventes. Ninguém parou para pensar que isso poderia estar condenando eventuais sobreviventes à morte?

Não são poucos os probleminhas, que poderiam ter sido resolvidos com poucas falas, mas acabaram negligenciados na história. Felizmente, o que esteve em tela se mostrou bastante efetivo. Em contraste com “Subspace Rhapsody”, em que a única sequência rápida de gravidade zero foi pouco convincente, aqui temos uma cena espetacular com as mesmas circunstâncias, no combate corpo a corpo de Spock contra um tripulante gorn num traje espacial – nossa primeira visão de um adulto da espécie nessa releitura de Strange New Worlds.

Igualmente inspirada foi a introdução surpresa de um personagem querido da Série Clássica, o engenheiro milagreiro Montgomery Scott, aqui muito bem escrito e atuado por Martin Quinn. Com isso, a série chega ao final da segunda temporada dando mais um passo nessa caminhada na direção da missão de James Kirk no comando da Enterprise imortalizada no programa original.

De forma irônica, é um dos melhores personagens em um episódio que faz pouco uso deles. Una aparece pouco, mas bem, assumindo o comando da Enterprise durante a crise, enquanto Pike está no planeta. Uhura e Pelia formam uma dupla rápida para derrubar o campo de interferência gorn, e Ortegas, mesmo ganhando sua primeira missão a um planeta, acaba resumida ao clichê “ela pilota muito bem”. Está na hora de arrumarem algum interesse para esta mulher! Pike e Spock ganham protagonismo ligeiramente maior por causa de seu investimento pessoal nos destinos de Batel e Chapel, mas isso não faz com que seja um episódio pesadamente focado neles.

Por falar nelas, Chapel, evidentemente, sabíamos estar fora de perigo, considerando sua presença na Série Clássica. Batel, em contraste, já parecia marcada para morrer desde o momento em que contara a Pike, em “Subspace Rhapsody”, sobre a missão de prioridade um que recebera (para alguns espectadores, até antes disso), e este episódio joga com isso o tempo todo. Primeiro especulamos sobre sua possível morte na colônia ou na Cayuga, depois vemos o que parece ser uma virtual condenação à morte, com o fato de que ela foi infectada por ovos gorns. Para Hemmer, essa história terminou muito mal. Batel terá o mesmo destino?

O desfecho ficou em suspenso aqui – como aliás o da história em si, no primeiro grande cliffhanger entre temporadas desta terceira era televisiva de Star Trek, ecoando o estilo tornado clássico por “The Best of Both Worlds”, de A Nova Geração. A cena final carrega toda a tensão de um dilema aparentemente insolúvel – Pike abandona os tripulantes e colonos à própria sorte com os gorns ou arrisca desobedecer ordens, perder a Enterprise e mergulhar a Federação em uma guerra? Nos longos segundos em que ele hesita, transparece uma sensação de impotência que não cai bem ao capitão da Enterprise, mas deixa os espectadores na ponta do assento para saber o que acontecerá a seguir – na terceira temporada de Strange New Worlds.

Avaliação

Citações

“I think it’s safe to say that we don’t understand the Gorn.”
“Well, I’ve seen them up close and personal, and they’re not hard to understand, Bob. They’re monsters.”
“‘Monster’ is a word to describe those who don’t understand us.”
“And sometimes a monster’s just a monster.”
(Acho que é seguro dizer que não entendemos os gorns.)
(Bem, eu os vi bem de perto, e eles não são difíceis de entender, Bob. Eles são monstros.)
(“Monstro” é uma palavra para descrever os que não nos entendem.)
(E algumas vezes um monstro é só um monstro.)
Robert April e Christopher Pike

“When an armada of human-eating lizards comes my way, I can get quite… creative.”
(Quando uma armada de lagartos comedores de humanos vem na minha direção, eu posso ser bem… criativo.)
Montgomery Scott

