TNG 6×25: Timescape

Trama maluca de distorção temporal é pura encheção de linguiça de tecnobaboseira

Sinopse

Data estelar: 46944.2

A Enterprise recebe um pedido de socorro de uma nave romulana e o comandante William Riker decide atender. Enquanto isso, o capitão Picard, acompanhado por Geordi La Forge, Data e Troi, retornam de uma conferência sobre psicologia de voo espacial de longa duração a bordo de um explorador.

Na viagem de volta à Enterprise, eles encontram estranhas ocorrências em que o tempo parece congelar para um ou mais deles e um cesto de frutas envelhece rapidamente, bem como uma nacele de dobra. Ao que parece, houve uma fragmentação do espaço-tempo naquela região, com vários bolsões em que o tempo passa em ritmos diferentes. Eles se encaminham para o encontro com a Enterprise, mas ela não está nas coordenadas esperadas. Acabam por descobri-la junto com uma ave de guerra romulana, no que parece ser um combate – mas ambas congeladas no tempo.

Picard, Troi e Data vão a bordo da Enterprise munidos de equipamentos que permitem a preservação de uma bolha de tempo normal ao seu redor, para não ficarem congelados ao investigarem a situação. Conforme avançam, constatam que nada é muito consistente com um ataque romulano, a despeito de um oficial parecer estar atirando em Beverly Crusher. Worf está transportando vários romulanos para a Enterprise, voluntariamente, e a nave parecia estar fazendo uma transferência de energia para a ave de guerra romulana. Pior: uma brecha do núcleo de dobra da Enterprise estava em andamento, avançando a um ritmo muito lento em razão da distorção temporal.

Picard é afetado por efeitos colaterais de sua bolha subespacial de tempo e é levado de volta ao explorador. Data, La Forge e Troi vão a bordo da nave romulana para descobrir o que está havendo. Constatam que a singularidade quântica artificial que alimenta seu motor de dobra está cercada de entidades orgânicas. O problema parece ser esse. Mas quando Data usa o tricorder para sondar o sistema, o tempo avança, primeiro para a frente, e eles testemunham a destruição da Enterprise, depois para trás, de volta ao ponto onde estavam.

Fica claro que se tratava de uma missão de resgate: a Enterprise tentava ajudar os romulanos enfrentando problemas com seu motor de dobra. Ao transferir energia à nave romulana, uma sobrecarga fez com que o núcleo de dobra da Enterprise se rompesse.

As coisas se complicam quando um dos romulanos aparentemente congelados se revela um alienígena e ataca La Forge. Troi é obrigada a tirar sua bolha subespacial e deixá-lo “congelado” no tempo, para que não morresse sem atendimento médico. O alienígena é capturado e levado ao explorador.

Lá eles descobrem que se trata de uma criatura que apenas assumiu forma romulana para salvar sua cria – os filhotes são gestados em singularidades naturais, buracos negros, e foram acidentalmente colocados na singularidade artificial da nave romulana. Há outro deles à solta na Enterprise, tentando evitar a transferência de energia que tornará a catástrofe inevitável.

Picard, Troi e Data então se preparam para interromper eles mesmos a sequência catastrófica de eventos. Usando o tricorder mais uma vez, vão disparar um fenômeno em que o tempo andará primeiro para trás, depois para a frente. Antes que a ruptura do núcleo de dobra aconteça novamente, interromperão a transferência de energia.

O plano está prestes a dar certo, mas Data acaba sendo atacado pelo segundo alienígena à solta, e o feixe de transferência de energia é ativado. Picard então comanda remotamente o explorador a entrar no caminho do feixe de energia, interrompendo-o. Ele explode, e a nave romulana desaparece, bem como os dois alienígenas. La Forge é resgatado, e Picard precisa explicar a um embasbacado Riker o que aconteceu a bordo.

