SNW 3×07: What is Starfleet?

Documentário retrata missão dual da Frota Estelar entre defesa e exploração científica

Sinopse

Data estelar: 2191.4

O documentário de Umberto Ortegas, O que é a Frota Estelar?, acompanha uma missão da Enterprise que enseja a pergunta: a instituição de fato prioriza a exploração, como de fato diz, ou é um instrumento de guerra?

Umberto entrevista a tripulação colhendo suas impressões sobre a organização e suas histórias pessoais. A Enterprise é encarregada de um transporte confidencial em suporte aos lutanis, que sob ataque da civilização do planeta Kasar, em um sistema vizinho, que quer se apropriar de seus recursos. Ao entrar na zona de guerra, a nave terá como missão transportar uma jikaru, criatura que vive na lua-oceano Tychus-B e que os lutanis alteraram para se tornar capaz de voo espacial.

Quando a criatura chega à órbita, uma nave lutani a ataca, o que instiga uma resposta violenta. A nave de reconhecimento é desabilitada, e a pilota é trazida à Enterprise por teletransporte. O encontro é especialmente difícil para Spock, que estabeleceu involuntariamente contato telepático com a criatura. Em estado grave, a pilota é uma cientista lutani que diz ser um erro usar a jikaru, e morre em seguida.

No documentário, Uhura relata seu trauma com a perda da família e descobre por Umberto Ortegas que uma amiga da Academia morreu na USS Cayuga, durante o ataque gorn a Parnassus Beta. Já M’Benga é instado a falar de seu passado como combatente na Guerra Klingon. Gravações feitas com discrição revelam que Pike e Una estão desconfortáveis com as ordens da Frota Estelar nessa missão.

A nave passa a alerta vermelho quando a jikaru escapa do campo de contenção e ensaia uma fuga. Pike está determinado a levá-la a Lutani VII, mesmo com a percepção recém-adquirida de que a jikaru pode ser usada como uma poderosa arma de destruição em massa. Há um temor de que os klingons se apoderem da criatura, uma vez que foram aliados dos lutanis no passado.

No laboratório, Chapel, Spock e Uhura constatam que o amortecedor neural criado pelos lutanis para a jikaru é na verdade uma espécie de coleira de choque. Uhura está convencida de que a criatura tenta se comunicar. Spock se oferece para tentar fazer contato, mesmo sob risco de vida. Pike opta por tentar a instalação de um novo amortecedor neural na criatura, mas o esforço fracassa. A Enterprise é atacada, e Umberto Ortegas é retirado da ponte. Ele questiona Uhura sobre a ética da missão, e ela fica revoltada que ele esteja gravando a conversa. Fica a impressão de que Umberto quer retratar a Frota Estelar sob um prisma de entidade colonialista.

Sem opções, Pike concorda com a proposta de Spock, que viaja acompanhado de Chapel e Uhura em uma nave auxiliar para minimizar riscos. O vulcano estabelece contato telepático com a ajuda de um amplificador neural e não percebe instintos agressivos na jikaru. Uma nave de guerra lutani então aparece, o que gera uma resposta agressiva da criatura. A nave auxiliar Galileo é atingida, e o trio volta à Enterprise ferido. Spock é colocado em coma induzido. Segundo M’Benga, os dados colhidos indicam que a jikaru foi alterada para ter apenas instintos violentos. Uhura se oferece para tentar contato por meio do amplificador neural e descobre que a criatura está cansada de ser usada como arma, a para fins violentos, e quer apenas acabar com seu sofrimento – ela quer ser atraída para o sol para morrer.

Em entrevista, Pike lembra de quando, aos 14 anos, teve que sacrificar um cavalo em sofrimento extremo. Foi difícil, mas ele foi em frente. O capitão obtém autorização do Comando da Frota Estelar para conceder o desejo à jikaru, agora percebida como uma criatura senciente. Ela manifesta preocupação com seus filhos, ainda não alterados pelos lutanis, e Pike promete que os protegerá, criando uma reserva em Tychos-B. Em seguida, a Enterprise trabalha com disparos suaves para atrair a jikaru para o sol. Pike contata a nave de guerra lutani e comunica o plano, para a frustração deles. Pike diz que a Federação os apoiará de outras maneiras.

