Em reencontro com as enguias, McGiver se sacrifica para salvar sua filha com Khan
Sinopse
Data estelar: desconhecida
Lear e Tuvok conversam e ele pergunta como Delmonda encontrou os arquivos de McGivers, bem como o interesse pessoal dela no tema dos aumentados. Lear diz que escolheu essa linha de investigação por ser atraente do ponto de vista acadêmico, mas o vulcano tem a convicção de que ela está mentindo e diz que vai investigar. A historiadora fica muito preocupada, ao retomar sua investigação dos registros.
Depois dos últimos eventos com Ivan e os elboreanos, Marla está convencida de que os atos de violência dele precisam ser punidos, de modo que Khan possa forjar uma aliança com os alienígenas. Delmonda quer compartilhar responsabilidades decisórias com ele, e os dois entram num acordo. Ivan então é libertado do controle telepático e tenta convencer Khan a atacar os elboreanos, um por um. Ao ser rechaçado, Ivan está convencido de que Khan mudou e agora é um líder fraco.
À beira da praia, Khan e Marla discutem o nome de sua filha e optam por Kali, deusa do tempo, associada à morte e à criação. Com Ivan detido, cabe a Khan decidir a punição dele. Marla mais uma vez insiste que a aliança com os elboreanos deve ser mantida a todo custo, com ele e Delmonda partilhando o poder.
Paolo e outros jovens ouvem música caminhando fora do acampamento quando encontram um grupo de elboreanos. Paulo decide abordá-los. Dois deles, chamados Camora e Oretta, dizem estar monitorando movimentos celestes. A comunicação telepática é ouvida por todos os jovens, e os elboreanos revelam que estão construindo uma nave para que eles possam escapar do planeta condenado, em troca de música – criação com a qual não estavam familiarizados.
No acampamento, Ursula tenta alimentar Madot, que está deprimida e acha que a esposa a culpa por terem perdido o bebê. Ursula considera Khan o verdadeiro culpado, primeiro por ter tentado tomar a Enterprise, e agora por liderá-los à caverna que acabou causando o acidente com Madot.
Marla e Khan se dividem: ela vai liderar o grupo para a caverna do Mar Sem Sol, e ele vai ficar para resolver com Delmonda a situação de Ivan. Ursula visita o prisioneiro e descobre que Ivan, embriagado, pretende fingir arrependimento e pedir perdão a Khan, para depois matá-lo envenenado e tomar seu lugar.
Khan se reúne com Delmonda e protesta sobre a revelação a seus comandados de que haveria uma nave para eles, o que forçaria sua decisão. O elboreano refuta essa desconfiança e confirma o que Khan já sabia: a caverna do Mar Sem Sol é estéril, e não poderia sustentar o grupo. Delmonda diz que seu grupo está recolhendo recursos e montando plantios hidropônicos, que poderiam alimentar metade de cada grupo até a construção da nave. A outra metade teria de se deslocar até uma rede de cavernas a mil quilômetros dali, onde talvez possam sobreviver até serem resgatados. A nave em si terá de ser construída e lançada a partir da caverna do Mar Sem Sol, com capacidade para apenas quatro passageiros. Os que ficarem terão de viver juntos, sob um mesmo sistema de leis, buscado por consenso. Ivan será o primeiro exemplo.
Khan diz que decidiria na base do “sangue por sangue”. Mas Delmonda é a favor de uma abordagem mais civilizada, repreender para educar e reabilitar, não para punir. Os dois chegam a esse acordo.
Na caverna, Marla toma um banho relaxante em uma fonte hidrotermal, mas é atacada por enguias. Joachim vai ao socorro dela, mas não a tempo de impedir que fosse infectada.
Khan reencontra Ivan, que pede perdão a seu mestre e serve uma bebida a ele. Khan revela a parceria com Delmonda – salvação para seu povo em troca de autoridade compartilhada. Para a surpresa de Ivan, o líder diz que aceitou – e percebe que sua bebida está envenenada. Os dois entram em combate corpo a corpo. Khan admite que a aliança é temporária, até que atinja seus objetivos, e que dirá a Delmonda que Ivan tentou matá-lo, mas ele encontrou perdão em seu coração. O traidor será banido do acampamento e abandonado para morrer.