Comentários

“Timescape” é uma demonstração clara de como, ao final da sexta temporada, os roteiristas estavam pressionados pelo tempo (com o perdão da expressão). O episódio parte de um high-concept interessante, mas claramente insuficiente para sustentar uma trama com algum significado ou desenvolvimento relevante.

Logo de cara temos a sensação de que falta material para levar os 45 minutos, com uma cena excessivamente longa em que Picard, Data, La Forge e Troi discutem suas experiências na tal conferência de psicologia. Ela serve para introduzir o mistério do episódio, com Troi observando seus colegas “congelarem no tempo” por alguns instantes, mas claramente se arrasta demais. Não fosse o carisma dos personagens a sustentar o sabor de “conversa cotidiana de café da manhã”, a coisa toda teria caído por terra ali.

O que, por sinal, teria apenas antecipado um desfecho praticamente inevitável. Conforme as situações vão ficando mais malucas e sem sentido (culminando com um Picard em riso histérico desenhando uma careta na nuvem de fumaça saindo do núcleo de dobra em colapso), é inevitável a sensação de que o roteiro está apenas dando voltas e reviravoltas para gastar o tempo (ele de novo!) sem de fato desenvolver uma história.

Não colabora com o sucesso a natureza claustrofóbica do segmento, obviamente destinado a economizar no orçamento: muitos figurantes, poucos atores convidados, e boa parte do episódio se desenrolando nos dois limitados cenários fixos do explorador (um deles cortesia de Deep Space Nine, a essa altura em produção simultânea com A Nova Geração).

O diretor Adam Nimoy, voltando à série após “Rascals”, faz escolhas de segurança, conduzindo as tomadas de forma bastante convencional. Possivelmente para compensar a complexidade da pós-produção nas cenas de variação do tempo, por vezes envolvendo efeitos visuais complicados. Ainda assim, é inevitável a sensação de monotonia, bem como um desfecho abrupto, ocasionado por uma solução simplista, quase mágica, para combater a falsa encrenca estabelecida de forma totalmente arbitrária ao longo dos 40 minutos precedentes. O roteirista Brannon Braga havia sido genial com uma história envolvendo viagem no tempo não convencional e a destruição da Enterprise em “Cause and Effect”, da quinta temporada. Aqui, ele tenta repetir a dose, mas fracassa terrivelmente. Nem atirando os romulanos na trama ele consegue torná-la mais interessante.

O único destaque positivo é o uso de Troi, que age de forma bastante profissional e competente ao longo de todo o episódio, inclusive explorando seu conhecimento de naves romulanas adquirido em “Face of the Enemy”, desta mesma sexta temporada. São raras as ocasiões em que a personagem foi bem utilizada, de modo que cabe fazer esta menção honrosa. Ainda assim, é muito pouco para salvar um episódio que é essencialmente uma salada de tecnobaboseira concebida por falta de tempo e dinheiro para preencher a cota da temporada.

Avaliação

Citações

“It’s going to take a little time to explain, Number One.”
(Vai levar um tempinho para explicar, imediato.)
Jean-Luc Picard para Will Riker