A jikaru então tem seu sofrimento encerrado em um mergulho no sol. Umberto Ortegas termina o documentário percebendo as nuances nos dilemas enfrentados pela Frota Estelar e descobrindo que o que faz a instituição são as pessoas que trabalham nela, irmanadas num espírito de família e dedicadas a fazer o certo em condições extraordinárias.

Comentários

“What is Starfleet?” é mais um dos já famosos episódios experimentais de Strange New Worlds – talvez o mais convencional de todos deles, posto que dispensa completamente qualquer suspensão adicional da descrença. É, a um só tempo, drama e documentário, em mais um exercício metalinguístico da série. O resultado, em geral, é muito bom.

O formato impõe uma nova dinâmica à narrativa, que a torna bastante acelerada, alternando entre depoimentos colhidos pelo cineasta Umberto Ortegas, gravações feitas por ele durante a missão e imagens das câmeras de bordo da Enterprise. Tudo para retratar a missão da nave à lua Tychus-B, com o objetivo de transportar uma criatura, chamada jikaru, a Lutani VII, lar dos lutanis, povo que está em guerra com seus vizinhos do planeta Kasar. Não por acaso esse é o episódio mais curto de Strange New Worlds – é o que o ritmo impõe, com a história que os produtores desejavam contar.

Até por isso, o episódio falha em oferecer mais contexto ao espectador sobre o conflito entre Lutani e Kasar. Sabemos que são ambos planetas não federados. Se você piscar, perde a informação de que Lutani chegou a ter uma aliança com os klingons no passado (reforçando o sabor “Guerra Fria do século 23” que histórias assim costumam ter na época da Série Clássica). Também é preciso alguma dose de esforço para perceber que o que eles chamam de guerra na verdade é um massacre – os lutanis já tiveram 9 milhões de mortos, enquanto a turma de Kasar perdeu pouco mais de 100 mil. Ajuda a entender por que a Federação decidiu dar suporte a Lutani, mas é tudo muito jogado. Pensando como espectador do episódio, é algo que faz falta para compreender o contexto da história. Pensando como audiência do documentário, como julgar se a Frota Estelar é um instrumento de guerra ou de paz sem entender as motivações que a colocaram nessa missão em particular? Umberto Ortegas propositalmente ocultou essas informações para enviesar o telespectador contra a Frota Estelar? Mas ao final da história ele não reconhece os méritos da instituição? Ele não editou o documentário só depois que o gravou, já sabendo como iria terminar? Surge algum ruído do esforço metalinguístico de criar um documentário dentro do universo ficcional e apresentá-lo a nós, como audiência, na forma de um episódio. Mas nada disso prejudica a experiência, se você não ficar pensando muito no assunto.

O protagonismo do episódio, como o título sugere, é obviamente a Frota Estelar em si. Os personagens servem um duplo papel como a encarnação coletiva da instituição e reflexos de suas próprias vidas pessoais, mas não vemos aqui grande desenvolvimento de personagem – exceto talvez pelo próprio Beto Ortegas, que se descobre enraivecido com a Frota Estelar por preocupação com sua irmã Erica. (Essa cena estar no documentário, colocando o próprio cineasta como personagem de sua peça, é um dos já citados pequenos ruídos de conciliação do esforço metalinguístico.)

Nos depoimentos dados, alguns dos tripulantes se sobressaem. Mais que todos, Uhura, responsável, ao lado de Spock e Chapel, pela solução que leva ao dilema do episódio – o que fazer para proteger os direitos da jikaru, uma criatura que entra no rol dos grandes alienígenas incompreendidos de Star Trek, a começar pela mamãe Horta, de “The Devil in the Dark”, da Série Clássica. Percebemos bem como a jovem oficial de comunicações mudou desde sua chegada à nave, cheia de insegurança e pouco convicta de que havia uma vida para ela na Frota Estelar. Agora ela é “time Frota” para valer.