Na caverna, Joachim corre para avisar Khan do que aconteceu a Marla. Tamaris, uma médica elboreana é trazida para examiná-la, mas diz que não pode remover a larva, já agarrada ao córtex cerebral. O que podem fazer é reduzir o ritmo de crescimento do parasita reduzindo a atividade cerebral de Marla, por tempo suficiente para que o bebê possa sobreviver. Tentar salvá-la, por improvável que seja, condenaria a criança à morte. Marla quer que ele salve Kali. Arrasado, aos prantos, Khan concorda, enquanto ela é colocada em seu sono final.
Comentários
“I am Marla” é o episódio em que todas as principais tramas se encontram, adicionando dramaticidade e marcando aquele que decerto é o maior ponto de virada na estabilidade mental de Khan durante seu exílio em Ceti Alfa V. Como o próprio título sugere, ele coloca Marla McGivers como coprotagonista, sem desvirtuar o personagem do tirano – apesar de todas as acusações de Ivan em contrário.
O braço-direito de Khan reflete a natureza daqueles que vivem por um código de violência pura: era evidente desde o começo que sua agressividade em algum momento se voltaria contra seu líder, o que acontece aqui, regado a muita vodca. Ivan planeja o assassinato de Khan, e o confronto acaba numa luta corpo a corpo mais uma vez muito bem representada pela sonoplastia. Derrotado, Ivan é condenado a um exílio dentro do exílio, sendo abandonado à própria sorte além do acampamento dos aumentados em um planeta moribundo.
Essa decisão não vem de um ato de misericórdia, mas de um esforço calculado de manipulação, em que Khan espera convencer Delmonda, o líder elboreano, de que está mudando sua forma de agir e pensar – apenas enquanto isso for conveniente para a sobrevivência, mas nem um segundo mais. Dessa forma, continuamos com a percepção de que o personagem é extremamente inteligente, mas amoral e, por conta disso, irredimível. Evidente que essa não é a percepção de Marla, que acredita na real transformação de Khan em alguém mais gentil e generoso. De certa forma, a morte dela é também a morte desta ilusão.
É o retorno triunfal das ceti-enguias, que pareciam ter sido derrotadas meses antes, mas agora se preparam para se tornar as verdadeiras sobreviventes da crise ambiental de Ceti Alfa V. Não parece uma boa ideia se fechar numa rede de cavernas habitada por essas criaturas e, ao que parece, a morte de Marla será apenas o início da tragédia para os comandados de Khan.
Aprendemos mais aqui também sobre os planos dos elboreanos, com a construção de uma espaçonave para apenas quatro pessoas e planos não muito transparentes para a sobrevivência tanto dos aumentados quanto de seu próprio povo. Até agora, esses seres parecem benevolentes até demais, o que nos faz perguntar se esse aspecto da história não merece uma reviravolta…
O que parece, contudo, cada vez mais consolidada é a ideia de que Rosalind Lear tem um elo forte com Marla e Khan – difícil não acreditar que ela não seja a própria Kali, filha dos dois até este ponto na história ainda não nascida, mas gestada no corpo inerte de Marla com a ajuda dos elboreanos. Temos mais uma pequena cena da trama-envelope aqui, em que Tuvok desmascara a conversa fiada de Lear e parece estar a um passo de desvendar a conexão entre ela e a crise de Ceti Alfa V. Considerando que restam apenas mais dois episódios, já não era sem tempo.
Do ponto de vista estrutural, esse segmento flui bem melhor que o anterior, com um número menor de cenas, mais bem-estruturadas e capazes de explorar o que o audiodrama oferece de melhor. Com a morte de Marla, e a iminente partida de Delmonda, ficamos ainda com algumas perguntas não respondidas. A maior delas: por que não houve posterior resgate em Ceti Alfa V, se ao menos o elboreano conseguiu deixar o planeta? Mais uma vez, a escrita revela sofisticação ao prender o interesse da audiência em meio a uma trama estilo Titanic, que todo mundo já sabe como termina.
Avaliação




Citações
“This is my choice. I am Marla. I have spoken.”
(Essa é minha escolha. Eu sou Marla. Tenho dito.)