Trivia

  • A trama do episódio foi baseada em uma história de Mark Gehred-O’Connell, que fez uma proposta de uma linha de “uma nave presa no tempo como em âmbar”. Ele comentou: “Em minha ideia original, nenhuma das naves era a Enterprise. Minha história envolvia a Enterprise encontrando duas outras naves nessa situação e tendo de desarmá-la porque isso ameaçava todo o setor. Mas quando vendi a história, Brannon mandou: ‘Oh não, uma dessas naves tem de ser a Enterprise!’ Do minuto em que comecei, eu podia dizer que as engrenagens já estavam girando na mente dele”. Gehred-O’Connell não pôde trabalhar mais no roteiro porque o episódio foi acelerado para a produção quando outro roteiro caiu.
  • Brannon Braga desenvolveu a proposta depois que outra história foi descartada. Ele queria superar seu “Cause and Effect” com uma história de viagem no tempo ainda mais incomum. “Isso é ‘Cause and Effect’ vezes dez. O tempo não está apenas em loop. Está indo para trás, acelerando, parando e indo para a frente”, ele disse. “Eu queria fazer isso como ‘homem contra a natureza’, ou ‘homem contra o tempo’. O que O Segredo do Abismo foi para mergulho submarino profundo, esse seria para ‘mergulho temporal profundo’.” Por conta dessa ideia, um título de trabalho para o episódio era “Deep Time”.
  • Os nomes dos palestrantes são piadas internas: Wagner era o sobrenome de uma moça com quem Braga saiu uma vez, e Vassbinder ganhou o nome de um de seus professores do ensino médio.
  • Desde o começo, era sabido que a produção do episódio seria extremamente complexa. Braga disse: “Quando eu o estava escrevendo, ficava pensando que não ia ter como.” Jeri Taylor relembrou: “Foi absolutamente bizarro. Cheio de efeitos ópticos e sequências complicadas. Você faz tela dividida? Usa fundo azul? Usa lentes anamórficas?”
  • O desafio foi passado ao diretor Adam Nimoy, filho de Leonard Nimoy, que já havia dirigido “Rascals”. Rick Berman lembrou: “Meu sentimento é que ninguém deveria ser submetido a ser julgado por um trabalho que era tão inusual em termos de ter de vir e dirigir aquelas crianças. Eu basicamente disse que daria a ele outra chance trabalhando com adultos.”
  • David Livingston comentou: “Acho que esse é o memorando de efeitos ópticos mais longo que já recebi. Eram mais de seis páginas. Adam foi muito específico sobre o que ele queria e eu sabia que ele seria ótimo nele. Ele tem bons genes.”
  • Nimoy se esforçou para trazer à vida o que se referiu como a “ambientação estranha” do roteiro. Seus momentos favoritos do episódio foram as reações ao tempo congelado e revelações no explorador, que Nimoy disse terem sido inspirados por filmes impressionistas alemães como The Hands of Orlac (1924). “Era muito diferente. Eu dependi muito dos caras dos efeitos especiais numa tentativa de manter o que pensei que era o drama da cena e lidar com as restrições que os efeitos especiais colocavam em termos do que você pode fazer com atores enquanto usava esses efeitos à capacidade dramática máxima para fazer tudo funcionar com a cena. Foi um jeito totalmente diferente de encarar. Estou aprendendo muito com esses caras.”
  • O explorador (runabout) é um veículo desenvolvido originalmente para Deep Space Nine. O nome desse em particular não é revelado pelo episódio.
  • O cenário da cabine interna do explorador foi construído e bancado pelo orçamento de A Nova Geração, como contribuição para Deep Space Nine. Ironicamente, esse cenário nunca foi mostrado em DS9. Enquanto o cockpit, construído para “Emissary”, piloto de Deep Space Nine, teve sete semanas para ser criado, a cabine interna teve de ser concebida e construída em nove dias para este episódio.
  • Esta é a segunda vez que vemos a Enterprise-D alimentar uma nave romulana com um feixe de transferência de energia, depois de “The Next Phase” (quinta temporada). E é a terceira vez que vemos a Enterprise-D destruída, depois de “Time Squared” (segunda temporada) e “Cause and Effect” (quinta temporada).
    Apesar de não receber créditos, a alienígena feminina deste episódio, que não tem falas, é interpretada por Patricia Tallman, mais conhecida como a telepata Lyta Alexander, da série dos anos 1990 Babylon 5.

Ficha Técnica

Escrito por Brannon Braga
Dirigido por Adam Nimoy

Exibido em 14 de junho de 1993

Título em português: “Tempo, Tempo, Tempo”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Michael Bofshever como alienígena
John DeMita como romulano
Joel Fredericks como engenheiro

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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