Também se destaca no episódio Joseph M’Benga, com uma atuação muito nuançada, até um pouco sinistra, de Babs Olusanmokun, quando confrontado sobre seu passado na Guerra Klingon e se já teria alguma vez manipulado os registros automáticos da enfermaria. Ele diz não se lembrar. Mas nós somos obrigados a lembrar que, em “Under the Cloak of War”, apenas testemunhos embasaram o que teria transcorrido entre ele e o embaixador Dak’Rah. Até é possível imaginar que a enfermaria, até para preservar a privacidade e a dignidade dos pacientes, seja desprovida de câmeras. Mas aqui o mais fácil é pensar que ele deu uma apagadinha “acidental” nos registros (algo que provavelmente ele já fazia para esconder a presença de Rukiya, sua filha, no acumulador de padrão do transporte). O episódio também faz um eco interessante entre a psique de M’Benga e da própria criatura, quando ele se dá conta de que ela não suporta mais a dor de ser usada como instrumento de violência – algo que ele pode entender muito bem.

Ortegas e La’An recebem um tratamento mais convencional, meramente as guerreiras traumatizadas focadas no trabalho que já conhecemos; Spock tem a oportunidade de revelar episódios de sua infância e explicar a importância da Frota Estelar no processo de aceitação de seu lado meio humano; Pike e Una cumprem tabela. Uma das cenas do capitão é curiosa: Pike pergunta ao entrevistador, como argumento retórico, se ele já viu alguém morrer. Mas isso de fato aconteceu, apenas dois episódios atrás, em “Through the Lens of Time”, quando Beto Ortegas viu o m’kroom N’Jal morrer no templo-prisão de Vadia IX (isso para não falar no pobre alferes Gamble). Foi um lapso ou uma provocação deliberada?

A despeito desses pequenos atravancos, a soma de tudo torna o episódio bastante interessante. Visualmente, ele é maravilhoso, beneficiado pelo estilo de filmagem “documentário”, o formato 16:9 de “tela cheia” (para emular produção televisiva) e o trabalho gráfico que pontua bem o que é imagem do sistema de registros da Enterprise e o que é gravação do Ortegas. Os efeitos visuais se destacam como uma das estrelas do segmento, com imagens espetaculares da criatura jikaru, desde sua partida do oceano de Tychus-B até sua despedida num mergulho do sol daquele sistema. Como a Horta de “The Devil in the Dark”, ela está sobretudo preocupada com sua prole, o que adiciona humanidade e drama à situação.

No fim das contas, “What is Starfleet?” se propõe a explorar a estranha dualidade que Star Trek impõe à Frota Estelar: ela é uma instituição de defesa, de caráter militar, ou um órgão de pesquisa científica, de caráter civil? A resposta sempre foi: ela é as duas coisas. Por vezes, seu retrato pende mais para o lado militarista (como nos filmes com o elenco clássico). Em outros momentos, ela se parece mais uma versão futurista de uma agência espacial civil como a NASA (em A Nova Geração, por exemplo). Mas a dualidade sempre está presente, e este episódio tenta explorar os conflitos inerentes a essa natureza dual da organização. Começamos com uma missão cheia de segredos dignos de uma operação militar e terminamos com uma decisão moral enfática de respeito à autodeterminação e à vida, orientada pela ciência e pela ética, em detrimento de cálculos políticos. É sobre esse difícil ponto de equilíbrio que se sustentam muitos dos melhores episódios da franquia.

Avaliação

Citações

“What is Starfleet? It’s the people. All of us. We make Starfleet what it is. Not the other way around.”
(O que é a Frota Estelar? São as pessoas. Todos nós. Nós fazemos a Frota Estelar o que ela é. Não o contrário.)
Nyota Uhura