Marla McGivers, escolhendo sacrificar-se para salvar a filha
Trivia
- O trabalho de conclusão de curso de Lear foi um estudo do banimento da Federação sobre engenharia genética e a divisa cinzenta do que pode ser qualificado como aumentação, usando o mote “Deus está nas zonas cinzentas”, inspirado pela expressão “Deus está nos detalhes”. A frase é atribuída a vários autores, dentre eles Ludwig Mies van der Rohe e Gustave Flaubert, e indica que a atenção aos detalhes traz recompensas. Uma versão alternativa é “o diabo está nos detalhes”, sugerindo que um exame cuidadoso mostraria complicações sobre algo que a princípio parecia positivo.
- Lear menciona discriminação contra centenas de pessoas com pequeno percentual de DNA aumentado, muitas delas oficiais da Frota Estelar. Entre elas podemos citar duas oficiais da Frota Estelar no século 23: La’An Noonien Singh e Una Chin-Riley, ambas personagens de Strange New Worlds.
- Ao duvidar de Lear, Tuvok diz que vulcanos têm enorme dificuldade de mentir, e muitos são incapazes, mas isso os deixa também mais sensíveis a mentiras alheias. Parece uma reformulação razoável do conhecido mito de que “vulcanos nunca mentem”.
- McGivers e Khan decidem chamar a filha deles de Kali, deusa hindu ligada ao tempo, à morte e destruição.
- O vinho Barolo de Ivan tem origem na região do Piemonte francês, na divisa com Itália. A garrafa de Ivan veio de um ditador da Caxemira, região do norte da Índia, na fronteira com o Afeganistão.
- A afirmação de Ursula (“Se você ataca um rei, é melhor não errar”) é uma variação de um ditado atribuído a Ralph Waldo Emerson (“Quando você ataca um rei, precisa matá-lo”) com um toque de cultura pop da banda The Wire (“You come at the king, you best not miss.”). A resposta de Ivan, “eu nunca erro”, também é o que diz James Bond ao matar o rei Elektra em O Mundo Não É o Bastante (1999).
- A música que toca na caixa de som dos jovens aumentados é “Your Touch”, da banda Particle House, lançada em 2021. A minissérie tem sido agnóstica sobre a época das Guerras Eugênicas, mas a presença da canção parece contradizer a ideia de que Khan e seu grupo teriam deixado a Terra em 1996, conforme sugerido em “Space Seed” e Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan, mas se alinha bem com a ideia de que Khan ainda era um menino em 2023, como sugeriu o episódio “Tomorrow and Tomorrow and Tomorrow”, da segunda temporada de Strange New Worlds. Ou isso, ou Ivan baixou novas músicas para sua playlist quando esteve a bordo da Enterprise para ajudar Khan a tomar a nave.
- Já sabíamos que McGivers teria morrido por causa das ceti-enguias, agora descobrimos como ela foi infectada.
- Ivan grita “Khan!”, lembrando o que Kirk faria em Jornada II.
- Enquanto Marla perde a consciência, Khran cita Kubla Khan: “A damsel with a dulcimer / In a vision I once saw: / It was an Abyssinian maid / And on her dulcimer she played, / Singing of Mount Abora. / Could I revive within me / Her symphony and song, / To such a deep delight ’twould win me, / That with music loud and long, / I would build that dome in air…”.
Ficha Técnica
História de Nicholas Meyer
Roteiro de Kirsten Beyer & David Mack
Dirigido por Fred Greenhalgh
Exibido em 20 de outubro de 2025
Título em português: “Eu Sou Marla”
Elenco
Naveen Andrews como Khan Noonien Singh
Wrenn Schmidt como Marla McGivers
Tim Russ como Tuvok
Sonya Cassidy como Rosalind Lear
Olli Haaskivi como Delmonda
Maury Sterling como Ivan
Zuri Washington como Madot
Mercy Malick como Ursula
Maxwell Whittington-Cooper como Paolo
Tina Ivlev como Erica
Elenco Adicional
Paul Castro Jr.
Aleena Khan
Adriel Jovian Nerys Rivera
Juliette Goglia
Juan Francisco Villa
Jacqueline Jackson
Cynthia Hood
Fajer Al-Kaisi
Hamish Sturgeon
Hayden Bishop
Ethan Dubin
Christina Tellesca
Chad Chenail
Regina Taufen
Aaron Hendry
Aaron Fors
Jeremy Maxwell
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Edição de Maria Lucia Rácz
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