TNG 7×01: Descent, Part II

Segmento barateia os borgs, mas dá bom destaque para Data e Crusher

Sinopse

Data estelar: 47025.4

Picard, La Forge e Troi são capturados por Lore e seus borgs. O androide, agora unido a Data, revela que assumiu a liderança dos drones depois que eles foram afetados pelo retorno de Hugh à Coletividade, com traços de individualidade. Lore prometeu a eles um futuro glorioso, em que os borgs seriam totalmente artificiais, eliminando toda a vida orgânica na galáxia.

Na Enterprise, Beverly Crusher está no comando, com uma equipe inexperiente. Confrontada pela nave borg, ela ordena a retirada, cumprindo as ordens do capitão, mas elabora um plano para resgatar os grupos avançados deixados no planeta.

Na superfície, Riker e Worf seguem à procura da equipe liderada por Picard, agora desaparecida. Os dois acabam sendo confrontados e capturados por drones borgs, mas descobrem, surpresos, que se trata de rebeldes liderados por Hugh, que se separaram de Lore depois de ver os terríveis experimentos que ele realizara em alguns deles.

No complexo de Lore, Data segue sob firme controle do irmão, que desativou seu programa ético e está transmitindo apenas emoções negativas para ele. Data confisca o VISOR de La Forge e inicia uma série de experimentos no engenheiro, numa tentativa de substituir suas células cerebrais por construtos artificiais. A chance de morte é estimada em 60%.

Enquanto isso, Picard trabalha com Troi para tentar reativar o programa ético de Data. Simulando um desmaio, os dois conseguem confrontar um drone borg e o capitão pega um dispositivo capaz de disparar um pulso suficiente para reiniciar o programa no androide. A iniciativa dá certo.

Em órbita, a Enterprise está de volta para tentar resgatar os grupos avançados. O tempo é escasso para transportar todos. Perseguida pela nave borg, ela é obrigada a ativar um escudo metafásico experimental para se esconder na coroa estelar. A alferes Taitt tem uma ideia: disparar um pulso na estrela, provocando uma erupção capaz de destruir a nave inimiga. O plano dá certo, e Crusher ordena o retorno ao planeta.

No complexo de Lore, Data é ordenado a matar Picard, mas, com o programa ético reativado, ele se recusa. Seu irmão então decide matá-lo. Mas no exato momento da execução chegam ao prédio Riker, Worf e os borgs liderados por Hugh, dando início a um confronto. Data acaba enfrentando Lore e, com um disparo, imobiliza o androide, para em seguida desativá-lo.

Sem Lore, Hugh assume a liderança dos dissidentes borgs, e Data diz que seu irmão será desmontado. Antes que isso acontecesse, contudo, ele tira de Lore o chip de emoções que Noonien Soong havia feito, com o intuito de destruí-lo, depois que emoções negativas quase o fizeram matar seu melhor amigo, La Forge. Geordi impede a destruição, sugerindo que talvez Data um dia esteja pronto para incorporar o chip de emoções a si mesmo.

Comentários

“Descent, Part II” traz as respostas sobre o que Lore está fazendo com os borgs e como ele está controlando Data. Mas isso não quer dizer que elas sejam bem elaboradas. Pelo contrário, são tão simplórias quanto a trama que conduziu a primeira parte, e o resultado final foi baratear os borgs, que de vilões invencíveis foram a capatazes do irmão de Data.

Dois elementos salvam o episódio de ser uma catástrofe total. Um deles é a ótima atuação dupla de Brent Spiner, como Lore e Data, mas desta vez fazendo uma versão diferente do tenente-comandante, contaminada por sentimentos negativos como ódio e fúria e sem qualquer resquício de ética. O ator faz um trabalho brilhante, porque, a despeito de ser uma versão “má” de Data, ela é perfeitamente identificável com a apresentação usual do androide na série e distinguível com clareza do papel de Lore.

O segmento também faz um bom trabalho ao explorar os dois personagens, em particular Data, que passa por diversos eventos traumáticos, como efetivamente realizar sessões de tortura em Geordi La Forge, sob os piores sentimentos que alguém pode nutrir. O desfecho, com a preservação do chip de emoções, acabou abrindo caminho para uma nova exploração do tema no filme Jornada nas Estrelas: Generations (1994), que seria desenvolvido de forma concomitante à sétima temporada da série.

Quanto a Lore, serviu como preposto para que a série comentasse sobre o fenômeno de líderes carismáticos e de como eles podem enganar e manipular seus seguidores com ideias e soluções simplistas. Ainda assim, é algo que aparece de forma muito discreta no episódio, sem o tratamento adequado. Além disso, é estranho usar os borgs para esse propósito, mesmo pensando que eles estão totalmente perdidos e sem referência, após se descolarem da Coletividade.

O segundo grande sucesso do segmento é a oportunidade de colocar Beverly Crusher no comando da Enterprise, cercada por tripulantes inexperientes. É verdade que a ideia, introduzida na primeira parte, é completamente absurda. Mas, uma vez executada, permite bons momentos para a boa doutora. Tanto Gates McFadden como o elenco de apoio, composto por Alex Datcher como a alferes Taitt e James Horan como o tenente Barnaby, fazem um ótimo trabalho, retratando um misto de apreensão, insegurança e profissionalismo que marca a tripulação da Enterprise, mesmo seriamente desfalcada e em uma crise potencialmente fatal.

