TNG 7×03: Interface

Episódio explora negação e luto ao introduzir a família de Geordi La Forge

Sinopse

Data estelar: 47215.5

A Enterprise está prestando socorro à nave científica Raman, presa na atmosfera de um planeta gigante gasoso. Para o resgate da tripulação, a equipe está fazendo uso de uma sonda controlada remotamente por Geordi La Forge. Graças aos implantes neurais do VISOR, é possível transmitir sinais diretamente ao cérebro dele, criando a ilusão de que ele está a bordo da nave perdida.

Enquanto isso, Picard recebe um comunicado do almirante Holt, informando que a USS Hera desapareceu e há pouca esperança de que seja encontrada. Trata-se da nave comandada por Silva La Forge, mãe de Geordi. Picard informa seu engenheiro-chefe, que não acredita que sua mãe esteja de fato morta.

Riker oferece para tomar o lugar de Geordi no resgate da Raman, mas o engenheiro lembra que ele é o melhor homem para o trabalho, por conta de sua compatibilidade com a interface. De volta à Raman, Geordi encontra os sete tripulantes mortos. Um incêndio começa e, de forma inexplicável, as mãos dele acabam seriamente queimadas.

Crusher conclui que as queimaduras são resultado de uma sobrecarga dos impulsos da interface e decide que ela só poderá voltar a ser usada numa intensidade menor. Geordi conversa com seu pai, que já fala no funeral da mãe. O engenheiro insiste que é cedo para proclamar a morte dela.

De volta à Raman com a interface, Geordi tem uma visão de sua mãe, que diz que ele precisa levar a nave para a superfície do planeta, a fim de resgatar a Hera, presa lá. O engenheiro tenta convencer Picard de que isso de fato pode ser verdade, mas ninguém dá muita credibilidade à hipótese, envolvendo um funil de dobra. Data calcula que é quase impossível que a Hera esteja mesmo no planeta. O capitão então veta o plano de Geordi, que decide agir por conta própria. Data tenta dissuadi-lo, mas acaba o apoiando.

De volta à Raman, o engenheiro reencontra a imagem de sua mãe, que pede para ele descer às camadas mais internas do planeta. Após grande esforço, ele conduz a nave para baixo, mas não encontra sinal da Hera. Enfim, é revelado que alienígenas inteligentes que habitam o fundo do planeta foram trazidos para cima pela Raman e por isso estão morrendo. Um deles conseguiu se comunicar com Geordi fingindo ser sua mãe. Ao entender isso, o engenheiro conduz a nave para baixo, enquanto a tripulação da Enterprise trabalha para desconectá-lo da interface com segurança. Com os alienígenas salvos, Geordi tem de aceitar que sua mãe está mesmo perdida.

Comentários

“Interface” nos oferece um recorte interessante da vida pessoal de Geordi La Forge, um personagem cujo passado foi pouco explorado ao longo da série. Ao apresentar sua mãe e seu pai, além de indicar que ele tem uma irmã, o segmento dá novas dimensões para o engenheiro-chefe da Enterprise. Infelizmente, depois de um início muito feliz, a história se perde em um clichê barato de ficção científica, que leva a um desfecho insatisfatório.

Começando pela parte boa: os três primeiros atos são bem construídos, retratando o processo de negação e luto de Geordi, ao saber que sua mãe está desaparecida. É um tema pouco explorado em Star Trek. Embora seja bastante comum termos personagens com passados trágicos, tendo perdido pai ou mãe quando muito jovens (só em A Nova Geração, podemos citar Worf, que perdeu pai e mãe, e Riker, que perdeu a mãe; e mais tarde, em Picard, descobriríamos que Jean-Luc também perdeu a mãe de forma trágica), é incomum vermos um desses personagens tendo de enfrentar essa perda em tempo real. É isso que temos aqui com La Forge, e o trabalho do roteirista Joe Menosky é muito bom nesse sentido, trazido à vida por uma boa atuação de LeVar Burton (que pôde passar boa parte do episódio sem lentes ou o VISOR, nas cenas em que estava representando a sonda na Raman).

Também é legal a exploração que o episódio faz das diferenças entre ter um ente querido morto e um desaparecido, circunstância em que a esperança por um milagre nunca desaparece completamente. Ao navegar por essas questões, o Geordi de Burton tem boas cenas com o Riker de Jonathan Frakes, a Troi de Marina Sirtis e o Data de Brent Spiner.

As coisas começam a pegar um caminho mais tortuoso a partir do quarto ato, quando La Forge começa a ter visões de sua mãe na nave perdida. Esse é mais um elemento intrigante do episódio e poderia ter sido usado de forma potente – mas acaba não sendo. Em vez de bancar as alucinações do perturbado engenheiro, o roteiro preferiu seguir uma rota mais tradicional em Star Trek, atribuindo o fenômeno a misteriosos alienígenas inteligentes habitantes das profundezas do planeta gigante gasoso.

