Guia de episódios

STAR TREK IV:
THE VOYAGE HOME

1986



 









 


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Foi preciso produzir quatro filmes de Jornada nas Estrelas para que o velho espírito da Série Clássica finalmente aflorasse. Não que os outros segmentos produzidos para a tela grande tenham fracassado. Ao contrário aliás. De seu próprio modo, "Jornada nas Estrelas: O Filme" trabalhou um tema épico e filosófico. "A Ira de Khan" ofereceu drama e ação como jamais haviam sido mostradas na franquia antes. E "À Procura de Spock"... bem, "À Procura de Spock" é o que o título diz.

Mas "A Volta para Casa", como o próprio nome também sugere, é um esforço na tentativa de retornar às origens, exprimir não só a qualidade da série original, como seu espírito. A química entre os personagens transparece aqui mais do que nunca, e, apesar de a Enterprise praticamente não estar no filme, fica claro que ela é um elemento extremamente importante para o formato como um todo.

Uma olhada rápida por sobre o enredo e a premissa do filme faz supor que o objetivo era meramente produzir uma pseudo-comédia, explorando as bem conhecidas e cativantes relações de amizade, lealdade, responsabilidade e companheirismo forjada entre os tripulantes da nave. Nada mais injusto do que isso.

Apesar de explorar sabiamente uma visita ao século 20 como forma de aproximar o público (especialmente o "não-especializado") da história, "A Volta para Casa" está longe de ser um segmento irrelevante em termos de seu conteúdo. A começar pela abertura, com uma providencial homenagem à tripulação do ônibus espacial Challenger, que pereceu durante uma decolagem naquele mesmo ano de 1986.



No contexto de crítica contemporânea, o filme dirigido por Leonard Nimoy consegue ser muito mais efetivo do que a média das produções motivadas por alguma temática ambientalista. Longe de um catastrófico "Free Willy", "A Volta para Casa" consegue lidar com baleias sem ser bobo.

Em vez disso, enfatiza o quanto não sabemos a respeito desses animais, e o quão ingênuos podemos ser ao julgar o ser humano a única coisa importante e rara neste planeta. Apesar disso, não cai no discurso besta dos abraçadores de árvores de plantão, apresentando uma visão equilibrada da causa ecológica e da necessidade de preservar, no mínimo, por força do chamado "princípio da precaução".

Na entrevista de Leonard Nimoy ao TB (aqui), fica mais do que clara a preocupação do diretor do filme em lidar inteligentemente com a questão da barreira de comunicação entre espécies (colocada não só na forma de uma sonda cuja inteligência somos incapazes de compreender, mas também na dificuldade de decifrar a linguagem própria das baleias, desafio que até hoje se interpõe aos cientistas).

Seríamos bobos, então, de considerar "A Volta para Casa" apenas um filme engraçadinho capaz de atrair um público mais amplo. Mas também seríamos ingênuos se não afirmássemos que essa impressão inicial foi a principal responsável pelo sucesso do filme.

Com apelo fácil e personagem bens construídos durante duas décadas, o filme estabeleceu pela primeira vez que Jornada nas Estrelas poderia de fato ser muito mais que um fenômeno cult com estranhos ecos na realidade dos não-fãs de ficção científica. Não é de surpreender, portanto, que seu lançamento tenha servido de trampolim para a Paramount promover a volta da franquia à televisão, com A Nova Geração.

Foi na mesma festa em que se comemorou o lançamento de "A Volta para Casa" que a intenção de produzir uma nova série de Jornada acabou sendo anunciada, deixando um sabor agridoce na boca dos atores originais, que viram seu trabalho sendo usado para catapultar seus substitutos para a fama.

Não há dúvida de que "Jornada nas Estrelas IV" foi um marco definitivo da história da franquia. Se "O Filme" provou que Jornada seria capaz de vôos maiores, depois de três curtas temporadas na TV e outras duas como desenho animado, "A Volta para Casa" consolidou o esforço envolvido em todas as produções anteriores, estabelecendo a marca como uma força-motriz praticamente indestrutível em Hollywood (paradigma que os produtores atualmente insistem em desafiar, superexpondo ao máximo o mercado com produtos de Jornada nas Estrelas).

O filme tem momentos inesquecíveis e traz de volta a velha dinâmica entre o trio principal. Mas o que talvez nenhum outro filme ou episódio da série tenha conseguido fazer, em nenhuma de suas encarnações, se tornou a marca registrada deste especialíssimo segmento cinematográfico de Jornada: pela primeira vez todos os personagens foram utilizados de forma coerente e natural, sem a necessidade de escrever cenas idiotas somente para dar falas ao elenco inteiro.

A estrutura do enredo permite que cada um dos personagens da tripulação da Enterprise tenha seu "pedaço da ação". Até mesmo os mais apagados, como Uhura e Sulu, se dão bem por aqui. E vemos um verdadeiro show de Scotty e Chekov, dois personagens assumidamente periféricos na imensa maioria dos outros episódios e filmes com o elenco original.

A soma de elementos vencedores em "A Volta para Casa" é tão grande que se torna impossível determinar qual é a origem ou a causa principal para o seu sucesso. Em vez disso, a tônica do filme é justamente a combinação ampla de vários recursos antes dispersados em uma ou outra produção. Na conclusão de uma trilogia, "A Volta para Casa" parece cristalizar o que de melhor apareceu em "A Ira de Khan" e a "À Procura de Spock", retendo ainda um enredo exclusivo seu, o que traz ao filme uma sensibilidade totalmente diferente.

Não é à toa que muitos vêem "A Volta para Casa" como um filme "diferente" de Jornada. Embora não se saiba claramente dizer em palavras, é evidente que o foco e a construção da quarta aventura de Kirk e cia. na tela grande pouco têm em comum com as produções anteriores. Salvo o uso de seus maiores talentos.

Nick Meyer produziu um roteiro brilhante (ele escreveu a parte na Terra do século 20, enquanto Harve Bennett escreveu as partes do século 23), Leonard Nimoy ofereceu uma direção brilhante e relaxada, o elenco deu o melhor de si e pareceu, legitimamente, ter se divertido durante a produção. A magia claramente não ia se repetir novamente tão cedo.

Mas isso não impediu William Shatner de angariar apoio para suceder Leonard na direção do filme seguinte. Apoiado por Bennett e por seu amigo Nimoy, ele conquistou a vaga. Num surto de inovação, teve a idéia de trazer uma abordagem ainda mais radical à franquia --um segmento altamente filosófico. Poderia a Enterprise encontrar Deus?

A resposta surgiu três anos depois.