TNG 6×26: Descent

Os borgs estão de volta e em nova roupagem, agora sob o comando de Lore

Sinopse

Data estelar: 46982.1

Data joga uma partida de pôquer com recriações de Isaac Newton, Albert Einstein e Stephen Hawking no holodeck, quando a Enterprise entra em alerta para atender a um pedido de socorro do posto avançado em Ohniaka III. Uma nave de configuração desconhecida é encontrada em órbita, e um grupo desce ao planeta em busca de sobreviventes. Eles notam que os oficiais lá foram todos mortos, e então descobrem que foram emboscados por borgs – que estão se comportando de maneira incomum. Data é obrigado a matar um deles para se defender e sente um acesso de raiva. Os borgs sobreviventes se transportam para a nave em órbita, que parte e misteriosamente desaparece no espaço.

Picard notifica o Comando da Frota Estelar, que então se prepara para uma nova incursão dos borgs ao território da Federação. A almirante Nechayev chega na USS Gorkon com a missão de comandar as ações de defesa contra os borgs. Ela confronta Picard por sua decisão de mandar o sobrevivente Hugh de volta aos borgs, pouco mais de um ano atrás, em vez de usá-lo como um arma para destruir a Coletividade.

Data tenta explorar o significado da emoção que sentiu, mas se revela incapaz de replicar esse ou qualquer outro sentimento em experimentos controlados. Depois de conversar com Troi, ele decide até tentar recriar o incidente original com o borg no holodeck, mas falha em ter qualquer resposta emocional.

Enquanto a Enterprise segue em patrulha, La Forge analisa o desaparecimento da nave borg de configuração desconhecida e descobre que ela abriu um conduíte de transdobra. Em seguida, a nave recebe um pedido de socorro da colônia MS I, retomando a perseguição à nave borg. As duas acabam cruzando um dos tais conduítes de dobra. Na outra ponta, a Enterprise sai muito enfraquecida. Com um único tiro, os escudos caem, e então dois borgs se teleportam para a ponte. A tripulação repele o ataque, usado como uma distração para que a nave mais uma vez pudesse fugir. Um dos borgs sobrevive. Interrogado, ele revela mais comportamentos incomuns: ele diz ter um nome, Crosis, dado a ele por um indivíduo a quem ele se refere como “aquele que irá destruí-los”.

Crosis acaba ficando sozinho com Data e, ao pressionar um dispositivo que está com ele, faz o androide voltar a sentir emoções a ponto de conseguir controlá-lo. Os dois fogem na nave auxiliar El-Baz, abrindo um conduíte de transdobra com um disparo de táquions. A Enterprise faz o mesmo em perseguição a eles, saindo a 65 anos-luz dali. A nave auxiliar é rastreada até um planeta com alta interferência eletromagnética.

Picard decide formar diversos grupos avançados de quatro, inclusive liderando um deles, a fim de vasculhar a região de pouso da El-Baz e encontrar Data e Crosis. Beverly Crusher fica no comando da Enterprise, com uma tripulação mínima.

No planeta, o grupo composto por Picard, Troi, La Forge e um oficial de segurança encontra uma grande estrutura. Ao adentrarem o salão central, são cercados por borgs, que matam o segurança, quando então seu líder se introduz: Lore. E Data está ao seu lado, declarando que os filhos de Soong estão reunidos para promover a destruição da Federação.

Comentários

A cada nova aparição dos borgs, vai ficando mais difícil retratá-los por um ângulo diferente. A solução encontrada em “Descent”? Assumir de cara que vamos encontrar borgs diferentes e fazer desse ponto um dos pilares da trama.

Após a consagração desses seres cibernéticos como a mais mortal ameaça à Federação, com o celebrado episódio duplo “The Best of Both Worlds”, retornar a eles passou a ser ao mesmo tempo um desafio e uma obrigação. O problema: uma vitória deles e é o fim de Star Trek; muitas derrotas, e eles acabarão banalizados. Isso sem falar na dificuldade que é criar tramas sofisticadas para autômatos sem personalidade.

Aqui, a solução é justamente introduzir algo diferente, conectado ao singular episódio “I Borg”, da quinta temporada, em que Picard reconhece pela primeira vez que, por trás dos borgs, há indivíduos que podem ser resgatados. A conversa entre o capitão e almirante Nechayev aqui é a perfeita continuação deste episódio, em que se confrontam a moralidade de Picard e a mentalidade prática da Frota Estelar enquanto instituição de defesa da Federação – se o capitão porventura voltar a se defrontar com uma chance para acabar com a Coletividade, ele agora tem ordens diretas para aproveitá-la.

