TNG 7×02: Liaisons

Humor supera o suspense em episódio divertido, mas esquecível

Sinopse

Data estelar: desconhecida

A Enterprise recebe dois embaixadores do planeta Iyar, Loquel e Byleth, como parte de um programa de intercâmbio cultural. Um terceiro iyaarano, Voval, está encarregado de pilotar uma nave e levar Picard até Iyar para uma visita ao planeta.

Loquel fica sob a supervisão de Troi, e Byleth de início ficaria sob os cuidados de Riker, mas ele protesta e exige ser acompanhado por Worf, a quem trata com profundo desprezo. O klingon relutantemente aceita, em nome do dever.

Picard parte com Voval, que também não demonstra muita simpatia. No meio do caminho, a nave auxiliar iyaarana tem um problema e eles são obrigados a fazer um pouso de emergência em um planeta classe M. Voval é seriamente ferido, e Picard desembarca em busca de ajuda, mas é atingido por uma tempestade de plasma. Desmaiado, ele é resgatado por uma mulher, que o leva para um cargueiro terelliano na superfície.

Ela se apresenta como Anna, uma humana que se acidentou naquele mundo e está presa lá pelos últimos sete anos. Picard se vê com um dispositivo em sua costela, que Anna diz servir para manter seus ossos quebrados na posição correta. Ele mal consegue se levantar, mas diz que ambos escaparão de lá. O capitão instrui Anna a ir até a nave iyaarana e trazer o dispositivo de comunicação, mas ela o destrói ao usar um feiser para removê-lo. Ela diz também que encontrou Voval morto.

Enquanto isso, na Enterprise, Loquel se mostra muito simpático, buscando prazer a todo momento e se deliciando com as sobremesas favoritas de Troi. Em compensação, Byleth testa a todo momento a paciência de Worf, ofendendo-o e desafiando-o. O conflito chega ao ápice durante uma partida de pôquer nos aposentos de Riker, em que Byleth paga uma aposta pegando fichas da pilha de Worf. Os dois começam a lutar e, ao final, Byleth agradece ao klingon pela excelente demonstração – todos ficam sem entender.

No planeta, Anna e Picard passam muito tempo juntos, e ela diz estar apaixonada por ele. Enquanto trabalha em outro equipamento para tentar providenciar seu resgate, o capitão ressalta que ela deve estar confusa por encontrar uma pessoa depois de ficar sozinha por sete anos e provavelmente não está de fato apaixonada. Mas ela insiste, diz que não há saída do planeta e quer que Picard a ame. Ele começa a desconfiar que ela está trabalhando para evitar que escapem e tira o dispositivo afixado em suas costelas, descobrindo que ele era a causa de sua dor. Anna fica furiosa com a rejeição e, depois de quebrar seu colar, sai correndo, trancando Picard no cargueiro.

Eis então que o capitão ouve um chamado do lado de fora. Ele guia a pessoa até a porta do cargueiro e descobre que Voval está vivo. Ele diz ter visto uma mulher correr na direção de um abismo e sugere que devam salvá-la. Picard vai atrás dela, mas suspeita de um truque quando ela aparece com o colar intacto. Exposta, Anna então se transforma em Voval – na verdade um embaixador iyaarano, cuja missão era desvendar o conceito humano de amor, desconhecido de sua cultura. Ele revela a Picard que esse é o modo deles de estabelecer relações diplomáticas. Byleth e Loquel, por sua vez, tinham como objetivo desvendar os conceitos de antagonismo e prazer. Esclarecido o mistério, Voval leva Picard de volta à Enterprise.

Comentários

“Liaisons” traz duas tramas interligadas com tons radicalmente diferentes. Enquanto a história ambientada na Enterprise tem um foco no humor, a de Picard no planeta tem um sabor mais sinistro, explorando a obsessão que “Anna” adquire pelo capitão. Estamos falando de um episódio descompromissado, sem grandes ambições. Ele apresenta uma premissa simples e a desenvolve, garantindo bons minutos de entretenimento sem chegar a ser especialmente memorável.

Em tese, a história principal é a de Picard. Mas custamos a aceitar isso, porque ela não traz tanto charme quanto os dois exóticos embaixadores lidando com Troi e Worf a bordo da Enterprise. A construção do mistério em torno de Anna não é muito efetiva, e o drama não vai tão longe quanto deveria – exceto no ponto em que o espectador, como Picard, já percebeu que se trata de um embuste.

Patrick Stewart cumpre sua função de forma burocrática, sem brilho. E faltou química com Barbara Williams, atriz que interpreta Anna, para tornar esse pedaço da história mais envolvente.

É um forte contraste com Michael Dorn, que mais uma vez demonstra seu impecável tempo de comédia para entregar uma apresentação engraçadíssima de Worf. Eric Pierpoint não tem muito a fazer como Voval, enquanto Paul Eiding (Loquel) e Michael Harris (Byleth) têm mais chance de brilhar. É uma ironia quando a trama B brilha mais que a trama A, mas foi o que aconteceu aqui.

Do ponto de vista técnico, temos um episódio que deixa um pouco a desejar. Especialmente o ambiente do planeta, construído em cenário interno, é pouco convincente, mesmo com um bom uso de pinturas para compor o quadro – especialmente no penhasco de onde Anna ameaça se jogar. Diante das limitações do roteiro e dos valores de produção, o veterano diretor Cliff Bole não pôde fazer muito para valorizar o segmento, que passa como uma hora discreta de A Nova Geração.