Legal aqui também a lembrança do escudo metafásico, criado pelo cientista ferengi Reyga, conforme visto no episódio “Suspicions”, da sexta temporada, que também teve foco em Beverly Crusher. Mas não dá para não comentar que o segmento acaba dependendo muito de tecnobaboseira, tanto com o fictício pulso de kedion para reiniciar o programa ético de Data como com o plano para destruir a nave borg induzindo uma erupção estelar. É um traço de escrita que foi se tornando mais comum nas últimas temporadas de A Nova Geração, e no mais das vezes acaba prejudicando o episódio. Aqui, não chegou a comprometer.

Uma das funções deste episódio foi dar continuação aos eventos vistos em “I Borg”, da quinta temporada. Para fazer isso, o segmento traz de volta o borg Hugh, a fim de apresentar o que teria acontecido a seus colegas drones após o seu retorno à Coletividade, levando consigo um lampejo de individualidade. Era uma bola cantada desde a primeira parte, mas o aproveitamento é mínimo: a participação de Jonathan Del Arco não passa de uma ponta, a despeito do papel proeminente de seu personagem após a desativação de Lore e sua ascensão como líder dos borgs rebeldes – de quem jamais ouviremos falar novamente, embora Hugh ainda voltasse à saga na primeira temporada de Picard.

Em termos de valores de produção, o episódio se sustenta bem, com ótimos efeitos visuais da Enterprise em confronto com a nave borg e os cenários elaborados do complexo de Lore. Mas nada disso disfarça o fato de que temos um episódio raso e muito fraco, se comparado com as demais aparições dos borgs em A Nova Geração.

Avaliação

Citações

“The reign of biological life-forms is coming to an end. You, Picard, and those like you, are obsolete!
(O reino das formas de vida biológicas está chegando ao fim. Você, Picard, e aqueles como você, estão obsoletos!)
Lore

Trivia

  • A abertura da sétima temporada marcou uma mudança nas fontes dos créditos principais, que agora contavam com letras maiúsculas e minúsculas para os nomes dos atores.
  • Sobre a elaboração deste episódio, o roteirista René Echevarria comentou: “A Parte I deixou muitas bolas no ar e eu tinha de pegá-las. Tínhamos uma ideia melhor de como a Parte II seria, mas nada saiu tão fácil quanto parecia.”
  • Jeri Taylor apontou: “Tínhamos muita história para contar. Era um excesso de riqueza que obrigou muitas coisas a serem resumidas. A coisa do Lore e do Data tomou a frente, forçando a gente a quase ignorar o Hugh, que se tornou um personagem menor. Estávamos tentando lidar com temas de cultos e de como um líder carismático pode enganar e manipular pessoas. Nós tínhamos tantos temas.”
  • Ao desenvolver o tema do culto, Michael Piller e os roteiristas foram inspirados por David Koresh e o culto apocalíptico Branch Davidians.
  • Numa versão inicial do roteiro, Barclay estaria na tripulação da ponte. Por questão de disponibilidade e custo, a alferes Taitt foi escrita para ocupar seu lugar. O que foi uma solução melhor, segundo Echevarria, que disse que Barclay era “bem sênior e estaria lá em baixo – bobamente – com todo o resto do pessoal!”
  • A primeira versão do roteiro teria Data matando Lore em legítima defesa após uma longa batalha de feiser, mas Michael Piller sugeriu algo mais contido.
  • O complexo de Lore e seus borgs neste episódio e no anterior é o Instituto Brandeis-Bardin. Ele já havia sido usado antes como Camp Khitomer, em Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida.
  • O supervisor de efeitos visuais Dan Curry revelou que as filmagens em locação foram feitas num dia em que as temperaturas beiravam os 40 graus Celsius. “Aqueles figurantes borgs estavam morrendo. Eles tinham de usar macacões pretos sob aqueles trajes de borracha.”
  • Os interiores do complexo eram um estreito cenário de três paredes que foi multiplicado opticamente, junto com os figurantes borgs. Essas peças foram herdadas da temporada passada, mas as cavernas tiveram de ser construídas para este episódio.
  • Jonathan Del Arco volta a fazer o papel de Hugh, mas não tem tempo de tela com Geordi, com quem teve a relação mais próxima em seu primeiro episódio. Ele voltaria a Star Trek na primeira temporada de Picard.
  • James Horan, que aqui faz Barnaby, também participou do episódio “Suspicions”, como Jo’Bril. Ele voltaria a Star Trek como Tosin, em “Fair Trade”, de Voyager, e como o jem’hadar Ikat’ika, em “In Purgatory’s Shadow” e “By Inferno’s Light”, de Deep Space Nine. Seu mais recente papel na franquia seria recorrente, como o “cara do futuro” de Enterprise, que apareceu em cinco episódios, incluindo o piloto “Broken Bow”.
  • A cena final de Lore lembra a desativação do computador HAL 9000 em 2001: Uma Odisseia no Espaço. Lore voltaria a Star Trek na terceira temporada de Picard.
  • La Forge menciona aqui que Data afundou no lago Devala ao tentar nadar. Mas em Jornada nas Estrelas: Insurreição vemos que o androide foi projetado para agir como um dispositivo flutuante.
  • Brent Spiner ficou desapontado com o episódio. “Eu não acho que é tão bom quanto poderia ter sido. Havia um real potencial ali, mas era uma empreitada muito grande para os sete dias que tínhamos para fazer os episódios. Havia um bom subtexto. Lore não era apenas vilanesco, ele acreditava no que estava fazendo.”

Ficha Técnica

Escrito por René Echevarria
Dirigido por Alexander Singer

Exibido em 20 de setembro de 1993

Título em português: “A Queda, Parte II”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Jonathan Del Arco como Hugh
Alex Datcher como Taitt
James Horan como Barnaby
Brian Cousins como Crosis
Benito Martinez como Salazar
Michael Reilly Burke como Goval

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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