Trivia

  • Este episódio foi majoritariamente filmado em junho de 2022. As filmagens da temporada foram concluídas em 1º de julho.
  • A diretora Maja Vrvilo volta para seu segundo episódio em Strange New Worlds, após o bem-sucedido “Children of the Comet”. Uma das preferidas dos produtores liderados por Alex Kurtzman, ela também dirigiu episódios de Discovery e Picard.
  • O roteirista Henry Alonso Myers é um dos showrunners de Strange New Worlds, ao lado de Akiva Goldsman. Ele assinou o roteiro de três episódios na primeira temporada (“Children of the Comet”, “Spock Amok” e “A Quality of Mercy”) e outros três na segunda temporada (“The Broken Circle”, “Charades” e “Hegemony”).
  • O título do episódio se refere à instituição que governa os gorns, a Hegemonia Gorn, estabelecida pela primeira vez de forma canônica em “Bound”, episódio de Enterprise.
  • As cenas de Parnassus Beta foram filmadas em locação, mais especificamente em um terraço de estúdio em Pickering, Ontario. A cidadezinha de meio-oeste já estava lá, construída originalmente para a série Reacher, do Amazon Prime Video.
  • Montgomery Scott é introduzido aqui como tenente júnior, embora a listra no uniforme usado pelo ator Martin Quinn indique a patente de tenente. É a primeira aparição do personagem na cronologia de Star Trek.
  • Quinn se tornou o quarto ator a interpretar Scotty, depois de James Doohan (que originou o papel na Série Clássica), Simon Pegg (que viveu uma versão alternativa dele nos filmes de J.J. Abrams) e Matthew Wolf (que fez apenas a voz do personagem em “A Quality of Mercy”, de Strange New Worlds). Quinn é, contudo, o primeiro escocês a assumir o papel. Doohan era canadense, e Pegg e Wolf, ingleses.
  • O símbolo da Hegemonia Gorn exposto aqui foi criado para o game Starfleet Academy e apareceu pela primeira vez em uma série no episódio “Masquerade”, de Prodigy.
  • Sabemos que Scotty serviu em onze naves ao longo de sua carreira, e aqui uma delas é mencionada nominalmente: a USS Stardiver. Outras duas já estabelecidas são a Enterprise e a Enterprise-A, mas tudo isso no futuro além da segunda temporada de Strange New Worlds.
  • A USS Stardiver tinha um Conjunto de Avaliação Estelar Hubble K7C, uma homenagem ao astrônomo americano Edwin Hubble (1889-1953), como o Telescópio Espacial Hubble, da NASA.
  • Os gorns foram criados para Strange New Worlds pela empresa Legacy Effects, também responsável pelas maquiagens prostéticas alienígenas que vemos na série.
  • Os artistas criaram três versões dos gorns, uma recém-chocados, outra como jovens e uma terceira como adultos. A primeira é meramente um marionete, a segunda é um marionete com alguns elementos de animatrônica e a terceira é um traje usado por um homem – a exemplo do que foi feito na Série Clássica! – e uma cabeça com animatrônica complexa, capaz de mover olhos e boca.

Ficha Técnica

Escrito por Henry Alonso Myers
Dirigido por Maja Vrvilo

Exibido em 10 de agosto de 2023

Título em português: “Hegemonia”

Elenco

Anson Mount como Christopher Pike
Ethan Peck
como Spock
Jess Bush
como Christine Chapel
Christina Chong
como La’An Noonien-Singh
Celia Rose Gooding
como Nyota Uhura
Melissa Navia
como Erica Ortegas
Babs Olusanmokun
como Joseph M’Benga
Rebecca Romijn
como Una Chin-Riley

Elenco convidado

Martin Quinn como Montgomery Scott
Adrian Holmes como Robert April
Melanie Scrofano como Marie Batel
Dan Jeannotte como George Samuel Kirk
Carol Kane como Pelia
Rong Fu como Jenna Mitchell
Matt Jensen como Appel
Alex Kapp como computador da Enterprise e Cayuga
Noah Lamanna como Jay

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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