Avaliação

Citações

“Tell me about your love… or I’ll jump!”
“Go ahead. Why don’t you do it? It’s a… long way down. Must be two hundred meters, you’d die instantly if that’s what you want, but I don’t think that it really is.”

(Fale-me do seu amor… ou eu vou pular!)
(Vá em frente. Por que não pula? É… um longo caminho até lá embaixo. Deve ter uns duzentos metros, você morreria instantaneamente se é isso que você quer, mas eu não acho que seja.)
Anna e Jean-Luc Picard

Trivia

  • O título de trabalho deste episódio era “The Journey”.
  • A história original proposta por Roger Eschbacher e Jaq Greenspon era uma homenagem ao romance Misery: Louca Obsessão, de Stephen King, em que uma fã mentalmente perturbada sequestra um escritor.
  • Segundo René Echevarria, o episódio “foi proposto de forma maliciosa pelos escritores, que o apresentaram como uma exploração dos fãs obcecados por Star Trek e foi isso que me fez sorrir e passar adiante”.
  • Jeri Taylor ficou impressionada pela proposta, acreditando que ele poderia ser desenvolvido como um drama de duas pessoas com Patrick Stewart, similar ao bem-sucedido “Chain of Command, Part II”.
  • A primeira versão do roteiro foi escrita pelas escritoras estagiárias Jeanne Carrigan Fauci e Lisa Rich.
  • Brannon Braga foi encarregado de reescrever o roteiro, o que ele fez em oito dias. “Eu não era fã dessa história”, comentou. “O primeiro roteiro de Lisa e Jeanne tinha algumas coisas muito boas nele, mas a relação não estava funcionando entre Picard e a mulher. A mulher era da Frota Estelar e muito centrada, e eles tinham uma relação muito normal e realmente começaram a se interessar um pelo outro. Quando se revela que ela é na verdade um alienígena tentando descobrir o que é o amor, eu perguntei: ‘Bem, ela fez um trabalho tão bom emulando a fêmea humana se apaixonando, por que eles teriam de aprender qualquer coisa?’ O que eu fiz foi tornar a história mais sombria e fiz a relação mais sinistra e perturbadora.” Braga comparou sua versão ao filme Atração Fatal.
  • O primeiro roteiro de Fauci e Rick incluía uma subtrama em que Deanna Troi era promovida a comandante. Taylor apontou que as histórias não se encaixavam bem juntas. “Nós sentimos que precisava ser algo mais organicamente ligado à história do Picard, e foi aí que o Brannon bolou de termos os outros diplomatas da mesma raça de pessoas.” A subtrama da promoção de Troi acabaria sendo usada mais tarde, em “Thine Own Self”.
  • Numa cena cortada (e incluída como um extra em home-video), Byleth acorda Worf às 5h da manhã para uma visita ao arboreto.
  • O menino Eric ganhou esse nome em homenagem a um sobrinho de Brannon Braga.
  • Passas cobertas com chocolate chegaram a ser compradas para ser comidas por Loquel, mas isso foi mudado na última hora quando se descobriu que o ator Paul Eiding era alérgico a chocolate.
  • Jeri Taylor gostou da subtrama de Brannon Braga na Enterprise. “Acho que ele fez um trabalho maravilhoso de desenhar alguns personagens muito engraçados e deliciosos que estavam experimentando nosso modo de vida pela primeira vez.”
  • Já Braga não se mostrou muito satisfeito. “Eu fiquei feliz com o roteiro? Sim. Fiquei feliz com o episódio? Não sei. Eu me diverti muito escrevendo, e muito foi cortado pelo tempo, principalmente os momentos mais engraçados. Se eles acabariam ou não sendo engraçados é outra história. É uma questão de opinião. No fim, dou a Picard um discurso sobre pessoas que levam as coisas aos extremos para experimentá-las, e é isso que essas pessoas fazem. Pensei que era bem interessante. Para entender a cultura, você precisa imergir naquela cultura. É um pouco disperso, contudo. No fim, embora pareça ter um perfume de Misery e Atração Fatal, a sacada de Star Trek não era nada disso.”
  • O diretor Cliff Bole ficou desapontado com o episódio, citando as constantes reescritas como a causa.
  • Este é o primeiro episódio em que Worf, Troi e Beverly Crusher são vistos nos uniformes de gala. Também é um dos três episódios da série que não mostra a ponte da Enterprise-D (depois de “Family” e antes de “Dark Page”). Por fim, é um dos cinco episódios em que não temos uma data estelar. Os outros quatro são “Symbiosis”, “First Contact”, “Tapestry” e “Sub Rosa”.

Ficha Técnica

História de Roger Eschbacher & Jaq Greenspon
Roteiro de Jeanne Carrigan Fauci & Lisa Rich
Dirigido por Cliff Bole

Exibido em 27 de setembro de 1993

Título em português: “Relações”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Barbara Williams como Anna
Eric Pierpoint como Voval
Paul Eiding como Loquel
Michael Harris como Byleth
Rickey D’Shon Collins como menino

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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