Em um universo onde Star Trek continua a expandir suas fronteiras, uma ideia inovadora procura ganhar vida dentro do estúdio. Trata-se da série Star Trek: United, um projeto conceitual criado por Scott Bakula (capitão Archer) e o roteirista/produtor de Star Trek: Enterprise, Michael Sussman. Ambientado cerca de 30 anos após o fim da NX-01, o enredo foca no Capitão Jonathan Archer – agora primeiro presidente da Federação Unida dos Planetas – em uma luta desesperada para impedir o colapso da aliança galáctica que ele ajudou a forjar. Mas, apesar do entusiasmo dos criadores, United permanece uma “fantasia deliciosa”, como descreve Sussman, sem qualquer plano oficial na Paramount Skydance até o momento.
Repetimos, não há nada de oficial deste projeto, nem conversas, nem interesse por parte do estúdio, apenas aprecie as ideias de Sussman e Bakula e viaje nesta deliciosa aventura.
Ao revisitar o último episódio que escreveu para Enterprise, “In a Mirror, Darkly“, Sussman lembrou de um gráfico de linha do tempo que ele mesmo escreveu, indicando que Archer, após se tornar almirante, ingressaria na política e chegaria à presidência da Federação. A ideia ganhou forma concreta nos últimos anos. Bakula, que interpretou Archer de 2001 a 2005, e Sussman – roteirista e coprodutor da série apresentaram esta ideia à Secret Hideout, a produtora de Alex Kurtzman que gerencia as séries de Star Trek para o Paramount+.
O conceito impressionou o suficiente para ser levado aos executivos da Paramount, mas foi rejeitado devido a cortes no streaming e preocupações com sobreposições temáticas com Star Trek: Starfleet Academy, em desenvolvimento na época. Agora, com a aquisição da Paramount pela Skydance, Bakula e Sussman veem uma janela de oportunidade.
Num bate papo via podcast Sci-Finatics, Sussman revelou mais detalhes a respeito de seu projeto, e a esperança de que a nova direção ainda veja com bons olhos esta iniciativa.
Começo da ideia
Sussman comenta que a ideia foi totalmente acidental, mas que ganhou forma com o passar do tempo:

No episódio “In a Mirror, Darkly“ vimos um gráfico na tela de visualização do futuro — que eu tive que escrever caso aparecesse na tela, e acabou aparecendo de fato. Ele estabelecia que, após se tornar almirante e deixar a Frota Estelar, Archer entrou na política e eventualmente se tornou presidente da Federação. Na época, imaginei que precisava colocar datas, como em uma biografia. Coloquei algo como “25, 30 anos após Enterprise”. Aqui estamos, tantos anos depois, e de repente me ocorreu: “se Scott fosse interpretar Archer hoje, ele seria o presidente”. Meu Deus, isso é uma série de TV. Então, foi um começo muito acidental.
Arcos Inacabados de Enterprise
No podcast, Sussman destacou que a série Enterprise, assim como a Série Original, deixou uma sensação de interrupção prematura entre o público, especialmente após o cancelamento na quarta temporada, quando ela atingia seu auge criativo, mas celebrou o apoio online que emergiu para a ideia de revisitar o personagem e explorar arcos inacabados, como a Guerra Romulana:
Recebi muitos e-mails e posts. Tem sido incrível. Muita gente sente falta do personagem. Sentem falta de vários personagens da série. Enterprise tem algo em comum com a Série Original: os fãs sentem que foram roubados. Queriam sete temporadas. A quarta temporada estava no auge criativo — e fomos cancelados junto com a rede toda, por causa de manobras corporativas acima do nosso nível. Então, sim, tem sido muito gratificante ver tantos fãs surgirem do nada, apoiando essa ideia. Eles estão empolgados com a possibilidade de revisitar o personagem do Scott, ver onde ele acabou. Em algum momento, a série checaria o resto do elenco (quando disponível).
E também explorar arcos inacabados, como a Guerra Romulana — que, cronologicamente, aconteceria entre o episódio 21 e 22 da quarta temporada.