OK, a premissa até faz algum sentido, mas esvazia totalmente o efeito de Geordi ter visto a mãe perdida lá embaixo. E soa falso o desfecho, em que ele diz ter sentido que pôde se despedir dela. É quase como uma frase para poder acabar o episódio remendando o final para não parecer pobre demais. Mas é. Enquanto o episódio explorou o trauma psicológico de Geordi, foi bem. Quando saltou completamente para uma saída de ficção científica, se perdeu.

Em termos de valores de produção, não há muito o que destacar. A sonda é simplória, bem como o traje da interface. Mas nada disso incomoda, num episódio que se propõe a ser muito mais uma exploração psicológica do que uma aventura. O que perturba mesmo é a falta de coragem para levar mais fundo a negação de La Forge com relação à perda da mãe – talvez para proteger a versão quase ideal dos humanos do século 24 projetada por Gene Roddenberry.

Avaliação

Citações

“You know, it’s funny. When I was down there, it was so real. I felt like I had a chance to say goodbye.”
(Sabe, é engraçado. Quando eu estava lá embaixo, foi tão real. Eu senti que tive uma chance de dizer adeus.)
Geordi La Forge

Trivia

  • A proposta original de Joe Menosky para o episódio, apresentada na quinta temporada, teria Riker num traje de realidade virtual, perturbado pela morte de seu pai, com cenas de sua cabine no Alasca.
  • A história não foi levada adiante porque Michael Piller achava que era muito similar à trama proposta para o piloto de Deep Space Nine, “Emissary”. Em 3 de março de 1993, Jeri Taylor enviou um memorando a Piller sugerindo que a ideia fosse revivida para a sétima temporada.
  • O personagem principal foi trocado por La Forge por conta da loucura de Riker em “Frame of Mind” e a lógica de usar os implantes do VISOR do engenheiro.
  • Taylor destacou: “Nós tivemos a família de todo o resto a bordo. Todos os outros personagens tiveram sua família explorada exceto Geordi, e provavelmente a principal razão para fazê-lo é que havia uma ordem para finalmente desenvolver seu personagem mais do que havia sido, e mostrar que ele não nasceu do nada da cabeça de Zeus.”
  • O roteiro recebeu uma polida não creditada de René Echevarria.
  • A cena em que Riker consola La Forge pela perda foi escrita por Jeri Taylor quando se descobriu que o episódio estava curto demais. Ela não foi filmada até as gravações de “Phantasms”, três episódios depois.
  • O supervisor de efeitos visuais Ronald B. Moore ficou frustrado que a miniatura elaborada da sonda só apareceu uma vez. O episódio em vez disso usa a convenção de La Forge no lugar da sonda. O diretor Robert Wiemer justificou dizendo que seria “não recompensador emocionalmente” filmar a sonda com Silva enquanto cortava para La Forge para obter tomadas de reação.
  • Este episódio marca a primeira aparição de um novo penteado de Troi. O cabelo dela variaria bastante ao longo da temporada, dependendo se ela estava em serviço ou não.
  • Tanto LeVar Burton como os astros convidados Ben Vereen e Madge Sinclair apareceram na famosa minissérie Roots (Raízes), de 1977.
  • Foi durante a produção deste episódio que Ronald D. Moore sentiu que A Nova Geração tinha se esgotado. “Acho que era um ponto onde estávamos na sala e falando sobre trazer a mãe do Geordi, e nós todos olhamos uns para os outros e estávamos como: ‘Isso é triste. Esse é o melhor que podemos fazer? É o melhor que podemos fazer, a mãe do Geordi?’ Foi uma ideia tão do tipo ‘quem se importa’ que nós estávamos meio que, ‘ah cara… essa série precisa acabar.”
  • Em outra entrevista, Moore comentou: “Houve um esgotamento criativo durante a última temporada. […] Os parentes estavam saindo do armário porque estávamos procurando coisas para fazer com as pessoas.”
  • LeVar Burton festejou a exploração tardia de seu personagem, mas apontou: “Nós apenas tocamos a ponta do iceberg sobre o passado de Geordi. Eu gostaria que tivéssemos mergulhado mais fundo em sua relação com os pais.”
  • Naren Shankar questionou se a premissa era suficientemente futurista. “Para mim, não é realmente interessante do ponto de vista do ‘uau’ da tecnologia, porque não estamos olhando para tecnologia quatrocentos anos no futuro. Acho que é mais como quarenta anos no futuro. É quase um tipo de tema gasto atualmente. A tecnologia parece fora de proporção com outras tecnologias que usamos na Enterprise.”
  • O consultor científico André Bormanis apontou: “Há protótipos desse tipo de coisa já, embora ligar diretamente ao cérebro vá levar muito mais.” Mas talvez não muito mais. Desde o começo do século 21, experimentos que conectam dispositivos robóticos ao cérebro já foram feitos tanto em animais como em humanos. Um dos grandes especialistas mundiais no tema é o brasileiro Miguel Nicolelis.

Ficha Técnica

Escrito por Joe Menosky
Dirigido por Robert Wiemer

Exibido em 4 de outubro de 1993

Título em português: “Interface”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Madge Sinclair como Silva La Forge
Warren Munson como Marcus Holt
Ben Vereen como doutor La Forge

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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