Patrick Stewart, como sempre, vai muito bem retratando o dilema de Picard, que, a despeito de suas convicções pessoais, ao se defrontar novamente com a ameaça dos borgs sente que deveria ter feito uma opção diferente com Hugh, dizendo a Riker que nem sempre a escolha moral é a escolha certa.

O episódio, contudo, é focado em Data. A começar pela charmosa cena de abertura do pôquer entre três dos mais brilhantes físicos da história, um deles interpretado por si mesmo (Stephen Hawking) e a prosseguir com a fascinante situação de ver o androide experimentar sua primeira emoção. O poder sedutor dos sentimentos é bem trabalhado no roteiro, e Brent Spiner vende muito bem todas as nuances do personagem, do gestual às expressões faciais, de forma a percebermos com clareza quando Data está e não está sentindo alguma coisa estranha. Indo adiante, o fato de que o androide parece ter tido impulsos sádicos é chocante – tanto para ele quanto para a audiência. Ao fim, a revelação de que aquilo não é um desenvolvimento natural, mas algo induzido pelos borgs-indivíduos, se torna um elemento interessante de reviravolta na trama, sem que isso esvazie o arco do personagem.

Até esse ponto, as coisas vão muito bem, e parece que teremos mais um clássico e eletrizante fechamento de temporada. Infelizmente, em sua parte final, o ritmo cai muito e as coisas começam a fazer menos sentido. A escolha de Picard de descer praticamente toda a tripulação, deixando só uma equipe mínima a bordo da Enterprise com a médica Beverly Crusher no comando, é tão absurda que só pode ser uma conveniência de roteiro. Tanto que ele sequer justifica sua decisão.

A coisa toda ao final, no planeta, também parece esquisita. Como a Enterprise detectou onde a El-Baz desceu, mas não a construção em seus arredores? Por mais que houvesse um bloqueio de sensores, uma inspeção visual revelaria a presença da estrutura – como Troi demonstrou, por acidente. Mas lá. Igualmente conveniente é que o grupo de Picard seja justo aquele a encontrar o prédio. E que dizer da insensatez de decidirem entrar lá sozinhos? E claro que o figurante que fechou o quarteto com Picard, Troi e La Forge estava condenado à morte, né? É uma sequência muito rápida de escolhas preguiçosas do roteiro para passar despercebida, e não há boa execução que a disfarce.

No fim, descobrimos que Lore está por trás de tudo e, mais uma vez, ele conseguiu manipular seu irmão Data. O plano? Destruir a Federação. Não terminamos propriamente com uma ameaça, mas com a ameaça de uma ameaça. É quase uma versão “Locutus de pobre”, comparada ao fim da primeira parte de “The Best of Both Worlds”.

E o que mais interessa, num primeiro momento, não é propriamente enfrentar esse perigo, mas entender o que Lore está fazendo com os borgs, por que eles se comportam de maneira diferente, têm uma nave diferente, agem mais como indivíduos, e qual é o alcance do poder de Lore sobre Data. Mas essas respostas todas só viriam meses depois, com a abertura da sétima e última temporada da série…

Avaliação

Citações

“It may turn out that the moral thing to do was not the right thing to do.”
(Pode acabar que a coisa moral a fazer não era a coisa certa a fazer.)
Jean-Luc Picard para Will Riker

“The sons of Soong have joined together, and together we will destroy the Federation.”
(Os filhos de Soong se reuniram, e juntos destruiremos a Federação)
Data