Na verdade, a Guerra Romulana seria usada como pano de fundo histórico para o início da série:
E uma das minhas ideias para essa série é que ela na verdade abrisse com um flashback para uma cena ambientada durante a Guerra Romulana, onde veríamos a tripulação, ou pelo menos parte dela, da NX-01, e eles estariam em uma situação muito… bem, não quero dizer muito sobre o que estão fazendo, mas veríamos um pouco da guerra nessa cena de abertura, mas também seria uma cena crucial que estabeleceria um personagem completamente novo, que seria fundamental para a série daqui para frente. Então, haveria um pouco de fan service nisso, suponho, em termos de cenas.
Um pouco de IA, um pouco de deep fake para rejuvenescimento, sabe, com alguns membros do elenco. Acho que seria uma ótima recompensa para os fãs que estavam esperando ver alguma parte dessa linha narrativa que nunca chegamos a fazer.
Primeira Sede de Comando da Federação
Após a negativa do estúdio devido a semelhança com o ambiente de Starfleet Academy, a dupla refinou o conceito inicial para diferenciá-lo – movendo a ação para o planeta Babel, em vez da Terra, e enfatizando tons de thriller político inspirados em Andor de Star Wars.
Na época, Starfleet Academy estava em desenvolvimento no mesmo local (Terra). Mas por que tem que ser na Terra? Não sabemos nada desse século. Proponho quartel-general da Federação em Babel (planetoide de “Journey to Babel” na Série Clássica). Nunca vimos o planeta — só o título de episódios. Seria um ambiente terraformado, geoengenheirado — parte estação espacial, parte base em asteroide, mas com superfície planetária.
Mais Deep Space Nine do que West Wing. A última temporada poderia explicar por que Babel não é mais a capital.
A intenção da série seria equilibrar o drama político com aquele senso de esperança pelo qual Star Trek é conhecido:
Quero manter a esperança viva. Não seria só “conversas em corredores” na Casa Branca futurista.
Puxaria muito de Deep Space Nine — base fixa, mas com os filhos em missões externas: diplomacia, resgate, inteligência. Mesmo com a Guerra Romulana no passado, os romulanos não sumiram. Seria um thriller político com conspirações, (série) Cloak and Dagger. Um dos filhos na Inteligência da Federação (não Seção 31). Quero explorar o que a Inteligência da Federação faz — terreno inexplorado.
O Legado Familiar de Archer
O coração emocional da série reside nos quatro filhos adultos de Archer, um elemento revolucionário para o cânone de Star Trek, onde capitães como Kirk ou Picard raramente exploram vidas pós-Frota Estelar com famílias extensas. Espalhados pela galáxia, os filhos representam caminhos divergentes, nem sempre alinhados com o pai: Diplomacia, Inteligência da Federação (não a Seção 31, enfatizou Sussman) e Frota Estelar.
Um deles, oficial da Frota, usa o sobrenome Hernandez para evitar favorecimento, revelando-se filho da Capitã Erika Hernandez (Ada Maris), ex-namorada de Archer e comandante da NX-02 Columbia.

Minha ideia é que o filho na Frota Estelar não use Archer como sobrenome, por causa do tratamento preferencial, sabe. Então, ele usa o sobrenome da mãe, que é Hernandez. Isso pode significar algo para fãs de Enterprise. É um deep cut um pouco. Não sei se você lembra, na quarta temporada havia a capitã da NX-02, que era uma antiga paixão.
Mas o relacionamento com ela não está definido — podem ser divorciados ou nem ter sido casados, nem todos os filhos serem da mesma mãe.
Bem, foi meio natural porque eu precisava que alguns dos filhos tivessem certa idade. Então, meio que voltei no tempo para com quem Archer estava se relacionando.