Trivia

  • O escritor Alan B. McElroy assinou oito episódios de Discovery antes de se emparceirar com Kathryn Lyn para essa estreia em Strange New Worlds.
  • A diretora canadense Sharon Lewis é formada em ciência política pela Universidade de Toronto e atuou como apresentadora da rede CBC, além de alguns papéis como atriz. Ela se autodescreveu como “ativista” e diz que “é o trabalho do jornalista ativar mudanças por meio da informação”. Como diretora, ela já trabalhou em ficção e documentários. Essa é sua primeira contribuição para Star Trek.
  • Martin Quinn é creditado, mas Scotty não aparece neste episódio. Melanie Scrofano (Marie Batel) está em cenas de grupo, mas não teve falas aqui. Carol Kane (Pelia) não aparece e não é creditada.
  • Os registros de câmeras de segurança da Enterprise lembram vídeos mostrados em “Court Martial”, da Série Clássica, e em Jornada nas Estrelas III: À Procura de Spock.
  • Com tempo total de 40 minutos, este é o episódio mais curto da série. Ele é o segundo nesta temporada a não usar a sequência tradicional de créditos de abertura, desta vez para acomodar o estilo de documentário.
  • Descobrimos que, a exemplo dos Estados Unidos e do Brasil, a Federação Unida de Planetas tem uma “Lei de Acesso à Informação” (Freedom of Information Act) para regular liberação de documentos e materiais governamentais.
  • O episódio estabelece várias estatísticas sobre a USS Enterprise: 190 mil toneladas métricas, comprimento de 442,6 metros, tripulação de 203, com seis bancos feiser e dois tubos de torpedos fotônicos, escudo defletor e uma quantidade “secreta” de armas de uso pela tripulação.
  • O comprimento da Enterprise é alvo de controvérsia entre os fãs. O Star Trek Star Fleet Technical Manual, de Franz Joseph, publicado em 1975, estabelecia o comprimento da nave em 288,6 metros. Sempre foi fonte não canônica, mas serviu de referência para diversos gráficos mostrados em tela nos filmes clássicos e, mais recentemente, na segunda temporada de Discovery. Curiosamente, esse tamanho é incompatível com os cenários vistos no seriado original. Ao redesenhar a nave para Discovery (e posteriormente Strange New Worlds), a produção teve longas discussões sobre isso. “A escala ia para cima e para baixo”, relembra o ilustrador John Eaves. “Manteríamos a escala da série original ou seria aumentada para se ajustar ao tamanho das naves de Discovery?”, disse. “Ficou decidido que iríamos com a escala de 1.500 pés (457 m).” O valor adotado neste episódio é a primeira confirmação canônica definitiva dessa decisão de bastidores.
  • Quando criança, Spock fugiu para a Planície de Sangue, uma região desolada da Forja de Vulcano vista em Enterprise. A história que o oficial de ciências conta neste episódio lembra o que Sarek contara a Picard em “Unification I”, de A Nova Geração. Spock também revela a Uhura que adotar práticas de meditação de Surak dá aos vulcanos capacidade extrassensorial aumentada.
  • Descobrimos que Erica está remontando uma motocicleta em seus aposentos e tem um grande armário de ferramentas. Vemos também a sala de treinamento de tiro da Enterprise, em uma cena com La’An. E ficamos sabendo que o número serial de Uhura na Frota Estelar é SK4561, KNT1122. Pike, por sua vez, toca bandolim, particularmente o da marca Eastman Guitars. E, na refeição que ele serve em seus aposentos, é possível ver os cubinhos coloridos que apareciam como alimento na Série Clássica.

Ficha Técnica

Escrito por Kathryn Lyn & Alan B. McElroy
Dirigido por Sharon Lewis

Exibido em 21 de agosto de 2025

 Título em português: “O que é a Frota Estelar?”

Elenco

Anson Mount como Christopher Pike
Ethan Peck como Spock
Jess Bush como Christine Chapel
Christina Chong como La’An Noonien-Singh
Celia Rose Gooding como Nyota Uhura
Melissa Navia como Erica Ortegas
Babs Olusanmokun como Joseph M’Benga
Rebecca Romijn como Una Chin-Riley

Elenco convidado

Melanie Scrofano como Marie Batel
Mynor Luken como Beto Ortegas
Shaun Majumder como Trunn Voor
Steffi DiDomenicantonio como Gyud

TB ao Vivo

Enquete

TS Poll - Loading poll ...

Edição de Maria Lucia Rácz

Episódio anterior | Próximo episódio


Descubra mais sobre Trek Brasilis

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.