Trivia

  • A história de “Descent” foi desenvolvida após várias ideias para cliffhangers serem rejeitadas. Uma delas, chamada “All Good Things”, por Ronald D. Moore e Brannon Braga, envolveria a Enterprise sendo chamada de volta à Terra e a tripulação se dispersando para vários postos diferentes. Outra lidava com os sonhos de Data, vistos em “Birthright, Part I”, virando pesadelos.
  • Em 4 de março de 1993, Jeri Taylor enviou um memorando a Michael Piller com um conceito de história diferente, que teria a tripulação encontrando poderosos alienígenas novos (potencialmente num crossover com Deep Space Nine). Enquanto isso, Data estaria experimentando emoções cada vez mais negativas, com seu comportamento ficando mais errático. No fim, o misterioso líder dos alienígenas seria Lore. Taylor comparou sua premissa ao romance O Coração das Trevas (Heart of Darkness), de Joseph Conrad, com Data e a tripulação viajando “rio acima”.
  • A partir do conceito de Taylor, Ronald D. Moore sugeriu o uso dos borgs, como uma sequência para “I Borg”. Após aquele episódio, Taylor e Rick Berman hesitavam em reutilizar a espécie cibernética. “Eu sabia que não podíamos simplesmente fazer uma história borg e usá-los como vilões, porque depois de Hugh isso seria impossível. Essa era exatamente a história certa”, disse Taylor.
  • Rick Berman comentou mais: “Eu acho [os borgs] muito bidimensionais de certo modo. Eles são personagens sem face ou sem traços de personalidade específicos. Eles são um grupo de vilões de uma nota só para mim. Em ‘The Best of Both Worlds’, eles representavam uma ameaça em oposição aos personagens, e aquele foi um grande episódio. Em ‘I Borg’ você tinha a antítese desse fato, que era um borg puxado da coletividade e tornado humano. Ele virou um personagem e ganhou uma personalidade e algo com o qual podíamos ter simpatia. Meu único interesse nos borgs é quando eles são usados fora do centro, em jeitos diferentes daquele em que foram concebidos originalmente.”
  • Por sugestão de Michael Piller, “Descent” intencionalmente não especificou o quanto os borgs mudaram.
  • Ronald D. Moore comentou: “Eu gostei bastante da ideia de ‘Descent’. Era uma oportunidade de ir por um caminho bem sombrio com um personagem. Havia sobretons na história que me atraíam. Descobrir que Lore e os borgs uniram forças era uma proposição assustadora, e havia algo deliciosa naquela cena na detenção com Data falando com o borg sobre matar. Eu gostei de levar Data a um lugar muito sombrio.”
  • Este é o único episódio de Star Trek em que o título e os créditos de atores convidados aparecem no teaser, antes da sequência de abertura.
  • A encosta vista pouco antes que a fortaleza de Lore fosse encontrada era a mesma locação usada para discussão de Spock e Leila Kalomi sobre arco-íris e dragões em “This Side of Paradise”, da Série Clássica.
  • O dispositivo ocular usado por Crosis é idêntico ao medalhão na faixa de Worf.
  • As faíscas e chamas dos tiroteios de feiser foram criados todos em pós-produção, sem efeitos visuais práticos em cena.
  • Embora pareça que há muitos borgs em cena na sequência final, apenas onze figurantes foram usados. Eles acabaram multiplicados por filmagens de tela dividida.
  • O prédio borg neste episódio e em sua continuação é o Brandeis-Bardin Institute, no sul da Califórnia. Ele antes havia sido usado como Camp Khitomer, em Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida.
  • O físico Stephen Hawking pediu para aparecer na série depois de fazer uma visita aos sets de A Nova Geração. O roteirista Naren Shankar diz que a equipe pensou um bocado em uma cena que fosse apropriada para a aparição do cientista, a única pessoa em Star Trek a interpretar a si mesma.
  • Brent Spiner se referiu à gravação da cena com Hawking como “talvez meu momento favorito na experiência completa de fazer Star Trek”.
  • A cena tem boas sacadas científicas. Hawking faz uma piada sobre o periélio de Mercúrio, que a teoria da gravitação de Newton não pode explicar (e por isso ele não entende a graça), mas a relatividade geral de Einstein pode.
  • A USS Gorkon é a primeira nave da Federação que tem nome homenageando um não humano em Star Trek. Nas primeiras versões do roteiro, ela teria sido a USS Valiant. Mais adiante essa prática se tornaria comum. Em Discovery, várias naves são batizadas em homenagem a alienígenas, como a USS T’Plana-Hath (nome vulcano) e a USS Shran (andoriano). Gorkon, claro, é o chanceler klingon de Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida.
  • Embora Data diga aqui que experimentou sua primeira emoção, vimos o androide gargalhar descontroladamente por intervenção de Q em “Deja Q”, da terceira temporada. Lá, ele descreve isso como “um maravilhoso… sentimento”.
  • A pintura usada para retratar o posto avançado em Ohniaka III é uma versão ligeiramente modificada da mesma arte usada para retratar a Estação Darwin de Pesquisa Genética em “Unnatural Selection” e a Base Arkaria em “Starship Mine”.

Ficha Técnica

História de Jeri Taylor
Roteiro de Ronald D. Moore
Dirigido por Alexander Singer

Exibido em 21 de junho de 1993

Título em português: “A Queda”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

John Neville como Isaac Newton
Jim Norton como Albert Einstein
Natalija Nogulich como Alynna Nechayev
Brian J. Cousins como Crosis
Stephen Hawking como ele mesmo
Richard Gilbert-Hill como Bosus
Stephen James Carver como Tayar

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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