A Nave do Presidente
O veterano designer conceitual e ilustrador Andrew Probert que trabalhou em A Nova Geração, desenhou a Enterprise-D, a popular Warbird romulana. Antes disso, trabalhou no refit da Enterprise para o filme Star Trek: The Motion Picture. Ele vem ajudando Sussman a esboçar o que poderia ser a nave do presidente da Federação, Jonathan Archer, no projeto de série United:
Você viu alguns designs que eu estava rabiscando com o grande Andrew Probert, que soube do programa nas redes sociais e entrou em contato comigo sobre potencialmente desenhar algumas naves. Então, ele está rabiscando como uma nave presidencial seria nessa era. Algo que pudesse levar Archer e sua equipe a mundos amigáveis e talvez a mundos não tão amigáveis. Então, isso tem sido muito divertido.

Mas todos os designs dele estavam pensando no que veio depois de Matt Jefferies. Acho que tem sido um desafio interessante, não só para ele, mas para mim, voltar um pouco e imaginar o que veio antes. E então, estamos brincando nessa área. Quando Andrew entrou em contato comigo perguntando se havia elementos do programa, naves espaciais ou algo que ele pudesse pensar, a primeira coisa que veio à mente foi a nave do presidente. Uma ideia era que ele simplesmente voasse em qualquer nave de trabalho da Frota Estelar, mas sabe, isso não é uma boa analogia para o que acontece no mundo real.
Então, vamos dar a ele sua versão do Air Force One e como seria isso? Então, houve muitas perguntas sobre a tecnologia da época. Teria uma seção de disco? E conversamos bastante ao longo de algumas semanas via texto e e-mail. No final, encontramos uma forma divertida para a nave. E ele me mostrou um design antigo dele que era meio um vaso em forma de cunha com motores do século 24. Achei realmente legal e pensei, bem, se você fizer esses parecerem um pouco mais apropriados para o período, parecerem mais com os da NX-01 poderia funcionar totalmente. Então, estamos prosseguindo nessa linha.
Mas Andrew continuou enviando novas ideias e desenhos para mim. E acho que a direção que estamos seguindo é uma nave muito maior, muito elegante e aerodinâmica, que entraria na atmosfera e levaria Archer e sua equipe nessas missões diplomáticas. Estamos tentando pensar como a tecnologia nessa era é diferente de 100 anos no futuro ou 80 anos no futuro, onde você não necessariamente tem shuttles que viajam em dobra nessa era. Minha inspiração foi o shuttle vulcano de Star Trek: The Motion Picture, que é claro que Andrew desenhou.
E eu amo esse design, é uma nave com esses grandes naceles e um pequeno shuttle que pousa no topo, e é assim que a nave se move, e eu simplesmente amo a lógica mecânica de contar histórias disso. Então, novamente, é sobre descobrir como a tecnologia nessa era é diferente, mais primitiva do que vimos na Série Clássica, mas também talvez ligeiramente mais avançada do que vimos em Enterprise. E é o divertido disso.
Revivendo a Tragédia de Salem-One?
Claro, mas seria protegido. Babel seria protegido por essa rede de estações espaciais, plataformas de defesa orbital e a estação de Salem. E é claro como em Deep Space Nine tinha toda uma grade de defesa completa e outras coisas que eles aprimoraram.
Sabe, se o programa for ao ar e durar alguns anos, sua temporada final poderia ser sobre por que não é mais a capital ou a sede nos anos futuros e meio que amarrar esse laço. E eu tenho algumas ideias interessantes nesse sentido.
Um evento histórico mencionado em A Nova Geração pode esclarecer o motivo. No episódio “The Enemy” (3ª temporada, episódio 7), o Capitão Picard compara a Estação Salem-One à “Pearl Harbor da Federação” — um posto avançado da rede defensiva da Conferência de Babel, destruído em um ataque surpresa que causou centenas de mortes e serviu como o sangrento prelúdio à Guerra Federação-Romulana. Assim, é provável que Star Trek United transforme o incidente de Salem-One em um marco decisivo, justificando uma mudança radical na estrutura da Federação.
O Agente Romulano
O ator Todd Stashwick interpretou Talok, um agente romulano infiltrado de longa data que se fazia passar por um oficial militar vulcano em Enterprise. Em United, Talok teria papel fundamental para sabotar a Federação:

Todd Stashwick de volta como Talok? Sim, ele interpretou, ou pelo menos esse era o nome vulcano principal dele. Ele está disfarçado há anos. Ele é um agente romulano e tem subvertido os verdadeiros interesses, diria, da maioria dos vulcanos, e tínhamos planos de trazer esse personagem de volta, pelo menos eu tinha, e infelizmente não o vimos de novo. Então, adoro a ideia de que ele ainda está disfarçado todos esses anos depois, certamente como um vulcano fazendo coisas ruins e tentando subverter a relação entre humanidade e Vulcano. Tenho muitas ideias do que esse personagem está fazendo no presente. Adoraria pegar Todd se ele estiver livre e disponível.
Trip Não Estaria Morto?
Perguntado se algum ex-membro do elenco de Enterprise poderia voltar em Star Trek: United, seja como convidado ou regular, Sussman responde com bom humor:
Olha, eu adoraria ter todos de Enterprise aparecendo em algum momento nesse programa em alguma capacidade. O que seria isso, não sei. Não sei se o papel de diretor de comunicações para a mansão presidencial em Babel seria um personagem que teria tanto tempo de tela quanto CJ tinha em The West Wing. Então, se isso apelaria para alguém como Linda Park (Hoshi), eu não sei. Eu teria que escrever o episódio. Eu amo certamente a relação que Archer tinha com Shran e adoraria continuar isso de alguma forma. Há muitos problemas com atores e disponibilidade. Então, você nunca sabe bem o que vai conseguir fazer e obviamente você quer contatar esses membros do elenco antes de escrever um grande arco para eles porque se não estiverem interessados ou indisponíveis ou trabalhando em outra coisa, então você tem um pequeno problema.
Ao insistir sobre o destino do personagem comandante “Trip” Tucker (interpretado por Connor Trinneer), aparentemente morto na simulação do holodeck em “These Are the Voyages…“, respondeu Mike:
Uh, tenho ideias de como Connor [Trinneer] apareceria no programa. Isso é realmente tudo o que posso dizer sobre isso.
Um tema de abertura
Perguntado se já imaginou como seria a abertura da série, disse Sussman:
Não acho que a série teria uma abertura tipo “espaço, a fronteira final”. Embora sempre me incomodou que Enterprise não tivesse isso porque eu realmente sentia que se você vai fazer um programa sobre uma nave chamada Enterprise, você pode ter essa abertura. Você pode fazer Espaço, a Fronteira Final. Na verdade, essa foi minha única contribuição para o finale da série Enterprise. Mas sim, não acho que United teria esse tipo de declaração. Mas dito isso, sabe, também provavelmente não teria uma música rock como tema.
É engraçado porque acho que foi o episódio “Take Me Out to the Holosuite” (Deep Space Nine) onde eles tocaram o hino da Federação, que achei meio interessante. Aquela sequência de abertura incluiria música nessa linha que seria edificante e espero que inspiradora. Não estou dizendo que seria a música tema para a série, mas os melhores temas de Star Trek, quero dizer, certamente o tema de Voyager que Jerry Goldsmith compôs assim como o tema de A Nova Geração. Para mim, esses seriam pontos de referência temáticos para o que eu gostaria. O programa é ultimamente um programa otimista e esperançoso que abraça aquele futuro. Então, a música deveria abraçar isso também.
Numa mensagem final de Mike Sussman para os fãs:
Se isso parece uma ideia intrigante para você, então poste sobre isso, tweet sobre isso, hashtag isso. Eles têm muito no prato agora… Há algo como quatro temporadas de Star Trek na pipeline. As pessoas estão interessadas nisso em grande parte por causa de Scott (Bakula). Eu sei que quero vê-lo de novo nesse papel.
Levaria um tempinho antes que qualquer coisa potencialmente fosse feita com essa premissa se de fato algo for feito. Eu encorajaria as pessoas, se estiverem empolgadas com a ideia, a postarem sobre isso e convencerem seus amigos a fazerem o mesmo. Eu adoraria nada mais do que isso acontecer, mas agora é meio que uma fantasia deliciosa sobre a qual estamos conversando. Televisão meio que começa assim. E se?
As quatro temporadas da série Enterprise estão disponíveis no Paramount+
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